sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Bolsonarista, olavista e, portanto, pouco dado a leituras sérias, Ernesto Araújo mistura Gramsci com “alarmismo climático” e é ridicularizado por colunista do Washington Post



"Não sabemos se ele alguma vez leu sobre teorias críticas neomarxistas além do que está escrito na Wikipedia", disse colunista norte-americano


Foto: AFP
Jornal GGN O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participou de um dos principais “think tanks” conservadores dos Estados Unidos, a Heritage, nesta quarta-feira (11), carregando no discurso ideológico e criticando a imprensa brasileira por “alarmismo climático” contra o governo de Jair Bolsonaro. Em resposta, o colunista do The Washington Post, Ishaan Tharoor, disse que falas de Araújo era uma “lengalenga sem fim de vitimização de alguém que está no poder”.
Em seu discurso ideológico, Araújo chegou a dizer que o boicote a produtos brasileiros como forma de protesto pelas queimadas na Amazônia do governo Bolsonaro era um tipo de “justiça social” que já foi usada “como pretexto para ditadura” e que estão hoje fazendo o mesmo “com o clima”, ao se referir ao meio ambiente.
“Parece a justiça stalinista para mim: acusar, executar. Aí você diz: onde está a justiça? Onde está o Estado democrático? As pessoas respondem ‘crise climática, cale-se'”, falou o representante do Itamaraty. A fala ocorre, ainda, menos de duas semanas antes da participação do mandatário brasileiro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde deve ser questionado sobre a situação da Amazônia.
Em outros momentos, Araújo usou narrativas de Olavo de Carvalho para criticar a “esquerda”, o “marxismo cultural” e para falar de “globalismo”. Disse que tanto Bolsonaro quanto o polêmico presidente dos EUA, Donald Trump, são a “insurgência universal contra a besteira”, assim como os defensores do Brexit, na Inglaterra, juntos, segundo ele, em uma “revolta contra a ideologia” da esquerda.
Isso ocorre, segundo Ernesto Araújo, diante da “percepção” destes presidentes de “que estávamos sendo desprezados por uma elite que tenta nos governar em nome da justiça social, ou da integração europeia, ou de um mundo sem fronteiras ou do progresso”, afirma, reunindo em uma mesma frase críticas às políticas sociais e imigração.
Ainda misturou em uma mesma fala o que chamou de “alarmismo climático” sobre o que está ocorrendo com o desmatamento da Amazônia com falta de “debate democrático” e que “nem comer carne é permitido mais”. Fez críticas a Antonio Gramsci, Bertolt Brecht e Rosa Luxemburgo. E afirmou que o “clima” e a defesa ambiental “se tornou o silenciador do debate”.
Diante de todas estas falas, o colunista do jornal The Washington Post dirigiu duras críticas ao representante brasileiro e mostrou-se perplexo: “Isso é incrivelmente ideológico para um chanceler no exterior”. Em suas redes sociais, Ishaan Tharoor, afirmou que estava impressionado com a incoerência das falas de Araújo.
“Agora ele está falando algo sobre o socialismo do século 21 ser (Antonio) Gramsci conhecer os cartéis de drogas. E agora está citando (Herbert) Marcuse e todos os membros da Escola de Frankfurt”, disse o jornalista. “Isso é incrível. Não sabemos se ele alguma vez leu sobre teorias críticas neomarxistas além do que está escrito na Wikipedia”, completou.
Para Tharoor, a própria direita norte-americana “jamais se importaria com essas pessoas ou envolveria suas ideias, ainda que absurdamente, em um discurso de política externa” e que ninguém na Heritage, o think tank conservador, se importava com isso.
A íntegra do discurso do ministro de Relações Exteriores de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, pode ser acompanhado aqui:


Leia abaixo as publicações do jornalista:

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