segunda-feira, 19 de agosto de 2019

‘O Brasil está sem dinheiro porque está sem governo’, por Janio de Freitas, na Folha de São Paulo



São agora, desde o golpe de 2016, quatro anos de aumento da tragédia brasileira chamada pelo eufemismo de "desigualdade social ou econômica"


 Jair Bolsonaro. Foto: Zeca Ribeiro / Agência Câmara dos Deputados

Jornal GGN Na semana que passou, a Fundação Getúlio Vargas divulgou resultados de um estudo apontando que a renda dos 50% mais pobres no Brasil caiu 18% em quatro anos. Em contrapartida, a renda do 1º mais rico aumentou 9,5% no mesmo período. Os dados da desigualdade crescente são retomados na coluna de Janio de Freitas, deste domingo (18), na Folha de S.Paulo.
O articulista pondera que o estado de “coma” da economia brasileira se deve à falta de governo no país. Na sexta-feira(16), ao ser questionado sobre o risco de paralisia em programas federais, o presidente Bolsonaro admitiu que sua gestão enfrenta crise.
“O Brasil inteiro está sem dinheiro. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Os ministros estão apavorados. Estamos aqui tentando sobreviver no corrente ano”, disse.
“Dessa vez Jair Bolsonaro não mentiu, mas não é bem como disse. O Brasil está sem dinheiro porque está sem governo. E sem governo não há país que sobreviva como algo que seja ainda considerado país”, observa Janio.
“Faltam dinheiro e governo porque, com a produção industrial em queda contínua, o comércio em queda, queda até nos serviços e o crescente desemprego, a arrecadação de impostos e outras contribuições não alcança o mínimo necessário”, continua.
“Colapso a que Paulo Guedes, Bolsonaro e os militares retornados assistem com indiferença imobilizadora há quase nove meses. A solução que Guedes pesca em sua perplexidade é o seu apelo por dois ou três anos de paciência. Em economia não existe o conceito de paciência. Na vida dos países, muito menos”, completa.
Janio destaca que, durante as eleições, a promessa de campanha da chapa Bolsonaro, reverberada por jornalistas e setores econômicos que apoiavam o então candidato, era que já no primeiro ano de governo Bolsonaro, o país iria crescer 3% ou mais.
“Desde o primeiro mês de 2019, no entanto, as previsões foram submetidas a sucessivos cortes mensais. Ainda a quatro meses e meio do fim de ano, já estão em 0,8% ou menos, havendo quem admita 0% no final”, pontua o articulista arrematando que ao prometer algo que não está cumprindo, Bolsonaro cometeu “estelionato eleitoral”.
“Esse resultado às avessas não se explica pelo mau legado de Henrique Meirelles e Temer, que, de fato, nada fizeram pela reativação da economia. Era por haver conhecimento geral daquela insanidade que o bolsonarismo buscava seduzir com os prometidos 3% de crescimento já. Além do golpe da internet, portanto, o estelionato eleitoral, na expressão criada por Delfim Netto”.
Janio registra que a economia brasileira começou a entrar em queda ainda em 2015, “com a campanha aberta pelo derrotado Aécio Neves contra os esforços de Joaquim Levy e Dilma Rousseff para controlar os passos da economia”, e que viria a se transformar no impeachment alterando a rota de crescimento onde o Brasil estava desde 2004.
Janio também aponta que a crise prevista na economia global, por conta da guerra comercial provocada pelo governo Donald Trump contra a China, “não poderá ser responsabilizada por coisa alguma no Brasil”.
“Se vier [a crise global], encontrará o país já em estado de coma – hoje mesmo à vista de quem quiser notá-la. Não é à toa que o turista Bolsonaro se entrega a cafonices e leviandades todos os dias, para desviar atenções. Nem que Paulo Guedes volte a propor a venda da Petrobras, fazer um dinheirão, usá-lo como se fossem os recursos adequados e deixar o país outra vez em coma quando o dinheiro acabar —ainda antes da eleição presidencial”, destaca Janio.
Ele chama a atenção ao fato de os dados divulgados pela FGV, sobre o aumento da desigualdade no país, não terem se tornado assunto de Bolsonaro nos últimos dias. “A preferência foi pelas fezes, citadas inúmeras vezes por meros anseios de uma coprofilia que, aliás, lhe fica bem”, avalia o articulista.
“Hospitais, universidades, bolsas de estudo, pesquisas científicas, setores importantes em geral sofrem mutilações letais em seus recursos orçamentários porque ‘o Brasil não tem mais dinheiro’. Penúria que não impediu Bolsonaro de conceder R$ 3 bilhões, com a solidariedade de seus ministros civis e militares, no compra-e-vende para os deputados aprovarem a ‘reforma’ arrochante da Previdência”, lembra Janio.

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