quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Jean Goldenbaum: Mais holofotes sobre o Neonazismo orgulhosamente escancarado de Donald J. Trump

 

Trump é o cabeça deste movimento mundial que pretende construir um novo mundo, no qual o tripé da civilidade e do Humanismo, isto é, Democracia, Justiça Social e Direitos Humanos, seriam desmantelados e substituídos por autoritarismo explícito



Do 247:

A menos de um mês até as eleições que mudarão consideravelmente os trilhos da humanidade, o sociopata que preside os EUA nos oferece praticamente todos os dias alguma nova e bizarra atração. Como sabemos, após conduzir o país de maneira completamente insana durante a epidemia – perdendo o título de pior presidente do planeta somente para aquele “que não é coveiro” –, o cidadão, por humor do destino, contraiu o vírus.

Foi levado ao hospital e tratado da melhor maneira possível com base naquela de quem ele é inimigo, a Ciência. Sim, sem cloroquina brasileira ou injeção de desinfetante (sugerido pelo próprio em abril), o ultradireitista em alguns dias foi dado como curado. Como é muito “macho”, em sua primeira aparição pública após sair do hospital, não estava usando a máscara sanitária (mesmo ainda estando em fase de contágio). E ainda zombou da morte de mais de um milhão de pessoas no mundo, aconselhando os estadunidenses: “Não temam o COVID. Não o deixe dominar suas vidas.” Em resposta ao descaso e à insensibilidade destas palavras, um cidadão comum novaiorquino, que perdeu mãe, tia e avó por causa do vírus respondeu ao presidente sobre o que realmente o dominará: “A perda dos meus mais queridos entes familiares dominará minha vida em todas as maneiras pelo resto dos meus dias” (jornal canadense CBC).

Aproveitando como sempre o momento para tentar fazer propaganda eleitoral, Trump prosseguiu dizendo: “Temos os melhores equipamentos médicos, temos os melhores remédios”. É verdade, os norte-americanos têm de fato tudo do melhor. Ele só se esqueceu de dizer que o tudo de melhor é para poucos, para ricos, e não para a maioria absoluta da população. Os EUA são conhecidos mundialmente por terem um dos sistemas de saúde pública mais desastrosos do planeta. Sempre foi péssimo, melhorou um pouco com o Obamacare e faliu de uma vez por todas após Trump “por birra” acabar com o sistema de Barack. Mais de 215 mil pessoas já morreram, colocando o país em primeiro lugar da lista (embora Bolsonaro esteja bastante empenhado em assumir o posto em breve).

Mas enfim, este artigo não é sobre o Corona. É sobre o fato de Donald J. Trump ser hoje o líder do Neonazismo no planeta. Então vamos lá. Desde sua campanha eleitoral em 2016, estava claro que este seria o caminho que ele seguiria. Depositou todas as suas esperanças no ódio, no racismo, na xenofobia, no sexismo, no fanatismo religioso, nas armas. Alinhou-se a Steve Bannon, um dos homens mais perigosos do mundo, apóstolo principal da Supremacia Branca mundial e, para a surpresa de ninguém, amigo da família Bolsonaro.

Ao longo de seu mandato vimos ocorrer incontáveis manifestações nazistas. A mais marcante certamente foi a histórica marcha que ficou conhecida como “Unite the Right” (Una a Direita) ocorrida em 11 e 12 de agosto de 2017 em Charlottesville, Virgínia. Confiantes e legitimados pelo homem da Casa Branca, os manifestantes se autoidentificavam de diversas formas: supremacistas brancos, neonazistas, neofascistas, nacionalistas brancos, alt-right (“Direita alternativa”), neo-confederados, membros do Ku Klux Klan, entre outros. Carregando armas e símbolos nazistas, incluindo a bandeira com a suástica, entoavam cantos racistas e antissemitas.

Como resposta a este horror, contramanifestantes se posicionaram em resistência. Um nazista de 20 anos, James Fields Jr., deliberadamente dirigiu seu carro em direção a estas pessoas, atropelando e assassinando Heather Heyer, de 32 anos, e ferindo mais 28 pessoas. Fields foi condenado a prisão perpétua. Trump pronunciou-se sobre o incidente dizendo que condenava a violência, mas sabia que na marcha e na contramarcha havia “pessoas muito boas em ambos os lados”. Sim, foi isso o que ele disse. Está registrado. Esta foi sua maneira de elogiar publicamente os nazistas.

A partir daí, a cada dia ficava mais claro o posto que o presidente ocupava: a liderança mundial da Extrema-direita, que conta com “irmãos mais novos” líderes de outros países, como Bolsonaro, Netanyahu, Orbán, Johnson, que regem imensa gama de neonazistas armados até os dentes a seus serviços.

No primeiro debate das eleições presidenciais de 2020 contra Joe Biden, em 29 de setembro, o moderador ofereceu a Trump a derradeira chance de condenar publicamente os grupos de supremacistas brancos no país. Mais uma vez ele declinou. Surgiu então o nome dos Proud Boys (“Garotos orgulhosos”), um grupo neofascista formado somente por homens, fundado em 2016. Estão classificados pelo FBI na categoria de ‘grupo extremista’. A ADL (Liga da Anti-difamação), uma das maiores autoridades no que diz respeito ao combate a todo tipo de preconceito e discriminação, afirma que os membros do grupos “são conhecidos por serem antitransgêneros, antiimigrantes e antissemitas”. De acordo com a Southern Poverty Law Centre, organização sem fins lucrativos que oferece serviços legais a pessoas vulneráveis, a gangue é conhecida por sua “retórica misógina e anti-islâmica”. O grupo é violento e sempre busca impedir manifestações antirracistas e antifascistas, como as que ocorreram em decorrência da morte de George Floyd.

Pois bem, Trump em plena rede nacional enviou um recado ao grupo: “Proud Boys, stand back and stand by”, o que se traduz em algo como “estejam atrás e estejam preparados”. Ou seja, ele literalmente convoca o grupo neonazista a trabalhar para ele e em sua defesa. Antes que reste alguma dúvida sobre o entendimento ou a interpretação das palavras do presidente, devo comunicar o leitor de que os Proud Boys, imediatamente após o debate, orgulhosamente incorporaram o slogan como seu logotipo. Tal fato foi documentado por diversos jornais nacionais e internacionais, como o New York Times, o Indian Express e o Times of Israel, para citar alguns. Até mesmo aqui na Alemanha – país que entende o que é Nazismo mais do que qualquer outro – foi noticiado no tradicional Frankfurter Rundschau: “Donald Trump corteja neonazistas: ‘Proud Boys’ celebram a ‘ordem de marcha’ de Donald Trump”. O jornal também aponta que as empresas Amazon e Ebay bloquearam o merchandising com o slogan em questão, que já estava preparado para ser vendido pela internet.

Enfim, no momento Trump está atrás nas pesquisas. Mas – como expliquei em meu artigo anterior – ao que tudo indica ele fará o possível e o impossível para impedir sua derrota. Fraudes nos correios (uma vez que imensa parte dos votos será realizada desta forma) e a contrariedade de delegados estaduais ao voto popular são ameaças perigosíssimas. Estejamos preparados.

Por fim, antes de terminar, preciso falar dos judeus estadunidenses. Felizmente a comunidade judaica de lá é muito mais consciente (e decente) que a brasileira. Enquanto no Brasil esta se dividiu pela metade entre bolsonaristas e anti-Bolsonaro, nos EUA a maioria absoluta dos judeus vota nos Democratas consistentemente há décadas. Em 2016, 71% votaram em Hillary Clinton e somente 24% em Trump. Espera-se que em 2020 número semelhante se repita.

Pois bem, Trump é o cabeça deste movimento mundial que pretende construir um novo mundo, no qual o tripé da civilidade e do Humanismo, isto é, Democracia, Justiça Social e Direitos Humanos, seriam desmantelados e substituídos por autoritarismo, neo-escravidão e direitos humanos somente para “humanos direitos”. Mais 26 dias, companheiras e companheiros. Ninguém solta a mão de ninguém.

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