segunda-feira, 15 de março de 2021

TV GGN 20h: As SSs milicianas de Bolsonaro começam a sair nas ruas

 


Confira o comentário e análise de Luis Nassif sobre os últimos acontecimentos da política e economia do Brasil


Jornal GGN – O programa começa apresentando os dados da covid-19 no Brasil: 75.412 casos registrados nesta quinta-feira. A média diária semanal chegou a 69.141, alta de 20% ante o visto em sete dias e de 34,5% em relação a 14 dias. O destaque fica para o salto de 140,9% no número de casos registrados no Paraná. Outros estados com crescimento acima de 20% foram Piauí, Amapá, Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul

Quanto aos óbitos, 2233 pessoas perderam a vida. A média diária semanal chegou a 1.703 mortes, alta de 25,8% ante os últimos sete dias e de 48,2% em relação a 14 dias. Entre os estados que mais perderam vidas, estão Goiás (alta de 82,4% no número de óbitos) e Paraná, com alta de 72,5%, seguido por Ceará, Rio Grande do Sul, Rondônia e Maranhão.

“Você tem que fazer o lockout. Nós temos um presidente e um ministro que são terraplanistas. São loucos. Estamos nas mãos de loucos e de incompetentes”, diz Nassif. “E se cada prefeitura e governo de estado toma uma atitude do lockdown, o que você tem é o presidente estimulando as milícias deles (por enquanto ainda não estão armadas) para pressionar e fazer chantagem em cima de prefeitos, ameaçando prefeitos e governadores”.

Para Nassif, não existe muita solução: “se mantiver esse genocida no cargo, nós vamos ter um período de desmonte do país. Na outra ponta, além do Pazuello ser um total incompetente, nós temos o Paulo Guedes que é incapaz de administrar crise”.

E os bolsonaristas já começam a ir às ruas. Um exemplo disso ocorreu em Juiz de Fora (MG), onde manifestantes bolsonaristas pressionaram as autoridades contra o fechamento do comércio.  Para conversar sobre o ocorrido, Luis Nassif e o jornalista Marcelo Auler entrevistam a prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT) e a vereadora Laiz Perrut.

“Nós tivemos, nos últimos dias, uma evolução súbita e intensa – mais ou menos o que está ocorrendo no país inteiro”, explica Margarida Salomão, referindo-se aos casos de covid-19 na cidade mineira. “Na sexta-feira passada, nós que vínhamos de uma situação mais ou menos controlada (…) para você ter uma ideia hoje, a taxa de contágio hoje está em 1.9. Uma semana atrás, dez dias atrás, estávamos com 0.7”, diz Margarida. “Então, é um crescimento exponencial”

“Com isso, é óbvio que os recursos de saúde estão muito estressados, estão muito demandados, beirando a exaustão. A secretária de saúde me ligou agora mesmo, para dizer que não tem nenhum leito de covid disponível na cidade”, afirma Margarida Salomão. “Por essa razão, nós não tivemos outra alternativa senão, no domingo passado, decretar o lockdown – que é, na verdade, a suspensão das atividades presenciais. Ainda assim, tem muita coisa acontecendo na cidade (…)”, diz a prefeita.

“Tivemos aí uma minoria, muito agressiva, muito estridente – é, de fato, um grupo muito pequeno de militantes (…) é um grupo muito reduzido em termos de expressão política. Mas, não obstante, eles são muito violentos”, explica a prefeita de Juiz de Fora.

“No dia em que decretei o lockdown, em uma lista de zap da cidade, nós tivemos uma manifestação em que uma pessoa conclamava a população às armas para cancelar o meu CPF, entre outras coisas”, afirma Margarida Salomão. “Então, entrei com uma queixa-crime ontem – já está identificada a pessoa que fez isso, nem mora em Juiz de Fora. É uma militância nacional que se agrega para produzir essa atitude fascista”, afirma a prefeita de Juiz de Fora.

“Para mim, fascista é quem quer destruir o adversário. Uma coisa é você se opor, você divergir – isso é absolutamente razoável e compreensível. Você querer matar quem pensa ou faz diferente de você, aí de fato não dá”, ressalta Margarida Salomão.

“Quem está em uma posição como a minha, que é de prefeita de uma grande cidade brasileira, eu tenho a responsabilidade de combater essa violência verbal, de combater essa truculência, de combater essa intolerância. Nós só vamos derrotar o discurso do ódio tendo posições firmes e públicas”, afirma Margarida Salomão. “Temos que promover a civilidade. Eu procurei a Justiça porque é necessário, no Brasil, reabilitar o Estado Democrático de Direito”.

“Nesses últimos dias em que, inclusive, o Lula se reintroduz como personagem relevante na cena política brasileira, por conta exatamente de um posicionamento tardio do STF – que eu acho que desistiu dessa abordagem que eles vinham fazendo de inércia diante da agressão à democracia”.

“Ela (Laiz Perrut) estava na prefeitura, ela é a líder da bancada de vereadores do PT, e ela veio conversar com a secretária de governo para tratar de um assunto de interesse não político, de interesse público”, diz Margarida Salomão. “Na hora em que ela estava saindo, ela foi intimidada (pelos manifestantes)  – e como ela é uma mulher valente, ela reagiu. Quer dizer, uma coisa absolutamente inaceitável em uma cidade como Juiz de Fora”, diz a prefeita de Juiz de Fora.

“Eu estava chegando no carro, inclusive é da Câmara Municipal, é um carro oficial, e todo mundo foi atrás de mim. E, nesse momento (a gente até escuta em outro vídeo), o pessoal falando assim ‘ih, não vai dar tempo de cercar ela'”, explica Laiz Perrut. “Eu ainda fiz questão de abaixar o vidro, fiz a burrice de abaixar o vidro e tentar o diálogo, mas não deu. Não teve diálogo. O grito era ‘bandida’, ‘safada’, não sei o que. Então, assim, as pessoas não querem diálogo”, diz a vereadora.

“A minha chefe de gabinete estava dirigindo, um guarda municipal pediu às pessoas para saírem da frente, pediu que eu levantasse o vidro e que a gente saísse com o carro. Já estavam batendo de todos os lados no nosso carro”, pontua Laiz Perrut. “E aí, nesse momento, eles não saíram da frente. A gente começou a ir acelerando de levinho, e eles falaram que a gente fez uma tentativa de homicídio. Eu tenho um boletim contra mim de tentativa de homicídio”, afirma a vereadora do PT.

“Eu acho que é muito importante – e por isso eu gravei o vídeo. Eu fiz a queixa, mas dei a ela publicidade porque é preciso que essas pessoas saibam que nós vamos, altivamente, nos posicionar”, ressalta Margarida Salomão.

“Claro que nas cidades menores aqui na Zona da Mata você tem outra tradição de relação política – eu quero inclusive dizer: essa não é a forma que a gente faz política em Minas Gerais. As pessoas estão, na verdade, completamente fora de qualquer padrão”, ressalta a prefeita de Juiz de Fora.

“Depois da agressão à vereadora, um dos vereadores foi fazer queixa dela por assassinato, tentativa de assassinato”, diz Marcelo Auler. “Quem era? Era um candidato pelo partido Novo, que teve 200 votos”.

“Eu registrei queixa. A PM foi até meu gabinete, fez o registro do boletim de ocorrência e, agora, a Delegacia de Mulheres está acompanhando a situação. Amanhã vou à delegacia para continuar acompanhando, mas a gente fica com medo. A gente não sabe o que pode acontecer”, ressalta Laiz Perrut.

“Uma coisa que eu vejo muito é que isso é reflexo, mesmo, do governo Bolsonaro, de todos esses discursos de ódio. E não é só ali manifestante querendo a abertura do comércio. Se fosse comerciante, a gente sabe que quando faz manifestação é de outra forma, pelo menos aqui”, diz Laiz, ressaltando que o que ocorreu foi claramente uma manifestação política, uma vez que agora o PT “é o maior partido da Câmara de Juiz de Fora, tem a presidência da Câmara, tem a prefeitura da cidade”.

Nassif lembra que, nessa sexta-feira (12/03), será lançada a Biblioteca Sem Censura, uma iniciativa internacional da ONG Repórteres Sem Fronteiras elaborada com base no jogo Minecraft.

Segundo a jornalista Patricia Faermann, a sucursal de Berlim (Alemanha) teve a ideia de criar, dentro do jogo, uma biblioteca onde seria possível colocar à disposição reportagens e artigos de jornalistas que foram censurados em seus países. “Não sei se é motivo de comemorar ou não mas nós, do @JornalGGN, estamos agora representando o Brasil nessa biblioteca, com relação às 11 reportagens que foram censuradas”, diz Patricia.

“A gente conseguiu vencer na Justiça, um passinho de liberar essas matérias, mas ainda tá tramitando a ação. Então, ainda tem possibilidade do banco BTG Pactual recorrer e tentar, de novo, censurar”, pontua Patricia, explicando que cinco das 11 reportagens estarão disponíveis nessa Biblioteca Sem Censura. O lançamento será transmitido amanhã, de forma simultânea, no canal do YouTube da TV GGN, a partir das 12 horas.

“É interessante que, nesses momentos, a solidariedade se amplia e permite a resistência de todos nós”, diz Nassif, explicando a onda de apoio recebida após o caso de censura.  Contudo, após as manifestações de Lula e Gilmar Mendes, a questão que fica é: como esse jogo vai evoluir? Para discutir a respeito, Nassif conversa com Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

Sobre o posicionamento de Lula dentro do jogo de 2022, Meirelles diz: “Em primeiro lugar, os adultos voltaram à cena – sem nenhum menosprezo ao restante da oposição, mas eu imagino que a oposição está há dois anos tentando pautar o governo Bolsonaro e o Lula, em 1 hora e meia, conseguiu fazer o presidente usar máscara (…) O que nós vimos ontem foi o Lula de 2002, um Lula contundente mas paz e amor, foi um ensaio a uma nova carta aos brasileiros”, diz Meirelles.

“E foi a primeira vez nos últimos anos que eu, sinceramente, lembro de uma narrativa do presidente Lula que falava para a sociedade brasileira e não para os militantes de esquerda. Fazia muitos anos que eu não via uma manifestação efetiva do ex-presidente Lula que dialogava ao centro, que é no limite quem define o processo eleitoral no Brasil”, explica o presidente do Instituto Locomotiva.

“Os analistas políticos, os cientistas políticos como um todo, boa parte da imprensa, tenta classificar, em primeiro lugar, Lula e Bolsonaro como dois extremos da mesma moeda”, diz Renato Meirelles. “O que, cá entre nós, beira a canalhice – um lado defende a vacina, o outro lado defende o vírus. Um lado defende o Sistema Único de Saúde, o outro lado claramente trabalhava com o desmonte do SUS. Um lado defende o uso de máscara, o outro não”, ressalta Meirelles.

Para Meirelles, o primeiro ponto a se esclarecer é o freio de arrumação civilizatório trazido pela volta de Lula dentro do cenário eleitoral e político, uma vez que a relevância do ex-presidente “estava em stand by”

“De forma alguma (Lula e Bolsonaro) podem ser considerados aí como duas faces da mesma moeda”, ressalta Meirelles. “Quando se fala centro, não estamos falando nem do centrão e nem dos chamados ‘isentões’ (…) O que vimos ontem é o Lula dialogando para essa parcela da população brasileira que é a maioria do eleitorado”

“O discurso do ex-presidente Lula ontem, eu tenho chamado de um museu de grandes novidades”, ressalta Meirelles. “Diferente de outras candidaturas, ele é um ex-Presidente da República. Quando se vai para uma disputa política entre o atual Presidente da República e o ex-Presidente da República, é natural que exista uma comparação de legados. Coisa que nenhum outro concorrente teve condições de fazer, ainda mais com um candidato que era oposicionista”

“A narrativa oposicionista do Bolsonaro não consegue ser oposicionista a ele mesmo, na medida em que ele virou o sistema”, diz Renato Meirelles. “Ele é o establishment. Então, existem limitações para candidatos anti-establishment que são candidatos à reeleição”.

Sobre o legado apresentado por Lula em seu discurso, Meirelles ressalta que o eleitorado atual vai querer sim discutir o futuro. “O que o Lula tentou, em sua narrativa, é construir um futuro a partir da lembrança de um passado que deixou o governo com 80% de popularidade”. Isso foi feito com o uso de referências claras que ele não parte de uma promessa vazia, mas de um certo legado – “que pode ser colocado em discussão e sujeito ao debate, mas que trouxe mudanças estruturais inegáveis para o Brasil”

Sobre fake news e possíveis mediadores, Meirelles diz que “os jovens são, ao mesmo tempo, os que mais estão presentes nas redes sociais e, portanto, mais sujeitos ao impacto dessas fake news – por outro lado, são também os mais críticos a qualquer tentativa de manipulação. Quando ele descobre que é manipulado ou que aquela informação não é verdadeira, ele se revolta com uma velocidade muito maior inclusive do que as outras camadas da sociedade”.

Para Meirelles, existe um questionamento cada vez maior aos mecanismos de manipulação, e um clamor pela volta da verdade factual como fonte delimitadora entre o campo que trafega no campo democrático e entre quem usa a mentira como estratégia de manutenção no poder. “A velocidade em que isso irá ocorrer não é certa, mas o que é certo é que o modelo tradicional de polarização faz cada vez menos sentido para a grande maioria do eleitorado brasileiro”, pontua o presidente do Instituto Locomotiva.

Além disso, Renato Meirelles diz que ainda existe uma insatisfação muito grande com o governo Bolsonaro por parte considerável do PIB – “ o mercado produtivo não faz vistas grossas, e o discurso do ex-presidente Lula tentou claramente separar o mercado produtivo do mercado financeiro”

“A gente tem acompanhado o que, ao meu modo de ver é um erro de análise, de achar que o tal do mercado é o mesmo, como se o trader e o capital fossem iguais. O farialimer não é o capital”, afirma Meirelles, ressaltando que o grande gestor de fundos – aquele quem, de fato, controla os grandes investimentos e grandes fundos – quer estabilidade e algo que parece ter sido esquecido: segurança jurídica.

“A segurança jurídica não parece existir no atual governo, e isso é fundamental para que o capital, e não o trader, tenha segurança de investir no país. E isso não é um detalhe”.

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