segunda-feira, 10 de março de 2025

Após ataques de Trump, mexicanos atendem Cláudia Sheinbaum e fazem ato em defesa da soberania

 

Presidenta mexicana respondeu a Trump com assembleia informativa massiva: “não podemos ceder em nossa soberania”.

Do ICL Notícias:

INTERNACIONAL

Após ataques de Trump, mexicanos atendem Sheinbaum e fazem ato em defesa da soberania



Por Luciana Oliver Barragán (de Ciudad de México, especial para ICL Notícias)

Diante das recentes ameaças de Donald Trump de impor tarifas ao México, Canadá e China, a presidenta mexicana Claudia Sheinbaum convocou a uma assembleia pública em defesa da soberania do país, que foi realizada neste domingo (9).

Inicialmente, este chamado estava direcionado a apresentar os planos de ação frente às tarifas impostas por Trump. No entanto, após uma ligação telefônica entre os dois líderes, a revisão das tarifas foi adiada para o dia 2 de abril, e a assembleia pública se transformou em uma grande celebração em prol do “respeito ao nosso amado povo e à nossa bendita nação”, disse Sheinbaum no grande centro histórico da Cidade do México, chamado ‘zócalo’.

Manifestação no México. Foto: Ignacio Ruiz Aguilar

(Foto: Ignacio Ruiz Aguilar)

O nacionalismo mexicano não se expressa com os tons fascistas aos quais temos nos acostumado durante as últimas eleições europeias ou estadunidenses. O inimigo mexicano não são os migrantes, nem as religiões, nem os direitos, mas sim a potência vizinha do norte.

Em frente ao ‘Palácio Nacional’, sede do Poder Executivo Federal, a presidente mexicana deixou claro que seu discurso integra como sujeitos ativos as e os “representantes de comunidades indígenas e afrodescendentes, camponeses, operários, empresários e os queridos irmãos e irmãs migrantes”.

Enquanto centenas de milhares de participantes gritavam constantemente: “você não está sozinha, você não está sozinha”.

Na semana passada, algumas horas antes de Trump impor as tarifas, foi publicada uma pesquisa pelo jornal El Financiero (jornal conhecido por ser opositor ao governo mexicano), na qual se afirmava que 85% dos cidadãos mexicanos aprovam a presidente Sheinbaum e suas ações frente aos Estados Unidos.

Como disse uma das participantes ao ser entrevistada pelo mexicano Ignacio Ruiz Aguilar, “Trump e os Estados Unidos precisam muito do México. Ele quer nos submeter, mas nós não vamos permitir”. E logo em seguida, outro senhor concluiu: “Soberania é não permitir que uma potência venha nos dizer como devemos nos comportar”.

No dia 4 de março, México e Canadá acordaram com tarifas de 25%, e a China, de 20%. O objetivo de Trump? Oferecer incentivos para que os fabricantes transfiram suas plantas de volta para os Estados Unidos e punir os responsáveis pela crise do fentanil, pela qual ele mesmo não quer se responsabilizar.

A resposta do Canadá e da China foi imediata. Ambos estabeleceram a mesma quantidade de tarifas aos Estados Unidos. Enquanto isso, a presidente mexicana pediu “calma, serenidade e paciência” e esperou para se pronunciar sobre o assunto após conseguir conversar com o mandatário estadunidense.

A estratégia de Sheinbaum tem se baseado na não confrontação direta com Donald Trump. E, internamente, tem procurado reiterar ao povo mexicano a afirmação: “colaboração sim, subordinação jamais”.

Durante a primeira semana de março, Claudia Sheinbaum trabalhou arduamente para convencer Trump de que impor tarifas ao México seria um “tiro no pé”.

Felizmente, na quinta-feira, 6 de março, após uma “excelente e respeitosa ligação” com o presidente estadunidense, ele adiou as tarifas até o dia 2 de abril.

Ainda com esse feito, a celebração pela soberania continuou, e neste domingo as pessoas saíram às ruas sob um sol devastador. O público mexicano respondeu com força ao chamado de Sheinbaum.

Durante seu discurso, a presidente mexicana mencionou com firmeza que o México não pode “ceder em nossa soberania, nem nosso povo pode ser afetado por decisões tomadas por governos ou hegemonias estrangeiras”. Em seguida, propôs as estratégias com as quais guiará seu governo daqui para frente.

Manifestação convocada por Sheinbaum teve muitos participantes (Foto: redes sociais)

Em primeiro lugar, buscará fortalecer o mercado interno mexicano e continuará aumentando o salário-mínimo. Em segundo, ampliará a autossuficiência, ou seja, “que se produza no México o que se consome no México”. Em terceiro lugar, promoverá o investimento público para impulsionar a criação de empregos. Em quarto, fortalecerá os programas sociais e, finalmente, favorecerá a produção nacional para o mercado interno com o chamado ‘Plano México’.

Dessa forma, Claudia Sheinbaum busca que o país esteja preparado para as possíveis e imprudentes impulsividades do vizinho império do norte. Da mesma forma, demonstra que sua noção de nacionalismo tem as características próprias de um país construído por meio de uma guerra de independência e de uma revolução camponesa.

Após a Revolução Mexicana, que realizou uma reforma agrária impulsionada por indígenas camponeses, o país adotou fortes políticas nacionalistas de mestiçagem. Estas afirmavam uma suposta “raça cósmica” e, com isso, negavam a diversidade cultural assimétrica e desigual do território.

Posteriormente, o neoliberalismo acostumou a população a pensar que o México era o quintal dos Estados Unidos, um vizinho que serviria ao império para enriquecer-se sem limites.

No entanto, hoje o sujeito “povo” se mostra distinto e diverso. É nisso que reside a importância do nacionalismo de Sheinbaum.

A primeira presidente mulher do México não apenas reconheceu o ano de 2025 como o “ano da mulher indígena”, mas hoje repete a frase independentista: “a pátria é primeiro”.

Ainda assim, há um longo caminho a percorrer. O nacionalismo que neste domingo foi um grito anti-imperialista não chega a ser um chamado para acabar com as elites nacionais ou o colonialismo interno mexicano.

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