quinta-feira, 4 de junho de 2020

Eduardo Pazuello, o ministro militar não médico da Saúde que Jair Bolsonaro buscava




Com duas quedas de ministros em menos de um mês, o terceiro, Pazuello exibiu o descaso com a tragédia do enfrentamento do coronavírus no Brasil. "Vai ficar por muito tempo", comemora Bolsonaro.


Foto: Alan Santos/PR
Jornal GGN Duas semanas após assumir o Ministério da Saúde interinamente, o general Eduardo Pazuello fortaleceu a frente ministerial que Jair Bolsonaro queria para seu governo: na ala militar, o ministro atua conforme a postura do mandatário de minimizar as deficiências internas políticas, não apresenta avanços para o combate ao coronavírus e tergiversa, vendendo ao mundo um cenário inexistente de políticas públicas.
Assim logo mostrou o discurso do interino, imediatamente após assumir as funções da pasta em substituição a Nelson Teich, na OMS, organização que está hoje no centro dos olhos do mundo com o enfrentamento da pandemia. Durante a 73ª Assembleia Geral da Saúde, o que atualmente se caracteriza como o mais importante evento mundial, as falas do ministro foram interpretadas como uma demonstração de descaso.
No dia 18 de maio, ao mesmo tempo que o Brasil atingia o terceiro lugar no ranking do maior número de contagiados em todo o mundo, naquela semana ainda um pouco atrás da Rússia, Pazuello falava que o governo brasileiro estava fazendo frente ao combate do Covid-19.
Introduzindo de maneira vaga e generalizada, afirmava que a atuação estava “ocorrendo em duas macro-estrutura”, citando o Comitê de Crise e o Comitê de Operações de Emergência. “O primeiro tem a missão de propor, acompanhar e articular medidas intersetoriais, e o segundo tem a missão de definir estratégias e ações do sistema de saúde, relacionadas às respostas da emergência da saúde pública”, apontava, sem dar nenhuma informação sobre a situação real do país.
“Como sabemos, o Brasil tem dimensões continentais e diferenças regionais importantes, nas quais temos estabelecido estratégias adequadas a cada região, através do diálogo entre os três poderes federativos”, acrescentou. Aquela semana também foi a que os jornais de todo o país estampavam o pedido de socorro de Manaus, em situação de precariedade sanitária, sem estrutura ou recursos para atender os pacientes que necessitavam de internação.
(Discurso na 73ª Assembleia Geral da Saúde da OMS, a partir de 4:56:00)
“O governo federal conduz avaliações diárias das situações de risco em cada localidade, auxiliando Estados e municípios com os recursos financeiros necessários, materiais e pessoal, para mitigar os efeitos da pandemia”, continuava. A participação de Pazuello ocorreu três dias após o general assumir o comando do Ministério. Mas desde o dia 22 de abril até então, ele ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta, podendo acompanhar o cotidiano das funções relacionadas ao enfrentamento da pandemia, que derrubaram em menos de um mês dos ministros de Estado do governo Bolsonaro.
Sem carreira médica, Pazuello se formou na Academia Militar das Agulhas Negras, tradicional na carreira militar, e de Oficial de Intendência chegou a general de divisão do Exército. Seu nome foi cogitado para a pasta para atender duas funções: a de consolidar mais uma indicação para a ala militar no governo e atuar na logística de distribuição de insumos durante a pandemia.
Como foi treinado a cumprir ordens hierárquicas, quando seu nome foi cotado para substituir Teich, preferiu manter-se como interino, ainda que de nome, para não afrontar outros generais superiores de carreira que assumiram Ministérios do governo Bolsonaro. Foi assim que o mandatário optou, então, por mantê-lo em “período indeterminado”, evitando também novos desgastes para a nomeação do comando da pasta.
Mas os objetivos de sua alçada, ainda que como secretário-executivo, não foram atingidos no quesito logística. O Ministério da Saúde havia se comprometido a entregar 46,2 milhões de testes aos Estados, mas menos de um quarto foram efetivamente enviados até o início deste mês, de acordo com dados da própria pasta, em uma defasagem de, pelo menos, 7 milhões dos dois tipos de testes.
Da mesma forma, conforme mostrou reportagem do jornal Nexo, os respiradores sofreram problemas de logística e entrega. A pasta comprou 14.100 de empresas brasileiras, após dificuldades com compras no exterior, e somente 1.612 foram entregues. As promessas de alugar 3 mil leitos temporários de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), em regiões mais afetadas, tampouco se cumpriram, e somente 540 foram contratados.
Os atrasos se repetem também nos relatórios de fiscalização das políticas de combate à pandemia e em reuniões do interino, que chegou a marcar ausências em algumas delas.
Por fim, e também condizente com a polêmica orientação do presidente Jair Bolsonaro de estimular o uso da cloroquina, ainda que sem comprovação científica suficiente do efeito desta medicação para o tratamento de casos grave de Covid-19, Pazuello manteve a liberação da substância no novo protocolo do Ministério da Saúde, que permitiu a droga também para casos leves da doença.
“Além disso, o Ministério da Saúde vem ajustando seus protocolos com base em evidências e nas experiências exitosas nacionais e internacionais dos lugares mais afetados”, foi a declaração do ministro interino, durante a Assembleia da OMS, diante de milhares de líderes de todos o mundo. Na ocasião, Pazuello tampouco especificou que tipo de evidências “existosas nacionais e internacionais” ele fazia referência.
Neste último ponto, que agradou a Jair Bolsonaro, ao endossar as diversas investidas do mandatário para a liberação do medicamento, estimulou a última declaração do presidente sobre a satisfação que mantinha pelo general no comando da saúde. “Vai ficar [no cargo] por muito tempo”, disse Bolsonaro, acrescentando que o achava “um bom gestor”.
Hoje com mail de 30 mil mortes e o segundo país com maior número de contagiados no mundo, Pazuello dizia naquele 18 de maio que “reforçava o compromisso do Brasil em apoiar e participar das inciativas internacionais”, mas restringindo àquelas que “buscam garantir o acesso universal ao diagnóstico, aos medicamentos e às vacinas”. O objetivo? “Salvar mais vidas e retornar à normalidade, sem que ninguém fique para trás”, dizia o discurso do interino.

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