quinta-feira, 1 de julho de 2021

El País - CPI da Pandemia: Quem é quem no depoimento de Dominguetti e perguntas sem resposta na suspeita de propina na Saúde

 Do El País:

Revendedor autônomo da Davati, que acusa diretor de Ministério da Saúde de ter cobrado propina ao negociar vacina, causou confusão na sessão desta quinta e foi acusado de ser testemunha “plantada” pelos senadores


Luiz Paulo Dominguetti e Omar Aziz na CPI da Pandemia.ADRIANO MACHADO / REUTERS




CPI da Pandemia ouviu nesta quinta-feira Luiz Paulo Dominguetti, representante autônomo da Davati Medical Supply que afirmou à Folha de S.Paulo ter recebido uma proposta de propina de um ex-diretor do Ministério da Saúde enquanto negociava a venda de vacinas contra a covid-19 no começo deste ano. Dominguetti ofereceu ao ministério milhões de doses da AstraZeneca, ainda que não tivesse indicação de como as entregaria, e diz ter tido ao menos um encontro com o ex-diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, que lhe teria feito a proposta corrupta. O depoente reafirmou à CPI que recebeu a proposta de propina de Dias, de um dólar por cada dose de imunizante seria desviado. O servidor, apontado como uma indicação do Centrão para a pasta, foi exonerado após a reportagem da FolhaNesta quinta-feira, Dias nega ter ouvido qualquer proposta de propina e diz ser um “fantoche” usado por terceiros.

Ainda na sessão da CPI, Dominguetti admitiu que é policial militar concursado em Minas Gerais e afirmou que trabalha com representação comercial para “complementar a renda”. O denunciante ainda apresentou um áudio no qual afirma que o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) tentou negociar vacinas com a empresa que ele representava. Miranda é justamente o depoente que acusa nomes do Ministério de Saúde de tentar lucrar ilicitamente com a compra de outra vacina, a Covaxin, e de ter alertado Jair Bolsonaro sobre o caso. A citação do áudio do deputado provocou um tumulto na sessão. Segundo o presidente da CPI, Omar Aziz, a gravação foi editada para incriminar Miranda. Dominguetti, que já era questionado como testemunha pelos governistas, passou a ser visto por alguns oposicionistas como suspeito ou “plantado” apenas para desacreditar Miranda.

Para tentar navegar na trama que se adensa, preparamos um quem é quem entre os citados por Dominguetti e as perguntas sem resposta em torno do caso.

Quem é quem no depoimento

Luis Dominguetti Pereira – Representante autônomo da Davati Medical Supply, que se apresenta como uma intermediadora e distribuidora de vacinas AstraZeneca ―a farmacêutica nega ter intermediadores no Brasil. Ele acusou o ex-diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, e o tenente-coronel Marcelo Blanco da Costa de terem lhe cobrado propina de 1 dólar por vacina numa oferta de um lote de 400 milhões de doses da AstraZeneca. É policial militar, tendo a atividade de representante para complementar renda, segundo ele.

Roberto Ferreira Dias - Ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, exonerado depois de a Folha de S. Paulo trazer a entrevista com Dominguetti Pereira afirmando que Dias pediu propina na negociação da vacina AstraZeneca. O pedido teria sido feito num restaurante em Brasília. Dias confirma o encontro, mas nega ter feito a proposta corrupta. Ele também nega ter feito pressão para que a pasta fechasse a compra de outra vacina, a indiana Covaxin.

Marcelo Blanco da Costa – Tenente-coronel que atuou como assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde. Após as denúncias, o Governo afirmou que ele perdeu o cargo em janeiro deste ano. Ele esteve presente no jantar com Ferreira Dias e Dominguetti, segundo o depoente.

Christiano Alberto Carvalho – Representante credenciado da Davati Medical Supply, que fez os primeiros contatos com o Ministério da Saúde. Não estava presente nas negociações de propina denunciadas por Dominguetti. Segundo o depoente, foi Carvalho que o incentivou a relatar a proposta de propina à Folha e também foi ele quem passou o áudio exibido por Dominguetti na CPI com a voz do deputado Luis Miranda. Miranda aparece falando de uma negociação que o depoente diz ter sido sobre vacinas. A CPI diz que o áudio foi editado para incriminar Miranda.

Laurício Monteiro Cruz – Diretor do Departamento de Imunização no Ministério da Saúde, fez a ponte de Dominguetti com Roberto Ferreira Dias, segundo o depoente. Já Dias afirma que foi o tenente-coronel Blanco quem chegou à reunião trazendo Dominguetti.

Coronel Elcio Franco - Era secretário-executivo do ministério na gestão do general Eduardo Pazuello, até ser exonerado em março. Ele teria se reunido com Dominguetti depois de ele ter falado com Roberto Ferreira Dias, mas não havia tomado conhecimento da proposta de corrupção que teria espantado o representante.

Coronel Odilon – Segundo Dominguetti, foi o coronel Odilon quem o apresentou ao Coronel Blanco. Odilon teria feito contato com ele em outras ocasiões para avaliar compra de remédio com Dominguetti. Ainda faltam detalhes sobre Odilon.

Davati Medical Supply - Subsidiária do Grupo Davati, que desde 2014 também atua como distribuidora em todo o mundo. O Grupo Davati tem sede no Texas.

As perguntas sem respostas no caso

- Se a AstraZeneca não tem intermediários no Brasil, por que a Davati ofereceu vacinas produzidas pela empresa?

- Como a Davati poderia entregar os imunizantes, se a AstraZeneca não tinha vacina nem para fornecer à União Europeia, que tinha acordo com a empresa?

- Luiz Paulo Dominguetti deu entrevista à Folha de S. Paulo para falar do pedido de propina. Por que o representante principal da Davati não falou?

- Por que Dominguetti exibiu um áudio insinuando desonestidade do deputado Luis Miranda (DEM-DF)?

- A Davati teve problemas de vendas em outras regiões do país?

- Se a denúncia feita por Dominguetti sobre pedido de propina for falso, por que o diretor Roberto Ferreira Dias foi mandado embora?

- Quem é Odilon que Dominguetti disse tê-lo levado ao Ministério da Saúde?

- Por que o Governo não defendeu os servidores acusados por Dominguetti?

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