sexta-feira, 23 de julho de 2021

Sem informar agenda, Braga Netto se reuniu com Forças dias antes de ameaça chegar a Lira, por Hugo Souza. A conspiração da extrema direita armada continua...

 

 "O voto impresso é uma comiseração de Jair Bolsonaro, que sonha com o que costuma chamar de “eleição auditável” – pelas milícias -, além de pretender baralhar, confundir, conturbar o cenário político nacional, como sempre."


Do Come Ananás

Sem informar agenda, Braga Netto se reuniu com Forças dias antes de ameaça chegar a Lira

por Hugo Souza

General de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos e Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Júnior (Foto: Alexandre Manfrim).

Walter Souza Braga Netto se reuniu com os comandantes das Forças Armadas dias antes de Arthur Lira receber o “avisa lá”, a la milícia, enviado pelo general terrivelmente golpista que chefia o Ministério da Defesa.

A reunião não consta na agenda oficial de Braga Netto.

“Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica”, diz a reportagem do Estadão que revelou a ameaça do ministro da Defesa de pular as eleições de 2022 se o voto não for impresso.

O voto impresso é uma comiseração de Jair Bolsonaro, que sonha com o que costuma chamar de “eleição auditável” – pelas milícias -, além de pretender baralhar, confundir, conturbar o cenário político nacional, como sempre.

Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica reuniram-se com Braga Netto na manhã do dia 29 de junho. Na semana seguinte, no dia 8 de julho, o guinchar dos gorilas chegou a Lira pela boca de algum macaco-prego, classificado pelo Estadão como um “importante interlocutor político”.

A reunião do dia 29 de junho não aparece na agenda do ministro da Defesa, mas pode ser confirmada em três outras agendas, as do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do almirante de esquadra Almir Garnier Santos, e do tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior.

As agendas dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica mostram reunião entre os três e Braga Netto no dia 29 de junho na parte da manhã, precisamente às 11:30h.

A agenda do comandante da Marinha mostra ainda uma reunião imediatamente anterior, às 10:50h, apenas entre o almirante de esquadra Almir Garnier Santos e Braga Netto. Este encontro também não aparece na agenda do ministro.

A agenda de Braga Netto para o dia 29 de junho informa apenas “despachos internos” ao longo da manhã e, à tarde, uma única reunião – com o presidente da República.

As outras duas mais recentes reuniões de Braga Netto com os chefes das três armas, uma anterior e outra posterior àquela do dia 29 de junho, foram devidamente informadas na agenda do ministro. Uma foi no dia 7 de junho, a outra foi no dia 16 de julho.

A ciboulette fica por conta de que dois dias após aquela reunião de 29 de junho com os chefes das Forças, sem informação na agenda do ministro, Braga Netto reuniu-se, e isto estava na agenda, com o chefe da CIA, Wiliam Burns, e com o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman.

Ainda sobre cronologias

O “avisa lá” de Braga Netto chegou a Lira um dia depois da nota da Defesa e das Forças Armadas ameaçando o Senado da República; e um dia antes de sair n’O Globo entrevista em que o tenente-brigadeiro do ar que comanda a Aeronáutica engatilha os canhões revólveres dos caças da FAB contra seu próprio país, dizendo que “homem armado não ameaça”.

Pois sim…

Além disso, foi no dia 29 de junho que membros da CPI começaram a aventar publicamente a possibilidade de a comissão investigar, além de Pazuello, a atuação de outros ministros militares de Bolsonaro na pandemia, nomeadamente Braga Netto.

A reportagem do Estadão informa que, “para ministros do Supremo, a ameaça de golpe não passa de um blefe para tentar evitar a investigação de militares pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid”.

E que:

“Na prática, a escalada da crise política que culminou com a ameaça dos militares foi motivada por um episódio. Na última semana de junho, os ministros do Supremo Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes haviam se reunido com dirigentes de 11 partidos. As conversas reverteram a tendência de aprovação do voto impresso na Câmara”.

Em nota divulgada na manhã desta quinta, para rebater a reportagem do Estadão, Braga Netto afirmou que “não usa interlocutores para comunicação com presidentes de poderes”, no melhor estilo Eduardo Pazuello, que tampouco negociava diretamente com representantes de empresas e, bem…

Na mesma nota em que negou que tenha ameaçado cancelar eleições se o voto não for em papel, na mesma nota, repito, Braga Netto voltou à carga, fazendo a defesa da “discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso”.

É que os gorilas machos, por instinto, dão golpes no país e o peito.

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