sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Aloysio Nunes garante: Lava Jato manipulou golpe contra Dilma. Por Eduardo Guimarães citando a Folha de São Paulo




Um dos defensores do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) agora considera que houve uma “manipulação política do impeachment” pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sergio Moro, atual ministro do governo Jair Bolsonaro (PSL).



Foto: Lucas Seixas/Folhapress

Um dos defensores do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) agora considera que houve uma “manipulação política do impeachment” pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sergio Moro, atual ministro do governo Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo o tucano, isso ficou provado após a divulgação de mensagens trocadas entre procuradores da operação, obtidas pelo site The Intercept Brasil por meio de fonte anônima e também analisadas por outros veículos, entre eles a Folha.
No ano seguinte ao impeachment, Aloysio se tornou ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer (MDB). Neste ano, passou a chefiar a Investe SP (agência de fomento de São Paulo) no governo João Doria (PSDB), mas deixou o cargo em fevereiro, após ser alvo de busca e apreensão na 60ª fase da Lava Jato, a Ad Infinitum.  ​
Na mesma fase, foi preso preventivamente Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, suspeito de ser operador do PSDB. No último mês, também foi revelado que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro relatou, em sua proposta de acordo de delação, que Aloysio teria pedido propina a campanhas do PSDB em troca da liberação de recursos de obras em São Paulo.
À Folha Aloysio diz que após as revelações das mensagens de procuradores ficou “profundamente chocado com o que aconteceu na Lava Jato”.
Ele afirma que a divulgação de telefonema entre a então presidente Dilma e o ex-presidente Lula em 2016, que resultou em decisão do Supremo Tribunal Federal que barrou a posse de Lula como chefe da Casa Civil do governo, impediu o governo petista de recompor sua base e barrar o impeachment.
As conversas que estavam mantidas em sigilo enfraqueceram a hipótese adotada na época por Moro de que a nomeação de Lula como ministro tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo seu caso de Curitiba para o STF.
As conversas interceptadas naquele dia e relevadas agora mostram que Lula relutou em aceitar o convite, só aceitou ser ministro após sofrer pressões de aliados e estava empenhado em buscar reaproximação com o PMDB para evitar o impeachment de Dilma.
“Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave”, afirma Aloysio. Na entrevista, ele também falou sobre a fase da Lava Jato na qual foi alvo, em fevereiro.
Que avaliação o sr. faz da Lava Jato até o momento? Acho que os diálogos divulgados pelo Intercept e por vários veículos, entre os quais a Folha, carimbam muitos desses procedimentos de absoluta ilegitimidade. Não é possível, em um processo judicial, em um país civilizado, um juiz e os procuradores se comportarem da forma como se comportaram. Processo judicial exige um juiz independente, imparcial, que dê iguais oportunidades tanto à defesa quanto ao Estado provarem seus argumentos.
É um processo viciado por essa relação promíscua entre o juiz e os procuradores, imbuídos de um projeto político, que vai além do processo judicial. São janízaros liderados por um vizir que quer ser o próximo califa no lugar do califa atual.
Em 2016, o sr. disse que ninguém poderia barrar a Lava Jato. Continua com essa opinião? Verdade. Depois das revelações, eu fico profundamente chocado com o que aconteceu na Lava Jato. Acho que o Supremo tinha que tomar providências, uma vez que o Conselho Nacional de Justiça não sei se tomará.
Foi uma surpresa? O PT sempre criticou o viés político [da operação]. Quando você fala na divulgação do diálogo de Lula com a Dilma, evidentemente você tem uma manipulação política do impeachment. Quando você tem a divulgação da delação de [Antonio] Palocci nas vésperas da eleição presidencial, você tem uma manipulação política da eleição presidencial. Isso feito de caso pensado, como os diálogos revelaram.
Não é uma coisa por inadvertência, foi de caso pensado. Então, isso para mim torna, não todos, porque não conheço todos, esses casos em que esse tipo de procedimento se verificou, nulos, porque atingiu um princípio fundamental do Estado de Direito, que é a garantia que a existência de um juiz imparcial dá ao direito de defesa.
Principalmente na época do impeachment, o PSDB explorou muito essa divulgação de diálogos. Não só o PSDB. O Supremo Tribunal Federal acabou por barrar a posse do Lula [como ministro de Dilma] com base em uma divulgação parcial de diálogo, feita por eles, Moro e seus subordinados, do Ministério Público. Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave.
O sr., na época do impeachment, era uma das principais lideranças a favor. Eu fui a favor do impeachment. Nós, da bancada do Senado, não tínhamos o mesmo entusiasmo da bancada [do PSDB] da Câmara. Éramos mais prudentes em relação ao que estava acontecendo. Diante do fato de que a presidente Dilma não conseguiu ter sequer 173 votos a favor dela para barrar o processo de impeachment na Câmara, ficou evidente que ela tinha perdido as condições de governar.
Além, evidentemente, do desvario na condução da política econômica e da política fiscal. Como uma presidente não consegue ter 173 votos para barrar o impeachment, que praticou atos que, à luz da própria legislação, constituiu crime de responsabilidade, não havia como a manter no poder.
Houve um peso político na divulgação dos áudios? Eles [autoridades da Lava Jato] manipularam o impeachment ao barrar a posse do Lula. Se Lula tivesse ido para a Casa Civil, não seria capaz de recompor a base política do governo? Lula, que dizem que foi um governo socialista, governou com a direita. Teria rapidamente condições de segurar a base política. Porque o impeachment é um processo jurídico —crime de responsabilidade—, e político. Ele, pelo menos em relação à questão política, talvez tivesse condição de recompor. Foi exatamente por isso que eles procuraram barrar, como conseguiram, a posse de Lula.
O sr. é a favor da lei de abuso de autoridade? Não pode restringir investigações importantes? Sou a favor. Prender alguém sem base legal, é evidentemente abuso de autoridade, claro. Restringir direito de defesa, manter a pessoa presa além do que a lei permite, é abuso de autoridade.
Como é abuso de autoridade, fazer o que fazem frequentemente: expor uma pessoa, que às vezes nem começou a ser investigada, à execração pública, como se tivesse sido condenada. Eu tive helicóptero sobrevoando a minha casa e imprensa na porta, para apreender um cartão, emitido em 2007, que eles sabiam que tinha sido cancelado. Isso não é abuso de autoridade?
O sr. então acha que a Lava Jato incorreu nisso várias vezes. Claro que sim. Várias vezes. Não é uma questão de Lava Jato ou não. São garantias que devem ocorrer para a lisura de um procedimento. Acho que contribui para manter as balizas do respeito ao contraditório, aos direitos individuais.
Da FSP

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

"Não imaginava o tamanho da promiscuidade na Lava Jato", declara juíza e desembargadora aposentada Kenaril Boujikian






Kenarik Boujikian, juíza e desembargadora aposentada, revela que se assustou com as revelações da Vaza Jato que comprometem a ação do juiz Sergio Moro. Quem participa da conversa é Flávio de Leão Bastos Pereira, professor de Direitos Humanos na Universidade Mackenzie.

Na ONU, os provincianos do rancor, por Rui Daher



Ele e Sérgio Moro se dão muito bem, o antigo juizeco curitibano é uma "pérola de seu governo". Estávamos à beira do socialismo e ele e Deus nos salvaram.



Foto Folha/Uol

Na ONU, os provincianos do rancor, por Rui Daher

GGN

Sim, pois, estadistas, que Donald Trump e Jair Bolsonaro não o são, o pele-laranja, de topete escandalosamente gatuno, cumpriu seu papel. Comanda uma nação hegemônica, imperialista desde o final da Segunda Guerra Mundial, concorrente do Brasil nos agronegócios, e aproveitou para agredir cachorros mortos bélicos, como o Irã e a Venezuela, para sua campanha eleitoral, em 2020.
Pior, leio que as lideranças dos agronegócios e conservadores ignorantes, adoraram o discurso de nosso Regente Insano Primeiro. São inocentes úteis e burros, pois não desconfiaram ainda o quanto estarão ferrados.
Jair, com olhinhos quase fechados, para enxergar os teleprompters e ler as imbecilidades escritas por Heleno (de Freitas?), Ernesto Araújo, e o filhote Eduardo “Hamburger”. Como? Steve Bannon e Olavo de Carvalho não participaram da velhacaria? Espertos.
Claro que era o esperado. Diferente da coragem que ele não teve para comparecer a qualquer debate com os demais candidatos a presidente, nas eleições de 2018, trata-se de um fanfarrão covarde.
O Capitão, chamem seus sobrinhos, sabia que na Abertura da Conferência Mundial da ONU, estaria escudado por sua lambida viscosa de botas ao topetudo laranja, que discursou em seguida.
O que fez? Levantou a bola, como injustiçado jogador de futebol da Série C do Brasileirão, para Trump marcar seu gol contra o Irã, a Venezuela, e a altiva nação cubana.
Calhordas, os dois.
Como quaisquer brasileiros, com mais de dois neurônios, sobrou-nos a vergonha, de pessoa tão despreparada, pilhéria do planeta, nada soberano, um imbecil a atacar Raoni, socialismo (comunismo) aqui nunca pregados, assuntos de Estado puramente internos, e países amigos com que sempre cultivamos relacionamentos amigáveis e, comercialmente, profícuos.
Quem, então, se encantou? Por exemplo, meu oftalmologista cego. “Ele é durão. Mandou ver. Foi ótimo!”
Não sei se coincide com meu fornecedor de charutos, onde estive hoje. Nicaraguenses, pois para os cubanos não tenho dinheiro e, sabe-se lá, não serão falsificados. Vou, então, do tabaco sandinista, embora também esse falsificado por Daniel Ortega.  Para o meu bolso, no entanto, é o que resta para as baforadas.
Querem que eu volte ao discurso na ONU do Regente Insano Primeiro? Jeito nenhum.
Ele e Sérgio Moro se dão muito bem, o antigo juizeco curitibano é uma “pérola de seu governo”. Estávamos à beira do socialismo e ele e Deus nos salvaram. Raoni defende interesses próprios e a fake indígena de sua comitiva lá estava porque soca mandioca no pilão o dia inteiro.
Estamos abertos para as economias mundiais, desde que comprem barato nossos patrimônios e biodiversidade. Os incêndios na Amazônia denotam uma conspiração midiática mundial e das ONGs internacionais, que muito dinheiro ganharão com isso. Macron tem mulher feia, Merkel dorme, e Bachelet é comunista, como o foram seu pai e Allende.
Ora Jair Bolsonaro, tome tino e vá ter uma conversa com Adélio e Queiroz.
Tenho vergonha de você.

O samba do Brasil que odeia, por Carlos Motta



Nestes tempos mais que sombrios vividos pelo Brasil, eis que surge uma composição que reflete de modo perfeito o que muitos, mas muitos mesmos, estão sentindo agora



De quando em quando surgem músicas emblemáticas, que marcam uma geração, um período da história – e que ficam para sempre na memória popular.
É o caso, por exemplo, de “O Bêbado e a Equilibrista”, da dupla João Bosco/Aldir Blanc.
Ou de “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso.
Nestes tempos mais que sombrios vividos pelo Brasil, eis que surge uma composição que reflete de modo perfeito o que muitos, mas muitos mesmos, estão sentindo agora. “Sonho Estranho”, de Moacyr Luz e Chico Alves, não é só um samba belíssimo – é aquilo que a gente tem preso na garganta, que oprime o nosso peito, que amordaça a nossa voz.
É uma obra-prima.

Sonhei que despertei
Noutro país
Onde as pessoas tinham balas de fuzis
E o povo andava sem razão de ser feliz

Confesso que senti
Muita saudade do lugar onde aprendi
A caminhar com as pernas tortas de Mané
E respeitar que cada um tem sua fé
A me encantar com a negra voz de Mãe Quelé
E pelas doces mãos de Cosme e Damião
Levar Jesus ao Candomblé

Nesse sonho ruim que eu me via

Nem a poesia falava por nós
Tantos versos sem ter poesia
Canção não havia
Ninguém tinha voz
E pisando meus pés no espinho
Cantava baixinho Nelson Cavaquinho
O Sol vai brilhar outra vez
Tirando a dor do caminho
Agora eu já não sei
Se foi quimera ou foi real
O que sonhei
Se ainda estou noutro lugar ou se voltei
Á velha pátria, mãe gentil
Onde eu nasci
Ou se ela, enfim, se transformou no que tá aí
Ando com medo de acordar nesse Brasil
Do sonho estranho que vivi

O GGN prepara uma série inédita de vídeos sobre a interferência dos Estados Unidos na Lava Jato e a indústria do compliance. Quer apoiar o projeto? Saiba como em www.catarse.me/LavaJatoLadoB

Lideranças indígenas: “É Bolsonaro quem ainda parece viver nas cavernas



Representantes de comunidades indígenas de todo o Brasil afirmaram que Bolsonaro foi ofensivo, racista e que os indígenas não querem exploração. Jovem levada na comitiva só tem o apoio de sua própria família, disseram
O-é Kayapó é líder na Associação Floresta Protegida (AFP), no Pará, disse que indígena levada por Bolsonaro à ONU 'só tem o apoio da própria família' entre comunidades do Xingu - Foto: BBC/Arquivo
Jornal GGN Lideranças indígenas reconhecidas por toda a comunidade indígena do Brasil repudiaram o discurso do presidente Jair Bolsonaro, na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (24), na qual adotou o teor de exploração e desenvolvimento da Amazônia e das reservas indígenas: “ofensivo”, “racista” e “paranoico”, descreveram os líderes.
Os autores desta reação são os líderes da Associação do Território Indígena do Xingu (Atix), da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), da Associação Floresta Protegida (AFP) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A primeira destas, inclusive, não reconhece Ysani Kalapalo, a jovem indígena que integrou a comitiva de Bolsonaro na ONU e que teria escrito a carta lida pelo mandatário.
Kapalo integra uma comunidade do Xingu, e não somente as lideranças da própria região Norte do país não a reconhecem como representante dos povos indígenas, como todas lideranças espalhadas pelo Brasil, que mantêm o respeito ao cacique Raoni Metaktire. Os líderes ouvidos pela BBC Brasil relataram outra realidade, muito distante da narrada por Bolsonaro no palco da ONU ontem.
Eles afirmaram, por exemplo, que o mandatário brasileiro usou dados que destoam das informações oficiais. Ele citou, por exemplo, 225 povos indígenas e 70 tribos isoladas. Mas segundo o IBGE e a Funai, há 305 povos indígenas no Brasil e o registro de 107 povos isolados.
A revolta maior entre as lideranças indígenas foi a crítica a Raoni, líder do povo caiapó, reconhecido por sua atuação e luta em defesa dos povos indígenas no Brasil e no mundo, chegando a ser indicado pelas comunidades brasileiras e ativistas ambientais como sugestão ao Nobel da Paz. Bolsonaro, em seu discurso, disse que “acabou o monopólio de Raoni” e que ele teria sido usado “como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.
Para a presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), Yanukula Kaiabi Suiá, Bolsonaro ofendeu não somente Raoni, como todos os povos indígenas. “Ofende o reconhecimento e o trabalho que Raoni vem fazendo durante mais de 40 anos na defesa de direitos dos indígenas”, disse. A Atix representa 16 povos do território indígena do Xingu, incluindo a etnia kalapalo, levada por Bolsonaro na comitiva, e que não a reconhecem como representante.
“O governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil”, já havia escrito em carta a Atix, após o anúncio de que Ysani seria levada à ONU.
Ainda, dos mais de 300 povos indígenas brasileiros, somente um, o Grupo Indígenas Agricultores defende Bolsonaro e suas políticas de Estado. A carta lida, inclusive, não foi de Ysani, mas por “supostos líderes de comunidades favoráveis a mudanças na legislação sobre terras indígenas e a abertura dos territórios para a exploração econômica em larga escala”, revelou a BBC.
De acordo com o representante da Associação Floresta Protegida (AFP), na bacia do Xingu, O-é Kayapó, Ysani só tem o apoio de sua própria família. “Ysani tem um pensamento muito ao contrário da maioria do povo que vive nas aldeias. Por ela ter crescido na cidade, acabou confundindo ou se perdendo entre as duas culturas branca e indígena”, disse à reportagem.
A menção de Bolsonaro aos homens das cavernas também foi mal vista entre os indígenas. Para a Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, com a comparação, o presidente brasileiro foi “racista e revela seu desrespeito quanto aos diferentes modos de vida dos povos indígenas”.
“É Bolsonaro quem ainda parece viver nas cavernas”, retrucou Marivelton Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). “Ele diz que nós queremos ingressar na sociedade, mas a gente já faz parte da sociedade, mas sem esquecer nossa cultura e sem buscar uma integração total. Nós lutamos pelo nosso modo de ser”, disse.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Vaza Jato: diálogos mostram que Barroso orientou Deltan na Lava Jato



"Deltan, vc tá em Oxford? Vi que Barroso foi e me lembrei q foi aí q vcs estreitaram laços", perguntou a procuradora Anna Carolina Resende ao coordenador da Lava Jato


Foto José Cruz/Agência Brasil
Jornal GGN “Barroso foi para guerra aberta. E conta conosco como tropa auxiliar”, escreveu o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, para os colegas em um chat no Telegram no dia 29 de março de 2018.
O tema da conversa era a prisão do ex-assessor do então presidente Michel Temer, José Yunes e o trecho que revela relação de proximidade entre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e Deltan foi divulgado nesta quarta-feira (25), no blog de Reinaldo Azevedo, no UOL, em parceria com o The Intercept Brasil, no âmbito da série da Vaza Jato.
A reportagem revela ainda que Dallagnol conversou com Barroso para que substituísse Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo que morreu num acidente aéreo no dia 19 de janeiro de 2017.
12:11:18 – CarolPGR: Deltan, fale com Barroso
12:11:37- CarolPGR: insista para ele ir pra 2 Turma
12:18:07- Deltan: Há infos novas? E Fachin?
12:18:11- Deltan: Ele seria ótimo
13:54:21- CarolPGR: Vai ser definido hj
13:54:33- CarolPGR: Fachin não eh ruim mas não eh bom como Barroso
13:54:44 – CarolPGR: Mas nunca se sabe quem será sorteado
13:56:40- CarolPGR: Barroso tinha q entrar nessa briga. Ele não tem rabo preso. Eh uma oportunidade dele mostrar o trabalho dele. Os outros ministros devem ter ciúmes dele, pq sabem que ele brilharia na LJ. Ele tem que ser forte e corajoso. Ele pode pedir p ir p 2 turma e ninguém pode impedi-lo. Vão achar ruim mas paciência, ele teria feito a parte dele
14:11:37 – Deltan: Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável.
14:30:16 – Deltan: Mas sua mensagem foi ótima, Caroll
14:30:24 – Deltan: Por favor não comente isso com ninguém
14:30:25 – Deltan: Please
14:30:29 – Deltan: Ele pediu reserva
14:30:31 – Carol PGR: clarooo, nem se preocupe
14:30:45 – Carol PGR: só lhe pedi para falar novamente com ele porque isso está sendo decidido hoje
14:30:52 – Deltan: Foi o tom do meu último peido
14:31:18 – Carol PGR: vamos rezar para Deus fazer o melhor
14:32:22 – Carol PGR: mas nosso mentalização aqui é toda em Barroso.
*Os textos das mensagens foram mantidos como no original, sem qualquer tipo de correção ou alteração.
Esse trecho trocado entre Deltan e a procuradora Anna Carolina Resende já havia sido divulgado pelo The Intercept Brasil em outra reportagem, do dia 12 de agosto, sobre a participação de Deltan na criação do “Instituto Mude”, organização não-governamental que vem pressionando políticos e ministros a tomarem decisões defendidas pelos membros da Lava Jato.
A retomada desse trecho na matéria divulgada hoje vem junto com outras mensagens trocadas entre Deltan e os colegas da Lava Jato revelando uma proximidade ainda maior entre o chefe da força-tarefa em Curitiba e o ministro Roberto Barroso.
No dia 13 de maio de 2017, por exemplo, a procuradora Anna Carolina perguntou para Dallagnol: “Deltan, vc tá em Oxford? Vi que Barroso foi e me lembrei q foi aí q vcs estreitaram laços.”
O estreitamento da relação entre Deltan e Barroso teve início no ano anterior a essa mensagem, no dia 19 de junho de 2016. “Estamos passeando aqui com o ministro barroso”, escreveu Deltan para a sua mulher naquela ocasião.
O papel de orientador de Barroso fica mais claro em outras conversas. Em dezembro de 2017, os procuradores da Lava Jato discutiam o indulto de Natal tornado público pelo então presidente Michel Temer que acabaria beneficiando presos da Lava Jato.
Na época, Diogo Castor de Mattos se sentiu confortável para lançar um artigo de opinião atacando Temer. “O referido decreto parece ter sido feito sob encomenda para os condenados da Lava-Jato (…) Ao editar o decreto, Temer demonstrou onde é capaz de chegar para aniquilar o combate à corrupção e à impunidade no Brasil”, escreveu.
O decreto de Temer acabou sendo suspendido parcialmente pela então presidente do Supremo, Cármen Lúcia. A decisão da ministra, concedida dia 28 de dezembro, foi informada por Deltan no chat com os colegas da Lava Jato, atribuindo ao ministro Barroso atuação em prol da Lava Jato dentro da Corte.
28 de dezembro de 2017
13:46:56 – Laura Tessler: Diogo, parabéns pelo artigo. Ficou muito bom.
13:50:32 – Diogo: Obrigado Laura!
17:03:20 – Deltan: Saiu a liminar. Carmem Lúcia suspendeu parcialmente o decreto. 17:05:30 – Deltan: Caso distribuído para Barroso
17:05:52 – Deltan: Que cá entre nós me escreveu elogiando o artigo sobre o indulto 17:06:13 – Deltan: A distribuicao pro Barroso foi o que pedi a Deus!!
A reportagem Intercept-Reinaldo Azevedo mostra ainda que o pacote das “70 Medidas Contra a corrupção”, organizada diretamente pelos procuradores da Lava Jato, também passou pelo escrutínio de Barroso. No dia 28 de maio de 2018, escreveu Deltan para os colegas:
22:54:18 – Deltan: Caros, comentei com Bruno, mas isso tem que ficar entre nós três, please. Hoje falei com Barroso, que gostou muito da ideia das medidas e da campanha da TI e vai divulgar. Passei pra ele os arquivos e materiais.
*”Bruno” é Bruno Brandão, da Transparência Internacional (TI).
Alguns dias antes, no dia 21 de maio de 2018, Dallagnol comentou com outros procuradores, em tom de entusiasmo, que faria uma palestra ao lado de Barroso.
09:03:11 – Deltan: Yep. Pela manhã, palestra na FIEP. Tentarei falar com Barroso, nem que seja no almoço, mas não sei se haverá momento propício. Questoes a abordar?
09:10:20 – O principal é saber qual é o clima do STF em relação a nós.
Anos antes, no dia 26 de julho de 2016, ao falar sobre as “Dez Medidas Contra a Corrupção”, que se tornou projeto de lei de origem popular, Deltan comentou com a procuradora Luciana Asper que também havia submetido o texto à análise de Barroso:
21:59:17- Deltan: Luciana, passei as 10 medias pro Min. Barroso, que tende a ser simpático a elas, pelo menos em sua maior parte. Ele se intererssou e disse que lerá no recesso…. é um apoio em potencial.

Barroso e os ataques ao Supremo

No dia 25 de abril de 2018, o procurador Júlio Noronha postou no chat do telegram uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre críticas que Barroso fez ao Supremo, durante sua passagem na Universidade de Columbia, em Nova York, onde concedeu uma palestra.
20:49:58 – Julio Noronha: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/stf-esta-sob-ataque-e-sofre-momento-de-descredito-afirma-barroso.shtml
22:10:11 – Deltan: Engracado o momento em que quem nos desagrava é outro ministro e não a PGR
22:10:24 – Deltan: Um Barroso vale 10 PGRs.
Na ocasião, disse Barroso sobre o Supremo ter se tornado alvo de ataques: “A pergunta que me faço frequentemente é por que o STF está sob ataque, por que está sofrendo esse momento de descrédito. Bem, o que acho que está acontecendo é que há uma percepção em grande parte da sociedade e da imprensa brasileira de que o STF é um obstáculo na luta contra a corrupção no Brasil”.

Deltan é 89% Barroso

Um trecho curioso das mensagens mostra que os procuradores da Lava Jato fizeram um teste de brincadeira publicado na revista Veja para saber qual ministro do Supremo mais se identificavam.
18:07:33 – Michael Mohallem: https://complemento.veja.abril.com.br/brasil/teste-quem-e-voce-no-stf/
18:07:50 – Michael Mohallem: 75% fux😞
18:42:21 – Deltan: Ha!
18:42:23 – Deltan: Eu sabia18:42:29 – Deltan: 89% Barroso.
A reportagem destaca que, até o mês passado, o escritório “Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados” (ex-“Luís Roberto Barroso & Associados”), hoje conduzido por um sobrinho do ministro Roberto Barroso, fazia a defesa de Dallagnol nos procedimentos que respondeu no Conselho Nacional do Ministério Público.

O GGN prepara uma série de vídeos que explica a influência dos EUA na Lava Jato. Quer apoiar o projeto? Clique aqui.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor

Assine e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Como os Estados Unidos viram o "discurso" de Jair Bolsonaro, por Patrícia Faermann




Os mesmos jornais do país venerado por Bolsonaro ironizaram e criticaram o tom "nacionalista", de "ultra direita", "bombástico", "polêmico", "repleto de menções a Deus" e que "retribuiu o desprezo à comunidade internacional"



Trump elogia Bolsonaro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU - Foto: Alan Santos/PR
Jornal GGN A única liderança internacional elogiada por Jair Bolsonaro no discurso da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (25), foi os Estados Unidos de Donald Trump, como era de se esperar. Entretanto, os mesmos jornais do país venerado por Bolsonaro ironizaram e criticaram o tom “nacionalista”, de “ultra direita”, “bombástico”, “polêmico”, “repleto de menções a Deus” e que “retribuiu o desprezo à comunidade internacional”.
GGN traz como as falas de Bolsonaro aprofundaram a crise diplomática do Brasil e tornaram o presidente do país uma caricatura da extrema direita na visão global:

The New York Times

The New York Times colocou Jair Bolsonaro na lista dos discursos “mais bombásticos” da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (25), juntamente com Donald Trump, dos Estados Unidos, o ditador egípcio Abdel Fattah el-Sisi, o autoritário presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o ultradireitista Boris Johnson que comanda o Reino Unido e debutará a separação definitiva do país no bloco europeu, o Brexit.
Ao tratar especificamente de Bolsonaro, o NYT introduziu com a seguinte apresentação: “Por vezes chamado de mini-Trump, uma figura polêmica em sua própria casa [Brasil] e que, como Trump, descarta os receios sobre as mudanças climáticas e desmerece quem o critica no Twitter”.
Apontando trechos de seu discurso, quando Bolsonaro responsabilizou de “sensacionalistas” a repercussão da mídia internacional pelas queimadas na Amazônia, e quando defendeu que o Brasil tem uma política de “zero tolerância” ao crime, destacou a fala de Bolsonaro de que “a Amazônia não está sendo devastada, nem está sendo consumida pelo fogo como a mídia enganosamente diz”.
Juntamente com estas falas, o The New York Times ressaltou: “a agência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil identificou 40.341 incêndios na região amazônica nos primeiros oito meses deste ano, cerca de 35% acima da média dos primeiros oito meses de cada ano, desde 2010”.
Em tom de ironia, o jornal norte-americano apontou que Bolsonaro “denunciou” o politicamente correto, finalizando expondo a fala do mandatário brasileiro: “a ideologia invadiu a própria alma humana para expulsar Deus e a dignidade que ele nos concedeu”.

The Washington Post

Em um especial dedicado ao polêmico discurso de Bolsonaro, o The Washington Post entrou com a ironia logo na manchete: “A Amazônia não está em chamas, diz Bolsonaro do Brasil à Assembleia Geral da ONU; está cheia de riquezas”. Na reportagem, o jornal afirma que Bolsonaro “rejeitou pedidos de intervenção estrangeira nas queimadas da Amazônia”, porque a região não estaria em chamas, na visão do líder brasileiro.
Destacou, ainda, a intenção de Bolsonaro de “explorar nosso potencial [da floresta] de uma maneira sustentável”, nas propostas do mandatário de “desenvolver” a região e as reservas indígenas. “As taxas de desmatamento na Amazônia quase dobraram desde que Bolsonaro, um nacionalista de direita, assumiu o cargo em janeiro”, adicional o periódico.
“Em um discurso repleto de menções a Deus, patriotismo e crítica ao socialismo, Bolsonaro disse que as potências estrangeiras estão de olho nas riquezas naturais do Brasil e ‘têm interesse em manter os indígenas vivendo como homens das cavernas’. (…) O presidente disse que vastas terras tribais estão cheias de ouro, diamantes e urânio esperando para serem explorados.”
A reportagem do Washington Post refere-se à fala de Bolsonaro sobre as riquezas da reserva Yanomami, mas relembra que, no local, “a mineração ilegal é tão intensa que mais da metade da população tem envenenamento por mercúrio, de acordo com um estudo realizado no início deste ano pela Fundação Oswaldo Cruz”. Também refere-se à indígena Ysani Kalapalo, que esteve na comitiva do mandatário, não tem o apoio da “vasta maioria dos indígenas e ativistas ambientais do Brasil”.
Ao jornal norte-americano, a chefe da Associação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, criticou o discurso de Bolsonaro e contrariou o posicionamento de Kalapalo: “Ele quer entregar nossa terra para exploração, e nunca vamos concordar com essa posição. (…) O movimento indígena nas cinco regiões deste país não aceita a política de Bolsonaro. Continuaremos lutando, nos opondo e nos tornando inimigos deste governo”, disse a líder indígena à reportagem dos EUA.

Huffpost

Também o Huffpost traçou críticas ao discurso do líder brasileiro na ONU, na reportagem “Jair Bolsonaro brasileiro defende o desmatamento: ‘A Amazônia não está sendo devastada'”, destacando o teor “de nacionalismo inflamado” de suas falas.
“O presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, culpou as organizações de imprensa internacionais e ambientais por espalharem ‘mentiras’ sobre os incêndios que assolam a floresta amazônica durante um discurso nacionalista que abriu a Assembléia Geral das Nações Unidas em 2019 na manhã de terça-feira. ‘A Amazônia não está sendo devastada’, disse Bolsonaro, contradizendo recentes reportagens da mídia e até dados científicos de seu próprio governo”, introduziu o jornal.
“Bolsonaro, um ex-oficial militar que elogiou a ditadura militar anterior do Brasil, está enfrentando escrutínio internacional por lidar com o surto recorde de incêndios na Amazônia, por esvaziar as agências ambientais, por reverter as proteções florestais e por negar a mudança climática – o foco central da cúpula anual da ONU deste ano”, continuou o jornal.
O Huffpost disse que “como era de se esperar”, o líder brasileiro retribuiu “o desprezo à comunidade internacional”, ao invés de ter tentado reatar o conflito diplomático. O ataque à ONU, recomendando que ela não seja “uma organização globalista”, ao “ambientalismo radical” e após transcrever trecho da carta da indígena lida por Bolsonaro no encontro, o jornal colocou uma observação entre parênteses: “(Bolsonaro já havia dito anteriormente que os indígenas brasileiros não têm “nenhum cultura “e que era” uma pena “não terem sido exterminados)”.
E concluiu a reportagem dizendo que “apesar de seus insistentes apelos para colocar o mercado por sobre a ideologia, Bolsonaro embebeu seu discurso em conceitos da era da Guerra Fria”. “Ele defendeu a expulsão de mais de 8.000 médicos cubanos, muitos dos quais atendiam a aldeias indígenas remotas do país logo após a posse, e culpou legiões de ‘agentes’ cubanos por instituir a ‘crueldade do socialismo’ na Venezuela atingida pela crise”, exemplificou o diário.

O inglês Financial Times

Em outro continente, mas com presença de leitores nos Estados Undios, o britânico Financial Times, em duas reportagens, mencionou como o presidente brasileiro está tratando a Amazônia. Em uma delas [aqui], que recomenda cinco livros para entender a batalha contra o desmatamento da Amazônia, assim descreve a atuação do atual presidente: “Mas para o líder nacionalista brasileiro Jair Bolsonaro, que abriu a Assembléia Geral da ONU hoje, a Amazônia se tornou outra coisa: um campo de batalha essencial para sua guerra cultural contra a esquerda”.
Em outra matéria [aqui], que trata sobre a atuação de Donald Trump contra os avanços dos países para evitar as mudanças climáticas, exemplifica que assim como o presidente do Brasil, que se viu alvo de uma crise diplomática internacional pelo “desrespeito do presidente brasileiro Jair Bolsonaro em proteger a floresta amazônica”, Trump pode ser alvo do mesmo destino.