segunda-feira, 1 de abril de 2019

Quando Mourão chamou o Bozo de “estadista” (para agradar bancos e empresários) parei de assistir, por Armando Coelho Neto,advogado, delegado aposentado da PF e ex-representante da Interpol




E foi com esses prolegômenos que Mourão defendeu a reforma trabalhista a qualquer preço e foi aplaudido pelos que vão lucrar com a tal reforma.


Quando Mourão chamou o Bozo de “estadista” parei de assistir

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Juro. Não é primeiro de abril.
A semana transcorreu em clima de reafirmação do ódio e da maldade. O movimento assassino e entreguista de 31/03/1964 matou estudantes, torturou barbaramente mulheres, matou crianças, índios, negros, atirou gente em alto mar, soterrou sob construção de um shopping na grande São Paulo, criou valas comuns como a de Perus (São Paulo) entre outras barbáries. Tomaram o Brasil com baionetas, endividaram o país e depois devolveram impondo a condição de que fossem anistiados de seus crimes. Condição, aliás, sem o que não haveria anistia.
Para o palhaço-mor da República, os militares deveriam ter matado mais. Bem mais e ele próprio ameaçou matar petralhas por aí afora, trazendo para seu acervo político os votos de milhões de assassinos potencias, que na balança eleitoral, somado a outros ódios consagrou sua “vitória”. Aproveitou-se bem do crime contra a humanidade promovido pela TV Globo et caterva, e agora continua a reativar seus propósitos sanguinários, convocando militares a comemorarem a barbárie. Já provocou árabes e bolivianos, bajula ego de milicianos e nesse exato momento, foi jogar gasolina na fagulhante Israel. E assim o Brasil se esvai como papel higiênico usado a cada descomida, num país cujo símbolo é mesmo uma bolsa de dejetos.
Popularidade em baixa, já não está claro a quem o palhaço-mor da República representa. Se ainda restar algum respingo de dignidade no nacionalismo zumbaia das Forças Armadas, é possível que esse contingente silencioso esteja alerta à progressiva perda de soberania, seja vendendo as empresas nacionais, seja entregando Amazonas, Pantanal, Alcântara e alimentando provocações a países vizinhos. Eis parte do sentimento dos que festejaram o golpe de 64 que, com apoio de raposas do STF que, com a boca cheia de penas, negam que comeu as galinhas. Segue o Brasil sob o signo da insanidade que afastou o Bozo dos quarteis no passado. E aqui paro o meu pra não dizer que não falei de 31 de março. Viro a página para comentar a fala do vice Mourão – o vulgo “Sopra”.
Bozo pica e Mourão sopra. As picadas de ódio distribuídas pelo Bozo precisavam mesmo de um assopro, e o vice já se acostumou a amenizar a falastrice do histrião “eleito”. Aí, falando como se fosse vice dele mesmo, resumidamente assoprou dizendo que o presidente Mico não representa ameaça para a democracia. O interesse dos empresários na fala do vice-Coiso é sintoma de que os empresários não confiam no Bozo, que só sinaliza com incertezas. Bozo se comporta como empregado desgostoso que abusa pra ser demitido.
Mourão foi soprar para empresários, aproveitou para falar de tributos e foi aplaudido. Falou de tributos como se impostos pagos não fossem repassados para o consumidor. Como se renúncias fiscais de governo não fossem por eles transformados em lucros – parte não tributável. Vale, em tese, a máxima de que quem paga imposto é consumidor. Para ser bonitinho, falou de valorização de mercado nacional, enquanto Bozo perde mercado para chineses, árabes, russos e venezuelanos. Fala de educação como se, com fome, fosse possível interpretar texto. Nem o STF sabe interpretar texto e dou exemplo: “presunção de inocência”. Ninguém lá sabe o que é isso (Lula que o diga). Portanto, interpretar texto é muito mais sério do que Mourão pensa. Até por que, cortando verbas da saúde, educação, alimentação vai ficar mais difícil ainda interpretar texto.
Mourão falou dos crimes cometidos por menores. Passou raspando sobre menores aliciados pelo tráfico, “entidades” que substituem o Estado nas favelas, onde os poderes públicos não entram, exceto pra dar porrada. E, se depender do Moro, com licença para matar. Falou também de controle de fronteiras, fortalecimento de polícias, maior presença do Estado nos cinturões de miséria. Volto aos cortes ameaçados pelo Paulo Guedes. Como assim se os que apoiam Mourão são contra os projetos sociais, aos quais chamam de assistencialismo demagógico? Disse ser preciso atacar as vacas sagradas, citou salário mínimo e calou sobre grandes fortunas ou aposentadorias dos militares. Ah, tá, Mourão.
Se a deputada Tabata Amaral estivesse na plateia iria qualificar a fala de Mourão como “lista de boas intenções”. Há na fala do Mister Sopra um viés de generalidades sobre questões práticas que estavam sendo tratadas nos governos do Partido dos Trabalhadores, mas que as forças políticas que apoiam o Bozo foram totalmente contra. Os tímidos ensaios do PT direcionados às boas intenções do vice foram duramente atacados pelos apoiadores do golpe. Quando falo apoiadores do golpe, eu incluo Mourão. Sua lista de boas intenções tem um preço que a elite do atraso que o aplaudiu não está disposta a pagar.
Entre as falas mais cruéis do “Amansa Bozo” está a seguinte frase: políticos que pensam que ainda estamos no Século XIX, nas masmorras da Londres industrial. Levam o direito a um paradoxo onde tudo tem que estar escrito na Constituição”. (Certamente não estamos nas masmorras da Londres Industrial, mas é para onde a elite do atraso quer nos levar. Se é difícil lutar pelo que está escrito, imagina lutar pelo que não escrito. Esquecendo que ele próprio, Mourão, representa esse atraso). E foi com esses prolegômenos que Mourão defendeu a reforma trabalhista a qualquer preço e foi aplaudido pelos que vão lucrar com a tal reforma. Com cinismo, falou da realidade mundial – a mesma realidade desconsiderada quando para derrubar Dilma. A crise mundial era desculpa e tudo era culpa do PT.
Para uma plateia de homens que nunca sonegaram, nunca corromperam, nem devem favores ao Estado, via Proer e outras mamatas, “Mister Assopra” falou em zero corrupção e, pasmem (!) foi aplaudido. E aí, declarou o Bozo como “estadista”. – Chega!
Nesse ponto eu parei e presumo que não perdi nada, mesmo.
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

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