Mensagens mostram que Dallagnol sempre esteve preocupado em administrar boa parte da multa que os EUA aplicariam à Petrobras
Jornal GGN – As mensagens de Telegram reveladas pela Agência Pública e o The Intercept Brasil, nesta quinta (12), confirma as suspeitas que o GGN e outras fontes de informação vêm levantando desde 2015: a Lava Jato abriu caminho para que os Estados Unidos entrassem com os dois pés no peito da Petrobras e de outras empresas que interessam para o desenvolvimento nacional. Em troca, a força-tarefa negociou receber o controle sobre parte da verba bilionária que os norte-americanos cobrariam da petroleira.
Até aqui, a força-tarefa vinha negando que tivesse auxiliado os norte-americanos contra a Petrobras. Quando questionada pelo GGN, em 2019, a turma de Curitiba mandou informar que foi a própria Petrobras que cedeu às autoridades dos Estados Unidos os documentos e depoimentos necessários à investigação, na tentativa de reduzir o valor da multa que viria a ser aplicada.
A Vaza Jato mostra, contudo, que os procuradores de Curitiba foram muito prestativos: receberam sigilosamente os agentes do Departamento de Justiça e do FBI na sede do MPF, sem informar o governo brasileiro; apresentaram detalhes sobre os investigados da Lava Jato que poderiam virar delatores nos Estados Unidos; pressionaram para que os mesmos conversassem e cooperassem com os norte-americanos, e ainda ensinaram procuradores estrangeiros alguns meios de burlar as regras brasileiras na tomada de depoimentos.
A cooperação direta com os norte-americanos tinha um objetivo claro: a equipe de Deltan Dallagnol estava de olho no valor bilionário que a Petrobras seria obrigada a pagar no processo criado nos Estados Unidos, por ferir a FCPA – a lei anticorrupção americana, usada contra qualquer empresa envolvida em escândalos, desde que tenha ações na bolsa de Nova York ou outro vínculo com o País.
Em uma das mensagens, Dallagnol sustentou que se o “MPF coopera” com os EUA, a “multa se aplica” à Petrobras, e o dinheiro retorna ao Brasil, para ser administrado pelos procuradores. A única coisa que preocupava ele era o impacto negativo que a Lava Jato sofreria quando a imprensa descobrisse que a cooperação resultaria numa perda bilionária para a Petrobras.
Para “mitigar” esse dano à imagem, os procuradores de Curitiba passaram ano atrás de ano sendo permissivos e atenciosos com os norte-americanos. Tudo para garantir que boa parte da multa aplicada à Petrobras retornasse ao país para ser injetada em projetos “sociais” e “anti-corrupção”.
Se o MPF não cooperasse, escreveu Dallagnol, a multa se aplicaria “igualmente”, com o ônus de que ficaria no bolso do governo dos Estados Unidos.
Desde 2015, quando os norte-americanos colocaram os pés no Brasil para começar a montar o processo contra a Petrobras e outras empresas brasileiras, Dallagnol discute com a equipe o que iria fazer com a parcela da multa.
O procurador Roberson Pozzobom até ficou encarregado de levantar as instituições que seriam beneficiadas com a fortuna. Anos mais tarde, quando o acordo entre e Petrobras e DOJ estava fechado, com multa fixada em 853 milhões de dólares, Pozzobom e Dallagnol tentariam abrir uma empresa de palestras e eventos que poderia ser “cliente” da “fundação” da Lava Jato, idealizada para gerir os 80% da multa (R$ 2,5 bilhões) devolvidos ao Brasil. Os planos foram frustrados pela Suprema Corte.
As mensagens da Vaja Jato revelaram mais: em meados de 2017, a diplomacia brasileira foi acionada para interceder junto ao governo norte-americano em favor da Petrobras. Um procurador do DOJ chegou a perguntar à turma de Curitiba se seria o caso de paralisar as investigações contra a petroleira. A Lava Jato lavou as mãos naquele momento, confiante de que se os EUA fossem em frente, a opinião pública pouparia a força-tarefa de criticas porque, afinal, eles teriam trabalhado para que 80% do valor da multa retornassem ao Brasil.
Em um dos diálogos no Telegram, Dallagnol até chegou a escrever que a denúncia dos Estados Unidos contra a Petrobras era “injusta”. Que os norte-americanos só tinham em mãos o mesmo material que fora descoberto pela Lava Jato, e que a aplicação da FCPA deveria ser questionada.
O GGN produziu uma série com cinco vídeos que explicam a influência dos Estados Unidos na Lava Jato. O episódio 4 detalha o processo que a Petrobras enfrentou no Departamento de Justiça, e na Comissão de Valores Mobiliários, cuja sigla em inglês é SEC – espécie de órgão regulador do mercado de capitais.
Além da multa de 853 milhões de dólares imposta pelo DOJ, a Petrobras também pagou 2,95 bilhões de dólares aos acionistas estrangeiros, em outra ação, batizada de “class-action”.
No total, foram 3,8 bilhões de dólares despendidos pela Petrobras nos EUA, graças à abertura que a equipe de Dallagnol deu aos norte-americanos. É muito mais do que os 4 milhões de reais que a força-tarefa se gaba de ter devolvido à Petrobras nos últimos seis anos.
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