sábado, 21 de março de 2020

O grande capital tem que pagar a conta, não os trabalhadores, por Roberto Bitencourt da Silva




Ambos os personagens - Globo e governo Bolsonaro -, por mais que não se biquem em questões táticas e de natureza comportamental, convergem na estratégica visão de submeter o Brasil à condição de colônia

O grande capital tem que pagar a conta

por Roberto Bitencourt da Silva

O governo Bolsonaro apresentou, poucos dias atrás, a proposta de redução dos salários dos trabalhadores em regime celetista, proporcional à jornada, para supostamente enfrentar a gravíssima e inaudita crise econômica associada à pandemia do coronavírus.
No mesmo compasso e demonstrando o mesmo viés covarde sobre o mundo do trabalho, as Organizações Globo têm preconizado, na TV e no jornal impresso, a adoção de igual tipo de medida sobre o funcionalismo público.
Evidentemente, ambos os personagens – Globo e governo Bolsonaro -, por mais que não se biquem em questões táticas e de natureza comportamental, convergem na estratégica visão de submeter o Brasil à condição de colônia e instrumento da política externa estadunidense, desnacionalizando o patrimônio e as riquezas nacionais, alinhando-se automaticamente aos EUA, lançando os trabalhadores a um mais rígido, amargo e ultraespoliativo regime de trabalho.
Por isso, ambos comungam com medidas que redundem na identificação da fonte para financiar os duros dias que correm e os meses trágicos que virão. Uma vez mais, a cantilena é entregar a fatura aos trabalhadores e às camadas intermediárias.
Na contramão, medidas como a suspensão dos serviços e demais compromissos das dívidas públicas, dos entes distintos da Federação, deveriam ser tomadas. Uma boa dose aí de oxigênio para viabilizar os elevados e indispensáveis investimentos na saúde pública, para diminuir a asfixia dos orçamentos públicos com rentistas e bancos. Também tendo em vista empregar ações de transferências estatais de rendimentos aos desempregados, subempregados e recém demitidos, visando proteger o Povo Brasileiro, ou ao menos mitigar as dores a surgir e crescer no horizonte. De alívio tributário, eventualmente também transferência de renda, a pequenos e microempresários, sujeitos à falência, entre demais casos lamentáveis de privação.
Ademais, sabe quem pode oferecer grande contribuição, evitando a depressão absoluta da economia, um provável elástico subconsumo e crescimento da miséria, portanto, quem pode e deve, realmente, arcar com os custos do mais rápido financiamento de uma verdadeira operação de guerra para salvar vidas brasileiras?
  1. Bancos. Não pagam impostos. Há alguns anos, Bradesco, Santander e Itaú, juntos, somente em dois trimestres, tendem a obter lucros maiores do que a soma destinada, em um ano, para o Programa Bolsa Família (cerca de R$ 30 bilhões, em 2019). O programa atende entre 40 e 50 milhões de pessoas. Cobrem-se os devidos impostos dos banqueiros!
  2. Grandes empresas com capital sediado no País, cheias de dívida com o Poder Público, sem pagar vários compromissos previdenciários, tributários etc, de modo a elevar seus regimes de acumulação de lucros. Uma prática extralegal, que conta com a omissa cobertura dos poderes do Estado brasileiro e a ativa defesa de representantes políticos. Paguem o que devem!
  3. Megacorporações multinacionais. São isentas por todos os entes da Federação, de múltiplos impostos. Não desenvolvem, nem internalizam a produção tecnológica de equipamentos e máquinas, insumos sofisticados, aqui no Brasil. Habitualmente, trazem tudo importado dos seus laboratórios e países-sede, não raro também sem pagar impostos nessas transações obscuras. Ainda geram pouco emprego, raquítico em comparação às perdas financeiras do País, com remessa de lucros, patentes etc. Que sejam cobrados os impostos destas gigantescas empresas!
Está, pois, mais do que na hora de justificar a apologética classificação de “investimento estrangeiro”, que supostamente contribui(ria) para capitalizar a economia brasileira. Apologia feita, ente outros, por liberais vende pátria de plantão e a mídia hegemônica.
Essa é a grande oportunidade de os pretensos “heróis” dos editoriais dos principais veículos de comunicação contribuírem, efetivamente, com o Brasil e a nossa gente. E deixarem de desempenhar, na prática, o nocivo papel de agentes parasitários sobre os trabalhadores e a pequena burguesia brasileira.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor

Assine e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário