domingo, 29 de março de 2020

Covid-19, riqueza e pobreza, por Rui Daher

Lamentam os ricos que fazem carretada nestes tempos, no que vêm fazendo coro com o Regente Insano Primeiro, quanto a isolamentos e quarentenas. Bobos. Ricos, só teriam a chorar a impossibilidade de frequentar as luxuosas casas de repasto. Bobos, repito. Tem nada, não. É só aproveitarem as várias gerações desempregadas, mas hoje “empreenduberistas-IFoodistas”, tantos mais.

Do GGN:

No planeta, discute-se opções entre não morrer ou salvar a economia. No Brasil de RIP, em forma selvagem.
 
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Covid-19, riqueza e pobreza, por Rui Daher

O ex-presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Ilan Goldfajn, substituído pelo acólito, Roberto Campos Neto, declarou a Sérgio Lamucci (Valor, 26/03): “o risco do crédito é lidar com o fato de que empresas vão ficar alguns meses sem ganharem, e não ter como pagar a dívida”.
Bidu! Desde sua origem, israelita, talvez sionista, o economista Ilan Goldfajn, e seguidores, se mostram contra políticas de inserção social e crédito para o consumo. Imaginem agora, o país em guerra contra uma pandemia e cinco anos de economia estagnada, exceção aos adeptos da financeirização. Deus os queiram, livres do coronavírus. Assim poderão continuar exercendo suas lícitas (?) opções gastronômicas.
Lamentam, no que vêm fazendo coro com o Regente Insano Primeiro, quanto a isolamentos e quarentenas. Bobos. Ricos, só teriam a chorar a impossibilidade de frequentar as luxuosas casas de repasto. Bobos, repito. Tem nada, não. É só aproveitarem as várias gerações desempregadas, mas hoje “empreenduberistas-IFoodistas”, tantos mais.
Muitos de nós, velhos encarcerados, sentimos falta de “empreendocartoristas”, para casais que queiram o divórcio e filhos que pretendam nos interditar. Tudo em domicílio e a bom preço. Ah, tem mais: realizando os atos judiciais em grupo, pode-se obter 20% off. Convoquem os vizinhos.
Vixe! Galhofei quando não é tempo para isso. Deveria estar “triste, tristinho, mais sem graça que a top model magrela na passarela” (grato, Zeca Baleiro). Ponho-me sisudo.
No planeta, discute-se opções entre não morrer ou salvar a economia. No Brasil de RIP, em forma selvagem.
Mais uma vez, recorro a Martin Wolf, em lúcida análise, “O desafio ético da pandemia” (Valor, 27/03/20). Transcrevo trecho longo, depois sigo all by my self.
“O coronavírus só quer saber se replicar. Nós queremos interromper essa replicação. Ao contrário dos vírus, seres humanos podem fazer escolhas. Esta pandemia entrará para a história. Mas a maneira como entrará vai definir o mundo a ser deixado como legado. Trata-se da primeira pandemia em cem anos. E chega em um mundo que, diferentemente daquele da gripe espanhola de 1918, está em paz e goza de uma riqueza sem precedentes. Devemos ser capazes de administrá-la bem. Se não formos, este será um ponto de inflexão, e não será para melhor”.
Martin, Wolf, como frequente, se refere mais às economias hegemônicas. Mesmo assim, entre a supressão e a mitigação, ele se posiciona pela primeira. Os números nos Reino Unido e EUA devem tê-lo aconselhado, afinal lá RIP não existe.
Não descarta recessão ou mesmo depressão, mas se mantém pelos caminhos que aqui a sociedade que desdenha entrevistas de cercadinho e falas inconsequentes, felizmente, apoia.
Quando chega aos países em desenvolvimento e emergentes, erra:
  1. Quando cita como profunda (sic) a queda nos preços das commodities agrícolas. Basta recorrer ao índice da FAO (como citei em artigo para CartaCapital) e verificar que eles se mantêm há doze meses estáveis, fora a apreciação da moeda norte-americana);
  2.  Quando cita dificuldades internas de abastecimento. Não no Brasil, resolvida a vida dos caminhoneiros. A produção de alimentos se mantém, as cadeias distribuidoras, também;
  3. Condiciona um Brasil beneficiado somente se as nações desenvolvidas estabilizaram a crise da pandemia. Não. Os países asiáticos, inclusive a China, parecem estar resolvendo o problema do coronavírus, de forma mais consequente e acelerada do que os EUA e europeus;
  4. Números recentes indicam fortalecimento das importações de alimentos brasileiros;
  5. Está certo quando aponta: “Esses países vulneráveis (…) precisarão de ajuda (…) o vírus é um problema compartilhado”. Mas, será que isto serve a um país com desastrosa política externa?
  6. Termina o artigo de forma magistral, mas óbvia e sem solução, coitado nem poderia.  Resumo: líderes mais serenos, usando a razão; derrotar a doença e minimizar os danos econômicos; pessoas e países menos favorecidos sejam favorecidos; solidariedade em vez do nacionalismo voltado pra dentro; deixar um país pós-pandêmico melhor ou pior do que o atual;
  7. De MW: “Ao contrário dos vírus, os seres humanos podem escolher. Que escolham bem”.
Bem, creio que agora podemos sossegar.
Exato momento em que termino o texto, Zé da Flamante, rubro-negra, me liga e pergunta: “Nada da África? É verdade que o Mestre, Jorge Jesus, vai deixar o Mengo prá treinar um time de lá”?
Respondo: Sei lá, pergunte ao Martin Wolf.

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