Do Jornal GGN:
Maior que a vida é a corrupção?
por Francisco Celso Calmon
No mundo privado dos negócios a corrupção é habitual, comum, e de certa forma até normalizada.
“Vendedores” incluem overprice, ou comissão em torno de 10%, ou sobrepreço, para o comprador. Dar preferência é sinal de receber compensação em espécie ou de outras formas, algumas superficialmente camufladas.
Não há pudor, é vezo. Não há ética. O que há é o mandamento primeiro e único do sistema: alcançar lucro por meio de vantagens na selva dos negócios.
É a iniciativa privada que leva a corrupção à seara pública. Os corruptores têm o poder do dinheiro para subverter a lisura de qualquer processo de compra de serviços ou produtos.
Não há filtros e critérios suficientes para evitar; há muitas brechas na lei de licitação. O último anteparo é a ética estatutária do funcionário público, que tem condições de supervisionar e verificar se há alguma brecha usada no processo concreto da aquisição de bens.
Há também os ambientes estatais historicamente favorecedores da corrupção, como as Intendências das Forças Armadas. A bandalheira nesses recintos se faz até por cabo da polícia militar, desde que tenha tempo e algum relacionamento pessoal para servir de ponte.
Assim como há os penetras de festas, há os intermediários bicões. Esses bicões chegam a ter dez cartões de visitas, cada um com o propósito de causar impressão de credibilidade.
Geralmente atuam nas duas pontas, representando ora o potencial comprador, ora o interessado em vender. Assim, estabelecem as condições e o negócio é feito, desaparecem e vão à cata de outro. Vivem dessa fajuta e lucrativa intermediação.
Os intermediários em qualquer cadeia da produção à comercialização só oneram os custos, contudo, é histórico. São semelhantes aos despachantes de serviços púbicos. A burocracia é a aliada para a existência dessas peculiaridades brasileiras.
O que a CPI do genocídio está encontrando só escandaliza os tolos.
Puxaram um fio, pode vir o novelo.
A CPI tinha (tem) por objetivo investigar para encontrar provas de que o genocídio contou com a participação dos integrantes do governo bolsonarista. E já as encontrou!
Não houve política preventiva e nem ativa contra a covid-19, apenas uma política reativa ante às pressões e números trágicos de mortes e infectados, foram e são adeptos da imunidade de rebanho, da cloroquina como remédio, off label, para tratamento da doença, inobstante inexistente respaldo científico, enquanto retardavam a aquisição de algumas vacinas, negociavam propina, jabaculê, com outros fornecedores.
Um ministério da saúde infestados de militares está envolto em corrupção. Além da política aplicada ter sido indutora de contágio e morte, foi também indutora de corrupção.
Está o ministério da saúde tomado por gangues da negociata? Os indícios apontam neste sentido. Ocupado por fariseus da moral, não será surpresa se negociaram com os coveiros o valor de cada morte.
Faltam as Forças Armadas vergonha e dignidade, por que se as tivesse já teriam saído desse governo calamitoso.
Seja por negligência, imprudência, imperícia, charlatanismo e curandeirismo, houve uma política que propiciou a morte de 2/3 de brasileiros que poderiam ter sido evitadas.
Por culpa ou dolo eventual não há mais dúvidas diante das provas obtidas na CPI por documentos e testemunhas.
Se a vida não abala a República, a corrupção, como sempre, põe a classe média e o default do sistema em armas para destronar o Bolsonaro.
Prevaricação e peculato são as novas modalidades de crimes de corrupção a abater o genocida do Planalto.
Por qual via? Impeachment, interdição ou renúncia forçada? CADA VIA TEM IMPACTOS e RISCOS, porém, todas evitam o mal maior de sua permanência e possível aventura.
A CPI está cumprindo um papel altamente favorável ao Brasil, contudo, não perder o foco e o timing são os desafios que estão postos. Alargar o prazo para mais 90 dias, penso ser largo demais, talvez no meio esteja o tempo certo.
No meu artigo anterior neste blog, Será filhote de chocadeira, ou a própria?, provoquei o delinquente: Não espere como o Collor, quando o impeachment for iminente e inevitável, antecipe-se para ser diferente, e choque pela última vez antes de ser preso e condenado pelos tribunais do país e internacionais, como corrupto e genocida.
Não sendo o modelo Collor a ser utilizado, será uma variante do modelo Temer? Algumas prisões e um acordo para sair de cena e refugiar-se em algum país? Ocorre que não é só ele, o delinquente tem os filhos e os auxiliares cúmplices. E mais: qual o exemplo para o país ante a tragédia sanitária que poderia ter sido evitada?
Quanto vale as vidas dos que foram a óbito e as graves sequelas dos que sobreviveram?
Suas digitais têm sangue!
O fenômeno nazifascista bolsonarista tem que ser extirpado, para tanto, não pode voltar à política sem exemplar punição dos seus agentes.
A sociedade civil está fazendo o seu papel, permanecer nas ruas num crescendo, resta as instituições fazerem o seu e acertarem o caminho mais curto do fora Bolsonaro o quanto antes.
Francisco Celso Calmon, administrador, advogado, analista de TI, escritor, ex-coordenador da RBMVJ, da coordenação do canal ρσяσяσcα.
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