segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Disputa política entre democracia e golpismo fascistóide-bananeiro próxima do desfecho, por Luis Nassif

 

Nos próximos dias haverá o confronto entre o alto comando das PMs estaduais e os sediciosos. Além disso, Policiais Civis e inteligência das Forças Armadas estarão monitorando a possibilidade concreta de manifestantes armados, especialmente ligados aos clubes de caça e tiro e aos ruralistas.

Os últimos capítulos da guerra política se aproximam do desfecho.

Como exposto no “Xadrez da tempestade perfeita contra Bolsonaro”, não há alternativa a Bolsonaro, senão partir para o tudo-ou-nada.

Os motivos são simples:

1. Para evitar um confronto definitivo com o Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro teria que arrefecer suas investidas contra a democracia. Cedendo, sua posição será vista como fraqueza. 

2. Mostrando fraqueza, não apenas haveria uma debandada de sua derradeira base de apoio – os fanáticos e as milícias armadas (ligadas, inclusive a polícias militares estaduais) -, como dos aliados mais expostos a ações criminais. Dali para a prisão dos filhos e dele seria um pulo. Até o raciocínio de conta de somar de Bolsonaro já entendeu esse quadro.

Para os próximos meses, há um conjunto de crises, já contratadas, que aumentarão ainda mais o cerco a Bolsonaro.

1.  Nova rodada de alta de commodities.

A inflação já está contratada, como mostra o Índice de Preços ao Produtor. Com problemas climáticos, mais alguma recuperação da economia mundial, está ocorrendo um novo ciclo de alta de commodities. Em muitos setores – como o de algodão -, produtores estão retendo a oferta, aguardando qualquer respiro na demanda para disparar os preços. Tem tudo para mudar de patamar.

2. Novas rodadas de alta na pandemia.

Assim como em outros momentos, eventuais refluxos na expansão da pandemia provocam relaxamento total das políticas de contenção. Com os sinais nítidos de novas cepas, a partir do Rio de Janeiro, é de se esperar uma volta da pandemia, a exemplo do que está ocorrendo nos Estados Unidos, Israel e Reino Unido.

3. Os nós fiscais.

Sabia-se há pelo menos dois anos que a Lei do Teto era impraticável. Como se sabia de uma concentração de precatórios em 2021. Paulo Guedes fechou os olhos aos dois fatos. Pelo contrário, nos dois primeiros anos de governo usou e abusou da Lei do Teto para se fortalecer politicamente e assumir o controle do orçamento. As únicas medidas positivas contra a crise nasceram do Congresso. Agora, chegou a hora da verdade. A necessidade de medidas visando 2022 continua pressionando o orçamento. A compra de apoio do Centrão praticamente loteou as receitas. E a alta dos juros pressionará novamente a relação divida/PIB.

4. A queda de popularidade de Bolsonaro.

Com as últimas pesquisas registrando queda gradativa da sua popularidade, Bolsonaro amplia o confronto com as instituições. A soma desses fatos – deterioração fiscal + crise política – está provocando uma debandada de capitais externos. Fuga de capitais, pressionando o câmbio, mais alta de commodities, pressionarão cada vez mais a inflação, levando o BC a aumentar ainda mais os juros e, mais uma vez, tratando a febre com o método de sanguessuga – usando o câmbio como fator de equilíbrio dos preços.

5. As revelações da CPI do Covid.

O arsenal da CPI está longe do fim. A cada dia que passa vão surgindo mais indícios do envolvimento direto do esquema Pazuello na Saúde. Em breve se chegará ao Ministro da Defesa Braga Netto, que, na qualidade de coordenador do comitê de combate ao Covid, sancionou todos os abusos de Pazuello e todos os negócios que interessavam ao bolsonarismo.

O confronto final

As declarações do primata político Sérgio Reis, convocando manifestações em favor do golpe para 7 de Setembro, foram ditadas diretamente por Bolsonaro, é evidente. A lógica é óbvia: para ter apoio militar para o golpe, há a necessidade de endosso pela opinião pública, através de manifestações públicas.

Nos últimos dias, estão vindos à tona os trunfos óbvios do bolsonarismo: as milícias e a rede de PMs estaduais; No final da semana, o ex-PM que comanda a Cegesp convocou companheiros aposentados a participar das manifestações de 7 de Setembro. E um PM paulista da ativa, comandante de um batalhão de 5 mil policiais, manifestou-se politicamente.

Nos próximos dias haverá o confronto entre o alto comando das PMs estaduais e os sediciosos. Além disso, Policiais Civis e inteligência das Forças Armadas estarão monitorando a possibilidade concreta de manifestantes armados, especialmente ligados aos clubes de caça e tiro e aos ruralistas.

Aliás, será curioso. Suponha que, em uma tragédia, um soldado das FFAAs venha a ser vitimado por um miliciano, com uma arma não identificada, porque oficiais das FFAAs cederam a Bolsonaro e permitiram a importação descontrolada de armamentos sem registro e sem rastreamento. O que acontecerá? Os militares que cederam serão submetidos a Cortes Marciais?

Pela expectativa de aumento do nível de confrontos, o STF terá que acelerar as medidas contra Bolsonaro.

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