sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O risco do golpe militar, por Luis Nassif

 

Será um penoso trabalho para limpar a imagem das Forças Armadas da sua guerra das Malvinas: o apoio incondicional a um governante inescrupuloso e sem noção.

Imagem de tanques de guerra
Imagem de tanques de guerra

Começa a se tornar consenso a interferência militar na política. No programa Roda Viva,  Steven Levitsk, autor do já clássico “Como as democracias morrem” alertou para o papel dúbio das Forças Armadas.

Dias atrás, foi noticiado que o Ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, contratou uma empresa para mapear as redes sociais, para saber quem e o quê se fala das Forças Armadas. Depois, a informação de que a Defesa pretendia ampliar a quantidade de urnas fiscalizadas.

De sua parte, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu montar uma força tarefa para acompanhar pari-passu as investigações dos militares. Sinal óbvio de que não há a menor confiança em uma suposta fiscalização técnica dos militares.

Mas as duas medidas mais efetivas contra o golpe são aquelas que afetam diretamente as pessoas físicas.

A primeira foi a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, de enquadrar os milionários que articulavam golpes. Ficou claro, a partir daí, que essa brincadeira tem implicações penais para as pessoas físicas.

A segunda medida foi a decisão do corpo técnico do Tribunal de Contas da União de solicitar ao Ministério da Defesa justificativas técnicas, com embasamento científico, para os gastos que fará com essa fiscalização das urnas. Significa uma espada de Dâmocles sobre o pescoço do general Paulo Sérgio quando houver a mudança de governo. Ele poderá responder, como pessoa física, pelos arroubos em relação às urnas. Hoje ele fala em nome da corporação. Em uma investigação do TCU responderá como pessoa física.

Mas não basta.

Como mostramos no documentário Xadrez da Ultradireita, ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e o centro de inteligência do Exército, adquiriram muitos sistemas, que lhes permitem um controle amplo sobre a vida digital do país. Esses sistemas poderiam ser acionados em uma guerra híbrida visando desqualificar o resultado das eleições.

De qualquer modo, acende-se um forte sinal amarelo em relação ao papel político dos militares.

Havendo mudança de governo, o grande desafio será todas as instituições voltarem para os trilhos da normalidade democrática. E, da parte das Forças Armadas, significa sair de toda atividade civil, recolher-se aos quartéis e discutir profissionalmente o futuro da defesa no país.

Hoje em dia, tem-se uma corporação atraída por cargos e salários, em combater supostos inimigos internos, e sem nenhuma preocupação em se modernizar para a missão da defesa brasileira, da Amazônia Verde à Amazônia Azul.

Não há a menor lógica da manutenção do modelo atual, de grandes quartéis no Rio de Janeiro, em Brasília, no Rio Grande do Sul. As guerras modernas exigem tropas enxutas, altamente tecnológicas, com poder de mobilidade.

Chegou a hora das Forças Armadas fortalecerem sua parte mais legítima, os institutos de tecnologia, de engenharia, a parceria com países vizinhos, o revigoramento da indústria de defesa.

Será um penoso trabalho para limpar a imagem das Forças Armadas da sua guerra das Malvinas: o apoio incondicional a um governante inescrupuloso e sem noção.,

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