quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Assembleia da ONU: Fake News e o uso eleitoral de Jair Bolsonaro. Por Patrícia Faermann

 

O que Bolsonaro fez na Assembleia Geral da ONU: Fake News, ataques à Lula, a outros países e à própria ONU


Foto: Divulgação

Jair Bolsonaro fez uso político do discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta terça (20). Com Fake News e exacerbando um cenário paralelo à realidade econômica e social do país, Bolsonaro chamou seu adversário político, Lula, de “condenado” e responsável pela “corrupção sistêmica” e referiu-se ao 7 de setembro como um ato de “milhões” de apoiadores de seu governo.

Ataques a Lula na ONU


“Extirpamos a corrupção sistêmaca que existia no país”, disse Bolsonaro referindo-se à Lula, em clara Fake News contra as diversas acusações a que sua família e ministros enfrentam de corrupção.

No mesmo espaço onde Lula foi, notadamente, reconhecido internacionalmente pelas conquistas sociais de seu governo, Bolsonaro tentou atacá-lo, sem qualquer relação com a pauta da Assembleia das Nações Unidas.

“Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegou à casa dos US$ 170 bilhões. O responsável disso foi condenado em 3 instâncias, por unanimidade. Delatores devolveram 1 bilhão de dólares e pagamos para a bolsa americana outro bilhão por perdas de acionistas.”

“Esse é o Brasil do passado”, concluiu, em clara referência a não aceitar que Lula pode ser eleito e novamente presidente do país.

Uso do 7 de Setembro


Em outro episódio que configura comício eleitoral, Jair Bolsonaro escancaradamente voltou a usar o 7 de Setembro para benefício de sua campanha.

“Neste 7 de setembro, o Brasil completou 200 anos de história como nação independente. Milhões de brasileiros foram às ruas, convocadas pelo seu presidente, trajando as cores da nossa bandeira. Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país. Um povo que acredita em Deus, pátria, família e liberdade”, fazendo menção a ele próprio.

Fake News: Pobreza


Para um público de diplomatas e lideranças mundiais desinteressado nos temas trazidos, o mandatário pintou um Brasil inexistente, onde a economia estaria, na sua visão, “em plena recuperação”.

“Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. A pobreza aumentou em todo o mundo, mas no Brasil ela já começou a cair de forma acentuada. Até o final de 2022, há a estimativa de somente 4% das familia brasileiras estejam abaixo da linha da pobreza.”

Novamente em explícitas Fake News, somente em 2022, a fome aumentou no Brasil este ano, com 33,1 milhões de brasileiros passando fome. Somente 4 entre 10 famílias conseguem hoje o acesso pleno à alimentação.

Fake News: vacinas e violência no campo


Na contramão do seu próprio governo e o que fez pelo país, Jair Bolsonaro elogiou a vacinação contra a Covid-19 no Brasil – do qual foi contrária e atuou expressamente pela não imunização da população -, e disse que a violência no campo “também caiu” e que havia hoje “regularidade da propriedade da terra para os assentados”.

Além de ser notadamente contrário à regularização fundiária, o governo Bolsonaro transformou a reforma agrária em programa de entrega de títulos a agricultores, paralizando assentamentos e reduzindo medidas e recursos para desapropriações.

Também, no governo Bolsonaro, a violência no campo cresceu, com assassinatos batendo recorde em 2021, e sendo o governo com o maior número de conflitos no campo da história. Segundo dados da Pastoral da Terra, nos três primeiros anos de Bolsonaro, houve 5.725 conflitos, mais do que todos os outros governos.

Fake News gritante: autor da Transposição do São Francisco e Auxílio Emergencial


Repetindo falas de campanha, Bolsonaro disse ser o responsável pela Transposição do Rio São Francisco e pela transferência de renda da população mais pobre, assumindo a autoria do Auxílio Emergencial, ao afirmar que paga o equivalente a US$ 5 dólares por dia – ambas Fake News, a transposição foi criada pelo governo Lula e obteve o seu maior avanço durante o governo Dilma Rousseff, e o valor de R$ 600 do Auxílio Emergencial foi uma proposta do Congresso aprovada pelos partidos de oposição ao seu governo.

Ataques internacionais e à ONU


Em temas internacionais, dedicou-se a opinar diretamente sobre o conflito da Ucrânia, cobrando a ONU; chamou a Nicaraguá de ditadura; criticou a Venezuela e disse que o Brasil está trabalhando para ser membro permanente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Ainda, no palco, para dezenas de representantes internacionais, disse que a ONU “reformada” e atacou diretamente a Comissão de Direitos Humanos. “Uma reforma da ONU é essencial para a paz mundial e no caso específico do Conselho de Segurança da ONU precisa buscar renovações.”

Bandeira de campanha


“Outros valores fundamentais é a defesa da família, do direito à vida desde a concepção e o repudio à ideologia de gênero”, disse o presidente brasileiro, na pauta conservadora. Ao final do discurso, o mandatário também levantou as principais bandeiras de sua campanha à reeleição: “família”, “Deus”, “liberdade”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário