quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Fernando Brto: O horror a Aécio é tanto que turva a visão da lei


"Aécio poderia ter sido preso no momento do acerto da mala de dinheiro, haveria o flagrante constitucionalmente previsto para a detenção de um parlamentar.
Não foi. 120 dias depois, certamente não há a situação de flagrância da lei."
POR  · 28/09/2017 no tijolaço

walkingdeath

Aécio Neves tornou-se uma pessoa tão desprezada – na recente pesquisa Ipsos, o nível de reprovação de seu nome é o único que se ombreia ao de Michel Temer, 89% a 94% – que seu nome emporcalha até mesmo as garantias legítimas que não apenas têm os parlamentares, mas a que todos os cidadãos temos direito.
A “prisão noturna” de Aécio Neves é um destes episódios que expõe o autoritarismo ridículo que tomou conta da nossa Justiça – sob o aplauso do estado de histeria que se implantou na sociedade.
Aécio poderia ter sido preso no momento do acerto da mala de dinheiro, haveria o flagrante constitucionalmente previsto para a detenção de um parlamentar.
Não foi.
120 dias depois, certamente não há a situação de flagrância da lei.
Argumentar que o recolhimento noturno não é prisão, francamente, é um subterfúgio ridículo.
O mesmo artigo que trata do recolhimento noturno trata de tornozeleira eletrônica, vejam só.
Qual é a finalidade disso? Que obstrução à Justiça se vai evitar que  Aécio faça às 18:30 que não possa fazer ás 17:30?
Prender  – total ou parcialmente – uma pessoa não é meio de dar vazão ao prazer da sociedade nem de demonstrar força.
Pouco importa se esta pessoa seja uma abjeção como Aécio Neves: é preciso que haja condenação ou risco evidente de lesão a terceiros ou ao processo judicial para que se adote uma medida como essa.
O resultado é que, mais uma vez, o Poder Judiciário vai se desmoralizar.
Aécio Neves, não passarão muitos dias, vai ser liberado e vai se reforçar a impressão – aliás nada descabida – de que a lei depende do “freguês”.
E, quando o freguês é um sujeito como Aécio Neves, cujo valor moral anda no fundo de um pântano, a lama afunda a Justiça junto com ele.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A democra$$ia dos liberais, comprados a bom preço



democra
Paulo Henrique Amorim chama a atenção para uma nota – sem trocadilho – na coluna de Lauro jardim, em O Globo.
Trata-se de um fundo que, pelo número de deputados e senadores que pretende eleger, vai substituir o patrocínio da Odebrecht e da JBS na “caixinha eleitoral” de deputados que, aos donos do dinheiro, parecem “adequados”.
À testa da montanha de dinheiro, segundo Jardim, “Eduardo Mofarej (Tarpon), Nizan Guanaes, Arminio Fraga e Luciano Huck, entre outros benfeitores da pátria.
Querem montar o maior partido do Brasil, sob várias legendas, com uma bancada entre 70 e 100 deputados.
No jornal, nas barbas da Justiça que se empenha em verificar recibos de aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo, monta-se um esquema que, pelas pretensões eleitorais, é coisa para passar de 100 milhões de dólares, na mais miserável das projeções.
Dois geddéis, 200 malas rochalourianas, para traduzir nos valores que frequentam nossa política.
Como a lei, esta bobagem, proíbe doações de, no máximo 10% dos rendimentos declarados no ano anterior, dá para imaginar quanto cada um dos mecenas faturou, todos eles gritando contra a alta carga tributária.
Graças aos rapazes da Lava jato, nossa democracia está salva.
Nossos deputados – representantes do povo, alguém se lembra? – não serão mais comprados com caixa 2.
Todos terão nota fiscal.
O MBL já tirou CNPJ?
Fernando Brito, no Tijolaço

Ao caminho coxinha do “fake world”. Por Fernando Brito


fake

Luciano Huck é cortejado para ser candidato a presidente ou a vice pelo Dem, que no mesmo dia flerta com João Dória Junior, que contrata cinco softwares de manipulação de redes sociais para se promover, segundo a BBC.
É esse o capim ralo que brota da terra arrasada da política, calcinada pelos lança chamas das tropas de assalto de Curitiba.
Sujeitos que enriqueceram mais do que qualquer político que se tenha notícia, com iates, mansões e jatos comprados “honestamente” pelo preço que você e eu pagamos nos sabonetes, nas vitaminas, nos produtos de empresários que bancam as suas “efemérides” não se contentam mais com as audiências que tantos negócios lhes permitiram.
Miram os negócios que podem fazer no poder ou, ao menos, com a badalação que lhes dá a perspectiva de poder.
Vão reformar latas velhas (que importa sejam meia-dúzia em meio a milhões) ou promover “tours” pela miséria, claro que com polpudas “verbas de produção” para produzir filmes grandiosos das massas agradecidas de sua liderança ariana.
No entanto, que coisa incrível, todo o seu aparato nem faz cócegas em Jair Bolsonaro, a estupidez pura, legítima, quelóide pavoroso que brota das cicatrizes ditatoriais deste país. Ainda que pavorosas, é o único com raízes.
Todos disputam ávidamente o que lhes pode dar a destruição do Brasil, o posto de “salvador da pátria”, sem que nenhum deles seja capaz de apontar, fora o xingamento aos outros e o “deixem que o mercado cuida” como projeto para este país.
O Brasil é, para eles, como um programa de televisão. O povo, um auditório, a ser manipulado como claque, a R$ 50 reais por integrante da platéia.
Seriam apenas ridículos, palermas a se prestarem a um espetáculo para uma minoria de tolos e a vida brasileira não tivesse, como em nenhuma outra época da história senão no golpe de 64, aniquilada pelo poder destruidor de uma casta pretensiosa e irresponsável, que nos deixou nesta prostração cívica em que nos encontramos.
Construiu-se uma realidade paralela no Brasil. Não temos economia, temos Bolsa; não temos patrimônio, temos “ativos” a vender; não temos políticas públicas, temos vendas e cortes; não temos políticos, temos atores a desempenhar papéis ocos, vazios, ridículos.
Não é difícil imaginar o que acontecerá a isso, como a toda farsa acontece.
Fernando Brito, no Tiolaço.

A ditadura começa quando o “moralismo” de ocasião se substitui ao Direito. Por Fernando Brito



crossjust
Ironias e “justiça poética” à parte, há uma situação perigosa na decisão de afastar Aécio Neves do mandato e criar uma “meia-cassação” e uma “meia prisão” tomada pelo Supremo Tribunal Federal.
Fernando Rodrigues, no Poder360, com toda a razão, chama a atenção para o absurdo de vivermos uma situação onde o Judiciário, quando quer e como quiser, definir se e como um mandato parlamentar pode ser exercido.
Com Eduardo Cunha, a gaveta aguardou o necessário para que ele que desfechasse o processo de impeachmente, quando executada, foi o suficiente.
Com Delcídio do Amaral, preso em flagrante, a decisão foi submetida ao plenário do Senado. Aprovada, mas poderia não sê-lo.
Com o deputado Celso Jacob, ele fica preso na Papuda e sair para votar, na plenitude do mandato.
Agora, com Aécio, vive-se a dúvida de se a decisão de “meia-prisão” e da “meia-cassação” vai ao plenário do Senado, com resultados duvidosos.
Tão grave quanto não se ter – ou respeitar – uma regra única quando se trata de suspender um mandato ou “semiaprisionar”, sem prazo definido, uma pessoa, é o fato de que tudo esta eivado de julgamentos “morais”, em lugar dos legais.
O trecho do voto de Luiz Fux, transcrito por Rodrigues, é estarrecedoramente “moral”:
Muito se elogia porque ele [Aécio] se despediu da presidência do partido. Ele seria muito mais lisonjeado, muito mais elogiado se ele tivesse se despedido ali do mandato, tivesse se distanciado. (…) Tudo se resume num gesto de grandeza que 1 homem público deveria ter adotado. E já que ele não teve esse gesto de grandeza, nós vamos auxiliá-lo a que se porte tal como deveria se portar.”
Com a devida vênia, Ministro, vá plantar batatas. O papel do STF não é “auxiliar a se portar como deveria se portar”, é aplicar a lei.
Não importa que Aécio Neves seja um lixo, a esta altura devidamente descartado do projeto golpista.
Se o comportamento de Aécio Neves está – e tudo mostra que está – fora da lei, é papel do STF fazê-lo responder por ele. Dispensam-se as considerações de natureza ética, porque ética é matéria que não pertence ao Supremo, mas ao próprio Senado onde, aliás, foi solenemente ignorada.
A consciência democrática tem de rejeitar o “direito penal do inimigo”, mesmo quando se trata de uma figura abjeta como a de Aécio Neves.
A prisão de Aécio Neves, pela profusão de provas de que ele praticava achaque sobre os “irmãos JBS”, com gravações, malas e ameaças de morte” era plenamente justificável se necessária à instrução do processo e à colheita de provas, como se fez com sua irmã e com o apanhador-“matável” Fred, seu primo.
Quatro meses depois, sem a menor ocorrência de fato novo e deixando que, de das seis às 18 horas, ele possa articular livremente qualquer ato de obstrução à Justiça, desde que fora do Senado, assume ares de “punição moral”, própria do autoritarismo.
Porque, amanhã, o Supremo está legitimado para que seja senador apenas quem ele “quer”.
Fernando Brito, no Tijolaço.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Brasil “inventa” retomada sem investimento, vulgo “bolha financeira”, Por Fernando Brito


desaba

O Valor anuncia hoje que os investimentos das empresas estatais e dos governos  caíram vertiginosamente.
No primeiro semestre, as estatais, por exemplo, realizaram o menor investimento desde 2008. Ou seja, uma década de retrocesso,
Os Estados, 16% menos do que no desastroso ano de 2016, comparado os primeiros semestres.
A crise fiscal está afetando não só os investimentos da União, como também os das estatais federais e dos governos estaduais.
Já os 26 Estados investiram 15,9% menos que no mesmo período do ano passado que todos sabem já foi de paralisia.
Diz o jornal que, apesar de já terem sofrido cortes imensos em seus orçamentos de investimentos para este ano, ” as 89 estatais não dependentes do Tesouro Nacional executaram até junho apenas 25,8% dos investimentos programados para 2017″.
“Proporcionalmente, é a pior execução em dez anos”.
“Sem caixa e com acesso restrito a operações de financiamento, os governadores estão reduzindo despesas discricionárias e restringindo os investimentos às áreas com receita vinculada, casos de Educação e Saúde”, diz o Valor.
Investimento, como se sabe, é o dinheiro que se gasta hoje para evitar o caos amanhã.
Fernando Brito, no Tijolaço.

domingo, 24 de setembro de 2017

Cresce popularidade de Lula e rejeição a Moro e Bolsonaro, diz pesquisa do Instituto Ipsos




Jornal GGNMesmo após a delação informal de Antonio Palocci alegando que Lula tinha um "pacto de sangue" com a Odebrecht, a aprovação ao ex-presidente cresceu de novo segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos na primeira quinzena de setembro.
De acordo com o Ipsos, a taxa positiva do petista subiu 32% para 40% e está no maior patamar registrado nos últimos 2 anos de levantamento. Ao mesmo tempo a desaprovação a Lula caiu de 66% para 59%.
Enquanto isso, a desaprovação a Sergio Moro cresceu e está em 45%. O Estadão diz que é o "recorde" negativo registrado desde setembro de 2015.
Jair Bolsonaro sofreu dois revés, segundo a pesquisa: a rejeição saltou de 56% para 63% e a aprovação caiu de 21% para 19%.
Para Danilo Cersosimo, um dos responsáveis pela pesquisa Ipsos, o levantamento atual não colocou Bolsonaro consolidado em segundo lugar na preferência do eleitorado, mas mostrou que Lula alcançou talvez seu maior patamar. “Dificilmente ele passará disso. A rejeição a seu nome é ainda muito grande, difícil de reverter”, avalia.
A desaprovação a Temer alcançou 94%.

"Governo" Temer dificulta investigação internacional contra Serra




Jornal GGN - O G1 divulgou neste sábado (23) uma reportagem informando que Rodrigo Janot queixou-se que o governo Temer tem dificultado a criação de uma força-tarefa internacional para investigar José Serra (PSDB).
 
Segundo o portal, em 15 de fevereiro deste ano, Janot encontrou-se com Michel Temer e pediu o encaminhamento de uma cooperação internacional para apurar pagamentos irregulares à campanha do político na Espanha. Uma semana depois, em 22 de fevereiro, Serra pediu demissão do cargo de ministro das Relações Exteriores. À época, ele alegou "problemas de saúde".
 
De acordo com a matéria, Janot disse a Temer que, no cargo de ministro, Serra teria condições de intervir na intestigação. 
 
"O episódio, desconhecido até então, foi narrado em tom de indignação pelo próprio Janot no mês passado, durante uma reunião de trabalho com procuradores-gerais sul-americanos em Brasília", diz o G1.
 
"Na ocasião, Janot desabafou sobre como o governo brasileiro, segundo ele, vinha dificultando a liberação de equipes conjuntas de investigação."
 
O G1 obteve o áudio em que Janot relata que, sob Temer, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério da Justiça passou a cuidar dos pedidos de cooperação internacional com o objetivo de "criar embaraços" a investigações.
 
“Houve a criação, no âmbito do Ministério da Justiça, de órgão chamado DRCI [Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional], que originalmente não tinha essa vocação, que depois absorveu a matéria de formação de equipes conjuntas. Depois, ao longo do tempo, se viu que o objetivo foi exatamente esse: de criar embaraços na formação dessas equipes conjuntas, de um lado, e, de outro, ter acesso às provas sigilosas que muitas vezes envolvem pessoas do próprio Executivo”, disse Janot (leia ao final desta reportagem o que diz o DRCI)", diz trecho da gravação.
 
A INVESTIGAÇÃO
 
Janot contou que a Espanha identificou uma empresa que transferia dinheiro para campanhas de políticos brasileiros e recebia suborno quando contratada no Brasil. O nome da empresa não foi revelado pelo portal. Mas, de acordo com a reportagem, os espanhóis já haviam identificado inclusive o caminho do dinheiro e o pagamento do suborno.
 
"O problema, disse à época, era que a tramitação do assunto no governo passaria por um dos suspeitos: o próprio Serra, então ministro das Relações Exteriores. Segundo Janot, caberia a ele, como chanceler, produzir o texto que formalizaria a equipe de investigação conjunta."
 
"Eu, naquela época, eu ainda não tinha uma ação penal contra o presidente nem investigação. Fui ao presidente da República e disse: ‘Presidente, como é que nós vamos montar uma equipe conjunta cujo objeto é investigar o chanceler se esse ato deve ser feito pelo chanceler?’ Depois que o DRCI libera a parte técnica, ele é feito pelo chanceler’”, contou Janot, narrando sua conversa com Temer.
 
Leia a reportagem completa aqui.


O Brasil que o povo quer, por Ion de Andrade




GGN.- A iniciativa “O Brasil que o povo quer” da Fundação Perseu Abramo e do PT é uma dessas boas notícias que devem ter visibilidade e capilaridade pois representa uma mudança importante de metodologia para a construção do que denominam de “Um novo Programa para o Brasil” na qual a participação popular tem papel central através de uma plataforma de debates.
Essa iniciativa, se bem executada, e não se iludam os organizadores, deveria tornar-se uma ação permanente, embora possa agora ter papel focado num plano de governo, permite à esquerda, através da sua maior organização partidária, pois a Frente Povo Sem Medo também abriu uma iniciativa semelhante, ir saindo de uma estratégia centrada no discurso e num planejamento centralizado para outra, mais participativa e mais afinada com a sua missão histórica de ser veículo político das aspirações do nosso povo.
Mudança metodológica importante a iniciativa começa a responder o enigma posto pela esfinge das jornadas de junho de 2013. Se consolidada como ação permanente tem poder de oxigenar a política partidária, evitando surpresas gigantescas e invisíveis como as que amadureceram subterraneamente em 2013, sem que ninguém tivesse previsto. Se tiver sucesso, a expressão de novas necessidades nos debates trará impacto na política pelo potencial que tem para consolidar consensos que deverão passar a compor uma agenda de lutas não somente para o plano nacional, mas também para os planos locais, municipais e estaduais. Ou seja, fincar o plano de governo na leitura que será feita das necessidades expressas no debate, tem potencial para alinhar a macro e a micropolítica num projeto único. Permite que desde a o nível local, onde atua a associação de bairro, até os níveis governamentais de cidades, estados e eventualmente do país, haja coerência na construção de um projeto comum de emancipação do nosso povo. Portanto a Fundação Perseu Abramo e o PT devem perceber o papel estruturante dessa iniciativa, evitando que venha a ser operada apenas como uma ferramenta eleitoral.
Vale perceber também que essa iniciativa tem potencial para fomentar o protagonismo popular desde que venha a alinhar realmente as teses partidárias e as ações de governo, pois o processo retornaria para o povo seja como uma agenda de lutas focadas em novos nortes, seja como conquistas realizadas, permitindo um encontro entre a agenda “economicista” (que é como com preconceito denominamos as lutas dos movimentos sociais e das comunidades) com a agenda partidária, comumente apenas um enunciado de vontades, muitas vezes sem eco na prática, ou no cotidiano das maiorias. De fato esse é o caminho para a intervenção na Sociedade Civil por meio de uma política ampliada, que expande o protagonismo do povo e concretiza, nas vitórias que possa ter, a metamorfose crítica dessa sociedade na que queremos, ao tempo que politiza o protagonista.
Ora, atenção aqui, as conquistas locais de um projeto que se constrói a muitas mãos em toda parte e tece coerência entre a macro e a micropolítica, exprimem o tipo de vitória que devemos mirar e viabilizar porque vão materializando hoje, na capilaridade, a cidade futura e realimentam o processo de credibilidade nas lutas por parte do povo, sendo por isso fonte importante de politização das maiorias e de consolidação da sua identidade enquanto um sujeito político que atua no cotidiano e na História. Se tiver sucesso o processo de alguma forma pode inaugurar a guerra de posição na Sociedade Civil, onde se disputa uma hegemonia. Melhor, ao podermos fazer mais estando no poder continuamos a construção do mutirão com o qual todos se identificam como autores.
Esse processo tem potencial para fecundar a democracia representativa com elementos de democracia direta e, finalmente, cimentar uma unidade da esquerda que, por meio da escuta ao povo, possa ensejar a construção de um programa comum. Lógica singela, se a Frente Povo Sem Medo e a Fundação Perseu Abramo ouvirem o mesmo povo, bem provável é que sintetizem um projeto de Brasil bem parecido... O acervo desses dois debates deveria aliás ser público e oficialmente intercambiado entre uns e outros.
Hoje as energias da esquerda estão dirigidas por um lado para um modelo de intervenção dominado por uma política pouco participativa e limitada à liturgia eleitoral e à disputa pelo poder, entendido sempre como um pressuposto linear para os avanços sociais por um protagonismo desse poder e por outro por um planejamento estratégico opaco.
Assim, as vitórias dessa política que exprimem uma inadaptada guerra de movimento desenvolvida no interior da Sociedade Civil, são as vitórias eleitorais dos sindicatos, associações ou dos candidatos partidários, fatos certamente importantes, claro, mas dos quais as maiorias atuam apenas passivamente como eleitores e não como artesãos do seu próprio destino, fato que tem baixo poder politizador.
Então a iniciativa da Fundação Perseu Abramo é a face prática de algo que precisa ter teoria, com isso quero dizer que, embora a inovação seja positiva por si só, pois incrementa a participação popular e devolve de alguma forma o protagonismo político ao seu verdadeiro protagonista, precisamos saber o que se pretende com uma iniciativa como essa para que não se caia na ingenuidade de uma ação que, mais uma vez, por falta de estratégia, não seja tática para nada que esteja além de fazer eleitorado.
Quero sublinhar que o valor político estratégico dessa iniciativa é que ela aponta, mas estamos muito longe desse objetivo alvo, para um processo de conversão do nosso povo aos padrões de cidadania e de protagonismo necessários para assegurar a estabilidade e a irreversibilidade do Estado democrático de direito no Brasil. Seria melhor inclusive que os debates presenciais previstos para as sedes do PT na metodologia, ocorressem nas periferias, nos assentamentos rurais, nas sedes das associações ou dos sindicatos, etc, sob a liderança da Fundação Perseu Abramo.
Apontei para essa pauta em diversos artigos publicados aqui no GGN, aliás desde a posse de Dilma no seu segundo mandato. Nessa mesma ordem de ideias, construiu-se em Natal, a iniciativa precursora dessa que agenda “O Brasil que o povo quer”:  “A Carta de Natal”. Esse documento, de 2015, escrito pelos movimentos sociais organizados da cidade, se propôs a ser remédio para os desafios postos em 2013 de continuar o processo de inclusão das maiorias à contemporaneidade com um agenda concreta de propostas e métodos.
Vale lembrar que a esfíngica jornada de junho de 2013, metade expressão genuína de necessidades de aprofundamento e ampliação da democracia e metade gérmen de fascismo, também nasceu Natal. Foi aqui que ocorreu a primeira manifestação de rua pela redução dos preços dos transportes urbanos, que em lugar de apontar para “preços”, mas poucos tiveramouvidos de ouvir, apontava, na verdade, numa linguagem simbólica, para a mobilidade urbana, para a cidade amigável, para o acesso à cultura e aos bens simbólicos dos quais os transportes são meios incontornáveis. Tais necessidades aliás, não foram, reconheçamos, asseguradas em larga escala ao nosso povo, concomitantemente à luta exitosa contra a fome e a miséria.
Essa linguagem que exprime necessidades que vão além da fome e da miséria, se for bem interpretada nos ajudará a encontrar o caminho que o povo aponta de necessidades não atendidas. O problema aí é que o povo privado historicamente  da cultura e da experiência de vida liberta, não consegue exprimir claramente o que lhe faz falta, e isso comumente emerge como “vinte centavos” em lugar de mobilidade urbana e cidade amigável. O processo de participação popular nas discussões deverá, portanto, ser acompanhado de uma escuta amorosa para a sua devida decodificação para a política. Ou poderá gerar um diálogo de surdos.
É preciso, se entendermos bem o seu alcance, dar máxima prioridade à iniciativa da Fundação Perseu Abramo e do PT, e acrescento porque são frutos da mesma árvore, também à inciativa anterior da Frente Povo Sem Medo. Enfrentamos na atual quadra da conjuntura nacional o fascismo e esse fascismo nasceu gêmeo de outro gêmeo sedento de necessidades sociais não atendidas.
Há uma energética aí. Temos que alimentar e dar vida ao gêmeo que aponta para a cidadania e para um novo protagonismo das maiorias, única força capaz de estabilizar o Estado democrático de direito, de tornar a nossa democracia irreversível e de nos permitir continuar avançando. Ou teremos êxito nisto ou dias difíceis nos esperam. De fato, é um gêmeo ou o outro!
 “O Brasil que o Povo quer” não é uma opção. É, se tivermos sorte, foco e trabalho, a decifração, já tardia, do enigma da esfinge que nos livrará do fascismo e nos permitirá avançar rumo a uma sociedade que não somente terá resolvido a fome e a miséria, mas conseguirá ao mesmo tempo que constrói vida digna para todos, fomentar a politização e o protagonismo das maiorias.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A Globo, os militares e a psicologia reversa, por Fernando Horta


Gente, vamos manter a cabeça fria.... Como bem fala o Fernando Horta no texto abaixo (extraído do GGN), podemos confiar no bom senso e equilíbrio do Gal. Villas Boas... Não vamos cair no jogo da Globo....



É preciso sempre atentar para os contextos. As palavras, os sentidos dependem totalmente dos contextos e é um erro muito comum tomarmos os discursos fora do seu tempo, dos seus agentes ou sem compreendermos completamente os momentos em que foram proferidos. Há uma semana o Brasil voltou a ter pesadelos, deitado em seu berço esplêndido. Como o trauma da noite de 21 anos não fora propriamente tratado, os assombros continuam. Ocorre que a causa do medo não está sendo corretamente detectada.
O General Mourão deve ter seus méritos para ter chegado ao generalato. O sobrenome inspira cuidados, mas o comandante o chamou de “bom soldado” e “gauchão”. Para quem não conhece os meandros do Exército as falas do general Villas Boas na entrevista para a Globo podem ser mal interpretadas. Chamar um general de “soldado” é um imenso elogio. Um elogio que remonta às lendas espartanas, quando comandantes se ombreavam aos soldados nos campos de batalha, diferindo destes pela sua maior técnica. O próprio patrono do Exército, o Duque de Caxias, se dizia sempre, “um soldado, apenas”. É uma espécie de humildade verde-oliva. É claro que o general continua comendo com os oficiais (onde a comida é muito melhor) e os soldados na cantina dos soldados. Mas Villas Boas ao chamar Mourão de “bom soldado” diz, com todas as letras, que ele tem algum apoio da tropa.
Neste contexto, o que ele fala não é apenas “devaneio” nem pode ser simplesmente posto de lado. O papel da Globo ali, sim, foi espúrio. Como é sua história, a Globo conspira contra o Brasil, até fazendo bom jornalismo técnico. A entrevista de Bial foi esplêndida, sem os elogios subservientes que a Globo fazia a Temer na época imediatamente após o golpe ou que faz seguidamente a Alckmin e Serra. Bial não deixou o preparado general escapar. Villas Boas tentou dizer que o episódio “estava superado”, mas Bial tornou a perguntar exigindo que o general se posicionasse. O que queria a esquerda? Que um comandante militar, defronte às câmeras de uma rede de televisão historicamente comprometida com tudo o que há de mais criminoso no Brasil, desde 1964, desautorizasse Mourão e dissesse publicamente: “sim, vou puni-lo pelo que ele falou”? Era tudo o que Mourão e a Globo gostariam que Villas Boas fizesse.
O mesmo esforço ignorante foi feito por Raul Jungmann, o ministro da Defesa. Aliás, Temer teve perícia singular em escolher as piores pessoas para cada pasta. Jungmann não é exceção. O desastrado ministro foi à televisão dizer que chamaria Villas Boas às falas e encontrariam “medida a ser tomada”. Não senhores, não é assim que vamos resolver a crise e, muito menos, nos livrarmos do fascismo que grassa em setores do Exército. Mourão e Etchegoyen são a ponta de um iceberg. Representam o que há de mais truculento e sem preparo político dentro do exército, mas não se enganem: por trás de dois generais, há dez coronéis, centenas de majores, milhares de capitães e assim sucessivamente  até chegarem aos soldados. Todos querem uma “intervenção saneadora”. O grande problema é que não sabem o que sanear, tampouco como fazer. Uns defendem a queda do governo Temer, outros a “limpeza” do sistema, expurgando TODOS os “envolvidos” em casos de corrupção. Há ainda o que querem tirar todos os “esquerdopatas” e dar-lhe uma lição.
A falta de capacidade técnica de entender seu papel e compreender o que é um Estado de Direito é característica deste grupo. Característica que Villas Boas NÃO partilha. Se as Forças Armadas ainda não tomaram atitude mais dura e ilegal deve-se a Villas Boas e o grupo que a ele é fiel. A esquerda joga o jogo da Globo emparedando o general entre o corporativismo da tropa e uma suposta necessidade de punir Mourão por “quebra de hierarquia”. Qualquer aluno de graduação de História conhece a tese mais aceita sobre a proclamação da República Brasileira e o “espírito de corpo” das Forças Armadas, adquirido durante a Guerra do Paraguai e a crise final do Império. Também estudam os “jovens oficiais” e o positivismo no início da República, depois o apoio a Vargas, e estes indicadores não mudam até 1964. O fascismo, o anticomunismo e o entendimento de que o povo deve ser “tutorado” pelos “salvadores da pátria” de verde-oliva é pensamento corrente, ensinado desde as escolas preparatórias até os cursos de altos oficiais. Não importa se esta visão beire o crime histórico, é assim que a imensa maioria dos militares pensam.
É claro que existem alguns que se destacam pelas suas capacidades intelectuais e que percebem o erro desta visão. Mas suas margens de ação se limitam à neutralidade, ou – nos dizeres de Villas Boas – à “legalidade, legitimidade e que o Exército não seja fator de instabilidade”. Isto, é o que de melhor todo o Brasil poderia ouvir do exército brasileiro neste momento, ainda que algumas pessoas de esquerda torçam o nariz. A direita está tentando derrubar Temer, agora usando o Exército e a esquerda não pode usar este discurso. Qualquer um que vença nesta disputa (os corruptos de Temer ou os fascistas que se escondem no exército), o país perde e a esquerda será afastada de todo processo político institucional.
Villas Boas precisa seguir no comando do Exército e com o Exército neutro e não como fator de desestabilização. Se é preciso conter os fascistas, também o é conter as radicalidades da esquerda que pensam que para tirar Temer vale qualquer coisa. Um dos grandes erros cometidos por Goulart entre 61 e 64 foi ter baseado sua “defesa” em associações de sargentos e oficiais inferiores. Isto provocou um sentimento de “quebra de hierarquia” no Exército. O soldado (todos eles) entende o mundo através da hierarquia, sem ela o mundo está em “caos” e ele se sente compelido a reagir. Villas Boas não pode permitir que o façam quebrar a hierarquia execrando publicamente um general. A Globo está tentando recriar o mesmo mecanismo que deu poderes aos monstros de 64. Alguns não sabem, mas existia um número considerável de militares legalistas que eram contra o golpe em 64; vários foram presos, expulsos do exército, tiveram suas famílias torturadas por “irmãos de farda” e outros apenas não acharam prudente se expor.
Se houve o que se pode chamar de sucesso dos governos progressistas, quanto às instituições, foi nas Forças Armadas. Nunca tivemos um grupo de generais tão centrados e capazes nos comandos das FFAA. Erraram a mão no STF e acertaram nas Forças. As elites usaram, desta vez, o judiciário. Pois que não cometamos o erro de fazer o Exército se juntar aos golpistas ou de colocar todo militar brasileiro na condição de golpista. Precisamos entender quem são os inimigos reais, e – desta vez – eles não vestem verde-oliva.

Helena Chagas: do massacre elitista-pseudo-jurídico-midiático a Lula só ganhou Bolsonaro


POR  · 22/09/2017

ovo
Correta e equilibrada análise de Helena Chagas, boa para os que não têm noção do lugar para onde nos leva a ditadura judiciária (logo escrevo sobre isso):
A última rodada de pesquisas, notadamente a CNT/MDA, fez cair da cadeira muita gente que já se considerava livre do ex-presidente Lula, sobretudo no mercado. Mostrou, acima de tudo, a resiliência do petista. Com toda a pancadaria diária da Lava Jato, a condenação por Sérgio Moro, as sete denúncias e a quase delação de Antônio Palocci, o ex-presidente continua tendo o apoio de uma fatia de cerca de 30% do eleitorado.
Independentemente do que irá acontecer, se teremos ou não Lula na cédula presidencial de 2018, esse é um dado que terá enorme influência no pleito. Da mesma forma como é preciso destacar e prestar muita atenção nos quase 20% que, neste momento, mostram sua preferência pelo outro extremo, onde está Jair Bolsonaro.
A mais de um ano da eleição, e com uma brutal incerteza no jogo – Lula fica ou não? -, essa polarização entre esquerda e direita pode ser passageira. Mas manda um recado importante para o centro: pulverizados entre diversas candidaturas e envolvidos em lutas fratricidas, os partidos do meio do espectro ideológico (se é que isso ainda existe) correm o risco de não botar ninguém no segundo turno.
Com um conjunto de nomes que vão do senador Álvaro Dias ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, passando pelos dois tucanos que mais se bicam do que qualquer coisa, Geraldo Alckmin e João Dória, e até por Marina Silva – que deixou de ser de esquerda há muito – o centro corre o risco de repetir 1989. Na primeira eleição direta pós-ditadura, uma profusão de candidatos – grandes nomes do quilate de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, entre outros – dividiu o eleitorado e enviou ao segundo turno as duas pontas do arco: Fernando Collor e Lula.
Evidentemente, o cenário hoje guarda grandes diferenças com o daquela época. Mas a equação final pode ser parecida na matemática da divisão dos votos do primeiro para o segundo turno. Sem um nome minimamente forte, que atraia o eleitor que não está nem à direita e nem à esquerda, a tendência é que os votos centristas se espalhem para, em seguida, se dividir entre os pólos.
Alguns, mesmo não gostando do PT e do ex-presidente, vão votar em Lula para evitar a eleição de Bolsonaro, com seu viés autoritário e destemperado. E vice-versa: o efeito contrário se produzirá nos antipetistas mais ferrenhos, que podem adotar o deputado-capitão para não eleger de novo o PT. Nesse caso, os centristas, inclusive os tucanos, que vêm figurando entre os finalistas da corrida presidencial desde 1994, morrem na praia.
É esse o principal aviso aos navegantes trazido pela atual rodada, aconselhando Alckmin e Dória, por exemplo, a resolverem logo suas desavenças. Ambos tiveram desempenho medíocre na CNT/MDA (8,7% e 9,4%, respectivamente), mas o prefeito de São Paulo sai mais arranhado. Parou de crescer e estacionou, mesmo depois de um tremendo esforço midiático e marqueteiro nos últimos meses. Mas a luta continua, sobretudo entre os dois.
Muitas águas ainda vão rolar até a eleição, e poderão arrastar com elas Lula e Bolsonaro. Ainda assim, há solidez nos 30% que hoje votariam em Lula, mostrando não ter o quesito corrupção como principal referência e ter memória viva dos tempo de pleno emprego e bem estar social dos governos petistas.
É a pobreza, estúpido! – escrevemos aqui certa vez. É motivação suficiente para levar esse eleitor, ao menos em parte, a migrar para um candidato apoiado pelo ex-presidente. Lula passaria de candidato a forte eleitor se for tirado do jogo pela Justiça.
Da mesma forma, a turma que está hoje com Bolsonaro pode se decepcionar com ele por uma série de razões, sobretudo quando ele começar a abrir a boca nos debates e entrevistas da campanha. Mas se esse eleitorado antipetista não tiver um nome que o substitua, de preferência novo, tende a se dividir entre diversas candidaturas ao centro e à direita, se elas continuarem existindo.
O recado é claro, mas dificilmente será assimilado no ambiente de exacerbação que tomou conta da política, trincando projetos, fragmentando partidos e triturando seus protagonistas.