No Brasil sob o governo Bolsonaro são irrefutáveis os diversos registros de aumento da violência contra as mulheres, como os números do feminicídio demonstram
8M no Brasil e no mundo cruzou linha de conscientização e lutas que não aceitará retrocesso
por Arnaldo Cardoso
O Dia Internacional das Mulheres neste último dia 8 pôs nas ruas milhões de mulheres no Brasil e no mundo com extensa pauta de lutas e demonstrações de maior organização e engajamento.
Teve no combate ao feminicídio uma das mais importantes bandeiras, uma vez que os casos desse tipo de crime têm aumentado em diferentes países como no Brasil que, em 2019 registrou aumento de 7,3% em relação ao ano anterior, somando 1.314 casos. O Brasil ocupa a vergonhosa posição de 5º país no ranking mundial de feminicídio.
Estupros, espancamentos, violências domésticas variadas contra as mulheres assim como desigualdade de gênero manifestada através de salários mais baixos e precarização das condições de trabalho para mulheres, grávidas, mães, foram outras das bandeiras de protesto levantadas nas ruas.
No Brasil muitas dessas bandeiras ganham ainda mais contundência e urgência em seus combates quando são associadas aos números do racismo. São mulheres negras que lideram as estatísticas de feminicídios, de encarceramento, de dificuldade no acesso à saúde, de exploração no trabalho, com menores salários e com sub-representação em posições de comando em empresas e em inúmeras entidades da sociedade civil, assim como no Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Embora as bandeiras levantadas sejam de defesa das mulheres indistintamente de posições políticas, o que se viu nas ruas neste último domingo foram essas bandeiras convergirem com as de protestos contra governos pois, discursos e políticas públicas marcados pelo sexismo, machismo, misoginia e disseminação do ódio tem resultado em retrocessos em relação a conquistas que as mulheres vinham acumulando nos últimos anos.
No Brasil sob o governo Bolsonaro são irrefutáveis os diversos registros de aumento da violência contra as mulheres, como os números do feminicídio demonstram e o desmonte deliberado de políticas públicas voltadas à melhoria das condições das mulheres contribuirão para a piora desse quadro.
O 8M em países da América Latina como Chile, Argentina e México deu mostras contundentes da disposição de parcela significativa das mulheres latino-americanas em romper com um estado de coisas inaceitável. No México, onde 2019 registrou 1006 casos de feminicídio, os protestos foram intensos e já há uma agenda de novas manifestações para pressionar o poder Executivo e representantes parlamentares por medidas de defesa de igualdade e punição de crimes contra as mulheres. Na Argentina, a bandeira da legalização do aborto é a que está mobilizando o debate político e ganhou destaque nas ruas. O Chile mais uma vez deu mostra da força de um movimento irrefreável de pressão por mudanças, tendo reunido no domingo mais de um milhão de pessoas, fundamentalmente mulheres, na capital Santiago.
Também em importantes cidades de outros países pelo mundo como Portugal, França, Espanha, Polônia as mulheres ocuparam praças e avenidas em protestos contra o machismo, a violência e a desigualdade de gênero. Na Itália, país que vive a ascensão de partidos de extrema direita como a Liga de Matteo Salvini e o Irmãos da Itália de Giorgia Meloni, embalados por discurso de ódio contra imigrantes e minorias, e explícita postura machista e racista, os números de feminicídio tem crescido, colocando o país entre os mais violentos contra a mulher na Europa. As manifestações pelo Dia das Mulheres ficaram restritas ao ambiente virtual em função da epidemia de coronavírus que castiga a Itália.
No Brasil, o 8M acontecendo poucos dias antes do segundo aniversário do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, já anunciou para o dia 14 a próxima manifestação de mulheres, que acontecerá em diversas cidades do país. Marielle Franco, mulher negra, do subúrbio do Rio de Janeiro, defensora dos direitos humanos e militante pelos direitos de minorias e contra a violência policial e de milícias, se tornou um ícone da luta das mulheres no Brasil e em outras partes do mundo.
Na tarde de ontem, ainda em meio a chuva, uma mulher de nome Ana Maria, dentista que atende crianças num posto de saúde e maternidade pública na zona sul de São Paulo, em companhia de sua filha adolescente na marcha das mulheres na avenida Paulista, contou que, na última semana atendeu duas recém-nascidas com nome Marielle.
Os sinais de esperança precisam ser percebidos mesmo em meio a um céu ainda carregado de nuvens.
O 8M de 2020 cruzou uma linha no avanço da conscientização pelos direitos das mulheres, que não poderá retroceder. O caminho será de lutas e conquistas mesmo que forças obscuras insistam no retrocesso.
Arnaldo Cardoso, cientista político
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