terça-feira, 10 de agosto de 2021

“Grave é que as Forças Armadas se disponham a este espetáculo grotesco e amedrontador”, diz Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF, à TVGGN

 Na visão do jurista, o desfile, no contexto atual, soa como uma “tentativa de generalizar, nos quartéis, uma agitação – não se sabe com que gravidade e profundidade – para a pretensão de reeleição [de Bolsonaro] em 2022. Ou, pior, [não se sabe] se é um aviso, uma ameaça de golpe militar. É impossível saber que profundidade tem isso. Se não for ridículo, como estamos esperando que seja, [é preciso saber]em que medida isso exibe uma disposição golpista das Forças Armadas.”

Reportagem de Cíntia Alves:

Jornal GGN O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, afirmou em entrevista exclusiva aos jornalistas Marcelo Auler e Luis Nassif, na TVGGN [assista abaixo], que é muito “grave” a postura dos comandos das Forças Armadas e do Ministério da Defesa, que decidiram realizar um desfile com tanques de guerra e outros veículos blindados, na manhã de terça-feira (10), em Brasília, horas antes de a Câmara Federal votar – e provavelmente derrotar – a PEC do voto impresso.

Por conta da alta tensão entre os Poderes, a notícia caiu como uma bomba nesta segunda-feira (9). O PSOL chegou a anunciar que representaria no Supremo Tribunal Federal contra o desfile. O governador do Maranhão, Flávio Dino, afirmou que o evento – realizado desde 1988 – traz, neste momento, mais instabilidade ao País e sugeriu que fosse cancelado. Relator da CPI da Pandemia, o senador Randolfe Rodrigues (Rede) avaliou como uma tentativa de intimidação ao Congresso.

A repercussão negativa foi tamanha que Bolsonaro decidiu convidar, pelas redes sociais, os chefes de outros Poderes para assistir à atração. Em tom debochado, ele frisou que vai assistir porque é comandante maior das Forças Armadas. A informação é do jornal O Globo.

Para Sepúlveda Pertence, “grave é que os quatro comandos das Forças Armadas – o ministro da Defesa e os três comandantes das armas – se disponham a este espetáculo grotesco e amedrontador de botar tanques nas ruas. Isso, na minha longa vida, eu só vi uma vez: foi em 31 de março de 1964”, quando os militares deram o golpe e fecharam o regime por duas décadas.

Na visão do jurista, o desfile, no contexto atual, soa como uma “tentativa de generalizar, nos quartéis, uma agitação – não se sabe com que gravidade e profundidade – para a pretensão de reeleição [de Bolsonaro] em 2022. Ou, pior, [não se sabe] se é um aviso, uma ameaça de golpe militar. É impossível saber que profundidade tem isso. Se não for ridículo, como estamos esperando que seja, [é preciso saber]em que medida isso exibe uma disposição golpista das Forças Armadas.”

Para o ex-ministro, “a nossa história, em menor ou maior gravidade, está cheia de intervenções militares. Então todo cuidado é pouco.” Mas, por enquanto, ele prefere ser “otimista”. “Eu prefiro ainda aguardar, com um pouco de otimismo, que isso não chegará a um movimento militar, a um golpe militar como em 1964”, considerou. “Eu não creio que no ambiente de hoje tem a seriedade e a propagação, nos militares e na sociedade, do mesmo ambiente de 1964.”

Na conversa, Nassif também interpelou Pertence a respeito de seu papel na transição da ditadura para a democracia e o pacto com os militares, que culminou na Lei de Anistia.

Assista:

A PEC está no centro de uma crise dramática entre o presidente da República, que é o convidado de honra do desfile de blindados, e membros do Supremo Tribunal Federal, em especial o ministro Luis Roberto Barroso, que preside o Tribunal Superior Eleitoral. Nesta segunda (9), por exemplo, Bolsonaro voltou a atacar a Barroso e lançar dúvidas sobre a credibilidade do TSE. Leia mais aqui.

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