Da ficção à realidade, vários são os fatos que marcam a associação entre o bolsonarismo e o nazifascismo. Muito embora alguns bolsonaristas pensem poder negá-la como um nazista que tira o uniforme. Por igualmente pensarem que todos ignoram a História quanto eles próprios. - Aluysio Abreu Barbosa
Do Folha 1:
— Agora que sobreviveu à guerra, o que fará quando chegar em casa? — indaga Brad Pitt na pele do tenente Aldo Reiner, líder do pequeno grupo de soldados judeus dos EUA na França ocupada pela Alemanha Nazista na II Guerra Mundial (1939/1945). Dispostos a levar terror a quem levou terror ao mundo, são batizados de “Bastardos Inglórios”, batizando o filme de Quentin Tarantino de 2008.
— Vou abraçar minha mãe como nunca a abracei! — responde o soldado nazista apavorado, após revelar a posição de outras tropas alemães aos inimigos que executaram a sua.
— Isso não é lindo? E você vai tirar o uniforme?
— Vou tirá-lo e queimá-lo! — jura de pés juntos o nazista ajoelhado.
— Foi o que pensamos. Não gostamos disso. Gostamos de nazistas de uniformes para identificá-los de imediato. Se tiram os uniformes, ninguém saberá que são nazistas. Então lhe darei uma coisa para não tirar mais! — diz Pitt, enquanto saca sua faca da bainha, usando-a para riscar a suástica para sempre na carne da testa do nazista cuja vida poupou.
Da ficção à realidade, vários são os fatos que marcam a associação entre o bolsonarismo e o nazifascismo. Muito embora alguns bolsonaristas pensem poder negá-la como um nazista que tira o uniforme. Por igualmente pensarem que todos ignoram a História quanto eles próprios.
Para quem não ignora pelo menos a História do Brasil dos últimos anos, vamos aos fatos:
1 – Era 16 de janeiro de 2020. Quando, ao som de Richard Wagner, ídolo assumido do líder nazista Adolf Hitler, o então secretário de Cultura do presidente Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, proclamou em pronunciamento oficial ao vivo nas redes sociais: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels proclamou em 1933: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”. Diretor teatral, o secretário de Bolsonaro copiou minuciosamente, além das palavras de Goebbels, também a indumentária, a entonação verbal e o cenário do ministro de Hitler.
2 – Era a madrugada de 31 de outubro de 2020. Quando o grupo bolsonarista autointitulado “300 do Brasil”, que não chegava a 30 integrantes, promoveu uma marcha em Brasília com máscaras, roupas negras e tochas acesas, copiando a estética das manifestações públicas dos nazistas e da Ku Klux Klan (KKK), grupo supremacista branco dos EUA. O protesto terminou com ameaças diante do Supremo Tribunal Federal (STF) e foi liderado pela ativista Sara Winter, ex-coordenadora de políticas de maternidade do ministério da Saúde no governo Bolsonaro.
3 – Era 24 de janeiro de 2021. Quando, três meses antes da CPI da Covid ser aberta, o Senado cobrava ao então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explicações sobre o trabalho do governo federal — ou ausência dele — para adquirir vacinas ao povo brasileiro. Enquanto falava Rodrigo Pacheco (DEM/MG), presidente do Senado, atrás dele o assessor de Bolsonaro para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, foi flagrado fazendo duas vezes o gesto mundialmente reconhecido e condenado como símbolo do supremacismo branco. Com três dedos significando a letra “w” e dois o “p” (“white power”, ou “poder branco”).
4 – Eram 9 e 23 de maio, 12 e 26 de junho, e 10 de julho de 2021. Quando Jair Bolsonaro promoveu motociatas, respectivamente, nas ruas de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Chapecó (SC) e Porto Alegre (RS). Enquanto prepara outra, marcada para 7 de agosto, em Florianópolis, novamente em Santa Catarina. Manifestações de apoio político até então inéditas no Brasil, todas têm inspiração aberta no mesmo tipo de evento promovido pelo líder fascista Benito Mussolini, na Itália dos anos 1920 e 1930.
5 – Era 26 de julho de 2021, última segunda-feira. Quando a deputada alemã Beatrix von Storch publicou em suas redes sociais a foto de um encontro na semana anterior, com Jair Bolsonaro. Fora da agenda oficial deste e que não teve o motivo revelado pelo governo brasileiro. Do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), fundado em 2013 com bandeiras racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e anti-imigração, a parlamentar é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas. Em 2016, ela defendeu publicamente que a polícia do seu país abrisse fogo contra imigrantes, incluindo mulheres e crianças, que tentassem entrar ilegalmente na Alemanha. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwer, ministro das Finanças de Adolf Hilter.
Outro ministro de Hitler, copiado pelo ex-secretário da Cultura de Bolsonaro, foi associado diretamente pelo STF ao capitão e à capacidade patológica de mentir que caracteriza ele e seus seguidores. Era 28 de julho, última quarta. Quando a Corte mais alta do país veiculou um vídeo nas redes sociais tão caras ao bolsonarismo: “Uma mentira repetida mil vezes vira verdade? Não. É falso que o Supremo tenha tirado poderes do presidente da República de atuar na pandemia. É verdadeiro que o STF decidiu que União, estados e prefeituras tinham que atuar juntos, com medidas para proteger a população. Não espalhe fake news!”.
Sentença mais famosa de Goebbels, “uma mentira contada mil vezes vira verdade” foi usada pelo STF para responder a Bolsonaro. Que havia repetido mais uma vez, em entrevista a uma rádio da Bahia, que o Supremo deu muito mais poderes para governadores e prefeitos do que a ele, no combate à Covid-19. Contada milhões de vezes pelo presidente e sua seita, a mentira tenta mascarar a verdade, como um nazista que pensa poder deixar de sê-lo ao tirar o uniforme: a responsabilidade do governo federal na morte de mais de 554 mil brasileiros. Em meio milênio da História do Brasil, é o mais próximo ao Holocausto dos judeus pelos nazistas.
Na dúvida, os números. Com 2,7% da população mundial, se o Brasil mantivesse a média de baixas do resto da Terra durante a pandemia, teria 113.400 óbitos. As outras 440.600 vidas humanas perdidas no país ficam na conta do negacionismo do seu governo, da sua aposta assassina na imunidade de rebanho e em medicamentos ineficazes como a Cloroquina, do seu atraso doloso na compra de vacinas ofertadas dezenas de vezes por laboratórios mundialmente respeitados, enquanto se dava preferência a negociações no mínimo suspeitas com atravessadores desqualificados, em busca de propina. Tudo revelado e ainda a revelar na CPI da Covid. E que aderiu ao governo Bolsonaro o adjetivo bem conhecido de “ladrão”, aos de apreensão popular mais difusa, como “genocida”, “fascista” ou “nazista”.
Ainda assim, foi emblemática a suástica riscada na testa do bolsonarismo pelo STF. Com a sentença nazista que melhor define o movimento, o governo e as fake news que o elegeram em 2018. Cuja marca não será esquecida com a queima do uniforme após as urnas de 2022. Que, na noite de quinta (29), ficaram mais próximas. Quando Bolsonaro admitiu em sua live semanal não ter prova das fraudes que nunca existiram no Brasil com o voto eletrônico.
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