segunda-feira, 1 de junho de 2020

Ditadura ou democracia: a corda arrebentará de algum lado. Texto da jornalista Tereza Cruvinel


"A resistência institucional precisa da luta das ruas e vice-versa. O STF precisa ser apoiado e ter reconhecido seu papel de vanguarda na defesa da Constituição e da democracia", escreve Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia


(Foto: PR | Reuters | Reprodução/Twitter)


Por Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia
Não foi ainda um domingo sangrento mas pode ter sido um prenúncio: daqui para a frente a escalada autoritária de Bolsonaro e suas milícias encontrará resistência. Neste cabo de guerra, vencerá o golpe ou vencerá a democracia, detendo o projeto de ditadura que Bolsonaro não dissimula mais. O sinal veio das ruas, onde houve manifestações pró-democracia em cinco capitais, e da luta institucional, vocalizada pelo ministro Celso de Mello: “É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar”, quando Hitler impôs o nazismo à Alemanha.
O que o bolsonarismo promete, quando pede intervenção das Forças Armadas e fechamento dos outros poderes, é uma “desprezível e abjeta ditadura militar”, disse o decano do STF. No sábado à noite, 30 gatos pingados do grupo terrorista “300 do Brasil” protagonizou uma manifestação macabra na porta do STF. Vestidos de negro e usando máscaras brancas, indumentárias da Ku-Klux-Klan, acenderam tochas na porta da corte, que já foi ameaçada de incêndio, segundo apurado pelo  inquérito das fake news.
Como acontece todos os domingos, Brasília foi palco do sétimo encontro entre Bolsonaro e seus apoiadores desde o início da pandemia. Ele agora faz uso ostensivo dos símbolos de poder. Pela segunda vez, usa o helicóptero para o deslocamento de quatro quilômetros entre o Alvorada e a Praça dos Três Poderes. Sobrevoou seis vezes a Esplanada, tendo a seu lado o ministro da Defesa, o que foi mais um prenúncio grave. E tal como o general Newton Cruz na ditadura, quando da votação da emenda das diretas-já, pediu o cavalo de um PM e marchou garbosamente entre os apoiadores.
Em São Paulo, não foi de um partido nem de qualquer frente política a iniciativa de enfrentar o bolsonarismo nas ruas, mas das torcidas organizadas de futebol, num sinal do quanto a política e os movimentos sociais legítimos foram debilitados pela desconstrução da democracia, iniciada pela Lava Jato. Mas alguém teria que sair na frente, como a dizer que os 70% não aceitam mais o papel de maioria silenciosa diante da marcha tenebrosa do fascismo. Pode ter sido uma faísca isolada mas há sinais de um “basta” entalado nas gargantas.
A pandemia até aqui impediu manifestações populares da maioria de 70% que não apoia Bolsonaro mas o medo do vírus começou a ser desafiado, tal como nos Estados Unidos, onde o domingo foi de novas e expressivas manifestações anti-racismo após o assassinato do negro George Floyd.  
O deputado Glauber Braga (PSOL) foi um dos que rompeu a quarentena para juntar-se ao ato das torcidas. Como vai ser daqui para a frente ninguém sabe mas a faísca mostrou que há energias represadas. Houve manifestações em defesa da democracia também em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.
Na Avenida Paulista, a polícia reprimiu a manifestação liderada pelas torcidas, contra as quais lançou bombas, e protegeu os bolsonaristas. O governador João Dória disse que sua polícia tratou de proteger a integridade física dos dois lados, mas não foi assim. Os vídeos mostram claramente. Como ele não é bolsonarista, não deve mandar na sua PM. Está devendo satisfações.
Daqui para a frente será também assim. Quem ousar sair às ruas em defesa da democracia prepare-se para a repressão. A maioria das PMs foi milicializada pelo bolsonarismo e vai reprimir manifestações anti-golpistas. E se tais manifestações  tomarem vulto, Bolsonaro partirá (como Trump) para a retórica da desordem que precisa ser contida. Ele já planejaria, para tal situação, decretar uma GLO (Operação de Garantia da Lei da Ordem) em todo o país. Estaria havendo treinamento no Exército para tal situação.
A resistência institucional precisa da luta das ruas e vice-versa. O STF precisa ser apoiado e ter reconhecido seu papel de vanguarda na defesa da Constituição e da democracia.
Os inquéritos precisam avançar. O das fake News e aquele outro, pedido pelo PGR (que deve ter se arrependido), para identificar financiadores e organizadores dos atos antidemocráticos. Tem muito trabalho pela frente o ministro Alexandre de Morais.
O inquérito das fake news levará água para as ações que pedem, no TSE, a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Esta semana, o mesmo Alexandre de Morais tomará posse como ministro do TSE, para desespero dos bolsonaristas.
O domingo de ontem encerrou o mês de maio, que foi terrível para os brasileiros, do ponto de vista sanitário: a pandemia disparou e 24 mil pessoas perderam a vida. Em 30 de abril, haviam morrido apenas 6 mil. Hoje, vamos passar dos 30 mil mortos.
Junho começa com o mesmo desgoverno na área sanitária. E também com o prenúncio de que a hora da verdade está chegando. 
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