quinta-feira, 8 de julho de 2021

Roberto Dias revela funcionamento da Saúde: falta de autonomia e práticas polêmicas normalizadas. Reportagem de Patrícia Faermann

 

O ex-diretor de Logística trouxe algumas revelações sobre o funcionamento interno do Ministério da Saúde para os contratos das vacinas contra a Covid-19

Foto: Agência Senado

Jornal GGN – Apesar de negar pressões ao suspeito contrato da Covaxin e negar ter pedido propina para a compra da AstraZeneca, o ex-diretor de Logística, Roberto Dias, trouxe algumas revelações sobre o funcionamento interno do Ministério da Saúde para os contratos das vacinas contra a Covid-19, durante a CPI da Covid.

Sem autonomia para escolher subordinados

Em um dos episódios, questionado pelo vice-presidente da Comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sobre se ele detinha independência para exercer seu cargo ao, por exemplo, nomear seus subordinados, Dias revelou que desde que o ex-ministro Eduardo Pazuello chegou ao comando da Saúde, ele não tinha mais essa autonomia.

“As três coordenadorias gerais do DLOG [Departamento de Logística] foram nomeadas por vossa senhoria? Tiveram a vossa indicação?”. “Na gestão do ministro Pazuello, as indicações foram dele.”

“Na gestão do ministro Mandetta, todas as indicações eram minhas”, continuou. “Na gestão do ministro Pazuello, o senhor deixou de ter autonomia nessa indicação?”. “Foram alteradas a coordenação Financeira, que é o tenente-coronel Marcelo Costa, e a coordenação de Logística, que é o tenente-coronel Alex [Lial].”

Também nessa “clara intervenção” constatada por Randolfe, quando Pazuello assumiu a pasta, entrou como assessor de Dias o tenente-coronel Marcelo Blanco.

“O senhor teve autonomia de gestão durante a gestão do ministro Mandetta. Passando para a gestão do ministro Pazuello, a Secretaria Executiva fez em relação às suas diretorias modificações, interviu diretamente”, explicitou o senador. “Sim, senhor”, confirmou Dias.

Pagamento a terceira empresa por Covaxin “não é anormal”

Conforme o GGN mostrou, Dias admitiu que a prática de empresas desconhecidas tentarem vender vacinas ao Ministério da Saúde era “muito comum”. Em resposta a Eduardo Girão (Podemos-CE), o ex-diretor também admitiu que “não era anormal” uma terceira empresa aparecer como recebedora do pagamento do suspeito contrato da Covaxin.

No depoimento da fiscal de contratos Regina de Oliveira, os parlamentares constataram que a empresa Madison Medicamentos aparecia como uma terceira empresa que seria beneficiada do pagamento bilionário do contrato da vacina indiana.

Segundo Dias, apesar de não ser algo “frequente”, a medida não “era ilegal, nem anormal” e minimizou se tratar de um erro que poderia ser corrigido por meio de um aditivo no contrato, o que não ocorreu porque o processo de aquisição da vacina não prosseguiu.

Vista grossa em Invoice

Em sua participação, o senador Humberto Costa (PT-PE) escancarou que o ex-diretor de Logística não cumpriu com sua responsabilidade no episódio da empresa Global, da Precisa, por não ter alertado em parecer que ela devia R$ 20 milhões ao Ministério da Saúde em antigo contrato com a pasta durante a gestão do ex-ministro Ricardo Barros.

O depoente admitiu que tinha conhecimento sobre o caso, sendo o responsável, inclusive, por pedir o ressarcimento dos danos da Global ao Ministério da Saúde, ainda em 2019, quando assumiu o cargo. Mas, em vista grossa, afirmou que não era sua competência verificar se o impedimento da empresa de licitar com o governo federal era “válido ou não”.

“Enquanto gestor, eu tomei todas as ações que podia. A Global foi impedida de licitar por três meses na gestão anterior. O que tem que ser questionado é se essa sanção foi proporcional, se foi válida ou não, e isso não me diz respeito”, disse.

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