terça-feira, 17 de junho de 2025

UOL: PF indicia Bolsonaro, Carlos e Ramagem no caso criminoso da 'Abin paralela'

 

Do UOL:

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho dele, e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), no inquérito que investiga o caso da "Abin paralela".



domingo, 15 de junho de 2025

ROVOCAÇÃO HISTÓRICA - 04/06/25 - ''OS MILITARES DO BRASIL E A (DIS)TOPIA AUTORITÁRIA''

 

Do Canal Instituto Conhecimento Liberta - ICL:

O “Provocação Histórica” recebe o historiador Carlos Fico. Professor titular de História do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).




quarta-feira, 11 de junho de 2025

Bob Fernandes: Os militares e oficiais conversavam sobre golpe nas redes. Bolsonaro lembra: “Somos companheiros de Academia”

 

Do canal do analista político Bob Fernandes:




Juristas avaliam que Bolsonaro complicou ainda mais sua situação ante suas falas frente a Alexandre de Moraes

 

Ao admitir que discutiu alternativas como estado de sítio com militares, Bolsonaro pode ter comprometido sua própria estratégia de defesa

            Jair Bolsonaro durante interrogatório no STF (Foto: Gustavo Moreno/STF)



247 – A estratégia de defesa adotada por Jair Bolsonaro no depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira, 10, pode agravar sua situação jurídica. Bolsonaro reconheceu que discutiu com os comandantes das Forças Armadas alternativas para contestar o resultado das eleições de 2022, como a decretação do estado de sítio, o estado de defesa e a Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Apesar de negar qualquer articulação golpista, Bolsonaro afirmou que levou aos militares “considerandos” — cenários possíveis — para lidar com a rejeição, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do pedido do PL para anular parte dos votos do segundo turno. Segundo criminalistas ouvidos pelo jornal Estado de S. Paulo, a admissão de que apresentou essas propostas a altos comandos das Forças Armadas pode ser interpretada como um indício de tentativa de golpe de Estado, ainda que envolva instrumentos previstos na Constituição.

“O problema não é o instrumento em si, mas o uso fora do contexto constitucional”, explicou o criminalista Marcelo Crespo, professor da ESPM-SP. Para ele, a narrativa de Bolsonaro, ao reconhecer reuniões estruturadas com autoridades militares, “admite fatos” que revelam movimentos concretos para questionar o resultado eleitoral. “Sob essa perspectiva, reconhece movimentos em busca de alternativas ao resultado eleitoral”, afirmou.

Na tentativa de evitar consequências penais, Bolsonaro afirmou que nenhuma das alternativas foi formalizada. Disse que não assinou qualquer minuta golpista e que a reunião em que se discutiu o tema teria sido “bastante informal”. Ressaltou ainda que as medidas foram descartadas por não haver “clima”, “oportunidade” ou “base minimamente sólida” para uma ruptura institucional.

A versão do ex-presidente entra em conflito com o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. Na segunda-feira, 8, Cid reafirmou que Bolsonaro “recebeu, leu e enxugou” o conteúdo de uma minuta com propostas de ruptura institucional. Bolsonaro, por sua vez, negou: “Não procede o enxugamento”, afirmou.

A estratégia de alegar que os atos não passaram de “preparatórios” — e, portanto, não configurariam crime — também foi duramente criticada por juristas. Segundo Aury Lopes Jr., professor de direito penal da PUC-PR, a diferenciação entre atos preparatórios e atos executórios é central no direito penal. Embora reuniões e conversas abstratas não sejam puníveis, a tentativa de golpe já é considerada crime. “A questão dos atos preparatórios já foi superada, as provas mostram que houve algo além disso”, disse Crespo.

Fernando Neisser, professor da FGV-SP, acredita que Bolsonaro escolheu a única linha de defesa possível diante do volume de provas. O ex-presidente tentou apresentar as reuniões como “desabafos” motivados pela derrota eleitoral, buscando construir a imagem de alguém emocionalmente abalado e sem controle da situação. Para Neisser, trata-se de uma tentativa de despolitizar e desmilitarizar as tratativas.

Bolsonaro também tentou recorrer à tese do “crime impossível” — alegando que não havia condições materiais para consumar um golpe, já que não contava com apoio das Forças Armadas. Citou, inclusive, declarações do ministro da Defesa, José Múcio, que disse não ver os ataques de 8 de janeiro como uma tentativa golpista. “Golpe não são meia dúzia de pessoas, dois ou três generais e meia dúzia de coronéis. Vejam 64. Falar em golpe de Estado? O que aconteceu depois do meu governo, sem armas, sem núcleo financeiro, sem qualquer liderança, isso não é golpe”, declarou Bolsonaro.

Apesar do esforço em mostrar que atuou dentro dos limites constitucionais, especialistas são unânimes em afirmar que a estratégia adotada pode ter tido o efeito contrário. “A situação até piorou, porque ele não conseguiu provar sua inocência. Entrou péssima e saiu pior”, concluiu o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

O processo, conduzido por Alexandre de Moraes no STF, continua em andamento e tende a se tornar um dos casos mais emblemáticos da história recente do país. A eventual responsabilização criminal de Bolsonaro poderá depender da avaliação final sobre se suas ações extrapolaram ou não os limites da legalidade democrática.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

As pesquisas sobre reencarnação e fenômenos psíquicos efetuadas por Ian Stevenson (1918-2007). Artigo de Diceu Machado

 


    Ian Stevenson – médico, psiquiatra, cientista, pesquisador, fundador da moderna pesquisa científica a respeito da reencarnação - é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.

O seguinte artigo do historiador Dirceu Machado foi extraído do site Correio Espírita:

Cientistas e experiências mediúnicas - Ian Pretyman Stevenson




Ian stevenson


INFÂNCIA E JUVENTUDE

O médico psiquiatra Ian Pretyman Stevenson nasceu a 31 de outubro de 1918 na cidade de Montreal, Canadá e desencarnou em 08 de fevereiro de 2007, aos 88 anos, na cidade de Charlottesville no estado da Virginia, Estados Unidos. Seu pai era o correspondente canadense para o New York Times.

Desde a infância sofria de crises de bronquite, repetidamente, e passava muito tempo na cama. Sua saúde nunca foi das melhores e, enquanto enfermo, dedicava-se à leitura e estudos diversos. Sua mãe incentivou-o a se interessar pela Teosofia, assunto que lhe agradou bastante. Nos períodos em que gozava de saúde distinguia-se dos demais colegas chamando a atenção de seus professores. Os professores gostam de alunos superiores, e Stevenson se destacou, por sua inteligência, enquanto estudava na Universidade de St. Andrews, na Escócia e na Universidade McGill em Montreal no Canadá. Graduou em medicina em 1942, tendo se especializado em 1943.

Foi aconselhado a deixar o clima frio do Canadá e se mudar para o Arizona onde iria encontrar bastante calor o que permitiu que se dedicasse mais aos seus estudos e pesquisas acadêmicas.

 

INÍCIO DAVIDA PROFISSIONAL

Nos anos de 1950, inspirado por um encontro com Aldous Huxley, tornou-se um pioneiro no estudo médico sobre os efeitos do LSD.  Em 1957 Stevenson foi nomeado chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Virgínia. A sua principal pesquisa incluía doenças psicossomáticas, compêndios sobre pacientes entrevistados e exames psiquiátricos. Neste período, Stevenson criou uma área de pesquisa dentro do Departamento de Psiquiatria dedicada a fenômenos considerados paranormais. Seu interesse por esse assunto já era antigo, desde os tempos em que lia sobre Teosofia e assuntos correlatos.

A maioria dos historiadores sobre pesquisas paranormais concorda que investigações sistemáticas sobre tais ocorrências não começaram antes de 1882, quando a Society for Psychical Research (SPR) foi fundada em Londres. Seus fundadores abertamente declararam suas intenções de investigar cientificamente tais fenômenos incomuns e Stevenson tomou conhecimento de tais trabalhos, principalmente aqueles publicados por Frederic Myers e Edmund Gurney sobre o assunto.  Também os trabalhos publicados pela American Society for Psychical Research [ASPR], lhe interessaram bastante. Neste grupo se destacaram os trabalhos de C. J. Ducasse e Laura, que mostravam que o ceticismo sobre algumas evidências dos fenômenos paranormais não excluíam a aceitação de outras evidências.

 

PESQUISAS SOBRE REENCARNAÇÃO

Seu interesse se voltou para o estudo de casos alegados de reencarnação e, a partir daí, se dedicou quase que completamente a esclarecer cientificamente esse assunto tão ignorado pela ciência. Stevenson se tornou um dos pioneiros da moderna pesquisa científica a respeito da reencarnação.  Seu método de pesquisa consistia em recolher e analisar meticulosamente casos de crianças as quais pareciam se lembrar de vidas passadas sem o auxílio da hipnose.

A primeira monografia de Stevenson sobre o assunto que o consagrou foi escrita em 1961, foi The Evidence for Survival from Claimed Memories of Former Incarnations, na qual examinava 44 casos publicados de memórias de vidas passadas. O texto foi publicado pela American Society for Psychical Research em homenagem ao filósofo William James, um dos primeiros presidentes da entidade. A repercussão foi muito grande e chamou a atenção de leitores não acadêmicos como a famosa médium norte-americana Eileen Garrett, co-fundadora da Parapsychology Foundation.

FINANCIAMENTO DAS PESQUISAS SOBRE REENCARNAÇÃO

Eileen Garrett, era tanto uma médium espiritualista como também uma notável empresária bem sucedida e contatou Stevenson pedindo-lhe para investigar o caso de uma criança indiana que dizia ter vivido antes. As despesas da viagem correriam sob o patrocínio de sua organização. Stevenson aceitou e viajou à Índia durante suas férias.

A segunda pessoas a se interessar pela pesquisa foi Chester F. Carlson, o inventor da xerografia. Ele tinha experiência como cientista, e antes de seu segundo casamento acreditava, como a maioria dos cientistas faziam (e ainda fazem), que a mente é só um produto do cérebro e suas propriedades inteiramente físicas. Sua segunda esposa, Dorris, tinha alguma capacidade para percepção extra-sensorial. Ela impressionou seu marido com sua habilidade e também o influenciou para que financiasse pesquisas em fenômenos paranormais, principalmente aqueles relacionados à reencarnação.

Durante oito anos Chester Carlson financiou as pesquisas de Ian Stevenson através da Universidade de Virginia e, assim, o cientista pode trabalhar com tranquilidade levando adiante pesquisas que o levaram a se tornar a maior autoridade mundial no estudo da reencarnação com método científico.

Em 1967, Stevenson foi escolhido como Diretor do Setor de Estudos da Personalidade (posteriormente recebendo o nome de "Setor de Estudos da Percepção") e, por um determinado período, foi também o responsável pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade da Virgínia.

Quando Carlson faleceu (1968), legou um milhão de dólares para manter uma cadeira na Universidade da Virgínia, e mais um milhão de dólares para o próprio Stevenson, com o intuito de que a pesquisa sobre a reencarnação não parasse.

 

LEGADO PARA A POSTERIDADE

 

Stevenson aposentou-se em 2002, deixando o seu trabalho na Universidade de Virginia nas mãos de sucessores, dirigidos pelo Dr. Bruce Greyson. Quanto as pesquisas relacionadas com a reencarnação Ian Stevenson escolheu o Dr. Jim Tucker, um psiquiatra infantil,  que concentrou seu estudo em casos de crianças norte-americanas que se recordavam de vidas anteriores.

Stevenson desencarnou em 08 de fevereiro de 2007, aos 88 anos , de pneumonia na comunidade para aposentados de Blue Ridge em Charlottesville, na Virginia.

Ian Stevenson – médico, psiquiatra, cientista, pesquisador, fundador da moderna pesquisa científica a respeito da reencarnação - é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.

 

LIVROS PUBLICADOS

·     Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação –( Twenty Cases Suggestive of Reincarnation.) (1966). (Second revised and enlarged edition 1974), University of Virginia Press, ISBN 0813908728

·     Cases of the Reincarnation Type Vol. I: Ten Cases in India, (1975). University of Virginia Press.

·     Cases of the Reincarnation Type Vol. II: Ten Cases in Sri Lanka. (1978). University of Virginia Press.

·     Cases of the Reincarnation Type Vol. III: Twelve Cases in Lebanon and Turkey. (1980). University of Virginia Press.

·     Cases of the Reincarnation Type Vol. IV: Twelve Cases in Thailand and Burma. (1983). University of Virginia Press.

·     Unlearned Language: New Studies in Xenoglossy. (1984). University of Virginia Press, ISBN 0813909945

·     Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 1: Birthmarks and Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 2: Birth Defects and Other Anomalies. (1997). (2 volumes), Praeger Publishers, ISBN 0-275-95282-7

·     Where Reincarnation and Biology Intersect. (1997). Praeger Publishers, ISBN 0-275-95282-7 . (A short and non-technical version of the scientific two-volumes work, for the general reader)

·     Children Who Remember Previous Lives: A Quest of Reincarnation. (2001). McFarland & Company, ISBN 0-7864-0913-4 , (A general non-technical introduction into reincarnation-research)

·     European Cases of the Reincarnation Type. (2003). McFarland & Company, ISBN 0786414588

 

ARTIGOS PUBLICADOS EM REVISTAS ESPECIALISADAS

·     "The Explanatory Value of the Idea of Reincarnation" (1977) Journal of Nervous and Mental Disease, 164:305-326.

·     "American Children Who Claim to Remember Previous Lives" (1983) Journal of Nervous and Mental Disease, 171:742-748.

·     "The Belief in Reincarnation Among the Igbo of Nigeria" (1985) Journal of Asian and African Studies, XX:13-30.

·     "Characteristics of Cases of the Reincarnation Type Among the Igbo of Nigeria" (1986) Journal of Asian and African Studies, XXI:204-216.

·     "Birthmarks and Birth Defects Corresponding to Wounds on Deceased Persons", (1993). Journal of Scientific Exploration, 7:403-410.

·     (with Cook, E.W., Greyson, B.) (1998). "Do Any Near-Death Experiences Provide Evidence for the Survival of Human Personality after Death? Relevant Features and Illustrative Case Reports",Journal of Scientific Exploration, 12(3): 377-406.

·     "Past lives of twins"(1999). Lancet, Apr 17; 353(9161):1359-60.

·     "The phenomenon of claimed memories of previous lives: possible interpretations and importance"(2000). Medical Hypotheses, 54(4), 652-659.

·     "Ropelike Birthmarks on Children Who Claim to Remember Past Lives" (2001). Psychological Reports, Aug 89(1):142-144.

·     (with Pasricha, S.K., Keil, J. and J.B. Tucker), (2005). "Some Bodily Malformations Attributed to Previous Lives" Journal of Scientific Exploration 19(3):359-383.

 

Dietrich Bonhoeffer, Carl Gustav Jung, Stanley Milgram, Salomon Asch, Friedrich Nietszche e outros ajudando a entender a idiocracia do fascismo e do bolsonarismo

 

Vìdeo importantíssimo do canal Menteabissal:



Toda civilização avançada — de Roma aos Maias, da Dinastia Ming à Era de Ouro Islâmica — seguiu o mesmo padrão assustador: a morte do pensamento crítico, a ascensão do narcisismo de curto prazo e a rejeição da expertise. Isso não é só história. ⚠️ Está acontecendo agora. Neste vídeo, exploramos por que grandes sociedades não colapsam por guerra ou falência econômica — mas sim pela celebração da ignorância. Com ideias de Nietzsche, Carl Sagan, Alexis de Tocqueville e da psicologia moderna, revelamos como as civilizações caem na idiocracia... passo a passo. 📉 🔍 Você vai entender: • Como impérios perdem a capacidade de pensar no longo prazo 📆 • Por que as pessoas rejeitam especialistas e fatos 🔬 • Os gatilhos mentais que destroem nações 🧠💣 • O que os Maias, Roma e os Estados Unidos de hoje têm em comum 🏛 • E, principalmente… como você pode quebrar esse ciclo 🔓 Se você se importa com o futuro da nossa civilização — e com o seu papel nisso — esse é o vídeo que você não pode ignorar. ⚡ 👉 Inscreva-se para mais conteúdos profundos sobre história, filosofia, psicologia e poder. 💬 Participe da conversa nos comentários: Estamos caminhando para mais um colapso… ou ainda dá tempo de acordar? 🕰️🌍


quinta-feira, 5 de junho de 2025

Holocausto palestino. Quem legitima e paga o silêncio da imprensa? Análise de Armando Coelho, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

 

 

A Palestina sofre. Sem apologia ao terror ou agressão ao povo judeu, cabe refletir sobre a violência da guerra e do terror.

Do Jornal GGN:


    Coletivo To Exist is To Resist – Palestina – Creative Commons



Holocausto palestino. Quem legitima e paga o silêncio da imprensa?

por Armando Coelho Neto

O sabujo papel da grande mídia nacional não é novidade, seja no tocante à proteção dos interesses da pretensa elite nacional e internacional, seja ao reproduzir e adotar como pontos de vistas seus, coberturas e opiniões de fatos cobertos pela mídia internacional. Assim, democracias e ditaduras são exatamente democracias e ditaduras, desde que essas sejam as expressões adotadas pelas agências de notícias “gabaritadas”. Um presidente autoproclamado na Venezuela, por exemplo, pode ser presidente mesmo sem voto, desde que os Estados Unidos o reconheça.

Sem escrúpulos, a grande mídia nacional cumpre o vergonhoso papel de repetir os interesses do mundo ocidental. Nessa condição, permanece tratando os Estados Unidos como exemplo de democracia, ainda que Donald Trump tenha desqualificado de uma vez por todas esse mito. Na dita pátria da liberdade, é possível fazer apologia ao nazismo, enquanto protestos contra o holocausto em Gaza, patrocinado por Israel, são violentamente reprimidos. Aliás, sequer a palavra holocausto pode ser usada. É praticamente de uso exclusivo para judeus.A expressão terrorismo passa por esse crivo, ainda que na realidade, terrorismo seja arma dos mais fracos. Trata-se de recurso do qual se valem aqueles que, sem exército, mas com causa que julgam justas a ele recorre, seja por natureza política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou qualquer outra espécie partem para a violência. Em quaisquer dos casos, traz a marca da atrocidade, do trágico, do impactante. Servem de exemplos a explosão de bombas em maratonas como a de Boston (EUA) em 2013, o ataque nesse ano a uma casa de show em Moscou (Russia), ou o fatídico ataque em 7 outubro de 2023, num festival em Israel.

Desse modo, sem apologia e ou condenar povos, grupos, menos ainda expressar simpatias, vale a assertiva do líder Vladimir Putin, quando diz que os grupos tidos como “terroristas” pela Rússia são vistos pela mídia atlanticista como simples opositores, rebeldes, grupos de resistência. Mas, se as mesmas ações são praticadas por grupos simpáticos ao ocidente, são simples rebeldes. Nesse caso, cumpre comparar as atrocidades do grupo nazista Wagner (Rússia e Ucrânia) com o Hamas e Hesbolah (Israel). Todos recorrem a violência.

Com o mesmo cinismo, a grande mídia impõe a visão do que possa ser democracia, ainda que possa ser fruto de voto comprado. Na recente eleição presidencial do Brasil, o derrame de dinheiro público para reeleger o ex-capitão, ultrapassou o limite da indecência, com a maior compra de votos da história. Verbas para caminhoneiros, taxistas, roubo nos empréstimos consignados para aposentados, recursos liberados ilegalmente às vésperas das eleições, entre outras falcatruas. Prender favorito à vitória no Brasil é democrático, já na Venezuela ou outro país é ditadura.

As alternâncias de poder tão decantadas, mesmo entre famílias ou grupo, como nos Estados Unidos, nas republiquetas ou nas brenhas brasileiras, recebem chancelas de aceitação, pela singular existência de voto, urnas eletrônicas ou não, são legitimadas pelo revezamento formal (dos mesmos), em que pese os vícios conhecidos. Ah, mas a pior democracia é melhor que qualquer ditadura. Não, leitor, a essência dessa fala é o valor atribuído às palavras, de forma que, no contexto, existem democracias e democracias, violências e violências aceitáveis e permitidas conforme a conveniência da grande mídia.

Tais rótulos e chancelas são aplicados à palavra terrorismo, como se a violência que esse ato encerra não fosse tão criminoso e repugnante quanto as atrocidades de uma guerra. Nesse sentido, a grande mídia glamoriza o holocausto judeu e minimiza o holocausto – genocídio, matança, extermínio, ou seja lá que nome possa querer dar à devastação, à destruição, à barbárie em Gaza. Qual a diferença entre os inocentes assassinados pelo Hamas e os inocentes assassinados por Israel? Seria um ato terrorista mais grave do que uma guerra genocida, como os assassinatos ao vivo na Faixa de Gaza, hoje o maior cemitério aberto do planeta?

A Palestina sofre. Sem apologia ao terror ou agressão ao povo judeu, ao seu histórico sofrimento, cabe refletir sobre a violência da guerra e do terror, o quanto se nivelam, o silêncio e indiferença da grande mídia. Ou Juca Chaves teria razão quando afirmou: “A imprensa é muito séria, se você pagar, eles até publicam a verdade”.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Folha de São Paulo. Colher verdade para vender mentira? Artigo de Armando Coelho, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

A Folha de S. Paulo vive há anos “contando mentiras dizendo verdades”. Aliás, tema de uma peça publicitária dela, premiado em Cannes (1988).


Do Jornal GGN:



Folha de S. Paulo. Colher verdade para vender mentira?

por Armando Coelho Neto

O tema, em princípio, é Folha de S. Paulo, mas cabe antes falar de Globo, por pertencerem a mesma cepa. Em 1992, a emissora produziu a bem-sucedida série “Anos Rebeldes” (Gilberto Braga), na qual conta parte da ditadura militar, com foco inclusive na guerrilha, sequestro de embaixadores, etc., mas comete a proeza de omitir o seu próprio papel como braço dos ditadores e que deles foi porta-voz.

Folha de S. Paulo. Não, leitor, não cabe relembrar que ela conseguiu lacrar que foi vítima de “invasão” pela Polícia Federal, durante o governo Fernando Collor de Mello, o salvador da pátria de então, um “imbroxável” da época que tinha “aquilo roxo”. Junto com a Globo et caterva, o jornal o tornou presidente. “Invasão? ” Os policiais federais da operação nunca foram ouvidos. Vale a versão dos Frias.

Também não cabe aqui, falar de “Folha Corrida”, um documentário produzido pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), segundo quem, a Folha abrigava agentes da ditadura que “torturavam de manhã e trabalhavam no jornal à tarde”. O veículo publicava fotos, nomes completos e filiação de militantes do Partido Comunista, conclamando o público a fazer denúncias. É o que diz a produção do ICL.

A Folha de S. Paulo vive há anos “contando mentiras dizendo verdades”. Aliás, tema de uma peça publicitária dela, premiado em Cannes (1988). Num fundo difuso, o narrador enaltece um governante que recuperou a economia de seu país e devolveu o orgulho ao seu povo, e até queria ser artista. Ao ser aberta a imagem, surge Adolf Hitler, e ouve-se: “É possível contar um monte de mentiras dizendo só verdades”.

Na prática, a Folha de S. Paulo colocou Lula e Hitler no mesmo patamar, com visível intento de desqualificar Lula, com a imagem esfolada pela prisão espúria, e apoiar a candidatura adversária. É que esse mesmo comercial voltou a ser exibido em 2018, durante a campanha presidencial daquele ano, quando os indiscutíveis feitos do presidente Luís Inácio Lula da Silva estavam sendo exaltados.

Os feitos positivos de Hitler e de Lula eram verdadeiros, já que tanto um quanto outro trouxeram dados positivos às economias de seus respectivos países. Tanto um quanto o outro, devolveram o orgulho ao seu povo. Mas, com mentiras embutidas, seja na falsa e maldosa comparação entre as duas personalidades, seja pelo fato da comparação estar a serviço da candidatura apoiada pelo jornal, que se diz isento.

Quando fake news e disciplina nas redes sociais voltam ao centro do debate, nota-se que na prática as redes só potencializaram o que Globo e Folha (meros exemplos) já o faziam. Como dito no comercial, difundiam e difundem mentiras falando verdades, de forma clara ou camuflada. Não debater o sequestro do orçamento por um parlamento corrupto é uma forma de mentir.

Em 13/08/2024, a Folha publicou: “Moraes usou TSE fora do rito para investigar bolsonaristas no Supremo, revelam mensagens”. O uso do genérico “rito” colocou sob suspeita a pessoa do ministro e o próprio tribunal, criando dúvida sobre algo que a rigor não teria rito algum. Seria uma nova Vasa-Jato? O veículo só quis estabelecer uma falsa similaridade e ou semelhança com o ex-juiz ladrão de Curitiba.

A Folha está preparando uma série especial de reportagens sobre o julgamento do ex-capitão. Diante do impacto no futuro do país, com garantia de sigilo e fins estatísticos, o jornal quer saber de possíveis leitores, quais temas gostariam que fossem aprofundados. Nesse sentido, é importante tirar a máscara do jornal, e dele pedir compromisso com a democracia, sem flertes com golpistas.

Folha, Globo et caterva sabem que pavimentaram o caminho para o nazifascismo. Sabem que os problemas de hoje têm raízes num passado próximo com o qual compactuaram. Palavras como ditadura, democracia, censura, direitos fundamentais ganham sentido de ocasião. Os que distorcem os seus sentidos ganham palanques e visibilidade em nome de uma polifonia corrosiva.

Se a Folha está mesmo preocupada com o impacto do julgamento do ex-capitão, tem que resgatar o sentido real das palavras, dar a dimensão real dos acontecimentos. Da Adutora do Gandu aos 700 mil mortos, falar de genocídio, fome, joias, imóveis, discriminação, aporofobia, inclusão, narcopentecostalismo, coisa e orçamento públicos. Há que se reconstituir a história, resgatar valores. Sem anistia.

Entrar na história para contar a História, sem essa de colher verdade para vender mentira.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Imprensa e "grande" mídia empresarial (controlada pelos agentes do mercado financeiro): a quinta-coluna do projeto autoritário da direita, por Daniel Gorte-Dalmoro

 

“Uma escolha muito difícil” apenas um subterfúgio para não assumirem logo que a democracia é um detalhe irrelevante para os donos dos poderes.

Do Jornal GGN:

    Foto: reprodução


Grande imprensa brasileira: a quinta-coluna do projeto autoritário da direita

por Daniel Gorte-Dalmoro

De um lado, os grandes veículos de imprensa dizem defender a democracia. De outro, abrem espaço para os Bolsonaro darem sua distorção dos fatos – mesmo quando é inconteste a participação na tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro – e fazerem política, mantendo sua relevância no cenário político nacional. Por outro lado, ainda, dia sim, outro também, apresentam Tarcísio como alguém de uma direita moderada, mesmo sabendo quem ele é – assim como sabiam quem era Bolsonaro, sendo a conversa de “uma escolha muito difícil” apenas um subterfúgio para não assumirem logo que a democracia é um detalhe irrelevante para os donos dos poderes.

O paradoxo da tolerância, de Karl Popper, é conhecido dessa imprensa, e não tem como dar a ela o benefício da dúvida, de que não saberia que tolerar (e dar voz) aos intolerantes põe em risco a própria tolerância que é um dos pilares de uma sociedade democrática e liberal.

O que essa imprensa também sabe é o modus operandi da nova extrema-direita, seja pelo que vivenciou durante a presidência de Bolsonaro, seja com o que acompanha nos EUA, com Trump: sem nenhum princípio republicano, persegue quem não se submete a seus desígnios e os adula: a única imprensa que eles aceitam é a que dá a versão oficial dos fatos. Investigação? Só se for dos adversários do governante, convertidos em inimigos.

O que a grande imprensa tem feito, portanto, é investimento futuro, sem risco de perdas: sabendo do republicanismo de Lula e do PT (republicanismo de almanaque, de tão distante das lutas políticas que atravessam o país, diga-se de passagem), fustiga o governo sem dó nem ética, distorcendo dados e notícias favoráveis e criando factóides para desgastar o governo. Fazem-no porque tem a tranquilidade de que publicidade oficial continuará caindo na conta, apesar de fazerem mau jornalismo (se é que o que fazem é jornalismo). 

Se Lula ganhar em 2026, não tem problema, a vida segue normal, sem reação do Planalto. Se a extrema-direita ganhar, tem o cartão de visitas a apresentar ao próximo presidente: foram uma quinta-coluna no enfraquecimento da democracia e podem continuar sendo agraciados com verbas publicitárias governamentais. Isso para não falar no agrado que fazem aos donos do capital que vandaliza o país, visto que a plataforma da nova direita para países periféricos é o capitalismo de butim – vide as privatizações da era Temer/Bolsonaro, como da Petrobrás, e agora a privatização da Sabesp por Tarcísio -, sem nenhuma preocupação com desenvolvimento econômico ou social.

Há quem questione se apoiar um projeto autoritário, ainda que com verniz democrático, não seria um tiro no pé da imprensa. De modo algum! Quem sucumbiria não seria a imprensa e sim o jornalismo. As empresas seguiriam lucrando – e colaborando com a repressão -, como foi durante a ditadura militar-empresarial de 64-85.

Quem precisa estudar um pouco mais sobre o paradoxo da intolerância é o PT e o governo.

Daniel Gorte-Dalmoro é escritor e funcionário público. Filósofo e Sociólogo formado pela Unicamp, Mestre em Filosofia pela PUC-SP (se debruçou sobre A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord), Psicanalista em formação. Autor, dentre outros, de Trezenhum. Humor sem graça. (Ibiporã 1011) e Linha de Produção/Linha de Descartes (Editora Urutau).

Reinaldo Azevedo - Redes sociais: avisem André Mendonça que pode duvidar de Deus, mas não incendiar igrejas ficando ao lado dos interesses das Big Techs

 

O terrivelmente evangélico (e bolsonarista) André Mendonça do lado dos crimes das Bigh Tehcs americanas que se recusam a serem submetidas à lei

Da Rádio BandNews FM:




quarta-feira, 4 de junho de 2025

STF libera vídeos de depoimentos de testemunhas no julgamento de golpistas bolsonaristas

 


O brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, relatou alerta recebido por Bolsonaro sobre possibilidade de prisão caso tentativa de golpe fosse levado adiante

Do Jornal GGN:

STF libera vídeos de depoimentos de julgamento de golpistas

    Crédito: Reprodução


O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou, nesta terça-feira (3), vídeos de depoimentos das testemunhas ouvidas no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado e outros crimes supostamente praticados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas, entre militares e ex-membros do governo. 

Entre as imagens liberadas estava o depoimento do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. 

“Antes de responder, pense bem. A testemunha não pode deixar de falar a verdade. Se mentiu na polícia, tem que falar que mentiu na polícia. Não pode agora no STF dizer que não sabia… Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui”, disse o ministro.

Enquanto aos policiais Freire Gomes admitiu estar em reunião em que Bolsonaro tramava o golpe de Estado e que o então comandante da Marinha, almirante Garnier Santos concordou com o plano, aos ministros do STF ele afirmou não ter conhecimento sobre o planejamento para manter Bolsonaro no poder. 

“Eu estava focado na minha lealdade de ser franco ao presidente do que nós pensávamos. O brigadeiro também foi contrário a qualquer coisa naquele momento. E como fui muito enfático naquele momento, que eu me lembro o ministro da defesa ficou calado, e o almirante garnier apenas demonstrou o respeito ao comandante chefe das forças armadas, não interpretei como qualquer tipo de conluio”, respondeu Freire Gomes.

Já os registros da PF indicam que “que o depoente [Freire Gomes] e o Brigadeiro Baptista Junior (Aeronáutica) afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto; que não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude; que, acredita, pelo que se recorda, que o Almirante Garnier teria se colocado à disposição do Presidente da República”.

“Ou o senhor mentiu na polícia ou está mentindo aqui no STF”, reafirmou Moraes.

Alerta


O STF liberou ainda imagens do relato do brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, que apontou que o o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército alertou o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de prnedê-lo caso a tentativa de golpe fosse levada adiante.

Segundo a testemunha, Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas debateram “hipóteses de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição”.

“Durante as discussões, como eu disse, a partir do dia 11, dia 14 [de novembro] nós começamos a imaginar que os objetivos políticos de uma medida de exceção não eram para garantir a paz social até o dia 1º de janeiro. E foi dentro desse contexto que o general Freire Gomes colocou [a questão da prisão]”, disse Baptista Júnior.

Reinaldo Azevedo: Foragida, deputada cita Eduardo e retoma discurso extremista para paparicar bolsonarismo

  Da Rádio BandNews FM:




Reinaldo – A “vaquinha” da Zambelli; defesa cai fora; líder do PL defende fugitiva; suplente

 

Da Radio BandNews FM:




Reinaldo Azevedo - Responsabilização civil: tem de valer para as redes sociais e Bigh Techs o que vale para a imprensa

  

Da Rádio BandNews FM:




terça-feira, 3 de junho de 2025

BigTechs e Bolsonaro armam exército digital para 2026

 

‘O adversário monta seu exército com instrução de multinacional’, escreve Sara Goes. ‘É a codificação da extrema direita, uma aliança entre o mercado e o caos’

    Reportagem de Sara Goes, no 247:
    
    

BigTechs e Bolsonaro armam exército digital para 2026

    

    Evento em Fortaleza (Foto: Reprodução (Divulgação))



Fortaleza, 30 de maio de 2025. No Centro de Eventos do Ceará, um auditório lotado por jovens ativistas de direita, assessores parlamentares, influenciadores e profissionais de marketing digital testemunhou um momento embaraçoso que, mais do que uma gafe, serviu como síntese involuntária do que viria a seguir.

Waldemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, 75 anos, envolvido em escândalos históricos e visivelmente desconfortável, tentou abrir o evento com entusiasmo juvenil, ou o que imaginava ser. Em uma fala desconexa, tropeçou ao tentar usar expressões como “flopou” e “stalkear”, gaguejou, repetiu sílabas até formar palavras mínimas, tentou invocar uma linguagem que claramente não dominava.

“Se alguém não entende o que eu falei, está no lugar certo para aprender.”

A frase, que arrancou risos nervosos da plateia, revelou mais do que o esforço de um cacique partidário em parecer atualizado. Revelou que o PL não é o protagonista da sua própria festa, o partido havia cedido o palco, o tom e a pauta às corporações que realmente conduziam o espetáculo, Meta, Google e CapCut.

O que se desenrolaria ali, ao longo do dia, não era um seminário de comunicação. Era uma aula prática de como transformar um partido político em base operacional de uma milícia digital, com benção técnica das big techs e com Jair Bolsonaro e Michelle como totens simbólicos do projeto.

Seminário das Big Techs: como o PL foi instrumentalizado para formar milícias digitais

Representantes oficiais da Meta, Google e CapCut dominaram a programação. Enquanto parlamentares tiveram falas cronometradas de 3 a 5 minutos, Ricardo Vilella (Google), Felipe Ventura (Meta) e um trio técnico vinculado ao CapCut (Jhon Henrique, Vitor Reels e Dan Maker) ocuparam o palco com desenvoltura, autoridade e espaço privilegiado. 

Apresentaram tutoriais práticos sobre como automatizar vídeos, alimentar inteligências artificiais com conteúdo político enviesado, impulsionar mensagens via WhatsApp Business e até gerar podcasts inteiros com voz sintética, tudo isso com foco explícito em mobilização política, ataque a adversários e formação de militância digital. 

Ali, ninguém falava em regulação. Ninguém mencionava riscos de desinformação. Muito menos havia qualquer cuidado em esconder o objetivo: ensinar a extrema direita brasileira a dominar as plataformas com as ferramentas fornecidas por elas mesmas.

A nova lógica da milícia digital

A cena é mais do que simbólica, é estratégica. As plataformas de tecnologia, que historicamente se vendem como neutras, mostraram, de forma pública e escancarada, que estão operando lado a lado com uma articulação política autoritária, antidemocrática e negacionista. 

A estética do evento foi juvenil, descontraída, mas o conteúdo era nitidamente voltado para criar um exército digital disciplinado, treinado para atacar, manipular e fidelizar públicos com linguagem emocional, estética gamificada e técnicas de IA de última geração. 

Não por acaso, nos bastidores, já se comenta que essa foi a primeira “formatura técnica” das novas milícias digitais do bolsonarismo. Se antes havia improviso, agora há cartilha. Se antes o gabinete do ódio funcionava com memes e raiva, agora ele conta com editores de vídeo, scripts automatizados e fluxos de produção baseados em machine learning, tudo entregue em mãos pelas próprias corporações.

Bolsonaro, o cicerone de luxo

Jair Bolsonaro esteve no evento, mas não como protagonista. Seu papel foi o de mascote ideológico, espécie de cicerone da plateia. Falou por poucos minutos, retomando seu discurso manjado sobre liberdade de expressão, atacando o Supremo Tribunal Federal, afirmando que Lula e Janja estariam importando um modelo de censura da China e, o mais grave, sugerindo que um “país da parte norte da América” pudesse intervir para “acabar com essa palhaçada do STF”. “Ainda bem que as big techs estão do lado certo”, disse Bolsonaro em certo momento, com um sorriso satisfeito.

A frase ecoou pelo auditório como confissão e celebração. A simbiose foi feita. A extrema direita oferece base, blindagem legislativa e fidelidade ideológica. As plataformas oferecem ferramentas, estrutura e legitimidade técnica.

Michelle Bolsonaro, por sua vez, não apareceu. Esteve presente como símbolo, imagem viva de um projeto de poder moralista, feminino e disciplinador, que já se projeta para 2026 como possível cabeça de chapa, ou ao menos rainha eleitoral da bancada evangélica.

O culto à liberdade como biombo da violência digital

Durante todo o seminário, o termo “liberdade de expressão” foi repetido como mantra. Mas a liberdade que se cultuava ali não é um valor democrático, é a licença para caluniar, desinformar e intimidar adversários políticos com a chancela algorítmica das big techs.

Vídeos institucionais apresentados no evento reforçavam esse enredo: uma peça ligava Lula e Janja a um suposto plano de censura com apoio da China, outra exaltava lives, vozes anônimas e conteúdos que “tocam o coração” como símbolos de uma liberdade ameaçada. Era a estética do TikTok travestida de épica libertadora. A distopia apresentada como heroísmo.

Um partido digitalizado, uma plataforma instrumentalizada

O mais impressionante do evento foi perceber que o PL não usou as plataformas, foi usado por elas. O partido virou palco para uma operação de transferência de know-how. 

O algoritmo é o verdadeiro partido, e seu projeto é global.Não se trata mais de disputar eleições. Trata-se de operar cognitivamente a população por meio de redes treinadas para inflamar, confundir, atacar e capturar. 

O PL, ao lado de figuras como Rogério Marinho, Valdemar Costa Neto, André Fernandes e Carmelo Neto, cumpre o papel de facilitar, blindar e proteger esse novo tipo de milícia, a milícia algorítmica, a milícia da IA e a milícia digital.

O que aconteceu em Fortaleza não é um detalhe, é um alerta

Enquanto parte da esquerda ainda discute se TikTok deve ou não ser regulado, se a Janja pode ou não mencionar a China em um jantar, o adversário está montando seu exército com planilha, roteiro, editor de vídeo e instrução técnica de multinacional.

O que se viu em Fortaleza foi um evento de codificação da extrema direita, uma certificação da nova aliança entre o mercado e o caos, um passo a mais no projeto de destruir o espaço público, transformar a verdade em meme, e capturar o imaginário coletivo por meio de narrativas fabricadas em laboratório.

Se ninguém reagir com força, ousadia e inteligência estratégica, não haverá 2026 para disputar, haverá apenas um feed colonizado.

PL está pronto para 2026. E nós?

O evento em Fortaleza não deixou dúvidas: o Partido Liberal está tecnicamente, esteticamente e estrategicamente pronto para disputar o controle da mente pública. Está armado de IA, treinado em mobilização digital e respaldado pelas maiores plataformas do mundo. 

A pergunta que resta é: nós estamos prontos? Ou ainda estamos debatendo com boas intenções enquanto o campo de batalha já foi tomado por códigos e promessas de engajamento? Avia!

Neofascismo à moda americana. Artigo de John Bellamy Foster, professor de sociologia da Universidade do Oregon, EUA.

 

Neofascismo à moda americana

Cartografia de um movimento que antecede Trump e vai além dele. Os think-tanks e fundações que o alimentam. Seu delírio: extirpar o “marxismo cultural”. Objetivo: aliança em que os rentistas usam a baixa classe média e a abandonam em seguida


Por John Bellamy Foster, na Monthly Review | Tradução: Marcos Montenegro

MAIS:
Texto em três partes. Aqui, a segunda. Em breve, a terceira

Uma semana após a posse de Donald Trump em 20 de janeiro de 2025 em seu segundo mandato como presidente dos EUA, Matthew J. Vaeth, diretor interino do Escritório de Administração e Orçamento (OMB), emitiu um memorando aos departamentos e agências federais ordenando uma pausa temporária nos gastos com agências, subsídios e empréstimos e assistência financeira em todo o governo federal. Este foi o tiro inaugural do que a direita chamou de “Guerra Fria Civil “.1 A ordem de congelamento geral dos gastos civis federais foi provavelmente escrita pelo novo diretor do OMB em 2025, Russell Vought, que à época aguardava confirmação do Congresso. Para Vought, “a dura realidade na América é que estamos nos estágios finais de uma completa tomada marxista do país” e que esses inimigos “já possuem as armas do aparato governamental”, que “eles apontaram … para nós.”2 Vought chefiou o OMB durante o primeiro governo Trump e foi um dos principais arquitetos do Projeto 2025, o plano para a transição para um novo executivo absolutista, publicado em 2022 pela Heritage Foundation, de direita.3 Ele escreveu o capítulo sobre o “Gabinete Executivo do Presidente dos Estados Unidos” para o Projeto 2025 e fundou o Center for Renewing America, um ramo ativo do Projeto 2025, que foi encarregado de redigir centenas de ordens executivas com antecedência para serem implementadas imediatamente após a ascensão de Trump à Casa Branca. O Projeto 2025 incluía planos para fechar departamentos federais inteiros, cortar maciçamente a força de trabalho federal e reduzir de forma drástica os gastos federais, forçando estados, governos locais, universidades e a mídia a se alinharem com os ditames do regime de Trump.4

A ordem do OMB, de congelar os gastos do governo civil federal, afetou os gastos que no ano fiscal de 2024 totalizaram cerca de US$ 3 trilhões, enviando ondas de choque por todo o país. Em 31 de janeiro de 2025, o juiz-chefe John J. McConnell Jr., do Distrito de Rhode Island dos Estados Unidos, emitiu uma ordem de restrição temporária das ações do OMB. Em resposta, o OMB cancelou seu memorando. No entanto, o governo Trump, aderindo à “teoria do represamento” que afirmava que o Poder Executivo tinha o poder de não aplicar fundos alocados pelo Congresso, recusou-se a cumprir integralmente a ordem judicial de McConnell. A decisão subsequente do Tribunal de Apelações dos EUA para o Primeiro Circuito, que apoiou a decisão de McConnell, apontou para uma crise constitucional iminente. Figuras importantes do movimento Make America Great Again (MAGA) formularam antecipadamente estratégias justificando que o presidente pode fechar departamentos e bloquear gastos autorizados pelo Congresso, ignorando os tribunais, com base no poder absoluto do executivo e na proposição de que tudo o que o presidente faz é legal. Se necessário, pode declarar estado de emergência, suspendendo os direitos constitucionais.5 O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de Elon Musk atropelou o governo federal, aparentemente com poderes para assumir e fechar agências inteiras à sua vontade. Enquanto isso, o governo Trump afirma ter poder total sobre as agências reguladoras independentes dentro do governo federal, como a Federal Trade Commission, o National Labor Relations Board, a Federal Communications Commission e até mesmo o Federal Reserve Board, com base na que é chamada de “autoridade executiva unitária”, uma teoria constitucional controversa.6

Se a ordem do OMB e as ações do DOGE de Musk criaram um pântano legal, a intenção ideológica das ações do governo Trump era, no entanto, bastante clara. De acordo com o memorando Vaeth / Vought, o objetivo do congelamento dos gastos federais do governo era acabar com o “woke” e a instrumentalização do governo, opondo-se ao “uso de recursos federais para promover a equidade marxista, o transgenerismo e as políticas de engenharia social do green new deal”. O congelamento inicial, ou “pausa” nos gastos, foi projetado para permitir que o governo identificasse os gastos dedicados a “DEI [programas de diversidade, equidade e inclusão], ideologia de gênero “woke” e o green new deal“, juntamente com gastos com ajuda externa, que foram considerados usos fraudulentos de recursos federais.7 Na ideologia de direita, a categoria abrangente é o “Marxismo Cultural”, que é visto como incluindo a defesa da teoria crítica da raça (CRT); iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG); DEI; direitos LGBTQ+; ações de mudança climática; fronteiras abertas; assistência médica universal; e energia verde.8 Este ataque ao chamado Marxismo Cultural estava de acordo com a Agenda 47 da campanha Trump e J.D. Vance, que visava “remover todos os burocratas marxistas de diversidade, equidade e inclusão” e perseguir os “maníacos marxistas que infectam instituições educacionais”.9

A lógica geral por trás desses movimentos foi fornecida por outro documento da Heritage Foundation, também publicado em 2022, intitulado Como o marxismo cultural ameaça os Estados Unidos – e como os americanos podem combatê-lo, de Mike Gonzalez e Katharine C. Gorka, que escreveram NextGen Marxism: What It Is and How to Combat It (2024).10 O Marxismo Cultural, que segundo a direita MAGA permeia as universidades e o Estado, assim como penetra as corporações, é visto como tendo sua gênese nos Cadernos do Cárcere, de Antonio Gramsci, que rompeu com o economicismo do marxismo clássico. Nessa visão distorcida, o novo “marxismo cultural” foi levado adiante por marxistas da Escola de Frankfurt como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Erich Fromm. Recebeu mais tarde uma conceituação mais ampla por pós-modernistas como Michel Foucault, que levaram, em última instância, à teoria feminista radical e à CRT. O trabalho de Gonzalez e Gorka não demonstra a menor atenção à pesquisa acadêmica genuína. Seu objetivo não é promover a investigação intelectual, mas sim um Novo Macarthismo. Em seu livro, eles afirmam que Joseph McCarthy, na caça às bruxas anticomunista da década de 1950, realizou um “trabalho importante”, mas cometeu o erro de fazer acusações que “não pôde comprovar”. Na Guerra Fria Civil de hoje, sugere-se que o macarthismo precisa ser ressuscitado em bases mais sólidas para não cometer os erros do passado – embora, na verdade, o Novo Macarthismo seja tão desprovido de substância quanto seu antecessor dos anos 1950.11

A ideologia MAGA que agora está abrigada na Casa Branca, e que também avançou em grande medida para os tribunais e o Congresso, tem pouco a ver com o próprio Trump, para quem serviu como uma arma conveniente em sua ascensão ao poder. Sua base material pode ser encontrada, em vez disso, no crescimento de um movimento neofascista mais amplo, que, como todos os movimentos do gênero fascista, está enraizado em uma tênue aliança entre setores da classe dominante capitalista monopolista no topo da sociedade e muito abaixo um exército mobilizado de adeptos da classe média baixa. Estes últimos veem como seus principais inimigos não os escalões superiores da classe capitalista, mas os profissionais da classe média alta imediatamente acima deles e a classe trabalhadora abaixo deles.12 A classe média baixa, principalmente branca, se articula com as populações rurais e adeptos do fundamentalismo religioso ou evangélico, formando um bloco histórico revanchista de direita.

A atual mobilização da classe média baixa pela direita do capital monopolista, particularmente os representantes dos interesses tecnológicos, financeiros e petrolíferos, visa inicialmente desmantelar o atual “Estado administrativo”, substituindo-o por um mais propício a um projeto neofascista. No entanto, no processo, uma lacuna política cada vez maior já está se abrindo entre os governantes bilionários em cima e seu exército MAGA embaixo, entre diferentes elementos dentro do movimento evangélico e entre aqueles que apoiam uma ditadura política e aqueles que desejam manter as formas constitucionais liberal-democráticas.13

Em consonância com todos os movimentos do gênero fascista, o atual regime inevitavelmente trairá os apoiadores de massa do MAGA na direita radical, buscando relegá-los a um papel cada vez mais subserviente e controlado e negando quaisquer políticas em conflito fundamental com seus objetivos capitalistas-imperiais. No entanto, surgiu uma massa de think tanks e influenciadores que buscam racionalizar o irracional, utilizando-se dos elementos ideológicos que atraem uma classe média baixa branca, mas, em última análise, atendendo às necessidades da classe capitalista bilionária. Compreender a base desse novo irracionalismo e as formas de domínio de classe associadas a ele é crucial na luta contra-hegemônica por um futuro democrático, igualitário e sustentável – e, portanto, socialista – para a humanidade como um todo.

A ideologia neofascista do MAGA

“O antônimo de fascismo”, escreveu o economista marxista Paul M. Sweezy em 1952, “é a democracia burguesa, não o feudalismo ou o socialismo. O fascismo é uma das formas políticas que o capitalismo pode assumir na fase monopolista do imperialismo.”14 Na definição clássica originada com os teóricos marxistas – e empregada, como no caso do Behemoth: The Structure and Practice of National Socialism, de Franz Neumann, nos julgamentos de Nuremberg – esses movimentos e regimes pertencentes ao gênero fascista têm seus fundamentos materiais em uma tênue aliança entre o capital monopolista e uma pequena burguesia ou classe média baixa mobilizada. Estes últimos foram referidos por C. Wright Mills como os “guarda-costas” do sistema capitalista devido à sua ideologia geralmente regressiva, um produto de sua posição de classe contraditória.15

Essa mobilização da classe/estrato média e baixa instigada por setores do capital monopolista ocorre quando os escalões superiores da sociedade se veem ameaçados por uma variedade de fatores internos e externos que colocam em risco sua hegemonia. Isso leva a ataques ao Estado democrático liberal e à tomada do poder do Estado por um setor da classe dominante, apoiado por um exército de adeptos de baixo – muitas vezes inicialmente por meios legais, mas logo cruzando as fronteiras constitucionais. O poder está concentrado nas mãos de um líder, um duce ou führer, por trás de quem estão os gigantescos interesses capitalistas. A chave para o governo fascista, uma vez que ganha sua ascendência sobre o Estado, é a privatização de grandes partes do governo favorecendo o capital monopolista, um conceito articulado pela primeira vez em relação à Alemanha de Adolf Hitler.16 Isso é acompanhado por extrema repressão de segmentos inferiores da população, muitas vezes como bodes expiatórios. Tais movimentos inevitavelmente buscam garantir seu domínio ideológico, ganhando o controle de todo o aparato cultural da sociedade em um processo que os nazistas chamaram de Gleichschalthung, ou alinhamento.

Essa compreensão geral do fascismo foi dominante nas décadas de 1930 e 40, estendendo-se até o final do século XX. No entanto, o fascismo, como formação política, acabou sendo reinterpretado no discurso liberal em termos idealistas como uma ideologia pura, conceitualmente dissociada de seus fundamentos de classe e materialistas e reduzida à sua forma externa como racismo extremo, nacionalismo, revanchismo e o crescimento de personalidades autoritárias, todos vistos como desconectados do próprio capitalismo. Muito disso estava de fato implícito na crítica ao “totalitarismo” desenvolvida por figuras da Guerra Fria como Hannah Arendt, que apresentava o fascismo como um sistema extremo à direita conceitualmente divorciado do capitalismo, e antônimo do comunismo à esquerda.17 O fascismo, portanto, foi reinterpretado na ideologia hegemônica como uma forma de autoritarismo / totalitarismo violento e afastado do capitalismo, que foi então identificado exclusivamente com a democracia liberal. Sem quaisquer fundamentos histórico-materiais reais e ignorando as realidades de classe, tais reformulações foram meros meios de escorar a própria noção de capitalismo e se mostraram inúteis nas tentativas de entender o ressurgimento das forças fascistas e neofascistas em nosso tempo.

Ao abordar o neofascismo atual, é crucial vê-lo como um produto das relações materiais/de classe/imperiais do capitalismo tardio, que não deve ser entendido simplesmente em termos de suas formas externas “populistas”, hiperrracistas, hipermisóginas ou hipernacionalistas, mas sim em termos de uma crítica substantiva baseada em classes.18 O fascismo é sempre um ataque à democracia liberal e a sua substituição pelo tacão de ferro de uma ordem política na qual reina o capital financeiro monopolista. Sua ideologia revanchista não surge principalmente do próprio capital monopolista, mas é principalmente um mecanismo para a mobilização de forças de direita retiradas predominantemente da classe média baixa, alistando um exército de tropas de assalto (“stormtroopers”) reais ou futuros (vestindo camisas pretas, camisas marrons ou bonés MAGA) e fornecendo a justificativa para o desmantelamento do estado liberal-democrático.

Embora sejam as reais forças de classe material, e não a ideologia desencarnada, que devem ser levadas em consideração em primeiro plano, é verdade que as ideias, uma vez que surgem, podem se tornar forças materiais. “A ideologia”, escreveu Georg Lukács, é “a forma mais elevada de consciência [de classe]”.19 Se quisermos entender a natureza do regime emergente do MAGA, temos que explorar sua ideologia governante e suas formas de organização política. Muito pouco disso, deve-se ressaltar, emana do próprio Trump, que é frequentemente descrito dentro do movimento MAGA como um instrumento um tanto defeituoso, embora útil, da nova ordem.20

Apesar de sua importância na publicação do Projeto 2025, o principal “think tank” do movimento Trump não é a Heritage Foundation, mas sim o Claremont Institute, fundado em 1979 em Upland, Califórnia. O Instituto Claremont foi originalmente uma base para o pensamento straussiano (derivado do teórico político ultraconservador Leo Strauss), mas evoluiu para ser o centro nervoso do MAGA. Seu financiamento vem de megadoadores, incluindo o Thomas D. Klingenstein Fund (um fundo multibilionário administrado pelo banqueiro de investimentos Thomas D. Klingenstein, presidente do conselho do Claremont Institute), a Fundação Dick e Betsy DeVos (administrada pela bilionária ex-secretária de educação de Trump, Betsy DeVos), a ultraconservadora Fundação Lynde e Harry Bradley e a Fundação Sarah Scaife.21 Suas duas principais publicações são The American Mind Claremont Review of Books. O Instituto também tem uma filial adicional, o Claremont Institute Center for the American Way of Life, localizado em Washington, DC, em frente ao Capitólio. Acadêmicos e especialistas associados ao Claremont Institute dominam o Hillsdale College, em Michigan. Hillsdale publica Imprimis, essencialmente uma publicação MAGA do Claremont Institute. O Instituto oferece várias bolsas, incluindo a Lincoln Fellowship. Seu site rastreia o chamado “financiamento BLM” (referindo-se ao movimento Black Lives Matter, ou BLM) por corporações, alegando, por cálculos extremamente questionáveis, que 82,9 bilhões de dólares foram direcionados por corporações para a causa CRT / Woke / Marxista Cultural. Como na ideologia MAGA em geral, as corporações são condenadas como moralmente corruptas por dar lugar ao Marxismo Cultural, mas raramente são criticadas economicamente. Isso é consistente com toda a história da ideologia pequeno-burguesa, refletida nos escritos do século XIX de figuras célebres como Thomas Carlyle e Friedrich Nietzsche, cujas manifestações ideológicas, como observou Lukács, refletiam “uma tendência dupla contraditória” de uma “crítica da falta de cultura capitalista”, ao mesmo tempo em que apoiavam uma ordem “localizada no capitalismo”.22

Em 2019, Trump concedeu ao Instituto Claremont a Medalha Nacional de Humanidades. Em 6 de janeiro de 2021, o advogado John Eastman, membro do conselho do Claremont Institute (onde permanece até hoje), apoiado por outros associados desta instituição, desempenhou o papel principal na organização do ataque MAGA ao Capitólio em Washington, DC. Ele também escreveu os memorandos principais direcionados a pressionar o vice-presidente Mike Pence a invalidar a eleição de 2020 na tentativa de reverter a derrota de Trump para Joe Biden. Tudo isso rendeu a Claremont a reputação de “cérebro confiável” da tentativa de golpe de 6 de janeiro.23

O Instituto Claremont se tornaria o principal íncubo intelectual de Trump II. Mais de uma dúzia de especialistas associados à Claremont e ex-bolsistas da Claremont aparecem regularmente na Fox News. Isso inclui, além de Eastman, luminares como Michael Anton, membro sênior da Claremont e um nomeado para posição de alto nível do Departamento de Estado de Trump; Christopher Caldwell, editor colaborador da Claremont Review of Books e comentarista da supremacia branca; Brian T. Kennedy, ex-presidente da Claremont e atual membro do conselho e presidente do Comitê sobre o Perigo Presente, que promove um novo macarthismo; Charles R. Kesler, editor da Claremont Review of Books e principal proponente de uma “Guerra Fria Civil “; Charlie Kirk, ex-Claremont Lincoln Fellow e fundador/CEO da Turning Point USA (TPUSA), com sua “Lista de Observação de Professores” e seu ramo evangélico, TPUSA Faith; John Marini, membro sênior da Claremont e principal crítico intelectual de direita do “Estado administrativo”; e Christopher F. Rufo, ex-Claremont Lincoln Fellow e notório especialista anti-CRT.

Anton, ex-diretor-gerente de investimentos da BlackRock e atualmente pesquisador sênior do Claremont Institute, atuou como vice-assistente do presidente e vice-conselheiro de segurança nacional para comunicação estratégica no Conselho de Segurança Nacional no primeiro governo de Trump.24 Ele agora é diretor de planejamento de políticas no Departamento de Estado dos EUA, sob Marco Rubio. Foi Anton, mais do que qualquer outra figura, que conectou o Instituto Claremont ao MAGA e à extrema direita alternativa (“alt-right”). Seu artigo de 2016 na Claremont Review of Books “The Flight 93 Election” – usando a metáfora dos passageiros que correram para a cabine de comando no voo do atentado terrorista em 11 de setembro de 2001 – se tornaria viral e desempenhou um papel importante na mobilização de apoio militante para a campanha de Trump. Nele, Anton declarou que a eleição de 2016 era uma “eleição de correr para a cabine de comando ou morrer”, na qual “você pode morrer de qualquer maneira” na tentativa, mas que na hipótese de Hillary Clinton ser eleita, “a morte é certa”. Embora a narrativa fosse desconexa, incoerente e ilógica, a metáfora pegou, catapultando Anton para o status de celebridade de direita e levou à sua nomeação para o Conselho de Segurança Nacional de Trump com o apoio do bilionário de tecnologia de direita Peter Thiel.25

Em 2019, Anton publicou Após a eleição do voo 93 … E o que ainda temos a perder, que enfatizou a necessidade de uma guerra contra toda a esquerda, ganhando elogios de Trump. Isso foi seguido em 2020 por seu livro, The Stakes: America at the Point of No Return, no qual ele propôs que a imigração deveria idealmente ser interrompida por completo, enquanto a cidadania por direito de solo (cidadania em virtude de simplesmente ter nascido nos Estados Unidos, mesmo que não seja de pais cidadãos americanos) deve cessar imediatamente. A China era o principal inimigo, enquanto a paz deveria ser feita com a Rússia. Esta última, explicou Anton, pertencia à mesma “‘seita’ civilizacional” dos Estados Unidos e da Europa, “de uma forma que a China nunca seria”. O livro de Anton, The Stakes, no entanto, é mais conhecido por sua defesa explícita de um “cesarismo vermelho [isto é, republicano ou de direita]”, no qual a presidência se tornaria uma “forma de monarquia absoluta” ou “governo de um homem só” exibindo amplo apoio popular – uma posição que foi seguida imediatamente depois em seu livro com a exortação para “reeleger Trump!” Somente quando eleito Trump se declararia César.26

Em uma resenha sobre “Draining the Swamp” na Claremont Review of Books, Anton popularizou o livro de Marini Unmasking the Administrative State. A análise de Marini é vista como uma validação da versão conservadora de Alexandre Kojève da filosofia idealista alemã de G. W. F. Hegel, que na visão de direita é vista como uma justificativa para o governo burguês autocrático como o fim da história. Aplicados às instituições contemporâneas, as autoridades burocráticas do Estado administrativo devem ser vistos como a “classe dominante”. Marini e Anton, portanto, argumentam que é necessário que Trump esmague o Estado administrativo e o substitua por um governo mais centralizado. Essas mesmas opiniões levaram o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Clarence Thomas, que em um estágio anterior de sua carreira havia empregado Marini como assistente especial, a exclamar “Devemos ler Marini !!”27

Anton declarou que, para vencer, “precisamos de blogueiros, criadores de memes, trolls do Twitter, artistas de rua, comediantes, propagandistas, teólogos, dramaturgos, ensaístas, romancistas, jornalistas e relações públicas desonestos (“hacks, flacks”), e intelectuais” – bem como Trump e capitalistas de pensamento de direita.28 Seu ato mais iconoclasta dentro do próprio Instituto Claremont foi escrever um artigo sobre o propagandista nietzscheano-fascista da extrema direita alternativa Perverso da Idade do Bronze (conhecido como BAP, agora revelado como o romeno-americano Costin Vlad Alamariu, que recebeu um PhD de Yale), o autor de Mentalidade da Idade do Bronze. O papel de Anton, em um artigo de 2019 da Claremont Review of Books intitulado “Are the Kids Al(t) Right?“, foi trazer o BAP/Alamariu para o mainstream do MAGA em um esforço para atrair jovens brancos desencantados para o movimento neofascista. Observando que o BAP forneceu em sua publicação Mentalidade da Idade do Bronze um “pastiche simplificado de Friedrich Nietzsche”, que “quebrou o top 150 na Amazon – não, veja bem, em alguma categoria dentro da Amazon, mas no site como um todo“, Anton argumentou que representava uma oportunidade para a direita do MAGA dominar o discurso da juventude underground. O BAP caracterizou as elites liberais, os intelectuais, os pensadores de esquerda e a população em geral como “homens-insetos”, sem heroísmo, semelhante ao “Último Homem” de Nietzsche. Os seres humanos em geral foram retratados como pertencentes à vida de mero “fermento”. A solução estava no fisiculturismo masculino por meio do levantamento de peso e no cultivo da imagem dos heróis gregos da Idade do Bronze. BAP é um supremacista branco, enfatizando a pureza ariana e ataques vis a diversas populações em todos os lugares. Como o próprio Anton admitiu, “as objeções mais fortes e fáceis de fazer à Bronze Age Mindset é que ela é ‘racista’, ‘antissemita’, ‘antidemocrática’, ‘misógina’ e ‘homofóbica'”, tornando-a mais “ultrajante” do que Nietzsche. No entanto, ele finge que o BAP é “mais gentil” do que pensadores como Karl “Marx, [V. I.] Lenin, Mao [Zedong]… [Che] Guevara, [Saul] Alinsky e Foucault, ou dos numerosos fanáticos cujos discursos são ensinados nas universidades de elite. No final, Anton ressaltou a importância dos ataques do BAP aos “homens-insetos” e aos “tempos de insetos”, incorporando seus pontos de vista dentro do MAGA.29

Um estudo do próprio Bronze Age Mindset revela referências venenosas às “favelas do Terceiro Mundo de Bosta (Turd World, no original inglês) e ataca, citando Nietzsche, “modos de vida pré-arianos, o retorno do socialismo, da maloca, do feminismo” e “seitas marxistas satânicas”. O general ateniense Alcibíades, os conquistadores Hernán Cortés e Francisco Pizarro, Napoleão Bonaparte, Theodore Roosevelt, Alfredo Stroessner (ex-ditador do Paraguai) e, especialmente, Bob Denard (um brutal mercenário francês do século XX ativo no Congo e nas Ilhas Comores) são os modelos do BAP do retorno aos tempos modernos dos humanos arianos da Idade do Bronze. O presidente favorito do BAP, antes de Trump, é James K. Polk, que lançou a Guerra Mexicano-Americana. A “população branca” nos Estados Unidos, escreve ele, tomou o México “por seu valor”. O feminismo é visto como uma abominação. “Nada tão ridículo quanto a libertação das mulheres”, declara BAP / Alamariu, “já foi tentado na história da humanidade”, que ele descreve como uma tentativa de “retornar ao matriarcado pré-ariano”. Ele acrescenta: “A justiça social é um parasitismo nojento”. As cidades de hoje, sujeitas a ondas de imigrantes, são “povoadas por hordas de zumbis parecidos com anões que são importados para trabalho escravo e agitação política das latrinas varridas por moscas do mundo”. Ele afirma abertamente: “Eu acredito no fascismo ou em algo pior”. Por todas essas razões, de acordo com o BAP, Trump deve ser apoiado em sua conquista do governo. “O Leviatã” do Estado administrativo dominado pelos “homens-insetos”, ele insiste, deve ser esmagado para criar uma nova “ordem primordial”. Com o apoio de Anton e outros, BAP foi reconhecido como uma espécie de influenciador nietzscheano do submundo por trás do movimento MAGA, atraente para homens brancos jovens e regressivos. Ele se tornaria uma leitura virtualmente obrigatória para jovens funcionários brancos no primeiro governo Trump.30

Anton foi encorajado a ler BAP pelo autodenominado pensador do “Iluminismo Sombrio” Curtis Yarvin, um neofascista próximo a Anton e Vance (o herdeiro aparente do MAGA). Como Vance e Anton, Yarvin é fortemente apoiado por Thiel, bilionário do Vale do Silício. Yarvin também é abertamente admirado pelo conselheiro de Trump e capitalista de risco do Vale do Silício, Marc Andreessen, por suas visões antidemocráticas. Vance chama Yarvin, a quem ele também se referiu em brincadeiras amigáveis como um “fascista”, de “minha influência política número um”. No mundo MAGA, Yarvin continua sendo uma figura sombria, apesar do fato de ter articulado as estratégias mais reacionárias do regime de Trump. Ele é um ex-programador de computador e blogueiro de direita, escrevendo sob o pseudônimo de Mencius Moldbug e defensor de um “Iluminismo Sombrio” ou movimento neorreacionário (“NRx”). Tucker Carlson dedicou um programa inteiro para entrevistar Yarvin em 2021. Ele é mais conhecido por seus argumentos antidemocráticos e sua insistência de que o presidente pode se estabelecer como um “CEO nacional” ou mesmo “ditador”, concentrando todo o poder no poder executivo e substituindo o sistema legal e os tribunais, enquanto muda de um “Congresso oligárquico” para um “presidente monárquico”. Os americanos, ele insiste, “terão que superar sua fobia de ditador”.31

Yarvin instrumentalizou o Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, categorizando a elite esquerdista ou a classe profissional-gerencial como uma “aristocracia elfa”, a “classe média baixa” como “hobbits” e “elfos negros” como ele como defensores dos hobbits. Como Steve Bannon, ex-chefe de gabinete da Casa Branca de Trump, com quem ele se identifica, Yarvin se vê como um defensor do MAGA; mas, ao contrário de Bannon, ele não enfatiza a contradição entre as forças do MAGA de classe média baixa e os bilionários capitalistas monopolistas no topo. As verdadeiras lealdades de Yarvin são para com os bilionários, e não para a classe média baixa. De fato, ele nega que seja um verdadeiro fascista, apesar do fato de ter aplicado o rótulo de fascista a si mesmo, caracterizando-se como um defensor mais direto da ditadura (ou da monarquia), já que tem desprezo absoluto pelas massas. No entanto, Yarvin afirma ironicamente: “francamente, Hitler se parece muito comigo” – mas, ele reconhece, mais talentoso e mais malvado.32

Amplamente visto como uma figura em grande parte clandestina que ajudou a manipular o sistema para Trump, Yarvin forneceu o plano geral para uma presidência imperial. Ele argumenta que o poder real é mantido “oligarquicamente” (distinto da noção clássica de oligarquia baseada na riqueza) por pessoas que controlam a mídia e as universidades, constituindo a “Catedral”. A Catedral só pode ser derrubada por um monarca ou ditador, atuando como CEO. Uma vez eleito, afirmou Yarvin, Trump poderia expurgar a burocracia federal (o que Yarvin chama de “RAGE” – “retire all government employees” – aposentar todos os funcionários do governo) alegando que tinha um mandato eleitoral que lhe permitia transgredir a lei e subjugar os tribunais e o Congresso. Todas as ordens judiciais que exigem que o presidente desista devem ser ignoradas. As grandes corporações de mídia e as universidades devem ser fechadas. Em um podcast, Anton disse a Yarvin: “Você está essencialmente defendendo que alguém – em uma velha jogada – ganhe poder legalmente por meio de uma eleição e depois o exerça ilegalmente”. Yarvin respondeu: “Não seria ilegal. Você simplesmente declararia estado de emergência em seu discurso de posse. O presidente poderia aplicar isso a todos os estados e assumir “todas as autoridades policiais”. Como Anton, Yarvin declarou sobre o presidente: “Você vai ser César”.33

Anton afirmou que as universidades são “más”, uma posição fortemente apoiada por Rufo, ex-diretor do Discovery Institute do design inteligente (criacionista) e bolsista do Claremont Lincoln.34 Rufo é amplamente celebrado nos círculos do MAGA por suas grandes façanhas propagandísticas em transformar a teoria crítica de raça (CRT) e programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em concepções tóxicas na mente do público. Atualmente, ele é membro sênior do Manhattan Institute for Policy Research e editor colaborador do City Journal. Em “Critical Race Theory: What It Is and How to Fight It” para Imprimis de Hillsdale, Rufo argumentou que a CRT era o produto do Marxismo Cultural e do “marxismo baseado na identidade”. No que se tornou um elemento fundamental da ideologia MAGA, ele afirma que os marxistas de hoje são todos teóricos da identidade e se opõem à “igualdade”, substituindo-a por “equidade”, que é “pouco mais do que marxismo reformulado”. O CRT, ele pronuncia, promove a “neo-segregação”, viola o princípio dos direitos civis e é discriminatório por meio de suas políticas anti-brancas. Desta forma, a lei de direitos civis deve ser redirecionada contra as minorias raciais. Rufo associa CRT e BLM (Black Lives Matter) ao anticapitalismo e ao racismo reverso. Seus ataques ao CRT influenciaram os ataques de Trump em seu primeiro governo.35

Mais recentemente, Rufo defendeu “sitiar as instituições”. Isso inclui atacar quaisquer corporações que instituíram políticas de DEI, vistas como produto do Marxismo Cultural, CRT e BLM (Black Lives Matter) – uma visão neo-macarthista compartilhada pelo governador da Flórida, Ron DeSantis. Os principais alvos são a “teoria radical de gênero” e o que Rufo chama de “império transgênero”. Ele afirma que “devemos lutar para colocar o império transgênero fora do mercado para sempre”. Rufo e a direita MAGA disparam contra o “cartel universitário” (“college cartel” no original) e argumentam que a educação anterior à universitária deve começar com a promoção da “Civilização Ocidental”.36

Um dos críticos mais inflexíveis da diversidade na direita do MAGA é Caldwell, que em seu artigo “The Browning of America” argumenta que “‘Diversidade’ [sempre] foi um atributo das populações subjugadas”. Portanto, reconhecê-lo como base da política social vai contra os princípios dos fundadores da Constituição dos Estados Unidos. Em um artigo sobre Robert E. Lee, Caldwell argumentou que as críticas de esquerda ao comandante das forças confederadas como defensor do Sul escravista e, portanto, da escravidão, visavam eliminar Lee como “a força moral de metade da nação”.37

O editor da Claremont Review of Books, Kesler, membro da Comissão 1776 sobre a História dos EUA designada por Trump para combater o Projeto 1619 sobre a história da escravidão nos EUA, tem sido uma figura importante na promoção da noção MAGA de uma Guerra Fria Civil entre a direita e as chamadas forças dominantes da esquerda. O termo “woke“, que surgiu pela primeira vez no movimento pelos direitos civis, foi massivamente invertido pela direita desde 2019, contando com o comando conservador da mídia, para se referir de forma depreciativa a todas as causas políticas e culturais progressistas contemporâneas. É empregado como um meio de menosprezar as lutas por justiça social contra o racismo e a desigualdade de gênero, enquanto seu uso mais comum é como um apito de cachorro racista.38

Notas

  1. ↩ Matthew J. Vaeth, “Memorandum for Heads of Executive Departments and Agencies/Subject: Temporary Pause of Agency, Grant, Loan, and Other Financial Assistance Programs,” Office of Management and Budget, Executive Office of the President, January 27, 2025; Travis Gettys, “‘Reads Like a Hostage Note’: Trump Order Flagged as ‘Mass Fraud’ by Ex-Official,” Raw Story, January 28, 2025; Charles R. Kesler, “America’s Cold Civil War,” Imprimis 47, no. 10 (October 2018).
  2. ↩ Vought quoted in Thomas B. Edsall, “‘Trump’s Thomas Cromwell’ Is Waiting in the Wings,” New York Times, February 4, 2025.
  3. ↩ For a leading MAGA proponent of “Caesarism” as constituting the inner telos of the Trump regime, see Michael Anton, The Stakes: America at the Point of No Return (Washington DC: Regnery Publishing, 2020), 303–18.
  4. ↩ Max Matsa, “Senate Confirms Project 2025 Co-Author as Trump Budget Chief,” BBC, February 6, 2025; Curt Devine, Casey Tolan, Audrey Ash, and Kyung Lah, “Hidden Camera Video Shows Project 2025 Co-Author Discussing His Secret Work Preparing for a Second Trump Term,” CNN, August 15, 2024; Michael Sozan and Ben Olinsky, “Project 2025 Would Destroy the U.S. System of Checks and Balances and Create an Imperial Presidency,” Center for American Progress, October 1, 2024.
  5. ↩ Vaeth, Memorandum, “Temporary Pause of Agency Grant, Loan, and Other Financial Assistance Programs”; Melissa Quinn, Richard Escobedo, and Kristin Brown, “Trump Administration Rescinds Federal Funding Freeze Memo After Chaos,” CBS News, January 29, 2025; Daniel Barnes, Chloe Atkins, and Dareh Gregorian, “Appeals Court Rejects Trump Administration Bid to Immediately Reinstate Funding Freeze,” NBC News, February 11, 2025; Bill Barrow, “How Donald Trump and Project 2025 Previewed the Federal Grant Freeze,” Associated Press, January 28, 2025.
  6. ↩ Cass R. Sunstein, “This Theory Is Behind Trump’s Power Grab,” New York Times, February 26, 2025.
  7. ↩ Vaeth, Memorandum, “Temporary Pause of Agency Grant, Loan, and Other Financial Assistance Programs.”
  8. ↩ Lance Cashion, “How to Recognize Cultural Marxism and Critical Theories,” Revolution of Man (blog), August 31, 2023; Mike Gonzalez and Katharine Cornell Gorka, NextGen Marxism: What It Is and How to Combat It (New York: Encounter Books, 2025), 15, 238, 265–69. The current right-wing attack on “Cultural Marxism” is derived from attacks on “Cultural Bolshevism” in Nazi Germany. Ari Paul, “‘Cultural Marxism’: The Mainstreaming of a Nazi Trope,” Fairness and Accuracy in Reporting, June 4, 2019, fair.org.
  9. ↩ Trump/Vance Campaign, “Agenda 47: Protecting Students from the Radical Left and Marxist Maniacs Infecting Educational Institutions,” July 17, 2023.
  10. ↩ Mike Gonzalez and Katharine C. Gorka, How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It, Special Report No. 262, Heritage Foundation, November 14, 2022; Gonzalez and Gorka, NextGen Marxism; Tanner Mirrlees, “The Alt-Right’s Discourse of ‘Cultural Marxism’: A Political Instrument of Intersectional Hate,” Atlantis Journal 39, no. 1 (August 2018); Cashion, “How to Recognize Cultural Marxism and Critical Theories.” All of these works are poorly researched, poorly documented, unscholarly, and shallow, not conforming to academic standards in any way. As Baruch Spinoza said, “Ignorance is no argument.”
  11. ↩ Gonzalez and Gorka, NextGen Marxism, 17–18, 148–99, 242.
  12. ↩ See John Bellamy Foster, Trump in the White House (New York: Monthly Review Press, 2017), 20–22, 121.
  13. ↩ For criticism of how white evangelical Christians in the United States have embraced a “slaveholder religion,” capitulating to the religious views propounded in the Antebellum South and in the Jim Crow period, see Jonathan Wilson-Hartgrove, Reconstructing the Gospel: Finding Freedom from Slaveholder Religion (Lisle, Illinois Inter-Varsity Press, 2020); Darrell Hamilton II, “It’s Time to Break the Chains of Slaveholder Religion,” Baptist News, September 17, 2020.
  14. ↩ Paul M. Sweezy to Paul A. Baran, October 18, 1952, in Paul A. Baran and Paul M. Sweezy, The Age of Monopoly Capital, eds. Nicholas Baran and John Bellamy Foster (New York: Monthly Review Press, 2017), 86–87.
  15. ↩ Franz Neumann, Behemoth: The Structure and Practice of National Socialism (New York: Oxford University Press, 1942); Doreen Lustig, “The Nature of the Nazi State and the Question of International Criminal Responsibility of Corporate Officials at Nuremberg: Franz Neuman’s Behemoth at the Industrial Trials,” Working Paper 2011/2, History and Theory of International Law Series, Institute for International Law and Justice, 2012; C. Wright Mills, White Collar: The American Middle Classes (Oxford: Oxford University Press, 1951), 350–54. On the lower-middle class/monopoly capitalist alliance in societies belonging to the fascist genus, see also Leon Trotsky, The Struggle Against Fascism in Germany (New York: Pathfinder, 1971), 455; Ernst Bloch, Heritage of Our Times (Berkeley: University of California Press, 1990), 54; Nicos Poulantzas, Fascism and Dictatorship (London: Verso, 1974); Seymour Martin Lipset, Political Man (New York: Doubleday, 1960), 134–76; Paul A. Baran (Historicus), “Fascism in America,” Monthly Review 4, no. 6 (October 1952): 181–89.
  16. ↩ Maxine Y. Sweezy (see also Maxine Y. Woolston), The Structure of the Nazi Economy (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1941), 27–35; Gustave Strolper, German Economy, 1870–1940 (New York: Reynal and Hitchcock, 1940), 207; Germá Bel, “The Coining of ‘Privatization’ and Germany’s National Socialist Party,” Journal of Economic Perspectives 20, no. 3 (2006): 187–94; Foster, Trump in the White House, 27–43, 65–66.
  17. ↩ Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism (London: Penguin, 2017); Reuven Kaminer, “On the Concept of ‘Totalitarianism’ and Its Role in Current Political Discourse,” MR Online, August 15, 2007; Slavoj Žižek, Did Somebody Say Totalitarianism? (London: Verso, 2001), 2–3.
  18. ↩ Baran, “Fascism in America,” 182.
  19. ↩ Georg Lukács, Writer and Critic (London: Merlin Press, 1978), 151.
  20. ↩ Christopher Caldwell, “Speaking Trumpian,” Claremont Review of Books 24, no. 19 (Fall 2024): 19–22.
  21. ↩ Andy Kroll, “Revealed: The Billionaires Funding the Coup’s Brain Trust,” Rolling Stone, January 12, 2022; Influence Watch, “Thomas D. Kligenstein Fund,” influencewatch.org (n.d.).
  22. ↩ Georg Lukács, The Destruction of Reason (London: Merlin Press, 1980), 730. Lukács’s reference to Carlyle here is directly relevant to the present. Leading MAGA ideologue Curtis Yarvin writes: “I will always be a Carlylean, just the way a Marxist will always be a Marxist.” Matt McManus, “Yarvin’s Case against Democracy: Curtis Yarvin Is too Elitist for Fascism,” Commonweal, January 27, 2023.
  23. ↩ Marc Fisher and Isaac Stanley-Becker, “The Claremont Institute Triumphed in the Trump Years. Then Came Jan. 6,” Washington Post, July 30, 2022; Elisabeth Zerofsky, “How the Claremont Institute Became a Nerve Center of the American Right,” New York Times, August 3, 2022; Kroll, “Revealed.”
  24. ↩ Kate Brannen and Luke Hartig, “Disrupting the White House: Peter Thiel’s Influence is Shaping the National Security Council,” Just Security, February 8, 2017.
  25. ↩ Michael Anton, “The Flight 93 Election,” Claremont Review of Books (online), September 5, 2016.
  26. ↩ Michael Anton, After the Flight 93 Election: The Vote that Saved America and What We Still Have to Lose (New York: Encounter Books, 2019); Anton, The Stakes: America at the Point of No Return (see especially section on “Caesarism” in chapter 7 and the sections on “Immigration,” “Reelect Trump!” and on “Foreign and Defense Policy” in chapter 8.
  27. ↩ Michael Anton, “Draining the Swamp,” Claremont Review of Books, 19, no. 1 (Winter 2018/19).
  28. ↩ Anton, “Draining the Swamp.”
  29. ↩ Michael Anton, “Are the Kids Al(t) Right?,” Claremont Review of Books 19, no. 3 (Summer 2019). On Nietzsche’s “last man” see Friedrich Nietzsche, Thus Spake Zarathustra (New York: Modern Library, 1917), 10–13 (prologue, section 5).
  30. ↩ Bronze Age Pervert (Costin Vlad Alamariu), Bronze Age Mindset (self-published, 2018), 12, 14, 40, 44, 52, 56, 72, 76, 80, 84, 92, 104, 110, 112–14, 118, 120–22, 126, 132–36; Ben Schreckinger, “The Alt-Right Manifesto that has Trumpworld Talking,” Politico, August 23, 2019; BAP quoted on fascism in Ali Breland, “Is the Bronze Age Pervert Going Mainstream?,” Mother Jones, October 2, 2023; Sophie Nicolson, “Bob Denard: French Mercenary Behind Several Post-Colonial Coups,” Guardian, October 15, 2007.
  31. ↩ Jason Wilson, “He’s Anti-Democracy and Pro-Trump: The Obscure ‘Dark Enlightenment’ Blogger Influencing the Next US Administration,” Guardian, December 21, 2024; Ian Ward, “Curtis Yarvin’s Ideas Were Fringe. Now They’re Coursing through Trump’s Washington,” Politico, January 30, 2025; Ian Ward, “The Seven Thinkers and Groups that Have Shaped JD Vance’s Unusual Worldview,” Politico, July 18, 2024; Jacob Siegel, “The Red-Pill Prince: How Computer Programmer Curtis Yarvin Became America’s Most Controversial Political Theorist,” The Tablet, March 30, 2022; Curtis Yarvin interviewed by David Marchese, “Curtis Yarvin Says Democracy Is Done. Powerful Conservatives Are Listening,” New York Times, January 18, 2025; “Curtis Yarvin (Mencius Moldbug) on Tucker Carlson Today,” YouTube video, 1:15:35, September 8, 2021,
  32. ↩ Jeremy Carl, “Beyond Elves and Hobbits,” The American Mind, July 22, 2022; McManus, “Yarvin’s Case against Democracy.”
  33. ↩ Wilson, “He’s Anti-Democracy and Pro-Trump”; Ward, “Curtis Yarvin’s Ideas Were Fringe”; Ward, “The Seven Thinkers and Groups that Have Shaped JD Vance’s Unusual World View”; Curtis Yarvin, “The Cathedral or the Bizarre,” The Tablet, March 30, 2022; Curtis Yarvin, “The Nihilism of the Ruling Class,” Compact, December 16, 2022. On the classical notion of oligarchy, see Jeffrey A. Winters, Oligarchy (Cambridge: Cambridge University Press, 2011).
  34. ↩ Michael Anton, “The Pessimistic Case for the Future,” Compact, July 21, 2023.
  35. ↩ Christopher F. Rufo, “Critical Race Theory: What It Is and How to Fight It,” Imprimis 50, no. 3 (March 2021).
  36. ↩ Christopher F. Rufo, “Laying Siege to the Institutions,” Imprimis 51, no. 4/5 (April/May 2022); Christopher F. Rufo, “Inside the Transgender Empire,” Imprimis 52, no. 9 (September 2023); Scott Yenor, “Repeal and Replace Today’s Education Cartel,” Law & Liberty, March 28, 2024, lawliberty.org; Frederick M. Hess, “Challenge the College Cartel,” The American Mind, July 2, 2019; Giancarlo Sopo, “Trump Must Break Up the College Cartel,” The American Mind, December 6, 2024.
  37. ↩ Christopher Caldwell, “The Browning of America,” Claremont Review of Books 15, no. 1 (Winter 2014/15); Christopher Caldwell, “There Goes Robert E. Lee,” Claremont Review of Books 21, no. 2 (Spring 2021).
  38. ↩ Kesler, “America’s Cold Civil War.”lutocrats in Populist Clothing,” Fair Observer, October 29, 2024; Jessica Washington, “How Trump Twisted DEI to Only Benefit White Christians,” The Intercept, February 22, 2023.
  39. ↩ Wilson-Hartgrove, Reconstructing the Gospel, 33–35; Hamilton, “It’s Time to Break the Chains of Slaveholder Religion.”
  40. ↩ Jonathan Wilson-Hargrove, “In the Age of Trump, a Moment of Decision for Evangelicals,” Durham Herald Sun, April 26, 2018.
  41. ↩ Jonathan Wilson-Hartgrove, “Fear Is the Slaveholder Religion’s Tool of Control,” Sojourners, April 22, 2019.
  42. ↩ Sharon Parrott, “Well, That Was Quick: Trump’s Total Betrayal of Working People Is Now Complete,” Common Dreams, February 26, 2025.
  43. ↩ Karl Marx, Texts on Methods (Oxford: Basil Blackwell, 1975), 195.

2025Volume 77, Number 01 (May 2025)