quarta-feira, 11 de março de 2020

Sobre médicos, monstros, hipócritas, gigantes e anões, por Lucia Helena Issa



Os mesmos bolsonaristas e olavistas hipócritas que hoje pedem a morte de Suzy Oliveira, que cometeu, sim, um crime grave e  está pagando por ele, não está passeando em Roma, são os mesmos que celebraram o goleiro Bruno como herói  e correram para fazer fotos com o sujeito quando ele foi libertado, poucos anos depois de matar a mãe de seu filho, tortura-la por dias e destruir seu corpo, impedindo sua mãe e seu filho de  enterrarem o corpo de um ser humano que amavam.

Sobre médicos, monstros, gigantes e anões

por Lucia Helena Issa, no GGN

Eu havia prometido a mim mesma que não escreveria sobre o episódio DRAUZIO VARELLA – SUZY, mas o ódio e hipocrisia dos falsos cristãos me obrigam a fazê-lo.
Os bolsonaristas e olavistas que hoje vociferam contra o humanista Dráuzio Varella não fazem a menor ideia do que é o juramento de Hipócrates, através do qual todo médico dá a sua palavra de honra de que irá cuidar da vida humana sem perguntar a um paciente que crimes ele cometeu.
Meu avô, o dr César Sigaud, fundou um grande hospital e foi um dos maiores e mais queridos médicos do estado de São Paulo e hoje há muitas ruas que levam o seu nome. Meu avô dizia que quando era chamado a salvar uma vida, jamais perguntava a que classe social ou religião aquele ser humano pertencia e nem se havia cometido um crime.
Sua missão como médico era salvar vidas.
Os mesmos bolsonaristas e olavistas hipócritas que hoje pedem a morte de Suzy Oliveira, que cometeu, sim, um crime grave e  está pagando por ele, não está passeando em Roma, são os mesmos que celebraram o goleiro Bruno como herói  e correram para fazer fotos com o sujeito quando ele foi libertado, poucos anos depois de matar a mãe de seu filho, tortura-la por dias e destruir seu corpo, impedindo sua mãe e seu filho de  enterrarem o corpo de um ser humano que amavam.
Os mesmos bolsonaristas e olavistas  que hoje fazem o linchamento moral do Dr Dráuzio idolatram Ustra, idolatram o ditador paraguaio Stroessner, um homem que, comprovadamente, sequestrou e estuprou centenas de meninas virgens da zona rural do Paraguai porque sentia um prazer diabólico ao estuprar meninas virgens de 12 anos e contar isso aos seus vassalos.
Os mesmos olavistas e falsos cristãos e o próprio charlatão Olavo de Carvalho, que demoniza o trabalho do  Dr Dráuzio pela saúde no Brasil há anos, parecem nunca ter lido a bíblia e não saber que Cristo em uma de suas mensagens, disse: “estive preso e não me visitastes …”
Os mesmos olavistas e falsos cristãos, que hoje lincham moralmente o Dr Drauzio, idolatraram o assassino Guilherme de Pádua quando ele foi solto e se transformou em um “pastor”.
Os mesmos olavistas linchadores não sabem que Jesus nos ensina a ter compaixão pelos que mais erraram e não pelos mais poderosos.
Os mesmos olavistas não leram o livro Estação Carandiru e não sabem que o médico tem feito um trabalho humanitário nas prisões há mais de 30 anos, sem perguntar que crimes os detentos cometeram.
Há alguns anos, eu fiz, em uma prisão feminina da minha região, uma palestra sobre ética e tolerância religiosa.
Foi uma das palestras mais emocionantes que já fiz.
É claro que elas haviam cometido crimes e muitas foram  levadas ao mundo do crime por seus homens, mas ao final da palestra, fizeram um círculo de amor para me abraçar e, chorando, me agradeceram por visitá-las e querer dar a elas algumas palavras de amor e de esperança.
Jamais perguntei que crime elas haviam cometido. Apenas ouvi e abracei longamente as que fizeram um círculo à minha volta.
Parem de promover o ódio a um gigante brasileiro.
Dr Dráuzio, ao contrário dos olavistas que hoje o lincham moralmente, apenas agiu com humanidade e “com-paixão”, ou “sentiu com”, sentiu em si a dor do outro que estava diante dele.
“Ah, mas por que ele não abraçou a mãe do garoto assassinado?”
Se ele estivesse diante da mãe do garoto morto naquela mesma cela, ele a teria abraçado e sentido imensa compaixão da mesma forma.
Por favor, parem de idolatrar torturadores, monstros poderosos e criminosos como Ustra e Stroessner, e de odiar criminosos e detentos, quando eles são pobres, trans ou negros. Parem.
Parem de demonizar um gigante como Dráuzio Varella enquanto idolatram anões como Ustra.
Lucia Helena Issa é jornalista, escritora e embaixadora da paz por uma organização internacional. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro “Quando amanhece na Sicília”. Pós-graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio e está terminando um livro sobre mulheres palestinas que lutam pela paz.

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