terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Extrema-direita e fascismo galopante no Paraná: a escalada da intolerância e o avanço do extremismo nas escolas cívico-militares, em igrejas e em grupos extremistas em reportagem de Luis Nassif

 

Escolas militarizadas, células neonazistas e intimidação religiosa revelam um cenário preocupante no Brasil.

Do Jornal GGN: 

Paraná: a escalada da intolerância e o avanço do extremismo



O Paraná tem se consolidado como um dos estados mais citados em investigações sobre grupos extremistas no Brasil. Sob o governo estadual, a expansão das chamadas escolas militarizadas vem acompanhada de episódios que chocam pela violência simbólica. Em um treinamento recente, estudantes entoaram um hino que exaltava a morte e a brutalidade, em tom semelhante ao de tropas de elite — um retrato que críticos classificam como a institucionalização de uma cultura fascista.

“Homem de preto, o que é que você faz / Eu faço coisa que assusta o Satanás (…) entrar na favela e deixar corpo preto no chão / com a faca entre os dentes, esfolo eles inteiro / O COPE tem guerreiro que mata fogueteiro / maata e esfola, usando seus fuzis”.

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Até agora, é a comprovação mais assustadora desse monstrengo chamado “escola militarizada”.

Junto com o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o Paraná lidera o ranking nacional de investigações sobre células neonazistas.

Paralelamente, operações policiais revelam a presença de células neonazistas em Curitiba e região metropolitana. A Operação Bergonha (2022) desarticulou grupos que incitavam violência contra negros, judeus e LGBTQIA+, com apreensão de armas artesanais, listas de alvos e conexões internacionais via Telegram e Dark Web. Pesquisas acadêmicas, como as da antropóloga Adriana Dias, apontam que entre 2019 e 2021 houve um aumento de 270% no número de grupos neonazistas ativos no país, com mais de 530 núcleos e cerca de 10 mil integrantes, concentrados sobretudo no Sul e Sudeste.

A pesquisa parou em 2021, por isso não captou os aumentos recentes, muito mais expressivos.

Impunidade e radicalização

Apesar das investigações, denúncias contra policiais militares envolvidos em atos golpistas ou em grupos de WhatsApp com discurso de ódio resultaram em baixa punição efetiva. Essa tolerância institucional reforça a sensação de impunidade e alimenta a continuidade das práticas extremistas.

O estado também abriga uma forte cúpula religiosa ultraconservadora, que promove “guerras santas” contra o comunismo e sataniza jornalistas e professores. Casos de violência cotidiana ilustram o impacto dessa radicalização: uma professora de educação infantil foi agredida por ensinar cultura africana, em episódio marcado por gritos de “queima, Satanás” e ameaças de repetição.

O paralelo histórico

Analistas têm comparado esse cenário ao retratado no filme O Nome da Rosa (1986), ambientado em um mosteiro medieval. Assim como na obra, acusações sem provas, turbas mobilizadas pelo medo e a transformação da justiça em espetáculo reforçam a autoridade de grupos que se alimentam da intolerância. O uso de bodes expiatórios — pobres, mulheres e minorias — repete padrões históricos de perseguição.

São Paulo: a infiltração religiosa na segurança

Se no Sul o avanço extremista se dá pela militarização e pelo neonazismo, em São Paulo surgem sinais de intimidação religiosa dentro da educação. Em novembro de 2024, na EMEI Antônio Bento, zona oeste da capital, um desenho de orixá feito por uma criança levou um policial militar, pai do aluno, a convocar colegas armados para dentro da escola. Um deles portava metralhadora. O episódio gerou clima de medo entre professores e estudantes; a diretora pediu afastamento do cargo.

Até o momento, não houve responsabilização criminal. A apuração segue em caráter administrativo, sem clareza sobre possíveis punições.

Os casos no Paraná e em São Paulo revelam um processo de normalização da intolerância em diferentes frentes: militarização da educação, infiltração religiosa em instituições públicas e crescimento de células neonazistas. O Brasil assiste à repetição de padrões históricos de perseguição, agora potencializados por redes digitais e pela fragilidade das respostas institucionais.

O desafio está em conter a escalada antes que a violência simbólica se transforme em violência generalizada.

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Luis Nassif

Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
luis.nassif@gmail.com

Davi Alcolumbre, o Reizinho candidato a dono do Brasil, por Luís Nassif

 

 O país vive de humilhação em humilhação. Poucas tem o condão de desmoralizar mais ainda a auto-estima nacional do que o poder político de Davi Alcolumbre, presidente do Senado (junto com Hugo Motta, presidente da Câmara).

Do Jornal GGN:

Alcolumbre, o Reizinho candidato a dono do Brasil, por Luís Nassif

Não há poder político que possa manter incólume uma figura com a ficha de Alcolumbre. Que o STF, a PGR e a PF cumpram seu dever.

O país vive de humilhação em humilhação. Poucas tem o condão de desmoralizar mais ainda a auto-estima nacional do que o poder político de Davi Alcolumbre, presidente do Senado.

É inacreditável que o brucutu, sem limites, sem noção de qualquer institucionalidade, pode se arvorar no poder de indicar Ministro do Supremo Tribunal Federal ou de propor pautas-bombas.

Vamos a um pequeno histórico politico do nosso Reizinho, o político que sequestrou o país:

1. A super-rachadinha de RF$ 2 milhões

Segundo uma reportagem da Veja, seis mulheres foram contratadas no gabinete de Alcolumbre como assessoras, com salários entre R$ 4 mil e R$ 14 mil, mas receberam apenas pequena fração, cedendo os cartões e senhas bancárias a pessoas de confiança. A matéria aponta que o esquema teria durado cerca de cinco anos. As beneficiárias afirmam nunca ter trabalhado de fato e recebiam simbólica “ajuda de custo” — enquanto o restante era sacado pelo gabinete.

Parte do suposto esquema coincidiu com a ocupação da presidência do Congresso por ele — quando exercia grande influência institucional.  Ele nega envolvimento pessoal, afirma ser vítima de “campanha difamatória” e diz que contratações eram responsabilidade de seu então chefe de gabinete. Algumas ex-assessoras entraram com ações judiciais pedindo indenização, pagamento de direitos, verbas rescisórias etc. (detalhe citado na reportagem de 2021). 

2. As emendas e as suspeitas de contrabando

1. O Programa Mais Visão e as Emendas Parlamentares – Entre 2023 e 2024, Alcolumbre destinou R$ 15 milhões em emendas parlamentares para a Secretaria de Saúde do Amapá, que contratou empresas para executar o Programa Mais Visão. A própria empresa Saúde Link afirma em seu site que o Programa teve início em 2021 com a iniciativa do senador Davi Alcolumbre em parceria com o Governo do Estado do Amapá.

2. A Tragédia Sanitária – Em 4 de setembro de 2023, durante um mutirão de cirurgias de catarata, 104 dos 141 pacientes operados contraíram endoftalmite, uma grave infecção ocular. Pelo menos 40 pacientes tiveram complicações graves, como olhos perfurados, com indicação de transplante de córnea. Alguns casos resultaram na perda irreversível da visão e até na remoção do globo ocular. O fungo Fusarium foi identificado como causador da infecção, e o programa foi suspenso em 6 de outubro de 2023. O Ministério Público do Amapá recomendou a suspensão do termo de fomento com o Centro Capuchinhos, destacando que o espaço físico não possuía condições sanitárias nem licenças para funcionamento.

3. A Aeronave PR-MGD e a Apreensão por Contrabando – Em 22 de julho de 2022, um jatinho da Saúde Link, modelo Hawker Beechcraft 400A com prefixo PR-MGD, foi apreendido pela Polícia Federal em Ponta Porã (MS) na fronteira com o Paraguai. A ocorrência registrou apreensão de mercadoria de origem estrangeira no valor estimado de R$ 50 mil, além de R$ 30 mil em espécie e US$ 20 mil (cerca de R$ 100 mil). O MPF propôs como pena o pagamento de 10 salários-mínimos (cerca de R$ 13,2 mil) ao dono da empresa, Luciano André Goulart, que concordou e o jatinho foi liberado.

4. Uso do Jatinho e Investigação Eleitoral – Documentos da FAB mostram que uma aeronave da Saúde Link (bimotor Raytheon BE58, prefixo PR-BDC) pousou em 16 de agosto de 2022 no Hangar Comandante Salomão Alcolumbre, aeródromo da família do senador na zona rural de Macapá, retornando no dia seguinte. A aeronave apreendida em julho (PR-MGD) foi a mesma registrada pela FAB em Macapá um mês depois, em agosto de 2022, durante a campanha de reeleição de Alcolumbre. O TRE-AP investiga se o senador usou jatos particulares da Saúde Link para deslocamentos entre Brasília e o Amapá durante a campanha eleitoral de 2022. Segundo o processo, há pedido de cassação do mandato do senador.

5. Desdobramentos Processuais – A empresa Saúde Link informou à Justiça que não possui lista de passageiros das aeronaves no período investigado, argumentando que aviões particulares não estão sujeitos a requisitos de documentação e registro de passageiros da Anac. A defesa de Alcolumbre argumenta falta de provas. O MPF apura possíveis atos de improbidade administrativa em relação ao programa Mais Visão, em procedimento sigiloso que segue em curso.

Informações extra-oficiais dão conta de que o verdadeiro proprietário do avião seria o próprio Alcolumbre. Em suas viagens políticas, um dos passageiros preferenciais era o senador Randolphe Rodrigues, principal articulador de sua candidatura à presidência do Senado, nos tempos em que trabalhava pela Lava Jato. Atualmente é líder do PT.

O caso expõe uma teia de relações entre:

• Emendas parlamentares bilionárias direcionadas a programas de saúde

• Uma empresa privada (Saúde Link) beneficiada por essas verbas

• Uma tragédia sanitária com mais de 100 vítimas

• Uso de aeronaves da empresa pelo parlamentar que direcionou os recursos

• Atividades ilícitas envolvendo a mesma aeronave (contrabando). As investigações seguem em andamento tanto na esfera da improbidade administrativa (MPF) quanto na esfera eleitoral (TRE-AP), enquanto Alcolumbre assumiu a presidência do Senado Federal, tornando-se uma das figuras políticas mais poderosas do país.

3. A família Alcolumbre e o histórico de grilarem de terras

A família se estabeleceu no Amapá há cerca de 130 anos — ou seja, ao longo de várias gerações já se enraizou profundamente na região. 

Os Alcolumbre teriam sido dos primeiros a substituir o sistema de trocas por comércio mercantil, na época da borracha. Com o tempo, diversificaram: postos de combustíveis, comércio, mídia e posse de terras figuram entre os seus ativos. 

Um dos episódios mais graves atribuídos à família data de 1981: segundo relatório da Polícia Federal citado num dossiê recente, dois membros da família (irmãos chamados Salomão Alcolumbre e Alberto Alcolumbre) teriam figurado entre suspeitos de comandar um esquema de contrabando de minérios (ouro e outros metais) no então Território Federal do Amapá — transportando ilegalmente minérios em escala, por aviões particulares, para portos e capitais sem fiscalização. 

A grilagem de terras públicas é outra mancha. A família chegou a declarar à Justiça Eleitoral a posse de áreas pertencentes à União — em especial terras da reserva do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que deveriam ser destinadas a assentamentos de camponeses. Um primo de Davi, “Salomãozinho”, foi candidato a suplente ao Senado em 2014 e declarou como bens essas áreas. 

Essas propriedades foram alvo de embargo ambiental: uma área de 108 hectares — conhecida como “Fazenda São Miguel” — foi embargada a partir de 2016 por ordem do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por devastação de vegetação nativa. A família teria criado um rebanho de búfalos na área e construído benfeitorias, apesar de o local compor área pública, o que agrava a acusação.

As multas ambientais acumuladas pelos Alcolumbre superam R$ 1 milhão — sinal de múltiplas infrações ambientais registradas ao longo de anos. 

4. Os R$ 500 mil do irmão de Alcolumbre

Três anos atrás, a Polícia Militar de Sâo Paulo parou um carro e encontrou nele R$ 500 mil. O carro pertencia ao irmão de Alcolumbre.

Conclusão

Está em pleno curso a disputa entre a institucionalidade brasileira e o crime organizado. É uma batalha feroz, onde está em jogo o próprio futuro do país, como Nação.

Não há poder político que possa manter incólume uma figura com a ficha de Alcolumbre. O país espera que o Supremo, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal cumpram com suas responsabilidades.

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Luis Nassif

Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
luis.nassif@gmail.com

Como o bolsonarista Tarcísio de Freitas, apoiado pela Faria Lima e demais da elite paulista, se enredou no caso Banco Master, por Luís Nassif

 

O cunhado de Daniel Vorcaro (dono do Master), Fabiano Zettel, foi o maior doador pessoa física da campanha de Tarcísio (R$ 2 milhões).

Do Jornal GGN:

Como Tarcísio de Freitas se enredou no caso Banco Master, por Luís Nassif






  1. As dúvidas na privatização 


  • Blindagem ideológica
    A mídia reforça a narrativa de que empresas estatais são ineficientes, enquanto privatizações são sinônimo de modernização e progresso. Essa construção simbólica prepara o terreno para a aceitação pública da venda de ativos estratégicos.

  • Arquitetura financeira sofisticada
    O controle das empresas é adquirido com uma fração do capital total, por meio de estruturas como fundos de investimento, debêntures e garantias cruzadas. O caso da EMAE é emblemático: o Fundo Phoenix FIP comprou 30% da empresa por R$ 1 bilhão, usando ações da Ambipar como garantia — ações que, segundo a CVM, foram artificialmente valorizadas.

  • Rapinagem sobre o caixa e os ativos
    Após assumir o controle, os novos gestores priorizam distribuição de dividendos, desmonte de ativos ou investimentos em empresas do próprio grupo, em detrimento da qualidade dos serviços. A EMAE, por exemplo, investiu R$ 250 milhões em títulos da Light S.A., empresa ligada a Nelson Tanure, e emprestou R$ 10 milhões à Milos Participações, também associada a ele.

O roteiro EMAE-Banco Master

  1. O governo Tarcísio de Freitas privatiza a Emae, vendendo o controle ao Fundo Phoenix FIP, cujo investidor de referência é Nelson Tanure. Valor: algo em torno de R$ 1,0–1,04 bilhão.
  2. Já privatizada e sob gestão vinculada ao Phoenix/Tanure, a Emae aplica R$ 160 milhões em CDBs de um banco do conglomerado Master em 30/9/2025
  3. Na sequência, em 7/10/2025, depois de ter comprometido 5,88% do caixa da Emae com o Master, Tanure revende a empresa para a Sabesp por cerca de R$ 1,13 bilhão.
  4. Pouco mais de um mês depois, em 18/11/2025 o conglomerado Master (Banco Master, Letsbank) foi colocado em liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Ou seja, Tanure conseguiu vender a Emae sem registrar o prejuízo futuro com a liquidação do Banco Master.
  5. O cunhado de Daniel Vorcaro (dono do Master), Fabiano Zettel, foi o maior doador pessoa física da campanha de Tarcísio (R$ 2 milhões). 

São muitas as dúvidas sobre essa aplicação no Master.

  • Quem autorizou a aplicação?
  • Onde estão as atas do conselho?
  • Houve análise formal de risco?

Critérios técnicos

  • A EMAE respeitou:
    • Limites de risco por emissor?
    • Política interna de rating mínimo?
    • Limite de concentração bancária?

Conflito de interesses

  • Aplicação em banco ligado a familiar de grande doador do governador = coincidência?
  • O banco foi escolhido por taxa, relacionamento ou pressão política?

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Conexões explosivas da corrupção no meio bolsonarista: Ricardo Magro, Refit, governo Tarcísio de Freitas em SP e o general Luis Eduardo Ramos envolvidos no escândalo da Refit Grupo Fit em reportagem de Luís Costa Pinto

 

Do site ICL Notícias:

Genro do general Ramos, Marcelo Cunha Filho foi segundo de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura e ‘duplou’ com Jonathan Assunção, lobista do Grupo Fit

Conexões explosivas: Magro, Refit, governo Tarcísio em SP e o general Ramos




Marcelo Sampaio Cunha Filho, atual diretor de estratégia jurídica e regulatória da Vale para a China, sudeste asiático e Oriente Médio, mora na China desde o fim do mandato de Jair Bolsonaro na presidência da República. Ele é genro do general da reserva Luiz Eduardo Ramos e se tornou desde a última sexta-feira, 28 de novembro, a mais nova ponta solta do novelo de conexões explosivas das investigações do maior sonegador de impostos do país, o Grupo Fit, de Ricardo Magro, com os habitantes do universo paralelo do bolsonarismo com os satélites do crime.

Marcelo Sampaio, como gosta de ser chamado, é funcionário de carreira do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT). Lá, conheceu Tarcísio de Freitas, que dirigiu o órgão durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (entre 2014 e 2015). Nomeado ministro da Infraestrutura, Tarcísio colocou o jovem engenheiro (então com 36 anos) na secretaria-executiva do Ministério. Ao mesmo tempo, o sogro de Marcelo Sampaio Cunha Filho, o “general Ramos”, assumiu a Secretaria de Governo de Bolsonaro e pediu uma indicação para cuidar “da vida” do colega Walter Braga Netto (atualmente cumprindo pena por golpe de Estado no QG do Exército no Rio de Janeiro) na Casa Civil do Palácio do Planalto.

O genro de Ramos apontou o dedo na direção de Jonathas Assunção – nome sugerido a ele pelo senador Ciro Nogueira, presidente do PP, que depois sucederia ao próprio Ramos na Casa Civil. O  general Luiz Eduardo Ramos, por sua vez, trocou a Secretaria de Governo pelo posto de Braga Netto quando o general ora presidiário se mudou para o Ministério da Defesa em março de 2021. Foi Ramos quem entregou as chaves do gabinete da Casa Civil a Ciro Nogueira, e lá estava mantido Jonathas Assunção como todo-poderoso operador das emendas parlamentares. Era, então, o dono da caneta que assinava todas as nomeações políticas para a estrutura federal de governo.

A dupla assumiu o comando na pandemia

Durante a pandemia, quando tudo passou a funcionar sob contingências e os ministros de Jair Bolsonaro aproveitaram para desdenhar do coronavírus e passar a boiada de ilegalidades e atrocidades flagrantes para irem à forra contra a sociedade civil, a dupla Jonathas Assunção e Marcelo Sampaio se tornou próxima e querida do ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso se deu porque ambos sabiam “fazer acontecer” dentro da burocracia federal para fazer valer as ideias de Guedes – mesmo as mais estapafúrdias. Assunção, que jamais deixou de demonstrar lealdade a Marcelo Sampaio, disparou no coração de Paulo Guedes quando encontrou soluções práticas para viabilizar a nomeação do comunicólogo Caio Paes de Andrade para a presidência da Petrobras em 2021 mesmo com a contestação jurídica por ausência de atributos técnicos para a função.

Em 2022, quando deixou o governo federal para ser candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas trabalhou insistentemente (e com sucesso) para deixar Marcelo Sampaio Cunha Filho em seu lugar no Ministério da Infraestrutura. Ali, o ex-técnico havia assentado relações políticas e negociais necessárias a aproximá-lo das empreiteiras estatais chinesas e das empresas norte-americanas que trabalhavam no Oriente Médio reconstruindo a infraestrutura destruída pelos próprios militares dos EUA. Enquanto o genro do general Ramos exercia pleno poder na Infraestrutura, o parceiro Jonathan Assunção atuava na Casa Civil com carta branca de Ciro Nogueira e intensificava seu elo com o advogado Ricardo Magro, a quem todos conheceram na época em que Eduardo Cunha era o manda-chuva da Câmara dos Deputados.

Refit

A Petrobras entrou no jogo

Na esteira da desgraça de Cunha, cassado e preso em 2016 depois de promover o impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, Magro se tornou acionista e depois dono da Refinaria Manguinhos. O nome da refinaria, suspeita de ser usada para lavagem de dinheiro e de combustíveis ilegais, mudou para Refit e Magro já era acionista amplamente majoritário da empresa e da holding que a detinha, o Grupo Fit. Em 2021, quando o comunicólogo Caio Paes de Andrade presidia a Petrobras, Jonathan Assunção aproximou-o negocialmente de Ricardo Magro com o beneplácito de Paulo Guedes.

Por insistência de Guedes e proatividade da caneta de Jonathan Assunção o advogado Gileno Gurjão Barreto, presidente do Serpro nomeado em 2020, em plena pandemia, havia se unido ao grupo. Com longa passagem pelo Conselho Administrativo de Recurso Fiscais (CARF), órgão recursal da Receita onde integrantes do clã Bolsonaro estavam enrolados, Gurjão Barreto era voz sempre ouvida no aconselhamento de recursos em ações de sonegação – e isso sempre interessou sobremaneira ao Grupo Fit a seu controlador, Ricardo Magro. Em agosto de 2022 foram arquivados quaisquer pruridos de decência e Gileno Gurjão Barreto virou presidente do Conselho de Administração da Petrobras, de onde só saiu com a derrota de Bolsonaro nas urnas.

Àquela altura, a Receita Federal do Brasil já listava  as empresas de Magro como as maiores devedoras de impostos do país, mas o Ministro da Economia de Bolsonaro fazia vistas grossas a isso e permitia que se empurrasse com a barriga a aprovação no Congresso Nacional de quaisquer projetos de lei que combatessem devedores contumazes (empresas que brincam de troca-troca e de esconde-esconde de CNPJs a fim de sonegarem impostos em todas as esferas da federação). Encerrado o governo Jair Bolsonaro, depois do golpe de Estado dado e derrotado em 8 de janeiro de 2023, Marcelo Sampaio Cunha Filho foi para a Vale na China e Jonathan Assunção assumiu sua relação com Ricardo Magro, tornando-se executivo do Grupo Fit encarregado das conexões políticas deles como vice-presidente de relações institucionais.

Os amigos de Magro torcem pelo silêncio

Hoje, exceto Magro e o próprio Jonathan Assunção, que têm uma tecelagem inteira para desfiar de suas conexões com a sonegação fiscal, com a espionagem de altos funcionários da Receita Federal, e com os pontos de intersecção entre a “Operação Poço de Lobato”, que o investiga e às suas empresas, e a “Operação Carbono Oculto”, que investiga as conexões do PCC (o grupo criminoso Primeiro Comando da Capital) com lavagem de dinheiro e falsificação e adulteração de combustíveis, todos os demais integrantes dessa network infernal montada sob o governo Jair Bolsonaro curtem suas vidas no estratégico silêncio do desconhecimento. E seguem torcendo para as conexões não aflorarem.

Luiz Eduardo Ramos foi o único general palaciano do ex-presidente que não respondeu pelas tentativas reiteradas de golpe de Estado. Ele é amigo pessoal do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, com quem costumava jantar. Tarcísio de Freitas é governador de São Paulo e empregou na estrutura de sua equipe Caio Paes de Andrade, secretário de Gestão e Governo Digital (por onde passam todas as licitações públicas da máquina estadual) e Gileno Gurjão Barreto, presidente da poderosa Prodesp – Empresa de Tecnologia do Governo de São Paulo. Paulo Guedes, que se empenhou na nomeação dos dois ex-assessores na equipe de Tarcísio, segue próximo de todos como conselheiro e acionista de fundos de investimentos, de um banco e do Ibmec – Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais. E Marcelo Sampaio Cunha Fº é um dos mais relevantes “conselheiros” da administração da Vale despachando desde Pequim.