quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Brasil: Narrativa dos "mocinhos justiceiros" matando "bandidos malvados"... Eis a nova estratégia da direitaque não quer ser investigada para voltar ao poder em 2026

 

Um olhar sobre o Congresso em que políticos ultraconservadores e comandantes policiais tramaram ação conjunta na cena brasileira. Pontos centrais: intervenção internacional na segurança e carta branca a massacres na periferia, como no Rio

Do Outras Palavras, reportagem de :




Entre os dias 23 e 25 de outubro, apenas três dias antes da maior chacina da história recente do Brasil, foi realizada em São Paulo a “COP International 2025” (Congresso de Operações Policiais), reunindo uma grande feira de exposição de forças policiais e empresas de tecnologia de defesa e segurança, além do ciclo de debates “Fórum de Segurança Pública pelo Brasil”, patrocinado pelo Partido Progressista e a Fundação Francisco Dornelles.

O evento recebeu o apoio institucional da Secretaria de Segurança Pública e das polícias civil e militar do estado de São Paulo, bem como do Ministério da Defesa. Apoio mais do que visível: a feira contava com estandes destas instituições, exibindo seus arsenais ao lado de empresas privadas, nacionais e estrangeiras, que oferecem o que há de mais avançado em tecnologia militar e de vigilância. No público, policiais militares, civis, federais, municipais e penais circulavam fardados, uniformizados e armados pelo salão.

Muitos não eram meros figurantes, integrando as mesas de debate do “Fórum” como palestrantes ao lado de deputados, policiais-deputados, governadores, secretários e promotores. Alguns dos policiais, é importante frisar, palestraram fardados.

Mas há ainda um pequeno detalhe: o fórum era, na verdade, um ciclo de debates realizado pelo Partido Progressista (PP), o mesmo do Secretário de Segurança Pública paulista, o ex-Capitão da ROTA Guilherme Derrite, através da Fundação Francisco Dornelles. De fato, o evento não fez nenhuma questão de esconder o seu caráter político. A fundação partidária constava expressamente na organização, o logo do “Fórum” estampava o símbolo e o número do Progressistas e nomes de destaque do partido eram as estrelas do debate.

Aliás, coube a Ciro Nogueira, senador e presidente da sigla, anunciar em primeira mão o novo slogan que o Progressistas agora adota de olho em 2026: “Brasil do futuro é Brasil mais seguro”. Mas era Derrite quem, sem dúvidas, se fazia onipresente no evento que parecia construído mais em torno de sua futura candidatura do que de seu partido.

Quase todos os palestrantes faziam questão de agradecer o convite pessoal que receberam do Secretário, sempre acompanhado da cúpula de seus comandados paulistas: o ex e o atual Comandantes-Gerais, o Comandante do Choque e o Chefe de Inteligência da PM, além do Delegado Geral da PC e do diretor da Polícia Penal.

Essa verdadeira simbiose, articulada a partir de São Paulo apenas três dias antes da chacina do Rio de Janeiro — envolvendo polícias de todo o Brasil, partidos da extrema-direita (com a presença do PP e do PL) e a indústria de vigilância e defesa armamentista —, parece simbolizar bem os rumos que a política brasileira pode tomar nos próximos anos, sobretudo diante do tom discursivo que logo depois justificaria o massacre. Tentamos desvendá-los a seguir.

O AJUSTE NARRATIVO: SAI A FALIDA GUERRA ÀS DROGAS, ENTRA O COMBATE AO NARCOTERRORISMO, SEGUE A GUERRA ÀS FAVELAS

“A guerra às drogas nós já perdemos, a droga é só a quarta fonte de renda do crime organizado. (…) Esquece a droga, nós já estamos em outra prateleira. (…) Nós já somos um narcoestado. (…) Isso aqui não é caso de polícia, isso aqui é caso de direito internacional”.

As frases acima foram parte do acalorado discurso de Alexandre Abrahão, juiz de uma vara especializada em crime organizado do TJ-RJ, em uma das mesas mediada pelo próprio Derrite. Destacamos seu discurso por resumir as principais ideias da extrema-direita para a segurança pública neste ponto: a mudança do foco narrativo central da guerra às drogas para a guerra territorial e a abertura à intervenção estrangeira a partir da reclassificação de problemas internos como conflitos transnacionais pautados em conceitos de terrorismo.

A primeira é essencial na construção da segunda. Relativizar seu próprio velho discurso de combate às drogas é uma novidade neste momento de reorganização da extrema-direita para as próximas eleições. A ideia é introduzida por uma frase do Governador Cláudio Castro, o maior responsável pela chacina do RJ, e repetida por representantes cariocas no evento: “hoje, o crime é business”. Para Castro, as facções só continuam a traficar porque uma lei “branda” faz as drogas ainda valerem a pena, mas que elas já representam apenas “um quarto do dinheiro do crime”.

Na linha do “business”, o Secretário de Segurança do RJ e delegado federal aposentado Victor Santos pontuou que “a favela não é pobreza, é potência e oportunidade que têm sido exploradas pelo crime”. É acompanhado pelo Coronel Maurílio Nunes, ex-Comandante do BOPE e seu atual Subsecretário, para quem a “estrutura empresarial” do crime organizado se dá porque “as facções aprenderam a dominar serviços com as milícias”. Felipe Curi, delegado e Secretário da PC-RJ, foi além ao afirmar que as milícias, hoje, são formadas por traficantes que migraram das facções, pontuando que a exploração territorial dá muito mais dinheiro do que o tráfico de drogas. Todos foram uníssonos ao dizer que a “ADPF das favelas” seria a grande responsável pela dominação territorial do RJ pelas facções.

As favelas, tratadas como territórios cuja soberania estatal deveria ser “recuperada”, foram um ponto central na fala da cúpula de segurança do Rio de Janeiro. Em uma das apresentações, chegou-se a exibir um vídeo feito com inteligência artificial generativa que simulava “o que moradores da favela falariam, se pudessem falar”. Victor fez questão de afirmar que “81% da população brasileira mora em favelas. São pessoas pobres, negras, sem oportunidade, isso é uma mentira”.

Dentro de sua retórica, quem “defende” esse tipo de território estaria contribuindo para manter um sistema lucrativo cuja expansão beneficia as facções, que, segundo ele, “aprenderam com a milícia que explorar os territórios é uma fonte de receita”. Nessa mesma linha, Fabrício Oliveira, Delegado da CORE-RJ, afirmou que a única coisa que “limita” a favelização do Brasil são os recursos naturais, como deslizamento de morros, porque a “legislação aceita esse tipo de formação territorial”.

No evento como um todo, o Rio de Janeiro foi retratado como um laboratório, um “caso complexo, muito difícil de segurança pública”, porque os agentes policiais precisam agir “dentro das quatro linhas”, limitados pela “ADPF das favelas”, enquanto o “crime avança na marginalidade da lei”.

Nas palavras do próprio Secretário fluminense, a realidade do Rio seria “um reflexo da inação das leis, que são um instrumento para que a polícia possa fazer o seu trabalho”. Seu discurso sempre se dirige para a mesma profecia: sem mudanças na legislação que deem ainda mais autonomia às ações da polícia, o mesmo irá acontecer em todo o país. Ameaças acompanhadas por comentários como o do Capitão Telhada, deputado estadual paulista pelo PP, afirmando que “o contexto do Rio de Janeiro assusta a gente aqui em São Paulo”.

As falas da cúpula de segurança do Rio de Janeiro durante a COP, muitas delas proferidas pelos principais responsáveis pela chacina, revelam o tom de um projeto de país em curso. A chacina e sua retórica, retratada como uma “operação de sucesso”, foram antecipadas em um evento partidário-policial que prefigurou tanto as atrocidades realizadas quanto a narrativa destinada a justificar o injustificável. Ao tratar com ironia as críticas à letalidade policial, Victor enfatizou com desumanidade e frieza: “Quem trabalha muito, erra muito”.

Diante desse mote, a palestra do promotor do MP-SP, Leonardo Romanelli, explicando as ações de inteligência da Operação Carbono Oculto contra redes financeiras do PCC, ficou isolada do restante do evento. Reverberaram muito mais discursos como o do juiz Alexandre Abrahão, que após dizer que “seteiras (buracos na parede que servem como base de tiro) e barricadas são o limite final da liberdade da sociedade”, olhou para a plateia paulista e profetizou: “se isso aparecer aqui em São Paulo é porque vocês já perderam”.

No fórum, repetiu-se muito a ideia de que o RJ foi responsável por “exportar criminosos e o modus operandi do crime para outros estados”, como disse o Secretário Victor. Por sua vez, é da noção territorializada do crime no RJ que a direita tenta levar o debate da segurança pública para o campo da soberania e do terrorismo, dando base à ideia de uma guerra territorial que justifique até a intervenção do direito internacional no Brasil.

Um conceito bastante explorado, por exemplo, foi o de “black spots”, áreas dentro de um país em que a soberania do Estado é frágil ou inexistente, citado pelo juiz Abrahão e pelo ex-Comandante Geral da PM paulista, o Coronel Cássio Araújo. Foi a partir dele que Abrahão usou os termos “narcoterrorismo” para dizer que a droga já havia se tornado algo secundário diante da guerra territorial, enquanto o coronel paulista preferiu o termo “terrorismo criminal”.

Discurso corroborado por falas como a do delegado Felipe Curi ao afirmar que a ADPF transformou as favelas em “base operacional”, ou na defesa que o ex-BOPE Maurílio Nunes fez do atual projeto de ocupação das favelas no RJ como forma de retomada da soberania contra os “narcoterroristas”. Ou, ainda, o apontamento do Secretário carioca de que o RJ, hoje, tem “microsoberanias” nas quais “o fuzil é o instrumento de dominação territorial”.

As diferenças entre CV e PCC, porém, acabam ignoradas para que se apliquem os mesmos conceitos em SP. Isso foi bem observado na fala inaugural de Derrite, que apresentou como os “dois desafios críticos” do início de sua gestão a Baixada Santista e a Cracolândia, segundo ele, “territórios do crime organizado” que deveriam ser retomados pelo Estado.

Na Baixada, ele considerou as Operações Verão e Escudo “o maior evento policial de retomada do território e de intensificação das forças de segurança na América Latina”. Sobre as mortes decorrentes da ação policial durante essa operação, se calou, se limitando a dizer que “não existem provas, não existem vídeos que retratam violência policial nas operações”, embora isso seja uma evidente mentira.

Sobre a Cracolândia, Derrite caracterizou o território da Favela do Moinho como “posição estratégica” na justificativa de sua desocupação. Oportunidade que aproveitou para atacar os movimentos de mães que se organizam em busca de justiça por terem perdido seus filhos para a polícia e as lideranças comunitárias de moradores contra o despejo, chamando-as de “traficantes”.

Nesse ponto, é importante perceber como estes conceitos recaem sobre a população dos territórios. Instigado pelo deputado estadual Capitão Telhada, por exemplo, o Tenente-Coronel Wilmar Fernandes, que atua pela PM-MS nas fronteiras com Bolívia e Paraguai, afirmou que as facções vivem uma “guerra assimétrica” na qual, com menos potencial bélico que o Estado, cooptam o povo através do assistencialismo e da propaganda.

Sob o discurso de guerra territorial, portanto, populações inteiras são postas em situação de constante suspeição pelas autoridades diante da ameaça de cooptação pelas facções. Nesse contexto, surgem debates como o poder da “narcocultura” (em discursos acalorados sobre MC’s) ou a tese de “guerra informacional”, observada, por exemplo, na afirmação do diretor da Polícia Penal-SP de que “o PCC usa ONGs para espalhar desinformação”.

Foi o diretor Rodrigo Andrade, aliás, quem apresentou em sua palestra um quadro comparativo entre o crime organizado e o terrorismo, citando o planejamento estratégico, o uso da violência, o impacto sistêmico, a comunicação simbólica e a estrutura em rede como pontos em comum. Dados acompanhados de afirmações ainda mais enérgicas, como a do juíz Abrahão de que “os mísseis do Hamas são alimentados pelos cigarros clandestinos do Paraguai” ou de que “o PCC está ligado à grupos terroristas”.

Território, soberania e narcoterrorismo, portanto, muito mais do que a “guerra às drogas”, se mostram as palavras-chave para compreender o novo plano político das polícias e da direita, construído centralmente a partir da segurança pública. Suas justificativas empilhadas, porém, não são suficientes para tapar uma série de

Primeiro, é curioso que as milícias nunca sejam retratadas como um problema em si mesmo. Para eles, a questão é que as facções (sobretudo o CV) copiaram o modelo miliciano e agora são um problema maior. Segundo, embora todos reconheçam que o funcionamento da maior facção do Brasil, o PCC, seja diferente, desterritorializado, é o cenário territorializado carioca o escolhido como paradigma para o resto do Brasil.

Embora reconheçam a milícia como modelo que surgiu com o domínio territorial, a deixam de fora de suas propostas para combatê-lo, focando exclusivamente nas facções enquanto deixam de lado qualquer debate sobre a relação entre forças policiais e crime organizado no país.

Mesmo que insistam na centralidade do fuzil na dominação territorial, ignoram o afrouxamento da legislação armamentista que os permitiu e o sabido papel da corrupção policial nos desvios que alimentam o crime. Inclusive os negam, como fez o Coordenador da CORE-RJ Fabrício Oliveira, chamando o Estatuto do Desarmamento de “meu fuzil, minha vida”.

Outra incongruência é a questão financeira. A direita aponta que as facções diversificaram atividades econômicas e, hoje, focam na exploração territorial, mais lucrativa que o tráfico de drogas. Mas se estas atividades geram ainda mais lucro, como não se sabe onde circula este novo dinheiro? Por que há tanto interesse em demandar investimento em aparatos de combate e quase nenhum em operações e agências de fiscalização de redes financeiras? Querem nos fazer crer que o CV e as milícias guardam dinheiro embaixo de seus colchões?

No fim das contas, ao não abordarem em seus discursos outros tipos de criminalidade que existem para além das facções e outras causas para a violência, o que se observa é que esta alteração de rota narrativa da extrema-direita serve, realmente, a dois propósitos: 1) possibilitar a intervenção do direito internacional e de forças estrangeiras no Brasil a partir dos conceitos de narcoterrorismo; e 2) justificar o aumento da autonomia, dos poderes e das competências das forças policiais do país simulando uma guerra territorial interna de elevado nível tecnológico.

O BRASIL ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE SE TORNAR UM ESTADO POLICIAL DO QUE UM NARCOESTADO

No congresso organizado pelo PP, duas coisas ficaram bem claras. A primeira delas é que as narrativas e o discurso político levados pela cúpula de segurança do RJ devem ser mobilizados pela extrema-direita para o restante do país. Os painéis de debates soaram como uma verdadeira tentativa de unificação e organização discursiva em torno de um projeto de futuro pensado pelas cúpulas de algumas polícias estaduais (principalmente RJ e SP) em conjunto com partidos políticos.

Para além das velhas retóricas punitivistas — que vão desde sugestões de alteração na legislação para o aumento das penas até a repetição do clichê populista de que “a polícia prende e o Judiciário solta”—, este projeto é centralmente caracterizado pela noção de “guerra territorial”, na qual os conceitos de “narcoterrorismo” e “guerra assimétrica” devem servir como justificativa para o aumento do poder e da autonomia policiais e para a suspensão permanente de direitos de populações periféricas e faveladas.

Neste ponto, está a segunda grande evidência revelada pelo congresso. Este projeto de poder não traz apenas novos recursos discursivos, mas consolida uma nova protagonista na política brasileira: a classe policial. Longe da velha imagem que fazíamos dela, como mera força auxiliar da elite política brasileira, cada vez mais, a polícia se coloca como pensadora e articuladora de um projeto autoritário para o país.

Se a “guerra ao narcoterrorismo” é colocada pela extrema-direita como o grande problema a ser enfrentado, a concessão de poderes ilimitados às polícias é receitada como a sua única solução. Uma solução que já escalou uma verdadeira tropa para defendê-la nos espaços tradicionais de poder: só nesta legislatura, mais de 60 policiais e militares já ocuparam uma cadeira no Senado e na Câmara Federal, o equivalente a cerca de 10% do Congresso Nacional. Policiais-políticos (ou políticos-policiais) que, nos últimos anos, vêm se dedicando a legislar em causa própria, propondo projetos que aumentam o seu próprio poder.

No palanque partidário de um dos maiores partidos da extrema-direita brasileira, não havia qualquer constrangimento de policiais que ali subiam fardados para discursar. Também não estava nada constrangida a cúpula da segurança pública do RJ que, enquanto realizava o seu “comício”, já pensavam na chacina que havia planejado para ocorrer três dias depois.

À promíscua relação entre policiais e políticos demonstrada no palco se juntavam algumas indústrias privadas que, com sua parafernália tecnológica de segurança e defesa exposta nos estandes ao lado, fazem as contas de quanto pode lucrar na espiral de violência brasileira.

Inclusive, o ajuste narrativo que acirra a escala do inimigo interno, sempre criado e sustentado por discursos que buscam legitimar as políticas de morte da polícia, parece também ser arquitetado para tornar juridicamente e socialmente aceitável, talvez em um futuro próximo, o uso de tecnologias como drones aéreos e terrestres equipados com armamentos, ostensivamente exibidas e disponibilizadas à polícia durante a feira.

Por certo, nada permanecerá igual após uma chacina dessa magnitude, a maior da história recente do Brasil. Décadas atrás, o próprio PCC surgiu dos escombros do “Massacre do Carandiru”, e, desde então, a sua expansão tem justificado diversas alterações legislativas e institucionais que ampliaram o poder e a capacidade de atuação das polícias e do sistema penal. Do mesmo modo, há décadas que o combate às facções legitimou escandalosas operações policiais e militares no RJ.

Hoje, o PCC diversifica suas atividades criminosas em plena expansão, enquanto o RJ já não sofre apenas com as facções, mas também com o fortalecimento das milícias a partir das próprias forças de segurança. Com velhas soluções fracassadas mais uma vez colocadas à mesa, poderíamos pensar que o Brasil não aprendeu nada com si mesmo. Infelizmente, não é verdade. A extrema-direita brasileira parece ter aprendido bem.

As instituições policiais e as organizações de direita estão cada vez mais alinhadas. Na verdade, quase se confundem no caminho para o poder que necessariamente passa por legitimar a execução e o massacre de moradores de favelas e periferias de todo o Brasil. Embora muitas narrativas preguem o contrário, afirmamos sem medo de errar: o Brasil está muito mais próximo de se tornar um Estado Policial do que um narcoestado.


Operação Carbono Oculto: A expansão do esquema financeiro do PCC, envolvendo políticos de direita e empresários da Faria Lima, de São Paulo para o Piauí

 O aprofundamento da apuração revelou uma conexão direta entre empresários locais e o grupo de operadores financeiros de São Paulo que já estavam na mira da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pela Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo contra um esquema bilionário de lavagem de dinheiro ligado ao PCC.

Do ICL:

Carbono Oculto: A expansão do esquema financeiro do PCC de São Paulo para o Piauí

Pima Energia foi aberta em um endereço em São Paulo, apenas seis dias antes de comprar a rede de postos HD


Por  Flávio VM Costa e Alice Maciel

Material apreendido pela Polícia Civil do Piauí durante a Operação Carbono Oculto 86 levanta  suspeita de que a distribuidora paulista Aster Petróleo, acusada de integrar o esquema de lavagem de dinheiro do PCC, controlava a rede de postos de combustíveis piauiense HD. Durante as buscas realizadas em endereços da companhia em Teresina (PI), na semana passada, os agentes também encontraram um papel com a descrição de uma fórmula de adulteração de gasolina semelhante à utilizada em São Paulo. O ICL Notícias teve acesso ao teor do documento.

Os autos do inquérito policial obtidos pela reportagem revelam ainda que além da Aster Petróleo, outras cinco empresas ligadas à dupla acusada de comandar o braço financeiro do PCC – Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, o “Primo” – passaram a atuar no Piauí desde 2023. Ambos estão foragidos da Justiça. Entramos em contato com a defesa dos dois, mas não obtivemos retorno.

A investigação teve início após a venda suspeita da rede de postos HD, que chamou atenção da Polícia Civil piauiense devido a “inconsistências patrimoniais, alterações societárias simultâneas e a criação de empresas com endereço na Avenida Paulista (SP), sem lastro econômico compatível com o volume de negócios”.

Agentes também encontraram um papel com a descrição de uma fórmula de adulteração de gasolina semelhante à utilizada em São Paulo

O aprofundamento da apuração revelou uma conexão direta entre empresários locais e o grupo de operadores financeiros de São Paulo que já estavam na mira da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto pela Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo contra um esquema bilionário de lavagem de dinheiro ligado ao PCC.

A Polícia Civil do Piauí identificou modus operandi parecido ao descrito na operação paulista: aquisição de postos por empresas de fachada, substituição de bandeira comercial sem alterações operacionais reais, criação de fundos e holdings para mascarar os beneficiários finais, movimentação financeira atípica via fintechs e contas interligadas, adulteração de combustíveis e emissão de notas fiscais sobrepostas.

Por ser um desdobramento da operação Carbono Oculto, a investigação piauiense foi batizada com mesmo nome, mas com acréscimo do número 86, referente ao DDD do estado. A Justiça autorizou o compartilhamento de provas entre as duas operações.

“O presente procedimento investigativo com o esquema de atuação do Primeiro Comando da Capital no mercado de combustíveis, exposto pela Operação Carbono Oculto, conclui-se pela existência de fundados indícios de que a rede de postos em questão vem sendo instrumentalizada para a execução regional da mesma dinâmica criminosa”, lê-se na decisão judicial que autorizou os mandados de busca e apreensão no Piauí, Maranhão e Tocantins.

Conforme revelou o ICL Notícias, a Operação Carbono Oculto 86 atingiu o ex-assessor, aliado político e compadre do senador Ciro Nogueira (PP/PI), Victor Linhares, que recebeu R$ 230 mil de um dos donos da rede de Postos HD. Mostramos ainda que a incorporadora do senador, a Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, recebeu R$ 63,9 mil de uma empresa investigada e que a firma do irmão de Ciro Nogueira dividiu endereço com um dos postos suspeitos de integrar o esquema de lavagem de dinheiro.

Victor Linhares é homem de confiança do senador Ciro Nogueira

O ICL Notícias também publicou, em setembro, uma entrevista exclusiva com o ex-piloto da companhia Táxi Aéreo Piracicaba, Mauro Matosinhos, em que ele afirmou ter transportado em voo uma sacola de papelão que aparentava conter dinheiro vivo, na mesma data em que Beto Louco mencionou a outros passageiros que teria um encontro com o senador Ciro Nogueira.

O senador foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre as possíveis conexões entre ele, seu ex-assessor e empresas investigadas na Operação Carbono Oculto 86. Linhares não retornou às tentativas de contato do ICL Notícias e não conseguimos contato com Raimundo Nogueira, irmão de Ciro Nogueira.

Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Leme, o Beto Louco

Ordens de SP e notas fiscais suspeitas

Uma conversa de Whatsapp retirada de um celular apreendido pela Polícia Civil do Piauí mostra um funcionário da Aster Petróleo dando ordens para Moisés Eduardo Soares Pereira, da rede de postos piauiense HD.

“Gu, tem um inspetor de qualidade da CIA Ipiranga no HD 10, querendo fazer análise do produto. Nossas compras foram em outras Cias. Autoriza fazer análise?” perguntou Pereira a um contato da Aster Petróleo.  “Não deixa”, respondeu o interlocutor. “Diz que não está autorizado”, acrescentou.

A Aster comercializa combustíveis fabricados pela Copape Produtos de Petróleo. O grupo Copape/Aster, ligado a Beto Louco e Primo, foi alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada em São Paulo. A Polícia Civil do Piauí identificou que a rede de postos HD emitiu notas fiscais para a Copape, evidenciando movimentações comerciais entre as empresas.

Além disso, foram emitidas 504 notas fiscais pela Duvale Distribuidora, também vinculada ao grupo de Beto Louco e Primo, conforme revelado pela investigação da Carbono Oculto. De acordo com relatório da Polícia Civil do Piauí, a maior parte dessas operações refere-se à comercialização de combustíveis, concentrando-se no período de dezembro de 2023 a maio de 2024.

“Verificou-se que parte das notas fiscais emitidas pela Duvale não apresenta rastreabilidade logística, em razão da ausência de documentos fiscais de transporte ou da inexistência de registro de passagem das mercadorias no Piauí”, informa o documento.

Investigadores ouvidos pela reportagem afirmam que as notas fiscais foram emitidas com fraudes para ludibriar a fiscalização. Insumos de combustível seriam registrados tendo como destino o Piauí, que tem uma alíquota de imposto menor, mas seriam enviados para São Paulo.

 

Carbono
Haran Santiago foi alvo da polícia quando estava no aeroporto de Guarulhos

Fundo de investimentos também conecta SP ao Piauí

A transferência de propriedade da rede piauiense de postos de combustíveis HD, que pertenciam aos empresários Haran Sampaio e Danilo Souza, para um fundo de investimento suspeito, é outra prova da ligação da expansão do esquema de São Paulo para o Piauí. Em dezembro de 2023, o grupo foi vendido para a Pima Energia Participações Ltda.

O que chama atenção, segundo relatório da Polícia Civil do Piauí, é que a Pima Energia foi aberta em um endereço em São Paulo, apenas seis dias antes de comprar a rede de postos HD, “levantando a suspeita de que foi criada especificamente para formalizar a referida transação comercial”.

Os investigadores suspeitam que foi uma venda de fachada, uma vez que houve uma “substituição de bandeira (de HD para Pima e Diamante) sem alteração operacional real”.

Em depoimento prestado à Polícia Civil, Sampaio e Souza negaram envolvimento no esquema de adulteração de combustíveis.

O único sócio da Pima Energia à época da venda era o Jersey Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, que por sua vez é administrado por uma empresa também suspeita de lavar dinheiro e, igualmente, alvo da operação Carbono Oculto: a gestora de fundos Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.

Hub de soluções financeiras, a Altinvest é liderada pelo empresário Rogério Garcia Peres e administra 10 fundos citados pelos promotores na Carbono Oculto. O MP-SP afirma que Peres é um dos responsáveis pelas “dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”. A Altinvest e Peres negam envolvimento com o crime organizado.

Segundo relatório da Polícia Civil do Piauí, após a conclusão da venda dos postos de combustível da rede HD, Moisés Eduardo Soares Pereira passou a figurar como único sócio da Pima Energia Participações Ltda. Ele é um ex-funcionário de Haran Sampaio e Danilo de Souza. Investigadores suspeitam que ele é um laranja de seus patrões.

Após a compra pela Pima Energia, os postos de gasolina da rede “Postos HD” passaram a ser chamados de Red Diamante. De acordo com a investigação da Operação Carbono Oculto 86, há evidências de uso de empresas de fachadas vinculadas às marcas “Postos HD”, “Postos Pima” e “Postos Diamante”, “que tem suspeita de ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)”.

“As evidências apontam para possível sobreposição de registros ou compartilhamento de estrutura física entre diferentes pessoas jurídicas, indicando manobra para ocultar operações financeiras e dificultar a rastreabilidade de recursos, prática típica de lavagem de capitais”, destacam os investigadores.

Reinaldo Azevedo: Relatoria do bolsonarista-tarcisista Guilherme Derrite vira "Freak Show" da extrema direita enlameada em investigações da Polícia Federal

 

Da Rádio BandNews FM:




Reinaldo Azevedo: A direita das "emendas" (roubadas do povo) no Congresso é temerosa de investigaçõese por isso ataca a Polícia Federal por meio de Derrite e Motta na "conexão centrão"

 

Da Rádio BandNews FM:




terça-feira, 11 de novembro de 2025

Guilherme Derrite, Hugo Motta e a PL bolsonarista a favor das Facções e políticos e empresários a elas ligados... #congressoinimigodopovo

 

Do ICL:

PL A FAVOR DAS FACÇÕES

Texto exclui PF e MPF do combate ao crime


O parecer do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) sobre o PL Antifacção distorce completamente o sentido do texto original e acaba por favorecer o crime organizado, ao retirar da Polícia Federal e da Justiça Federal várias de suas atribuições nesse campo. Essa interpretação é compartilhada por vários especialistas e políticos que analisaram as mudanças.

Derrite, que teve o parecer acolhido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem o apoio dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Cláudio Castro (PL), do Rio.

Uma das principais mudanças introduzidas no PL é retirar a PF do combate às facções, algo que vai na contramão do discurso de Tarcísio e Castro, que dizem querer combater o crime organizado.

“Todos os processos que estão no âmbito da Justiça Federal teriam que passar para a Justiça estadual. Isso reamente é um salvo conduto às organizações criminosa. Eu não sei o que está por trás, vai blindar o crime organizado no país”, declarou a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, a jornalistas da GloboNews.

A PF emitiu nota contra a mudança proposta por Derrite. “Essa alteração afronta o processo de investigação policial e pode favorecer interesses locais eventualmente vinculados a organizações criminosas, crimes de corrupção e desvios de recursos públicos, entre outras ilicitudes”, diz o texto. “Pelas regras propostas no relatório em discussão, grandes operações, como a Tank e Quasar, estariam sob ameaça de não ocorrerem ou de terem seus efeitos severamente limitados”.

Em entrevista ao ICL Notícias, o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, reclamou que o texto que estão querendo levar à votação é desconhecido da sociedade. “Ele não passou por ninguém. A sociedade civil não discutiu se quer que isso seja considerado terrorismo. Juntaram um projeto que reformava a Lei das Organizações Criminosas e ele não mexe mais na Lei das Organizações Criminosas”, lamenta.

“Colocaram uma série de hipóteses equiparando ações de facções a terrorismo. E o pior: vários dos mecanismos que nós tínhamos, principalmente as medidas cautelares, intervenção em pessoa jurídica, criação de pessoa jurídica fictícia, ele separa e diz que é só para esses casos”, critica Sarrubbo.

“A lei não promove a integração. Promove a desintegração”, afirmou sobre o substitutivo o promotor Lincoln Gakiya, que há anos vive sob escolta de seguranças por causa das ameaças do PCC (Primeiro Comando da Capital) .

Segundo informou a jornalista Andréia Sadi em seu blog, no site G1, depois da chuva de críticas Derrite, alterou o papel da PF em seu parecer sobre o projeto. Pela nova redação, no entanto, a PF atuará apenas “em caráter cooperativo” com as polícias estaduais, “sempre que os fatos investigados envolverem matérias de sua competência constitucional ou legal”.

Autor do projeto original, o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE) diverge do relator, Guilherme Derrite, sobre condicionar a atuação da PF contra o crime organizado ao pedido do governo estadual ao Ministério da Justiça.

Para ele, os casos envolvendo enfrentamento a organizações criminosas deveriam ser federalizados.

Quem defende o Brasil do Ministério da Defesa que defende apenas o elitismo, os privilégios e os interesses dos militares associados aos intereses dos Estados Unidos?, por Luís Nassif

 

Entidades tentaram impedir a Boeing de avançar sobre a engenharia, mas Defesa concluiu que não havia risco para a soberania nacional.

Quem defende o Brasil do Ministério da Defesa?, por Luís Nassif







Uma das questões mais extravagantes, no tema soberania nacional, foi a posição do Ministério da Defesa no episódio em que entidades do setor de defesa tentaram impedir a Boeing de avançar sobre a engenharia brasileira – depois de ter tido acesso a estudos estratégicos da Embraer, no infausto período em que os militares, no governo Bolsonaro, permitiram a espionagem industrial, a pretexto de preparar a compra da empresa.

Na ação movida por entidades da indústria de defesa contra a Boeing, o juiz baseou-se no parecer do próprio Ministério da Defesa para concluir que não havia risco comprovado à soberania nacional.

  • O parecer do Ministério da Defesa, ainda no governo anterior, afirmava que não havia risco à soberania. Mesmo com a mudança de governo em 2023, a pasta não revisou nem atualizou a posição. Para o juiz, o silêncio da Defesa teve valor probatório negativo: se o próprio órgão técnico não vê ameaça, o Judiciário não pode presumir uma.

De nada adiantaram os argumentos do MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e comércio):

“Existe relevância técnica que justifica o acompanhamento pela União no feito, especialmente pelo fato de que a atividade econômica exercida pelas sociedades empresárias em questão é essencial para o País e envolve imperativo de Segurança Nacional.”

Enquanto a Defesa avaliava o caso sob a ótica estritamente militar, o MDIC via o impacto mais amplo:

  • Desmonte da Base Industrial de Defesa;
  • evasão de cérebros formados com recursos públicos;
  • perda de autonomia tecnológica em áreas de ponta.

Mas, sem respaldo normativo — e sem que a Defesa reconhecesse o problema — o argumento morreu na praia.

O juiz não teve como fugir da posição da Defesa:

“Isto decorre, desde logo, da própria manifestação do Ministério da Defesa, em que se baseou a primeira intervenção da União nestes autos. Se os projetos de Defesa estão sob supervisão estrita da pasta respectiva, esta certamente seria a primeira a reconhecer os prejuízos que, em teoria, estariam sendo causados pela contratação sistemática de profissionais de engenharia por empresas estrangeiras.”

E completou:

“É sintomático que o interesse da União tenha partido do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, não do Ministério da Defesa, que, ao que consta dos autos, não mudou de opinião a respeito.”

Visão ultrapassada de defesa

O Brasil continua preso a uma visão ultrapassada de “segurança nacional”, restrita ao uso da força — quando o novo campo de batalha é a inteligência tecnológica e o capital humano.
Não há, em nossa legislação,

  • regras sobre retenção de talentos estratégicos;
  • mecanismos para proteger conhecimento sensível desenvolvido com recursos públicos;
  • nem penalidades claras para evasão de cérebros estratégicos em setores militares e aeroespaciais.

Resultado: engenheiros formados pelo ITA e pagos pelo Estado acabam trabalhando para rivais internacionais, sem qualquer tipo de restrição ou indenização.

Por que o Ministério da Defesa ocultou a verdade?

Mesmo após mudança de comando em 2023, o Ministério manteve o parecer técnico do governo anterior, declarando não haver risco à soberania.

O juiz citou esse silêncio como prova de inexistência de ameaça — um paradoxo: o órgão responsável por proteger a soberania nacional negou a existência de risco, e o Judiciário tomou isso como verdade jurídica.

Essa omissão — intencional ou não — foi o ato mais político de todo o processo.

Quem defende o Brasil do Ministério da Defesa que defende apenas o elitismo, os privilégios e os interesses dos militares associados aos intereses dos Estados Unidos?, por Luís Nassif

 

Entidades tentaram impedir a Boeing de avançar sobre a engenharia, mas Defesa concluiu que não havia risco para a soberania nacional.

Quem defende o Brasil do Ministério da Defesa?, por Luís Nassif







Uma das questões mais extravagantes, no tema soberania nacional, foi a posição do Ministério da Defesa no episódio em que entidades do setor de defesa tentaram impedir a Boeing de avançar sobre a engenharia brasileira – depois de ter tido acesso a estudos estratégicos da Embraer, no infausto período em que os militares, no governo Bolsonaro, permitiram a espionagem industrial, a pretexto de preparar a compra da empresa.

Na ação movida por entidades da indústria de defesa contra a Boeing, o juiz baseou-se no parecer do próprio Ministério da Defesa para concluir que não havia risco comprovado à soberania nacional.

  • O parecer do Ministério da Defesa, ainda no governo anterior, afirmava que não havia risco à soberania. Mesmo com a mudança de governo em 2023, a pasta não revisou nem atualizou a posição. Para o juiz, o silêncio da Defesa teve valor probatório negativo: se o próprio órgão técnico não vê ameaça, o Judiciário não pode presumir uma.

De nada adiantaram os argumentos do MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e comércio):

“Existe relevância técnica que justifica o acompanhamento pela União no feito, especialmente pelo fato de que a atividade econômica exercida pelas sociedades empresárias em questão é essencial para o País e envolve imperativo de Segurança Nacional.”

Enquanto a Defesa avaliava o caso sob a ótica estritamente militar, o MDIC via o impacto mais amplo:

  • Desmonte da Base Industrial de Defesa;
  • evasão de cérebros formados com recursos públicos;
  • perda de autonomia tecnológica em áreas de ponta.

Mas, sem respaldo normativo — e sem que a Defesa reconhecesse o problema — o argumento morreu na praia.

O juiz não teve como fugir da posição da Defesa:

“Isto decorre, desde logo, da própria manifestação do Ministério da Defesa, em que se baseou a primeira intervenção da União nestes autos. Se os projetos de Defesa estão sob supervisão estrita da pasta respectiva, esta certamente seria a primeira a reconhecer os prejuízos que, em teoria, estariam sendo causados pela contratação sistemática de profissionais de engenharia por empresas estrangeiras.”

E completou:

“É sintomático que o interesse da União tenha partido do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, não do Ministério da Defesa, que, ao que consta dos autos, não mudou de opinião a respeito.”

Visão ultrapassada de defesa

O Brasil continua preso a uma visão ultrapassada de “segurança nacional”, restrita ao uso da força — quando o novo campo de batalha é a inteligência tecnológica e o capital humano.
Não há, em nossa legislação,

  • regras sobre retenção de talentos estratégicos;
  • mecanismos para proteger conhecimento sensível desenvolvido com recursos públicos;
  • nem penalidades claras para evasão de cérebros estratégicos em setores militares e aeroespaciais.

Resultado: engenheiros formados pelo ITA e pagos pelo Estado acabam trabalhando para rivais internacionais, sem qualquer tipo de restrição ou indenização.

Por que o Ministério da Defesa ocultou a verdade?

Mesmo após mudança de comando em 2023, o Ministério manteve o parecer técnico do governo anterior, declarando não haver risco à soberania.

O juiz citou esse silêncio como prova de inexistência de ameaça — um paradoxo: o órgão responsável por proteger a soberania nacional negou a existência de risco, e o Judiciário tomou isso como verdade jurídica.

Essa omissão — intencional ou não — foi o ato mais político de todo o processo.

PF, Juristas, PT e governo criticam mudanças de Derrite em projeto antifacção, deturpado e transofrmada por ele na “lei da blindagem” versão 2.0, com apoio de Hugo Motta, do Centrão e da Faria Lima e governaodres bolsonaristas

 

Relatório de Derrite prevê que operações da PF dependam de solicitação de governadores, o que enfraqueceria o combate ao crime organizado

Do Jornal GGN:


PF, PT e governo criticam mudanças em projeto antifacção: “lei da blindagem”


Reportagem de Camila Bezerra




A Polícia Federal (PF) e integrantes do governo federal criticaram duramente o substitutivo apresentado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP) ao Projeto de Lei nº 5.582/2025, que cria o chamado Marco Legal do Combate ao Crime Organizado, originalmente proposto pelo Planalto como Lei Antifacção. O texto, que deve ser votado nesta semana na Câmara dos Deputados, transfere aos estados parte do controle sobre operações de combate ao crime organizado, o que, segundo a PF, representaria um retrocesso nas investigações contra facções e corrupção.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (10), a corporação afirmou que o relatório “impõe restrições significativas à atuação institucional da Polícia Federal” e pode enfraquecer sua autonomia.

“A execução de operações pela Polícia Federal dependeria de solicitação do governo estadual da região investigada, o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado”, diz o comunicado.

A PF também alertou que investigações recentes, como a Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto contra um esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis, estariam ameaçadas sob as novas regras. “Pelas regras propostas no relatório em discussão, operações como essa estariam sob ameaça de não ocorrerem ou de terem seus efeitos severamente limitados”, afirmou.

Críticas do governo

A reação do governo foi imediata. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou o relatório de Derrite como uma “lei da blindagem” e disse que o texto “relaxa o combate ao crime organizado”.

“Quando você muda a competência policial você muda a competência judicial. Isso realmente é um salvo conduto a organizações criminosas. Eu não sei o que está por trás. Vai se tornar uma lei da blindagem, da bandidagem. Vai blindar o crime organizado no país”, declarou Gleisi.

O presidente do PT, Edinho Silva, também criticou a proposta e afirmou que o texto “protege criminosos” e enfraquece a Polícia Federal.

“Esse projeto de lei não ataca os bens que estão com esses criminosos e o pior: protege, blinda os criminosos, porque enfraquece a Polícia Federal ao dizer que as investigações devem ser feitas mediante provocação do governador do Estado”, disse.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), foi além e classificou o substitutivo como “o maior ataque da história à Polícia Federal”. Segundo ele, o texto tenta retirar da PF atribuições previstas na Constituição.

Relatoria de Derrite

O projeto é relatado por Guilherme Derrite, secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A escolha do nome foi feita pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que deu “carta branca” ao relator.

“A Câmara está aberta a todos que queiram contribuir. Quando o tema é combater o crime organizado, é preciso somar forças, não dividi-las. O relator terá total liberdade para conduzir um processo transparente e democrático. Esse é nosso compromisso no parlamento”, declarou Motta.

O substitutivo apresentado por Derrite prevê as mesmas penas para terroristas, milicianos e integrantes de organizações criminosas, e determina que a PF só poderá atuar em casos “com repercussão interestadual ou transnacional”, mediante solicitação do governador do estado ao Ministério da Justiça.

Essa mudança é vista pelo governo como tentativa de subordinar a Polícia Federal às gestões estaduais, o que criaria barreiras políticas à atuação da corporação em investigações sensíveis — inclusive contra autoridades locais.

Impasse político

Diante da pressão, o presidente da Câmara intermediou um encontro entre Derrite e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, para tentar ajustar o texto. A base governista, porém, afirma que não aceitará a manutenção do dispositivo que condiciona as operações federais à autorização dos estados.

“O fundamental é desmontar esse ataque à Polícia Federal. É a mesma turma que tentou aprovar a PEC da blindagem e agora quer recriar o mesmo mecanismo”, disse Lindbergh Farias.

A proposta deve ser votada ainda nesta semana, em uma pauta considerada “esvaziada”, mas que reacende o embate entre o governo e a oposição sobre o controle das forças de segurança e o alcance da PF.

Entenda

O PL Antifacção foi enviado pelo governo Lula após a operação policial no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos. O texto original buscava fortalecer a cooperação entre as forças de segurança federal e estaduais e ampliar o foco no confisco de bens de facções criminosas.

Com as alterações promovidas pelo relator, o governo avalia que a proposta se afastou de sua essência e pode comprometer o enfrentamento às organizações criminosas, gerando um novo capítulo de tensão entre o Executivo e o Congresso.

*Com informações da CNN e g1.

PL, Centrão, Derrite, Faria Lima e Hugo Motta unidos pela PEC da Bandidagem 2.0 tirando a PF das investigações das organizações criminosas envolvendo políticos e elites

 

Do Canal Brasil Sátira do Poder:




sábado, 8 de novembro de 2025

Do Canadá Diário: Nas Eleições para prefeituras e estados, TRUMP PERDEU e está se recusando a aceitar a derrota! O que isso significa para a democracia?!

 

Do Canal Candá Diário:


O momento histórico está acontecendo: Donald Trump perdeu e o mais grave: está se recusando a aceitar o resultado. Neste vídeo vamos mostrar o que está por trás dessa derrota estrondosa, por que ela importa muito mais do que parece e como ela pode mudar o rumo da política nos EUA e no mundo. Hoje vimos uma varrida democrata nas principais disputas nos EUA, em New York City, Virginia, New Jersey, e até na California com a Proposição 50. Trump reagiu rapidamente, mas pouco com autocrítica e muito com narrativa: “eu não estava no boletim”, “foi o shutdown”, etc. Isso representa algo maior: quando um líder perde mas não admite, aquilo não é apenas sobre uma eleição, é sobre as regras do jogo.

Neste vídeo você vai ver: • Como os eleitores mandaram um recado direto contra o estilo Trump. • Por que esta derrota tem potencial de virar marco histórico das eleições intermediárias de 2026. • O que a recusa de Trump em aceitar o resultado significa para a democracia, para as instituições e para a normalização política. Se você está preocupado com o futuro da democracia, com líderes que se consideram acima das regras ou simplesmente quer entender o que está por trás de toda a cobertura, esse vídeo é para você. Compartilhe, comente, e fique até o final, onde vou dar a análise crítica mais contundente. Assista também o vídeo da CBC indicado no início para contexto, este vídeo complementa, aprofunda e faz a provocação que ficou de fora.