terça-feira, 10 de março de 2020

Recorrendo ao linguajar do Jair: "Guedes, ou dá, ou desce”, por Luis Nassif


Guedes não tem a menor condição de planejar nada, porque é prisioneiro de um discurso ideológico primário, terraplanista. Sua equipe não tem noção sobre a forma de funcionamento nem da economia real nem da máquina pública. Quando tem noção sobre o funcionamento da máquina, não tem a menor ideia sobre as consequências de seus atos no mundo real.


A entrevista de Paulo Guedes, sobre a crise atual, segue a receita usual de tripulantes de avião em meio a uma trombada em nuvens cumulus nimbus.
  1. Assim como as aeromoças e os pilotos, o Ministro da Economia precisa aparentar calma. E ele aparenta.
  2. Mas só calma, não basta. Para acalmar os passageiros, têm que demonstrar controle da situação. Calma sem plano mostra incapacidade de avaliar e enfrentar o perigo. E Guedes, pelo que tem dito, não tem a menor ideia sobre o que fazer.
O diagnóstico e o receituário para enfrentar a crise são padrões. A crise vai derrubar ainda mais a atividade econômica. Com ela, aumenta o desemprego, a inadimplência, derrubam-se as receitas públicas, paralisam-se os serviços públicos. Portanto, o objetivo maior é minimizar os efeitos negativos da recessão.

E aí, entra-se em um terreno completamente desconhecido de Guedes: o funcionamento da economia real e a operação da política econômica.

Até agora, ele vem recorrendo ao receituário padrão do Ministro inepto, aquele que, para justificar sua falta de preparo para gerir a economia, recorre sempre ao álibi da “reforma”. Sempre faltará uma reforma para a economia deslanchar. E, no final da história, pouco antes de ser demitido, dirá que não deslanchou por causa da última reforma que faltou.

A estratégia de enfrentamento da crise passa, primeiro, pela necessidade de identificar os pontos centrais de crise e os setores que mais rapidamente responderiam aos impulsos da economia.
Depois, articular com os diversos setores, o que significa não apenas ter familiariedade com as cadeias produtivas, mas conhecer as principais entidades e lideranças, com as quais negociar.
A partir daí, acionar os bancos públicos – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES – para abrir linhas de financiamento visando:
  1. Reestruturação do caixa de setores mais atingidos, preferencialmente atuando nas cadeias produtivas.
  2. Retomada dos investimentos em infraestrutura, com revogação da Lei do Teto.
  3. Ações rápidas para reduzir a inadimplência das famílias e das empresas, presas a juros bancários escorchantes.
  4. Políticas fiscais bem dosadas para setores estratégicos.
  5. Frentes de trabalho para atender à multidão de desempregados de baixa renda com recuperação do Bolsa Família e das redes de proteção social.
E, permeando tudo, o discurso político de mobilização da população, responsabilidade intransferível do presidente da República.

Guedes não tem a menor condição de planejar nada, porque é prisioneiro de um discurso ideológico primário, terraplanista. Sua equipe não tem noção sobre a forma de funcionamento nem da economia real nem da máquina pública. Quando tem noção sobre o funcionamento da máquina, não tem a menor ideia sobre as consequências de seus atos no mundo real. São adeptos da forma mais primária de fisicalismo: o corte indiscriminado de despesas, sem ter a menor noção sobre os impactos na ponta.

Na linha de frente, o inolvidável  Mansueto de Almeida, um dos pais da inacreditável Lei do Teto, que amarrou completamente a condição do governo de montar políticas econômicas anticíclicas, declarou-se surpreso com a falta de resultados da economia..

Mansueto era o demiurgo que dizia que bastaria a reforma trabalhista e a previdenciária para a economia deslanchar. Vendo o seu desalento atual, não sei o que é mais assustador: o burocrata que ilude a população com falsas promessas; ou o burocrata que acredita nas falsas promessas.
Acima deles, e abaixo de qualquer nível de crítica, Jair Bolsonaro, o mais completo sem-noção já surgido na política brasileira. No meio desse tiroteio, Bolsonaro viaja para os EUA para mostrar, mais uma vez, o deslumbramento humilhante perante Donald Trump. Depois, aparece pintando aquarelas. E reunindo-se com lobistas de cassinos.
Em suma, coronavirus e petróleo aceleraram a hora da verdade. E, para enfrenta-la, não haverá grosseria de rede social, escataologia, palavrões que resolvam.
Valendo-se da grosseria bolsonariana, ou dá ou desce.


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