terça-feira, 25 de junho de 2013

Rede Globo, o povo não é assim tão bobo



Texto de Plínio de Arruda Sampaio Jr. Professor da Unicamp

Assustada com as mobilizações populares que romperam duas décadas de marasmo político e letargia social, após um momento de perplexidade e desorientação, a ordem estabelecida deu uma primeira resposta à revolta social que toma conta do Brasil. Seu ponto de vista aparece na estética e no discurso da grande mídia falada e escrita. Não por acaso, as grandes redes de televisão tornaram-se um dos alvos preferenciais da fúria popular, ao lado de outros símbolos do poder burguês e da modernidade fútil - os prédios públicos, os bancos, as concessionárias de automóveis.

Por representar o que há de mais comprometido com o capitalismo selvagem, a perspectiva da Rede Globo é emblemática de como a plutocracia enxerga as mobilizações populares que ameaçam seus privilégios seculares. As imagens da Rede Globo são quase que invariavelmente feitas a partir de duas perspectivas: do alto das coberturas dos prédios e dos helicópteros ou atrás da tropa de choque. É uma metáfora de como a burguesia lida com o conflito social: distante dos problemas da população e em oposição frontal a quem luta por direitos coletivos.

Preocupados com a possibilidade de que a revolta popular se transforme numa revolução política, a grande mídia martela dia e noite palavras de ordens que têm como objetivo neutralizar o potencial subversivo das ruas. No “fim da história”, as rebeliões não podem ter causa. Daí a insistência em instrumentalizar a ira contra os partidos da ordem – PT, PSDB, PMDB, PSB, etc. – para estigmatizar todo e qualquer partido e para banir toda e qualquer bandeira política que possa dar um horizonte revolucionário à energia humana que brota de baixo para cima.

Consignas e bandeiras da contra-revolução

Bonner à frente, as consignas reacionárias são repetidas ad nauseam nos jornais, rádios e televisão. “As manifestações não podem ter partido”. Na verdade, disputam desesperadamente a direção das manifestações. Na falência dos partidos convencionais, tomam para si, com o beneplácito da burguesia, o papel de verdadeiro partido da ordem. “As manifestações não podem ter bandeiras”. Na verdade, enaltecem, exaltam e estetizam as bandeiras da paz (social) e da ordem e progresso (do nacionalismo chauvinista). Na falência das políticas convencionais, apelam para o moralismo e buscam desesperadamente resolver a quadratura do círculo, encontrando uma saída dentro da ordem. A manobra mal esconde o pânico com o despertar do povo para a política. Tentam desesperadamente conter a energia vulcânica que clama por mudanças radicais, transformando as manifestações em uma grande catarse nacional.

O levante popular coloca em xeque um dos nós fundamentais do padrão histórico de dominação da burguesia brasileira: a intolerância em relação à utilização do conflito social como forma legítima de conquista de direitos coletivos. Daí o esforço para estigmatizar os manifestantes que enfrentam violenta repressão. Sem distinção, todos que enfrentam a tropa de choque – manifestantes, provocadores infiltrados e simples marginais - são tachados de “vândalos” – uma minoria violenta que perturba a ordem e que se contrapõe à maioria que se manifesta pacificamente. Mal disfarçam a intenção de instigar a polícia e atiçar a classe média remediada contra a vanguarda das manifestações. Os jornais atuam de maneira orquestrada para saturar a opinião pública com imagens de destruição patrimonial – repetidas cansativamente para provocar a rejeição da população. O objetivo é criar um clima de histeria coletiva que venha, mais adiante, a justificar o massacre da revolta. Suspeitamente, não se escuta um pio sobre a ação escancarada de provocadores infiltrados, liderados por agentes dos órgãos de repressão do Estado e por grupos de extrema direita. Os pescadores de águas turvas apostam na única solução que a classe dominante brasileira conhece para tratar o conflito social: o pelourinho. Precisam ser contidos.

O partido da revolução democrática

A avassaladora mobilização da juventude contra as péssimas condições de vida da população polarizou a luta de classes entre mudança e conservação – revolução e contra-revolução. Se a esquerda não conseguir dar uma resposta ao contra-ataque das forças da reação, as mobilizações sociais podem simplesmente se exaurir sem condensar a energia política necessária para abrir novos horizontes. O desafio exige que as organizações de esquerda se unifiquem, lutem ao lado da juventude nas trincheiras avançadas do levante popular e portem a bandeira da revolução democrática – a essência do que está sendo exigido pelos manifestantes - como única alternativa à barbárie.

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Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da UNICAMP e membro do Conselho Editorial do Correio da Cidadania – www.correiocidadania.com.br

Sobre o velho e o Novo: as Manifestações e a Mídia

Sobre o Velho e o Novo



ESCRITO POR DARLAN MONTENEGRO  da Universidade Rural do Rio de Janeiro 
SEGUNDA, 24 DE JUNHO DE 2013



Não há motivo para pânico. Também não há motivo pra deslumbramento. De uma maneira geral, há motivo para um bocado de otimismo. E para alguma preocupação. Mas não muita.

O que é antigo não deve produzir nenhum desespero. A esquerda política e os movimentos sociais que se aglutinam, de uma forma ou de outra, em torno dela já lidou com isso em outros momentos.

E o que é antigo?

1) É antiga a forte resistência aos partidos políticos, nos movimentos juvenis de massas (os grandes, grandes, mesmo). Elas envolvem dezenas de milhares de pessoas que nunca foram a uma passeata, que têm uma relação tensa com a política e que não veem nos partidos os seus representantes. E a maior parte da sociedade não se sente representada pelos partidos. Não se sente hoje e não se sentiu, no passado. Falo dos grandes movimentos de massas que eu vivi como membro de grêmio secundarista, de centro acadêmico e da União Nacional dos Estudantes (tudo isso entre os anos 80 e 90): a luta dos secundaristas do Rio contra o aumento das mensalidades, em 1988; a luta pelo Fora Collor, em 1992 (a maior mobilização juvenil da nossa história, até aqui; mas que está sendo rapidamente superada, em termos de número de participantes, pela atual); a luta dos secundaristas e universitários do país inteiro por uma mudança na legislação que regulava as mensalidades, em 1993. Todas essas foram muito grandes (ainda que muito diferentes em suas dimensões e alcance). E, nelas, a força do antipartidarismo era imensa.

Em 1988, os estudantes tentaram tirar o presidente da Ames (Associação Municipal – então Metropolitana – de Estudantes Secundaristas, do Rio) de uma grande passeata porque ele se identificava publicamente como militante do PT e da Convergência Socialista. E muitos de nós, que atuávamos numa organização que mais tarde, naquele mesmo ano, viria a se chamar OJL, atuamos de forma deliberada para capitalizar o sentimento antipartido das lideranças estudantis e construir um campo político que se tornaria hegemônico no movimento estudantil secundarista do Rio de Janeiro por alguns anos.

A força política que tem hegemonizado as entidades estudantis nacionais brasileiras ao longo dos últimos trinta anos é justamente aquela que decidiu não se apresentar publicamente como partido e adotar, como um dos pilares da sua política de massas, a denúncia da interferência dos partidos no movimento. Trata-se do PCdoB, que, no movimento secundarista, atua, desde 1984, como UJS, e, no universitário, foi Viração por toda uma época e, depois, UJS. Eu fui a muitos congressos da UNE, na minha vida. E a alguns da Ubes. Em todos, estava lá o PCdoB puxando a palavra de ordem: “A UNE (ou a Ubes) é união; não é partido, não”. É hipócrita, é claro. Mas vocês hão de concordar que tem funcionado.

Nas manifestações do “Fora Collor”, escolas inteiras se retiraram de manifestações, em protesto contra a participação de representantes dos partidos nos atos públicos (não falo apenas dos chamados “burguesinhos da zona sul”, como foi o caso nas manifestações de 1988; falo da galera do bom, velho e público Colégio Pedro II, mesmo). Na luta contra os aumentos de mensalidades, em 1993, uma imensa rede (olha ela, aí) de centros acadêmicos de cursos de universidades pagas, na região metropolitana de São Paulo, se recusava a ter qualquer relação com a UNE e denunciava os partidos como instrumentalizadores do seu movimento.

É bom registrar que, além dos que chegavam ao movimento sem nunca terem participado de nenhuma outra manifestação, aqueles que simpatizavam com o anarquismo também rejeitavam os partidos (exatamente como hoje). Para completar, só mais um exemplo: quando a União Estadual dos Estudantes de São Paulo foi (re)construída, em 1993, a chapa vencedora foi a do movimento dos “independentes” (os sem-partido e, de uma maneira geral, antipartido). Tinham apoio partidário, é verdade. Mas a base que os sustentava não sabia disso.

Porém, não obstante a resistência e os protestos dos “antipartido”, todos esses movimentos foram dirigidos por entidades fortemente identificadas com a tradição política da esquerda. Portanto, não priemos cânico. Pelo menos, não muito.

2) É antiga a disposição da mídia (o partido mais bem organizado da burguesia brasileira e também o mais influente) de disputar os rumos dos nossos grandes movimentos de massas; a primeira tentativa é, quase sempre, de deslegitimar ou descaracterizar, pra ver se a coisa morre. Foi assim que a Globo agiu na campanha das Diretas e no Fora Collor (não acredite no que contam por aí; o Fora Collor não foi um movimento orquestrado pela Globo; foi um movimento orquestrado por entidades estudantis que se opunham à implementação do projeto neoliberal no Brasil).

Na época das diretas, a Globo começou não cobrindo os primeiros atos (convocados pelo PT, ainda em 1983). Depois, quando o negócio decolou, em 1984, disse que o povo que estava nas ruas tinha saído para comemorar o aniversário de São Paulo (essa é uma das mais patéticas). Aí, quando o negócio se alastrou, mesmo, a Globo virou democrata de carteirinha e colocou o Osmar Santos para ser locutor dos comícios das Diretas. Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha.

No início das manifestações pelo Fora Collor, a Globo (principal aliada do presidente, apesar do que diziam e dizem os seguidores do nosso bravo e heroico – de verdade e sem ironia – Leonel Brizola) não cobria. Centenas de milhares de jovens nas ruas do país inteiro e, para o Jornal Nacional, era como se nada estivesse acontecendo. Depois, passou a adular os caras-pintadas e o meu velho amigo e companheiro de direção da UNE, Lindbergh, acabou passando o natal na Xuxa. Mas, antes disso, foi sistematicamente taxado de dinossauro (todos fomos) a cada vez que dizia que o nosso movimento não era apenas contra a corrupção, mas contra as “reformas” neoliberais do Collor. E é bom que se diga: Lindbergh nunca parou de descer o pau nas privatizações e na política neoliberal de Collor. A Globo levou ele para a Xuxa, APESAR disso.

A Folha de São Paulo, em ambos os casos, agiu de forma distinta, em relação à Globo, mas com objetivos semelhantes: aderiu cedo às campanhas, percebendo o seu potencial mobilizador. Mas buscou sempre influir nos rumos desses movimentos. No caso das Diretas, buscou garantir que a transição não desembocasse em um governo de esquerda (muito provavelmente encabeçado pelo Brizola). No caso do Fora Collor, procurou garantir que a imagem de corrupto de Collor não contaminasse o programa neoliberal do qual ele era o maior portavoz. A mídia que apoiou a “CPI do PC” e repercutiu as denúncias contra Collor, na verdade, não apostava na sua derrubada, mas no seu enfraquecimento, o que o levaria a negociar com os grupos das elites cujos interesses haviam sido prejudicado quando Collor colocou o seu grupo no centro de todos os esquemas de favorecimento governamental: da distribuição das verbas de publicidade do governo aos velhos esquemas de propinas tomadas das empreiteiras.

Em ambos esses casos, as elites obtiveram vitórias parciais (um pouco menos parciais no caso das Diretas). Mas eu ouso dizer (não sem um bocado de indisfarçado orgulho) que a vitória do movimento pela derrubada de Collor impediu que o Brasil se tornasse uma Argentina. FHC governou em condições piores do que as que Collor tinha, no início dos 90 (um movimento sindical destroçado e um movimento estudantil inexistente). Os anos 90 foram muito ruins. Mas, se olharmos para todos os nossos vizinhos continentais, veremos que poderiam ter sido MUITO piores.

Mais uma vez, não há razão para pânico por conta da ação da mídia (ou, ao menos, APENAS por causa dela).

3) E esses movimentos sempre foram, também, muito heterogêneos, em sua composição e nas razões que levavam as pessoas a participar. Digo, sem muito medo de errar, que o mesmo deve valer para a Passeata dos Cem Mil, em 68, e valerá sempre para os grandes movimentos de massas. A vida é assim, mesmo. Fazer o quê? Entrar em pânico, com certeza, não. Pelo contrário. É bom que as pessoas estejam se mobilizando por se encontrarem indignadas com variados aspectos da nossa vida social (e, especialmente, com a forma como se tem organizado o espaço urbano). Razões pra ficar indignados, definitivamente, não faltam.

As novidades desse movimento são, em geral, preocupantes (ainda que nem todas):

4) A ausência de uma direção claramente de esquerda, no plano nacional (em SP, o MPL dirigiu o movimento e é claramente de esquerda). Isso é novo. Os grandes movimentos nacionais anteriores tiveram (todos) direção. E uma direção de esquerda (ou, vá lá, de centro-esquerda, no caso das Diretas). Esse, não tem. E não tem por uma razão principal: aquele que se constituiu, nos anos 80, como o principal partido de esquerda do país e as entidades que, de uma maneira geral, gravitaram, ao longo dos últimos trinta anos, em torno da política proposta por esse partido encontram-se no campo de sustentação do governo federal e encontram-se fortemente descolados de qualquer dinâmica real de mobilização. O PT, a UNE, a CUT e os sindicatos em geral foram tomados completamente de surpresa pelas mobilizações. Isso é totalmente novo.

E há um fator seriamente agravante: a orientação adotada pelos governos petistas, de fazer gigantescas concessões ao capital financeiro e apostar em políticas hiper-graduais de mudança social, contribui para que o governo federal se encontre, diante desse movimento, numa situação defensiva (noves-fora a evidente cooptação da maior parcela dos quadros dirigentes petistas para uma política de redução da capacidade questionadora dos movimentos sociais). Por outro lado, aqueles que optaram por romper com o PT e com o governo (ou que a eles já se opunham, desde antes da posse de Lula, em 2003) não possuem enraizamento nem de longe suficiente para se apresentarem como dirigentes dos movimentos sociais. Então, de um lado, no início do movimento, tínhamos um campo governista que falava em “golpismo” e em “baderna”; de outro, uma oposição de esquerda que tentava desesperadamente ver no movimento a confirmação das suas próprias orientações políticas. E o movimento não estava nem aí pra nenhum dos dois. Nenhum dos dois tinha (ou tem) condições de dirigi-lo;

Não foi o facebook que levou a um movimento sem direção. Foi a incapacidade dos dirigentes tradicionais de cumprir um papel dirigente nos movimentos sociais. Os governistas porque desistiram de fazê-lo e porque, em muitos lugares (como SP) eram os sujeitos das políticas que o movimento combatia (no DF, pra completar, o governador petista foi o responsável pela repressão). A oposição de esquerda porque não tem musculatura. Mas há males que podem vir para bem. E, quem sabe, os sustos que a esquerda (toda!) tem tomado, nos últimos dias, não possam servir para um enfraquecimento do governismo chapa-branca e do oposicionismo sectário?

5) A presença significativa de forças de direita atuando no movimento também é relativamente nova; e, para mim, ainda não está completamente dimensionada. Pode estar havendo um exagero na leitura do que está se passando nessa área. Mas também pode ser que a coisa seja pior do que parece. Sei lá. De qualquer forma, não acho que seja dos carecas ou neonazis em geral que venham as maiores ameaças. O pior, até aqui, tem sido o povo que abraça as ideias ao estilo do Anonymous (ou talvez de anônimos que se apropriam dos símbolos usados pelo grupo de hackers). O vídeo com as cinco bandeiras “unânimes” (todas elas centradas no tema da corrupção; nenhuma voltada para a distribuição da riqueza ou a promoção da igualdade) circulou um bocado, nesses últimos dias. E, se circulou pelo meu facebook, fortemente hegemonizado pela presença de comunistas (como o dono do perfil), imagino o que não esteja acontecendo em outras timelines menos vermelhas. E são bandeiras conservadoras e de forte apelo de massas. Cheiro de Collor e FHC, que os deuses nos livrem. De qualquer forma, tudo isso é mais preocupante pela ausência de direção do que pela força da direita, propriamente dita. E o partido da mídia está potencializando justamente esses caras. No jogo da seleção brasileira contra o México, Galvão Bueno fez propaganda das mesmas bandeiras do “Anonymous”, de forma evidente pra quem está há anos na luta política, mas sub-reptícia para o grande público. Há perigo real na combinação da ausência de centro dirigente nacional com a ação da mídia (nota: esse texto foi escrito antes das manifestações de quinta-feira, dia 21; o perigo da combinação da ausência de direção com a ação da mídia e a presença de elementos de direita no movimento encontra-se, hoje, confirmado num nível muito além do que eu imaginava).

6) Há novidades legais, também. Foi a primeira vez que vi um movimento se irradiar de forma tão rápida em torno do tema da violência policial. E isso, convenhamos, é sensacional. Coisa bonita à beça de se ver. A galera entrando no cacete, em São Paulo, e uma legião de jovens dispostos a ir imediatamente para as ruas, em solidariedade. É claro que tem muito mais coisa que explica a disposição para a mobilização desse pessoal todo. E isso a gente ainda vai fazer seminário e mesa-redonda na academia por um bocado de tempo, pra debater. Mas é inegável que o galvanizador foi a violência da PM paulista. O Alckmin criou um monstro. Um monstro do bem, tipo aqueles do “Monstros S.A.”.

7) O facebook é uma novidade, evidentemente; e explica a facilidade com que um movimento sem direção se espalhou tão rapidamente; mas não acredito nem um pouco que o movimento possa sobreviver, no médio prazo e para além do ciclo de manifestações que estamos vivendo, com base apenas nas redes sociais. Ele precisará ganhar mais vida presencial, para além da que já existe em SP (reuniões, assembleias e a inevitável eleição de formas variadas de representação e direção). O resto é perfumaria e baboseira castellsiana (o novo autor predileto do Merval).

Sobre a “situação tática”:

8) Em primeiro lugar, é uma bela oportunidade para o governo federal guinar à esquerda. Não houve, até as manifestações, sinais de que planejasse fazê-lo. Pelo contrário: as mudanças sinalizadas na política fiscal e nos juros cheiram a acovardamento diante da inflação. Até a eclosão do movimento, Dilma vinha mostrando disposição de se afastar do rumo “anti-cíclico” que começara a esboçar, de um ano pra cá.

Por outro lado, a oposição à esquerda não parece ter força para dirigir um movimento que derrote o governo pela esquerda. Se esse grande movimento se tornar, em alguma medida, um instrumento da derrota política de Dilma, isso dificilmente se dará pela esquerda. Mas, no momento em que as bandeiras dos partidos de esquerda são quebradas, nas passeatas, interessa a todas a forças desse campo (governistas ou não) se unir em torno de alguns princípios comuns, que permitam ao campo exercer uma influência positiva sobre o movimento. A defesa da democracia interna ao próprio movimento; a denúncia da violência policial (venha de onde vier, inclusive de governos petistas); o apoio às bandeiras fundamentais que levaram o movimento a se organizar, num primeiro momento (mesmo que defender essas bandeiras implique em criticar o(s) governo(s) petistas).

Por outro lado, é do interesse de pelo menos parte da oposição de esquerda a Dilma somar esforços com os petistas que estiverem dispostos a fazê-lo. Porque, para o PSOL (ou, sejamos mais precisos, para PARTES do PSOL), a derrota do governo não é algo que se pretenda obter a qualquer preço e a possibilidade de que os rumos do movimento passem a ser pautados pela mídia, tendo como agentes os pequenos segmentos conservadores do próprio movimento, também representa um perigo sério. No mínimo, trata-se da possibilidade de perder toda uma geração de lutadores sociais. No máximo, trata-se da configuração de um quadro muito favorável à ação mais ousada da direita no cenário político.

Tudo isso seria preocupante, mas parece haver sinais de que as forças da boa e velha esquerda começam a se mover, para construir uma unidade política com a boa e novíssima esquerda. E é unidade das melhores: aquela que se constrói na luta. As plenárias de organização do movimento, no Rio, por exemplo, sinalizam nessa direção. Da mesma forma, a carta assinada por parlamentares do PSOL e de partidos da ala esquerda da base governista, no Rio, em apoio ao movimento, também é um excelente sinal.


O grande desafio da última década, a meu ver, foi tensionar os governos petistas por uma política reformista de esquerda (reformista de fato, como no início dos anos 60, com as “reformas de base” e na época da construção do “programa democrático e popular”, no final dos 80, em forte continuidade com o ideário do período pré-golpe). Houve, na verdade, muito pouca tensão: os segmentos da esquerda que permanecerão no PT renunciaram a fazê-la; e os que saíram, também; os que ficaram aderiam ao governo “tal como ele é”; e os que saíram dedicam-se, exclusivamente, a derrotá-lo. Houve pouca tensão e pouco resultado. Os governos petistas foram extremamente moderados em implementar políticas de mudança. E reforma, de fato, não houve nenhuma.

O futuro do tal “gigante que acordou” (imagem ruim e extremamente auto-centrada) ainda é incerto. Mas, a depender dos seus desdobramentos, pode forçar Dilma a rever alguns dos seus conceitos. Para melhor. Eu acho que as coisas tendem a arrefecer, como sempre, e o governo tende a voltar modorrentamente ao rumo desalentador que vem seguindo. O pronunciamento de Dilma, na noite sexta-feira, dia 22, sinalizou alguma disposição de ir à esquerda (embora a presidente tenha se posicionado muito mal em relação ao tema violência policial). Há que verificar o que, do que ela disse, se confirmará na prática.

Esperemos que alguma mudança de orientação venha dessa nova conjuntura. Até porque a derrota de Dilma não implicará, de forma alguma, numa ascensão da esquerda. Não há força social e política na esquerda capaz de derrotar o governo petista. E não haverá por algum tempo, ainda. Mas, na direita, essa força existe. E o melhor remédio para que Dilma não venha a ser derrotada pela direita é sentir os pés queimando pela esquerda.

Darlan Montenegro é professor adjunto na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Médico e professor universitário narra suas impressões sobre os "agitadores" nas manifestações

A tática dos extremistas da Direita



GIOVANO IANNOTTI: QUEREM PÔR UM CADÁVER NO COLO DA PRESIDENTA

Fonte: http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/24/querem-por-um-cadaver-no-colo-da-presidenta/

Neste sábado (22), minha mulher e eu fomos à manifestação ocorrida em Belo Horizonte na qualidade de médicos. Somos professores e vários de nossos alunos estavam presentes. Como já havíamos testemunhado a violência no ato da segunda-feira anterior, fomos preparados para atender possíveis vítimas, levando na mochila alguns elementos muito básicos para pequenos ferimentos e limpeza dos olhos irritados por gás.


Por Giovano Iannotti*, professor de Medicina

A manifestação foi tranquila durante todo o trajeto. Até mesmo a intolerância com militantes de partidos de esquerda foi pouco vista. Uma grande bandeira vermelha era orgulhosamente carregada e, salvo um ou outro, respeitada. Contudo, o clima começou a piorar quando a manifestação encontrou o cordão policial. Como tem ocorrido, a maioria aceitou o limite imposto, mas os provocadores instavam os moderados a enfrentarem a polícia. Parecem colocados estrategicamente entre o povo, porque se repartem em certo padrão e gritam as mesmas frases.

Como é sabido, eventualmente o conflito aconteceu. Retiramo-nos para a pequenina área verde que sobra naquele encontro entre as avenidas Abraão Caran e Antônio Carlos. E ali ficamos tratando sobretudo intoxicações leves e ferimentos superficiais causados por estilhaços e balas de borracha. Em um momento, fui chamado para atender um senhor ferido na cabeça. Fui correndo, mas ele já passara o cordão de isolamento da polícia. Identifiquei-me como médico aos policiais do governo de Minas Gerais e disse que poderia atender o senhor ferido. A resposta foi uma arma apontada contra meu peito. Pedi para falar com algum oficial, mas a PM recomeçou a atirar. Voltei para nosso pronto-socorro improvisado. De dentro do campus da UFMG começaram a atirar bombas de gás sobre nós que atendíamos os feridos e recuamos ainda mais, para o meio da Antônio Carlos.

Minutos depois, chamaram-nos com urgência informando que alguém caíra do viaduto José de Alencar. Quando chegamos, um jovem com o rosto sangrando estava sofrendo uma pequena convulsão. Fizemos a avaliação primária e, na medida em que surgiam problemas, tratávamos da melhor forma possível. Aquele paciente precisava de atendimento avançado urgentemente, em um centro de trauma, mas a polícia não arrefecia. Aproximou-se de mim um sujeito com o rosto tampado por uma camiseta. Ele descobriu parcialmente a face e me disse no ouvido que era policial e que pediria que não atirassem para que pudéssemos evacuar a vítima (penso ter visto esse autodeclarado policial perto de mim, quando eu tentava falar com um oficial, e depois correndo ao meu lado. Se for a mesma pessoa, ele era um dos exaltados que instavam à violência). Chegaram algumas pessoas com camiseta vermelha, na qual se lia “bombeiro civil”. Eles nos ajudaram a improvisar uma maca com um cavalete da empresa de transportes e faixas de manifestantes. Algum tempo depois, por coincidência ou não, os tiros pararam e fomos, com dificuldade, levando a vítima em direção do cordão policial. Minha mulher ficou na barreira.

Quando passamos a barreira, vi uma ambulância parada a uns 20 metros. Gritei para os que ajudavam para que fôssemos para ela. Todavia, para meu horror, a polícia não permitiu. Disse que aquela viatura era somente para policiais feridos. Tentei discutir, mas vi que seria improdutivo. Disse a um oficial, então, que conseguisse outra. Não tínhamos muito tempo. Colocamos a vítima no chão, imobilizando sua coluna cervical e iniciei a avaliação secundária. Na medida do possível, limpamos o rosto ensanguentado do jovem e realinhamos os membros fraturados. Pedi aos policiais que, pelo menos, trouxessem equipamentos da ambulância “deles” para imobilização e infusão. Recusaram-se.

Esperamos um bom tempo até que uma ambulância do resgate do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais chegasse. O veículo praticamente não tinha nenhum equipamento. Somente a prancha, talas, colar cervical e oxigênio para ser usado com máscara. “Soro” não havia. Transferimos e imobilizamos o paciente. Nesse tempo, tentávamos descobrir para onde levar a vítima. Respostas demoravam a chegar. Pensamos no Mineirão, bem próximo de nós, mas primeiro disseram que era para torcedores e depois que não dispunha de centro de trauma. Fomos para o Pronto Socorro de Venda Nova, Risoleta Neves. Lá uma colega assumiu o tratamento do ferido.

Entrei em contato com minha mulher e ela me disse havia se juntado a meu irmão, que dois outros haviam caído do viaduto e que havia vários feridos, mas que eles não estavam conseguindo mais atender.

Mais tarde, quando os reencontrei no metrô de Santa Efigênia eles me contaram uma história de terror. Depois de me deixar com a primeira vítima, minha mulher se identificou aos policiais e disse que queria passar também para me ajudar. A polícia não deixou e ameaçou atirar nela. Como as agressões reiniciaram logo depois, ela ficou presa entre bombas e pedras, até que conseguiu fugir e retomar a antiga posição para socorro, no meio da Antônio Carlos. Foi quando encontrou meu irmão. Logo depois, receberam um chamado, avisando que outro rapaz havia caído. A situação clínica desse paciente era muito pior do que a do anterior. Não interessa escandalizar ou ofender com detalhes médico-cirúrgicos. Relato somente que o quadro que os dois descrevem é gravíssimo. A vítima não reagia, estava em coma, mas respirava e o coração batia. Meu irmão, sabendo da primeira experiência, correu para os policiais, desta vez um outro cordão formado na Antônio Carlos, levantando as mãos, agitando uma camisa branca e gritando que havia um ferido morrendo. Os policiais, vários, apontaram-lhe armas e gritaram para que ele fosse embora. Quando ele tentou avançar um pouco mais, os tiros começaram e ele correu em direção de minha mulher para ajudá-la.

Ali, ao lado da vítima, perceberam que a polícia atirava neles. Relatam que já não havia ninguém próximo. Somente a vítima, ele e minha mulher de jaleco branco. Os tiros e as bombas de efeito moral e de gás vinham com um único endereço. O deles. Ficaram o quanto aguentaram; mais não puderam fazer. Desesperados, tiveram que abandonar o rapaz que morria e buscar refúgio.

Depois, tiveram a notícia de que um terceiro homem caíra do mesmo viaduto. A cavalaria já estava em ação e não havia como atravessar a avenida para socorrer essa terceira vítima. Quando cheguei em casa, alguns alunos relataram que socorreram um homem que caíra do viaduto (perece que foram quatro, no total). Quando a polícia passou, eles conseguiram chegar à vítima e ficar com ela até que o SAMU chegasse.

Algumas ideias ficam em minha cabeça. Quem já conviveu com militares sabe na maioria das vezes reconhecer um por sua forma de agir, andar, cortar o cabelo e de falar. Sem leviandade, acredito que vários dos provocadores eram militares infiltrados. Vi o homem de rosto coberto dizer ser policial e que pediria para que os policiais alinhados dessem uma trégua e nos deixassem passar. Isso aconteceu. Outra imagem simbólica foi ver a tropa de choque da Polícia Militar de Minas Gerais dentro de uma universidade federal (deveria ser um território livre e sagrado da paz, da inteligência e da cultura) fechada para os estudantes. Da universidade vinham bombas que machucavam a juventude. Já ampliando o horizonte, o Itamaraty em chamas, a bandeira de São Paulo queimando, o Congresso quebrado, um governador sitiado em sua casa. Há que se ler nos símbolos e nos fatos. Amplie-se mais esse horizonte. Não se vê que os métodos são os mesmos usados nas “primaveras” árabes, em Honduras, no Paraguai, no Equador, na Venezuela e que começa também a ser usado na Argentina?

Nada há de espontâneo no que está ocorrendo e não é à toa que os meios de comunicação têm promovido e estimulado a agressividade e a multiplicidade de slogans e bandeiras. Não é verdade que não haja líderes nessas manifestações. Os líderes estão nas sombras, colhendo os frutos das últimas tecnologias. São discretos. Quem sabe o que são o Instituto Millenium, o instituto Fernando Henrique Cardoso, o Council on Foreign Relations, a Trilateral Commission, o Carnegie Council? Preparam o Brasil para a guerra global idealizada pelos think tanks? É essa a forma de chegar aos recursos naturais do imenso território brasileiro sem a mínima resistência de governos mais progressistas? Incomoda o acordo com a Rússia para a compra e desenvolvimento de armas?

Uma certeza: querem atacar a democracia. Em vez de atacar partido, tome partido. Você está sendo manipulado. Pelo que vi e vivi é certo que querem jogar um cadáver no colo da presidenta Dilma.

*Professor de Medicina

Curso básico de Manipulação midiática, com traços de espontânea manifestação, no facebook. Parte 1

“No, I’m not going to the world cup” – A desconstrução de uma fraude

A brasileira (?) Carla Dauden teve seus 15 dias de fama virtual graças à realização de um vídeo de boicote à Copa do Mundo do Brasil. Veja o video e depois veja nossa análise, mais abaixo.
Sabem os profissionais da TV, da Publicidade, do Marketing, das Operações Psicológicas (Psy Ops), entre outros, que uma mensagem aumenta bastante seu potencial de convencimento se ela é transmitida de maneira atraente, por uma pessoa bonita, bem vestida e pertencente à mesma faixa etária do seu público-alvo.
Melhor ainda se essa pessoa tem voz agradável, expressa-se com aparente naturalidade, e parece compartilhar valores com quem pretende convencer. Ajuda bastante quando a mensagem vem de um país tido como mais evoluído porque a aura de superioridade se transfere para o conteúdo da fala.
Vamos ao vídeo.
1. O artifício de afirmação da autoridade de quem emite a mensagem.
Logo no início, Carla afirma: “Um dos motivos que me levou (sic) a fazer esse (sic) vídeo, (sic) é que toda vez que eu falo pra alguém que eu sou do Brasil, alguém do grupo diz que vai pra copa do mundo (sic)”.
Hum… isso é bom. Só que não.
Carla faz cara de zangada, olhando fixamente para o espectador durante alguns segundos, artifício emocional utilizado para estabelecer sua autoridade sobre o restante da mensagem. A intimidação visual é recurso clássico de submissão do adversário, no reino animal. Quando gorilas batem várias vezes no próprio peito, quando cães arreganham os dentes, quando o professor olha fixamente para o aluno, a reação do alvo é instintiva porque entra em jogo o instinto de proteção ou de sobrevivência.
carla
Quem gostaria de ser rejeitado por uma belezura dessas?
A relação entre intimidador e intimidado se dá no nível mais primitivo, biológico, do organismo. Nos seres humanos, esse nível corresponde às camadas mais arcaicas do nosso cérebro, o “cérebro ou complexo reptiliano”, ou a parte “animal” deste órgão.
O olhar fixo e intimidador (“uma ferramente muito poderosa de intimidação, mesmo em adultos”) é estudado em livros sobre as técnicas da influência e em sites de linguagem corporal.
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Como você reage a um olhar direto, silencioso e reprovador, mantido por vários segundos? Instintivamente, reconhece que a situação é perigosa e que ali está uma autoridade, um poder que não quer ou deve ser contrariado.
Qual é a imagem que se vê, parada, na apresentação imediata do vídeo?
Agora pense bem. Que coisa horrível, não? Alguém querer visitar o Brasil, gastar o seu dinheiro aqui, encantar-se com nosso povo e nossos costumes, vibrar com a Copa, voltar ao país natal e recomendar aos parentes, amigos e colegas que façam turismo em nossas terras…
2. A montagem das respostas à pergunta sobre a identidade social do Brasil.
A seguir, Carla afirma que foi às ruas entrevistar americanos para saber o que lhes vinha à mente quando pensavam sobre o Brasil. Repare nas pessoas consultadas por Carla.
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Seis pessoas. Com sinceridade, você vê nessas imagens algum americano típico? É possível, objetivamente, extrair uma média da opinião do norte-americano sobre o Brasil, a partir desses seis indivíduos? Assista novamente a esse trecho e perceba como ele poderia fazer parte, não de um vídeo sério, mas de um vídeo cômico.
A propósito, Carla, procure conhecer a falácia da amostra não representativa. Vai bater um “já vi isso antes”. Ou “já fiz isso antes”, melhor dizendo.
Repare também, leitor(a), como esses clichês de resposta combinam com a batucada que acompanhou o olhar intimidador de Carla. Esta técnica, também clássica, é chamada priming, e consiste na criação de uma predisposição psicológica. Ao associar nosso país à batucada do samba, no momento anterior, Carla tornou mais críveis as respostas selecionadas de seus entrevistados. Em literatura, a técnica denomina-se foreshadowing(“prenúncio”, ou antecipação de conteúdo).
Nesse trecho, Carla utilizou ainda uma das técnicas mais primárias de convencimento visual: a montagem de respostas cuidadosamente selecionadas, obtidas de uma amostra mínima de um todo. Se você já assistiu a algum programa eleitoral, sabe do que estou falando.
(Detalhe: ela é diretora de cinema e fotografia.)
Por que Carla não fez a mesma pergunta a seus colegas de estudo ou trabalho, mais bem informados que essa amostra “contaminada”? Por que não buscou americanos típicos na rua, em áreas de bom poder aquisitivo? Por que não entrevistou jovens universitários? Executivos? Mulheres modernas de meia-idade?
Porque a resposta seria diferente. Porque eles conhecem vários outros aspectos do nosso país, que não combinariam com a intenção da perguntadora.
Além disso, a pergunta de Carla foi capciosa. Todos nós, quando somos solicitados a dizer o que pensamos imediatamente sobre um grupo humano, tendemos a recuperar da memória os clichês, os chavões, sobre esse grupo. Faça o teste. Pense em “ingleses”. Agora “franceses”. Agora “muçulmanos”.
Percebeu?
3. As mentiras de Carla sobre o custo da Copa do Mundo.
Carla afirma, a seguir: “A copa do mundo (sic) vai custar aproximadamente 30 bilhões de dólares. Isto é mais do que 3 últimas copas (sic) somadas juntas (sic). Elas custaram juntas (sic) aproximadamente 25 bilhões de dólares”.
Em nossa moeda, 30 bilhões de dólares equivalem a mais de 60 bilhões de reais.
Tem Google aí nos Estados Unidos, Carla? Você sabe usá-lo? Não parece. Vai daqui uma ajudinha. Acesse o Portal da Transparência (dados monitorados pela Controladoria-Geral da União):
Logo na página inicial você verá este valor:
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Clique no menu à esquerda, em Ações e Empreendimentos, Por Tema. Você verá isto (clique para ampliar):
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Repare especialmente naquele zerinho na coluna Federal, em Estádios. Bela surpresa, não? Por que você não fez essa pesquisa básica?
Estão aí as despesas específicas e o total de gastos para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. De onde você tirou a quantia absurda de mais de 60 bilhões de reais?
E quanto ao custo das três últimas Copas do Mundo? A matéria do link a seguir, exemplo do jornalismo de futurologia, cita um estudo de 2011 que alertava para a possibilidade de um gasto de 40 bilhões de reais na Copa. Previsão furada. Mas ela tem a informação que você negou aos seus espectadores, Carla.
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As últimas três Copas, elas sim, custaram 30 bilhões de dólares (e não 25, como você afirmou), mais do que o dobro do custo previsto para a Copa do Mundo a ser realizada no Brasil.
Espero que você seja mais cuidadosa na produção dos seus filmes, do que prova ser no trato das informações financeiras dessa questão.
4. As mentiras de Carla sobre a situação social do Brasil.
“Agora me diga: em um país onde o analfabetismo (sic) pode atingir 21% e é (sic) em média 10%.”
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Como fica a sua credibilidade, Carla, ante mais esse dado falso (e artificialmente jogado para cima) sobre a realidade brasileira?
“Um país que é número 85 no ranking do desenvolvimento humano e onde 13 milhões de pessoas passam fome todo dia, e onde muitas e muitas pessoas morrem esperando por tratamento médico. Esse país precisa de mais estádios?”
Como está a tendência no Brasil?
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E nos Estados Unidos?
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Como vai a questão da fome, aqui?
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Você não me parece uma pessoa muito dada a buscar a verdade completa dos fatos, Carla.
Conhece um país onde mais gente passa fome do que no Brasil?
“Fome nos Estados Unidos é tema de documentário”
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Para ilustrar a situação brasileira quanto à Saúde, Carla apresenta um vídeo de uma médica revoltada com os políticos, por causa do excesso de pacientes e da falta de pessoal.
O Brasil é um dos poucos países do mundo que dá cobertura total a todos os seus cidadãos, através do Sistema Único de Saúde (SUS). O governo federal entra com a verba, e os municípios cuidam de sua aplicação. São 136 bilhões de reais aplicados somente no SUS, a cada ano.
Vamos comparar?
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Relato de um brasileiro, no mesmo site:
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Este relato é de uma brasileira que mora nos EUA, assim como você. Mas ela parece ser mais consciente da situação real.
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Quer mais?
“Cerca de 50 milhões de pessoas não são assistidas por nenhum seguro-saúde nos EUA, um país com uma população total de mais 310 milhões, segundo os últimos registros americanos.”
“O sistema de saúde dos EUA é o mais caro do mundo e 31° melhor em cobertura e assistência à população, segundo a Organização pela Cooperação Econômica e Desenvolvimento, a OECD.”
O Brasil tem cobertura total. Ver apenas o lado negativo das situações, sem contextualizá-las e sem comparar com os dados de outros países, denota intenção prévia de depreciação.
Duvido que você usasse esses dados para falar contra uma Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos.
Falaremos mais das verbas para a Saúde, adiante.
5. A falácia do espantalho.
“Alguns políticos argumentam que a copa do mundo (sic) é o incentivo que (sic) o nosso país precisava para ficar melhor. Espera aí, o quê? Então a gente tem pagado (sic) impostos todos esses anos… Pra que(sic)? Que país precisa de um incentivo para cuidar das suas pessoas? De repente, há todo esse dinheiro pra construir estádios e a população é levada a crer que a copa do mundo (sic) é a mudança que (sic) eles tanto precisavam pra vida deles ficar melhor.”
Que políticos, Carla? Repare que você apresenta o argumento e depois baseia sua crítica inteiramente nele, numa espécie de ouvi-dizer-e-não-gostei.
Sabe como se chama essa técnica? A falácia do espantalho. Atribui-se um argumento falso (e frágil) ao adversário (“a Copa do Mundo é o  incentivo que (sic) o nosso país precisa para ficar melhor”), e depois, com facilidade, ataca-se o argumento. Repare como você repete duas vezes o verbo “precisar”, para estabelecer essa falsa conexão.
Ninguém fez nenhuma associação entre a Copa do Mundo e a melhoria geral de vida do brasileiro. Pelo contrário, a própria conquista desse direito (sediar a Copa do Mundo) foi vista como um resultado da melhor situação do país, nacional e internacionalmente, à época da escolha. E os investimentos nacionais e estrangeiros no evento, somados ao dinheiro trazido pelos turistas, foram vistos como um fator impulsionador, a mais, desse desenvolvimento.
A propósito, esta é mais uma falácia, Carla: tomar o efeito pela causa. Google nela.
6. As mentiras de Carla sobre o faturamento da Fifa e sobre o benefício indireto da Copa.
“Mas a verdade é que a maior parte do dinheiro gerada pelos jogos e estádios vai direto para a FIFA. E nós nem vemos esse dinheiro.”
Até para as mentiras há limite, Carla. A menos que você queira ser vista como uma mitômana (para quem não sabe, “mitômano” é alguém que tem a compulsão de mentir). Você realmente procurou saber, antes de afirmar? Pesquisou o montante dos lucros da Fifa, para compará-lo com o retorno obtido pelo país-sede?
Sabe quanto a Fifa lucrou com a Copa do Mundo disputada na África do Sul? 5 bilhões de reais. Isso. Veja aqui (e não se pode dizer que é uma notícia favorável ao Brasil).
Vamos fazer um cálculo? Segundo estudo conjunto da Fundação Getúlio Vargas e da firma Ernst & Young…
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A Fifa leva 5 bilhões, nós levamos 142 bilhões. É jogo ou não é? Quem leva a melhor?
Mais:
“E o dinheiro que vem de turistas e investidores vai direto para as mãos daqueles que já têm dinheiro. Então sim, talvez aquele homem vendendo sorvete na praia vai ter uma semana boa, mas o evento vai mesmo mudar a vida dele?”
De novo, aquele olhar de menina superior e má, enquanto o som da batucada indica os destinatários do desprezo explícito.
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Leu o subtítulo da manchete acima, Carla? “Serão gerados 3,63 milhões de empregos.” Acho que você viu fotos, por exemplo, dos trabalhadores construindo os estádios, não viu?
Todos os benefícios indiretos da Copa, para a população, são reduzidos por você a um benefício temporário para “aquele homem vendendo sorvete na praia”. Ele, o único beneficiário brasileiro da Copa do Mundo (além dos figurões). Preciso apontar o erro lógico? Uma dica: digite “apelo ao ridículo” no Google.
Agora pense na ocupação de apartamentos, hotéis, motéis, pensões. Soube do aumento no valor do aluguel? Pense nos gastos dos turistas com os taxistas e também nos restaurantes, nos bares, nas casas de shows, nos pontos turísticos. Pense nas viagens que os turistas farão para várias cidades do Brasil. Pense nos produtos que consumirão aqui e nos serviços de que precisarão durante a estada. Sabe como se movimenta uma economia, Carla? Com dinheiro circulando.
De novo: “mas o evento vai mesmo mudar a vida dele?”. Reparou na sua exigência absurda? Você aceitaria melhorar um pouco a sua vida, em vez de mudá-la totalmente? Quem não aceitaria?
Digite “exigência de perfeição” no Google, e você achará mais uma falácia… no seu vídeo. Em síntese: se não muda por completo a vida dessa pessoa, não serve.
Outro ponto importante. Nem tudo é dinheiro na vida. Provavelmente seus avós conviveram com o trauma do Maracanazo, em 1950. Seus pais, com a lembrança dolorosa desse fato. Sua geração, com a esperança de um dia “espantar esse fantasma”. É tão vergonhoso assim eliminar um trauma cultural? Você não gostaria de dar essa satisfação a seus parentes? Pinta um pouquinho de solidariedade brasileira no seu coração, quando pensa nisso?
E a festa do povo, Carla? E a projeção internacional do país? Veja isto, um indício do que acontecerá na Copa:
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Você já se americanizou tanto, Carla, a ponto de achar que só o dinheiro tem valor nesta vida? Tudo é uma contabilidade? Money?
7. As mentiras de Carla sobre as UPPs.
“As UPPs, unidades de polícia pacificadora, estão agora entrando (sic) nas favelas e removendo criminais (sic). Agora, pra onde vocês acham que eles estão levando esses criminais (sic) e por quanto tempo eles estarão (sic) afastados? No Brasil, isso se chama botar a sujeira debaixo do tapete. É uma solução temporária pra um problema muito mais profundo”.
Percebe a imagem que você passa do nosso país, ao falar essas mentiras num vídeo, em inglês? “Agora, pra onde vocês acham que eles estão levando esses criminais (sic) e por quanto tempo eles estarão afastados?” Lugar de criminoso é na prisão, Carla, e eles ficam lá o tempo necessário para pagar a pena, segundo a lei.
Vá numa comunidade pacificada. Faça esse discurso negativista. Critique as UPPs. Diga que é uma “solução temporária”. E tenha a coragem de ouvir a reação das pessoas livres das quadrilhas de criminosos.
São 34 UPPs instaladas somente no Rio de Janeiro. Mais 40 delas até 2014.
O resultado?
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Com as UPPs chegam os serviços básicos, abrem-se lojas, bancos instalam-se pela primeira vez nessas comunidades, criam-se pontos turísticos (já viu as fotos de celebridades estrangeiras visitando esses lugares?), elimina-se o problema da Gatonet e dos gatos de luz, a vida social se civiliza (leia as matérias).
Cidadania ainda diz alguma coisa para você, Carla?
8. A associação maldosa da alma nacional com a criminalidade.
Dessa parte eu tenho até vergonha. Mas vamos lá.
“Ainda mais. O que você acha que vem com samba, festa e dança?”
Como brasileiro, vou tentar responder. Consigo pensar em alegria, congraçamento, companheirismo, papo alegre, piadas e gozações, cerveja, azaração (as mulheres brasileiras são bonitas — você é bonita por ser brasileira, não esqueça), e tantas outras atividades que combinam com a natureza alegre e festiva do brasileiro e que fazem nosso povo ser apreciado pelos estrangeiros. Aliás, em nossas festas sempre cabe mais um, e eles, em especial, são bem recebidos.
Agora você responde:
“Drogas.”
O quê?!
“E de onde você acha que essas drogas vêm? Adivinha. Os criminais (sic) não podem ficar muito longe.”
Por essa eu não esperava. Você associa “samba, festa e dança” a… drogas? Traficantes? Criminosos? Sempre?
E, vem cá, não dá para perceber um pouquinho de preconceito social nessa sua associação, Carla? Você não consegue imaginar um ambiente festivo epopular no Brasil sem drogas e sem crimes, é isso?
Procure conhecer mais sobre a falácia denominada “apelo a preconceitos”. Dê um google.
Depois resolva esse problema com a sua consciência moral. Continuemos.
9. As mentiras de Carla sobre as desapropriações.
“Tem mais. Muitas pessoas estão sendo expulsas das suas casas para dar espaço (sic) às Olimpíadas e à copa do mundo (sic), contra a vontade delas (sic). As casas estão simplesmente sendo marcadas todos os dias (sic) e sendo destruídas. É assim que está sendo feito. Essas pessoas não recebem segurança (sic), dinheiro, ou qualquer garantia, elas são simplesmente expulsas.”
Mais mentiras, Carla. Veja bem o que você escreveu: “Essas pessoas não recebem segurança (sic), dinheiro, ou qualquer garantia, elas são simplesmente expulsas“.
Jura que você pesquisou e procurou se informar? Jura que foi responsável ao divulgar essa informação para todo o mundo, falando em inglês? Se jurar, é falsa.
Há alguns problemas com as desapropriações, sim, mas em todas os cidadãos afetados recebem indenização pelo valor de mercado. Quando há conflito, o Ministério Público Federal entra em ação para defender os moradores. Bem longe, portanto, da situação de terra de ninguém que você sugere com sua descrição.
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A prefeitura fornece assistência associal às pessoas desalojadas, visando a sua adaptação ao novo lar.
Algumas desapropriações estão sendo negociadas na Justiça desde 2009.
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É absurdo espalhar irresponsavelmente para o mundo que elas são simplesmente expulsas, como se imperasse a barbárie no Brasil. Pega-se um monte de gente, despeja-se num lugar qualquer, e estamos conversados. Muitos espectadores estrangeiros do seu vídeo podem agir de forma tão irresponsável quanto você, passando adiante essa informação falsa sem procurar checar sua validade.
Nem preciso dizer que considerar alguns casos (ou seja, a exceção) como o procedimento padrão (ou seja, a regra), é um erro lógico primário.
10. O caso do Museu do Índio, no Rio.
“Índios brasileiros foram também expulsos do lugar que costumava (sic) ser a casa deles e o centro cultural indígena.
“Eles tentaram protestar, mas foram covardemente feridos por policiais com bombas, sprays de pimenta entre outras coisas (sic).
“Agora o centro cultural indígena vai ser transformado no museu do comitê olímpico (sic).
“Que tipo de democracia é essa?”
Mais uma encarada com a carinha zangada.
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Decididamente, falta apego à verdade em seus relatos, Carla. Nem mesmo a amadora Wikipédia você consulta antes de expor fatos distorcidos.