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sábado, 7 de setembro de 2019

O eterno fascismo: entenda suas bases estruturantes e conheça alguns antídotos, por Carlos Russo Jr.



O populismo qualitativo hoje é disseminado pela mídia e pelas redes sociais, locais onde a resposta e a participação de um grupo selecionado de manipuladores ao estilo Goebbels  podem ser apresentadas e aceitas falsamente como “a voz do povo”.


do Espaço Literário Marcel Proust

O eterno fascismo: bases estruturantes e antídotos

por Carlos Russo Jr.

Umberto Eco surpreende-nos ao dizer que aspectos fascistas podem ser encontrados desde a Grécia Antiga. Que no decorrer da História da humanidade, quer sob a forma imperialista ou nacional, trajando roupagem militar ou civil, o fascismo nos ronda permanentemente. Também conclama ser nosso dever, enquanto homens livres, de desmascarar o fascismo e apontar sempre o dedo em riste para cada uma de suas formas, em qualquer lugar onde apelos fascistas surjam à luz do dia. E, nesse sentido, a liberdade e liberação transformam-se em tarefas diuturnas, das quais não poderemos descurar sob a pena do avanço da barbárie.
Eco avança na análise dos diversos formatos e manifestações fascistas que, de tão antigas, criaram seus próprios arquétipos, impregnando-se nas mais diferentes estruturas sociais. Lista-nos quatorze arquétipos fascistas:
1. O culto da tradição como uma das bases do fascismo: O tradicionalismo, ainda mais velho que o fascismo, possui como paradigma que todas as mensagens originais contêm pelo menos um germe de sabedoria, um quê de alguma “verdade” dita primitiva. Com isso ele visa claramente estabelecer uma impossibilidade para avanços no saber! A verdade já foi anunciada de uma vez por todas e somente nos restaria continuar a interpretar sua obscura mensagem.
De todo modo, ao cultuar a tradição o fascismo o realiza de uma maneira sincrética. Apanha conceitos de doutrinas e ideologias diferentes, municiando-se da artificialidade dessa reunião de doutrinas mesmo que teoricamente incongruentes entre si. Logo, é inerente ao fascismo tolerar contradições que são intrínsecas a cada momento histórico em que ele se apresenta.
2. O tradicionalismo como recusa da modernidade: Se por um lado os fascistas adoram a tecnologia, por outro, o seu elogio da modernidade não passa de coisificação, dado que são adoradores de máquinas, não de ideias. No século XX, a recusa do modernismo camuflou-se com a condenação do modo de vida capitalista (Mussolini, na Itália). Acontece que esta condenação era tão somente uma roupagem, urdida em conjunto com os grandes capitalistas, já que se tratava de afastar o “fantasma” do comunismo.
O fascista do século XXI opõe-se até mesmo ao iluminismo e à idade da razão, vistos como pontos de partida para a “depravação” moderna. Por este caminho, o arquétipo fascista esteia-se no irracionalismo.
3. Culto da ação pela ação: Trata-se de um fruto necessário do irracionalismo. A ação torna-se bela em si e deve ser realizada sem qualquer reflexão. O fascismo de ontem, de hoje e de sempre odeia “a cultura”, dado ser ela em si uma atitude de crítica. A suspeita em relação ao mundo intelectual sempre foi e será um sintoma do fascismo.
4. O banimento da crítica: Na medida em que o espírito crítico opera distinções e distinguir é sinal da modernidade, para o fascismo a crítica é sempre lida como desacordo ou traição, não importa o partido político em que o viés fascista se manifeste.
5. A diversidade: Quando o fascismo cresce, ele busca o consenso desfrutando, exacerbando o natural medo da diferença. Logo, é essência do mesmo a xenofobia, a piores demonstrações de racismo, a fobia pelos excluídos sociais.
6. O eterno fascismo provém da frustração individual ou social. Característica dos fascismos na história tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por crises econômicas, pela humilhação política, pela falta de representatividade de seus agentes (os políticos), assustadas pela pressão de grupos sociais inferiores. E essa ampla classe média consisti e consistirá na maioria do auditório fascista.
7. Para aqueles que se sentem privados de qualquer identidade social, o fascismo lhes diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: terem nascido em um mesmo País. Esta é precisamente a origem do “nacionalismo”. O fascismo carrega o viés de que os únicos agentes que podem conferir autenticidade ao “nacional” serão os inimigos da nacionalidade, sejam eles internos ou externos. Daí a obsessão pelo complô, pelo golpe, pelas invasões de outros países, pelas guerras.
Para levar os “nacionalistas” aos extremos, os defensores do fascismo precisam se sentir sitiados e o modo mais rasteiro e facilmente sentido são novamente, a xenofobia e o racismo.
8Se os adeptos do fascismo sentirem-se humilhados pela riqueza ostensiva ou pela força do inimigo, a doutrina do “faccio” leva-o a supor que pode vencê-lo. É por isso que, os regimes fascistas se fortalecem com a visão de que os inimigos, quer os internos, quer os externos, sejam ao mesmo tempo, fortes e fracos demais.
9. Para o eterno fascismo não há luta pela vida, mas, sim, vida pela luta. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo, a vida uma guerra permanente.
10. O elitismo é típico de qualquer ideologia reacionária. No curso da história, todo elitismo aristocrático ou militarista implicou em desprezo pelos fracos. O fascismo prega um “elitismo tipo popular”. Logo, todos os cidadãos pertencem ao melhor dos povos, os membros dos partidos, são os melhores cidadãos. E todo cidadão deve pertencer ao partido do líder.
Embora o líder fascista saiba que seu poder não foi obtido por delegação mas conquistado pela pressão, por fraude e pela força, ele sabe igualmente que sua força se baseia na debilidade das massas populares, tão fracas que têm necessidade e merecem um dominador.
Por isso, ao se organizar o fascismo cria estruturas em que um líder despreza seus subordinados, do mesmo modo em que cada subordinado é desprezado pelo chefe. Isto reforça o “elitismo de massa.”
11. Cada membro de uma organização fascista é educado para tornar-se um “mito”um “herói”, um ser exemplar. No fascismo de sempre, o heroísmo é norma, na justa medida em que este culto se liga a outro: o da morte! O fascista espera, impacientemente, sua própria morte e enquanto esta não chega ele assassina e estimula o assassinato “banal” de outros mortais.
12. Como tanto a guerra permanente quanto o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o fascista deriva a sua vontade de poder para jogos sexuais. Aí estão as origem do machismo, da intolerância para com os homossexuais, a base de uma “cultura” de estupro e instrumentalização dos seres imediatamente inferiores ao macho: a mulher.
13. O populismo qualitativo: No populismo qualitativo, os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e o “povo” é concebido como uma entidade de personalidade monolítica, que somente expressa uma vontade comum a qual tem em seu líder o único intérprete.
E os cidadãos, tendo perdido o poder de delegar não agem mais, sendo chamados exclusivamente para assumirem o papel de “povo de massa”. O populismo qualitativo hoje é disseminado pela mídia e pelas redes sociais, locais onde a resposta e a participação de um grupo selecionado de manipuladores podem ser apresentadas e aceitas como “a voz do povo”.
O fascismo, em virtude de seu “populismo qualitativo” opõe-se aos “pútridos partidos parlamentares”. Por isso, cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade democrática, pode-se sentir nele o cheiro do fascismo.
14. A utilização de uma linguagem empobrecida: O fascismo fala sempre uma nova língua, língua onde o léxico é pobre, a sintaxe elementar, tudo é simplificado e “popular”, um excelente instrumento voltado a limitar o surgimento de qualquer tipo de raciocínio complexo ou crítico.
Antídotos antifascistas:
Listar alguns antídotos contra o eterno fascismo não é difícil. Torná-los prática política, educacional, constitutiva de uma sociedade, estas são as questões cruciais.
Um desses contravenenos, talvez o mais importante, seria o pensamento crítico, a reflexão sobre o próprio pensar, a formatação de um pensamento modesto e, finalmente, a popularização do pensar filosófico, por si só questionador.
Buscar a razão sempre, dado que o problema da irreflexão é que aqueles que se conduzem por códigos e regras são os primeiros a aderir e a obedecer, o caso da maior parte de forças militares, paramilitares e policiais. Aquele que não pensa por si mesmo possui um eu que não fundou raízes, é um ninguém. São seres humanos que se recusam a serem pessoas.
No entender de Jaspers, ser ninguém é pior que ser mau; esse ser ninguém se revela inadequado para o relacionamento com os outros, porque os bons e os maus são, no mínimo, pessoas. É isto que faz da banalidade do mal, do fascismo, o pior dos males: espalha-se rapidamente sem necessidade de qualquer ideologia, ou apesar de qualquer que seja o viés ideológico.
Finalmente, resta-nos A REVOLTA. Voltaremos a ela na próxima postagem.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Da Lava-Jato a Bolsonaro: a barbárie a serviço do Império Norte-Americano, por Alexandre Tambelli



O Império quer tirar até o último respiro de vida em sociedade da gente. E Bolsonaro cria o clima de divisão social extremo, de cizânia entre brasileiros, pró-radicalismo religioso, de costumes e de violência estatal e até miliciana


Do Jornal GGN:



Foto El País

Da Lava-Jato a Bolsonaro: a barbárie a serviço do Império Norte-Americano

por Alexandre Tambelli

Bolsonaro é o personagem ideal de uma engrenagem que quer manter o controle do Capitalismo brasileiro na direção dos interesses do Imperialismo Norte-Americano.
Foi o Imperialismo quem produziu o caos brasileiro e elegeu Bolsonaro via Lava-Jato.
A Globo era Wall Street, portanto, Hillary e não Trump, mas há uma hierarquia no comando dessa engrenagem, não aceitar Lula e o PT de nenhum jeito, porque ele fez um processo revolucionário dentro do Capitalismo e que iria desembocar no abalo do Imperialismo e de Wall Street no comando da engrenagem em um futuro não muito distante. Trump venceu e o Brasil teve que se adaptar não só à subserviência econômica e social, mas à extrema-direita e seu reacionarismo nos costumes e na religião.
Bolsonaro foi posto na disputa pelo Imperialismo, porque ele destrói os alicerces civilizatórios e quaisquer impulsos competitivos do Brasil na América sem nenhuma cerimônia e com a sabujice de ser mais Trump que o próprio Trump.
Antes de Bolsonaro, já haviam destruído a política institucional, a sociabilidade e autoestima dos brasileiros com a Lava-Jato e o Golpe, e precisavam destruir outros alicerces civilizatórios como a Educação, os movimentos sociais, a Cultura em suas diferentes facetas e, assim, impedir qualquer processo revolucionário produtivo e lúcido de defesa do Brasil diante do Império.
Bolsonaro, um homem de pouca Cultura e invejoso do conhecimento alheio e cheio de preconceitos, bobalhão e machista se tornou a aposta ideal, um homem de radical intransigência com o diferente, sem noção de civilidade e bons modos e despreparado para relações interpessoais. Acabou sendo um perfeito títere dos interesses do Imperialismo e de Trump e da extrema-direita mundial. O Slogan: – Estados Unidos acima de tudo, no meio social dele, deve ser comum, ainda mais pelo belicismo e culto às armas no Império do Norte.
Com o fim do projeto ultra neoliberal, via PSDB, através da Internet e o “suposto” combate à corrupção capitaneado por “Sérgio Moro”, que o desnudou, claro que não intencionalmente, e com Temer no Poder e o crescente desemprego e desmantelamento do Estado e pífio crescimento econômico, acabou o monopólio do discurso, fabricado pela velha mídia oligopólica com o Lawfare e as Fakenews diários contra o PT, Lula e Dilma, de corrupção e incapacidade de governar ser exclusividade do PT, afinal, todas as siglas partidárias ficaram associadas à corrupção, ao desemprego e incompetência para governar no seio da sociedade, contemplada a imagem negativa da Política e dos políticos pela maioria dos brasileiros, ligados às fontes jornalísticas exclusivas da Velha Mídia capitaneadas pela Globo e Revista Veja ou da Extrema-Direita virtual via o Antagonista e a rádio Jovem Pan, expandida com sucesso para a plataforma virtual da Internet; sem contar a força dos pastores das Igrejas evangélicas neopentecostais eletrônicas e padres e comunidades católicas conservadoras e Bolsonaro surgiu como o “antissistema”, o que iria consertar o Brasil dessa praga chamada políticos tradicionais, afinal, tudo era culpa dos políticos e não do projeto Imperialista para o Brasil.
Imaginemos um país em que o seu povo acredita piamente que acabando a corrupção viramos uma Dinamarca. Este país não está preparado para as grandes ambições, mas está preparado para Bolsonaro.
Bolsonaro: um anti político. Um anti PT. Um “antissistema”. Um “caçador de corruptos”. Um candidato do marketing pró “Família e o Deus Cristão”.
Como a Lava-Jato havia criado uma estrutura vertical de Justiça, organizada em torno dela e com garras passando por MP do Paraná, 13° vara da PF de Curitiba, Polícia Federal do PR, TRF4, STJ, PGR e STF para prender Lula e impossibilitá-lo de disputar a Eleição, de sequer abrir a boca para contrapor o discurso Oficial da Lava-Jato e juntar forças para vencer a engrenagem, impedindo de o PT, depois de 2 anos e meio do Golpe voltar ao Poder Central, e tendo os partidos da direita e políticos desacreditados para além de Lula, venceu Bolsonaro, o “antissistema”, candidato que na Eleição desbancou até o PSDB com Alckmin na preferência do Império e de Wall Street. Extrema-direita com Bolsonaro que garantiu apoio de Wall Street se associando radicalmente ao Mercado via Paulo Guedes.
Inicialmente, o candidato da engrenagem era Alckmin, mas sem crescer nas pesquisas eleitorais e para Haddad não perigar de vencer, ele assistiu seu partido ser atacado de frente, também, pela Lava-Jato, que prendeu até Governador do partido no período eleitoral. A Lava-Jato precisou mudar para a extrema-direita com Bolsonaro para o PT não vencer.
O Império com Bolsonaro está atrasando o inexorável destino de potência do Brasil, e, dentro desse jogo da nova bipolaridade mundial: EUA X China/Rússia, onde o Brasil se aliou com Lula e Dilma a este campo, menos impositivo e mais solidário na Globalização.
O Brasil foi sabotado por dentro, corrompida parte das mentes e dos personagens da Justiça brasileira, castas socialmente conservadoras e excludentes e preconceituosas; e como não temos uma Elite e nem classes médias e médio-altas cultas e capacitadas em quantidade para entender o que é o Capitalismo, a Geopolítica e suas nuances imperialistas e de Wall Street ficou fácil o domínio do Brasil por forças externas ligadas aos interesses do Império e do “Mercado”. E ao invés dessa gente, que se uniu em torno do Impeachment nas ruas e varandas gourmets, virar globalizada, se refestelar nas compras de enxoval em Nova Iorque e de passear na Disney e Miami, ela está sendo destruída e se proletarizando para jamais encontrar identidade com o nacional. Parcelas sociais inteiras que tiveram sua fonte de informação e notícia associada à Globo e Veja e similares, à-serviço do Império por décadas, ao menos desde o término da 2ª Guerra Mundial.
Lembrando que ao formar uma casta salarial dentro do funcionalismo público: a da Justiça, nos mandatos petistas, a nossa sociedade criou uma pequena elite estatal, a que produziu a estrutura vertical da Justiça que abalroou Lula.
Veio do antipetismo esta Justiça, das classes médias e médio-altas tradicionais e seus preconceitos para com os pobres e o medo da ascensão social dos de baixo na Era Lula/Dilma. Eles que tinham a capacidade de passar nos concursos da Magistratura pelo tempo livre para estudar, ambiente familiar propício para desenvolvimento físico, leitura e formação intelectual nas melhores escolas do país.
A Magistratura passou a ser um serviço de rentabilidade enorme, com salários muito acima da média, e com pouco tempo de Profissão, advogados na Magistratura já têm renda mensal que um Advogado pode levar 30 anos para auferir na iniciativa privada. Deixou-se de praticar a Justiça, de se dedicar à Magistratura por vocação e se produziu em escala, um Judiciário de classe, de individualismo extremo e aculturado pela lógica do Sucesso e da fama.
Então, ao misturar Justiça com salário, sucesso, fama, mídia e reconhecimento internacional de órgãos do Departamento de Estado dos EUA no combate à corrupção a Lava-Jato e seu Chefe Moro se justifica e pôde nos levar até Bolsonaro, o antipetismo elevado à enésima potência. A Justiça parcial feita por quem desde sempre pertence aos 20% de incluídos socialmente numa sociedade de casta como a brasileira.
E hoje, dentro deste processo de construção da Lava-Jato em benefício dos Estados Unidos, estamos sendo ideologizados ao ponto de nos fomentar interiormente o desejo de fugir daqui, de desistir da Luta, para criarmos um niilismo absoluto e que nos faz abandonar qualquer sentido coletivo e de busca por outro Brasil. É a barbárie. E parcelas inteiras das classes médias e médio-altas tradicionais exacerbam o conceito de individualismo e descaso para com o país e o desemprego gigante fortalece o empreendedorismo desorientado dos mais pobres num “salve-se quem puder”.
Neste caos programado de fora do país e executado de dentro, por brasileiros, a Lava-Jato com seu resultado, Bolsonaro, criam um país sem espaços de conhecimento, produção de Ciência & Tecnologia e Engenharia e Indústria de Ponta e ficamos estagnados na economia, sem contar a incapacidade de consciência do que acontece e sem meios de ação, por ampla maioria da sociedade brasileira, alienada por décadas por uma mídia oligopolizada, como já disse anteriormente, e à-serviço dos interesses do Império, do “mercado” e das grandes potências.
Lava-Jato, Operação em declínio, após o The Intercept começar a desnudá-la via reportagens contendo conversas e áudios e documentos privados dos procuradores, Moro e outros personagens da Operação. Declínio que não se traduz em freio das suas intenções de destruição da nossa economia, capacidade produtiva, Educação, Ciência & Tecnologia, Cultura: em suas diferentes formas de manifestação, dos movimentos sociais e esquerdas em geral.
O Império quer tirar até o último respiro de vida em sociedade da gente. E Bolsonaro cria o clima de divisão social extremo, de cizânia entre brasileiros, pró-radicalismo religioso, de costumes e de violência estatal e até miliciana para consertar o caos, que ele próprio e a engrenagem produzem X o processo civilizatório, sem o Poder Central nas mãos.
Processo civilizatório que a Elite Nacional e a Velha Mídia capitaneada pela Globo não apoiam, porque se sustentam na lógica ultra neoliberal e precisam garantir a todo custo uma reforma da previdência e após a tributária, hierarquicamente, mais necessários que o Brasil civilizado. Preferem o caos absoluto, contanto que a economia seja a mais canibal das economias contra o povo brasileiro e não corram o perigo de entregar o Poder de volta à centro-esquerda com um Impeachment.
E Bolsonaro é o bárbaro exato para a gente se digladiar entre si e se comer como se estivéssemos na pré-história e fôssemos canibais, alimentada, para sempre, a fome insaciável dos já empanturrados de dinheiro e Poder: Imperialismo e Wall Street.


quarta-feira, 3 de julho de 2019

A mídia tendenciosa e a maldição da Lava Jato, por Luis Nassif


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Do GGN:
Primeiro, incutiram o ódio. Foram anos e anos de campanha negativa, criminalizando todos os atos, criando versões conspiratórias de todas as políticas.
Depois, trataram de jogar a autoestima brasileira no seu nível mais baixo, naquele que deveria ser o momento mais alto de celebração nacional, uma Copa do Mundo.
Antes disso, tinham levado a disputa política para outro campo, o da Justiça, embriagando o Ministério Público com o porre da celebrização, transformando jovens imaturos em heróis nacionais, entregando o poder a um juiz ambicioso, inescrupuloso até a medula, e pressionando um Supremo temeroso a ponto de esquecer de suas obrigações constitucionais.
Depois, convocaram as multidões para as ruas, bradando discursos de ódio. Cometeram, contra si próprios, a pior das autoimolações: desacreditaram a essência do seu trabalho, as informações, os conceitos, os pactos que regem sociedades civilizadas, a própria Constituição e as leis, valores que legitimavam sua missão em ambientes democráticos.
Apelaram para fakenewssem fim, as invasões das FARCs, os dólares em garrafas de rum, os lobistas com narrativas improváveis. Aliaram-se a organizações criminosas, como a de Carlinhos Cachoeira, montaram parcerias com grampeadores e procuradores inescrupulosos. E recorreram ao jogo recorrente de manipulação da informação, juntando informações verdadeiras – o vasto e histórico esquema de corrupção política que existia -, como âncora para toda sorte de teorias conspiratórias e de ataques seletivos aos adversários. Ao usar a corrupção como instrumento político seletivo, foram corruptos, e eles sabem disso. Esse é o drama.
E os céus amaldiçoaram a mídia e os que implantaram o terror, o ódio fratricida e abriram as jaulas para a selvageria, julgando que, com o chicote e as cenouras, com os quais influenciavam o país institucional, manteriam o país selvagem sob controle.
Os bárbaros ajudaram a trucidar o governo deposto e não mais pararam. Primeiro, tomaram da mídia o controle sobre as informações, com suas redes de WhatsApps, e estratégias de viralização montadas por consultores internacionais, muito mais eficientes.
Criaram seu próprio público, cortando o cordão umbilical com a mídia, se apropriando do discurso de ódio com muito mais propriedade do que a geração inicial de cronistas do ódio, uma mescla de cronistas culturais, novos e velhos jornalistas tentando se reciclar, atendendo à demanda da mídia, visando atrair e instrumentalizar o sentimento de ultradireita que emergia globalmente. Com todas as regras civilizatórias e sociais revogadas, os almofadinhas da mídia, que fingiam falar duro, os cronistas-ternura que ocuparam a demanda por discursos de ódio foram rapidamente destronados por bestas-feras autênticos, daqueles que coçam o saco, arrotam em público, batem em velhinhas vestidas de vermelho.
Finalmente, os hunos conquistaram o poder político, elegendo um capitão da reserva, deputado baixo clero, com vinculações claras com as milícias e um ódio visceral à mídia. Só aí caiu a ficha da mídia, de que seu poder derivava diretamente da democracia, do respeito às regras do jogo, da credibilidade das informações e, especialmente, das narrativas. Ao colocar em xeque as instituições, expunha-se a si própria a qualquer autoritário de plantão. E, especialmente, perdia o controle para outros praticantes de fakenews e de teorias conspiratórias, desses que acreditavam que o Jornal Nacional e a Veja eram instrumentos das esquerdas.
Ali, rompeu-se o pacto com Satanás e o jornalismo tentou o duro regresso, a recuperação dos valores jornalísticos, a defesa, ainda que tímida, de bandeiras legitimadoras. Colunistas foram liberados, então, para criticar Bolsonaro e se concentrar na defesa de temas sociais, de meio ambiente, retomando a crítica à ditadura, mas poupando a Lava Jato. Os jovens jornalistas foram apresentados a uma biografia repaginada dos seus ídolos, da qual foi apagada não a história passada, mas a história recentíssima. E poupando a Lava Jato.
Mas o passado recente sempre voltava para atormentar e ele atendia pelo nome de Sérgio Moro e da Lava Jato.
Como justificar, para seu público, que tudo não passou de uma enorme armação, na qual a bandeira legítima do combate à corrupção serviu de escada para golpes políticos, onde o prêmio final foi o cargo de Ministro da Justiça conferido ao campeão da moralidade?
Teve início, então, um malabarismo de Houdini: criticar Bolsonaro e poupar Moro, como se ambos não fossem da mesma natureza, disputando o mesmo projeto de poder autoritário.
Não escaparam da maldição que acompanha todos os que brincam com a democracia. Arrumaram álibis para a nomeação do seu campeão para Ministro da Justiça. Ele seria a âncora de racionalidade do governo, o que não permitiria que o arbítrio se fizesse ao largo das leis.
Calaram-se quando o campeão passou a aceitar todas as irracionalidades do seu padrinho presidente, em uma subserviência chocante, especialmente se confrontada com o estilo anterior, do juiz implacável, inclemente, que executava adversários feridos no campo de batalha.
Depois, quando alvo de ataques, o campeão se encaixou debaixo da asa protetora do seu presidente, que o exibiu como um troféu em jogos de futebol, mostrando que, agora, ele havia se tornado o avalista da âncora. E ainda balbuciou palavras de agradecimento à confiança, não da opinião pública, não da mídia, mas a confiança que lhe foi depositada por Bolsonaro. E se agarrou ao que imaginou ser sua boia de salvação, as manifestações de rua, que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo.
Agora, a mídia entra na sua escolha de Sofia. Sérgio Moro é acometido pela síndrome do escorpião e atravessa o Rubicão, valendo-se do COAF para retaliar o jornalista que divulga suas falas. É o mais grave atentado à liberdade da imprensa desde a redemocratização, porque se valendo do poder de Estado, do comando da Polícia Federal, para interromper a divulgação de notícias de interesse público. E eles sabem disso. Pior: eles sabem que os leitores também sabem disso.
E agora? O Globo esconde a informação, o Estadão esconde, a Folha caminha sozinha para recuperar a aura das diretas, perdida nos últimos anos.
Em parceria com a Globo, a Lava Jato tenta de todas as maneiras criar uma contra narrativa. Desenterra as delações de Palocci,  sustentando que Lula era o comandante, tudo isso depois do The Intercept revelar como eram feitas as salsichas das delações premiadas.
A reconstrução da mística jornalística ficará pela metade. Os jovens repórteres, inebriados com congressos em que os colegas mais velhos discorrem sobre as virtudes do jornalismo, apagando uma história de infâmia muito recente para ser esquecida, não terão nem o consolo da hipocrisia para manter a chama acesa.
Esta é a maldição final, terrível, dolorosa, o desafio final a ser enfrentado pela mídia. Calando-se, ante a investida de Moro, revelará toda sua impotência, sua fragilidade, na defesa de suas próprias prerrogativas. E o país está coalhado de inimigos, à esquerda, mas, principalmente, à direita, esperando o primeiro sinal de fraqueza para avançar.


terça-feira, 18 de junho de 2019

Do El País e Folha de São Paulo: Empresários pensando em suas próprias vantagens contra povo financiaram disparos em massa pró-Bolsonaro no Whatsapp, fomentando a fraude eleitoral



Do El País:

A prática é considerada ilegal pelo Tribunal Superior Eleitoral (crime, portanto). Empresa espanhola foi contratada por brasileiros, afirma 'Folha de S.Paulo'

Bolsonaro no palácio do Planalto no dia 17 de junho.


Empresas brasileiras pagaram uma agência de marketing com sede na Espanha para fazer disparos de mensagens de Whatsapp a favor de Jair Bolsonaro, segundo uma reportagem da Folha de S.Paulodivulgada nesta terça-feira. Áudios obtidos pelo jornal com uma fonte mantida em sigilo mostram Luis Novoa, diretor da espanhola Enviawhatsapps, afirmar que “empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas” do Brasil financiaram a compra de um software produzido por ele para disparar mensagens em massa durante a campanha. Segundo a reportagem, não existem indícios de que Bolsonaro soubesse das ação, que podem configurar  crime eleitoral. Pela manhã, o presidente comentou o conteúdo da reportagem em um evento em Brasília. “Teve milhões de mensagens a favor da minha campanha e talvez alguns milhões contra também."
As informações publicadas pelo jornal nesta terça trazem novos elementos para uma suspeita trazida pelo jornal em agosto do ano passado, e que levaram a abertura de uma investigação no Tribunal Superior Eleitoral. Na ocasião, a Folharevelou que empresas brasileiras fecharam contratos de até 12 milhões de reaispara financiar disparos em massa no WhatsApp, a principal rede usada na campanha pelos bolsonaristas. Os destinatários eram usuários da base de dados da própria campanha de Bolsonaro ou de banco de dados vendidos por terceiros (esta segunda modalidade é proibida por lei). Um dos empresários suspeitos de compor o esquema, segundo o jornal, é Luciano Hang, dono da rede Havan. Existem indícios de que apoiadores do PT usaram o mesmo expediente no WhatsApp.
Novoa, dono da Enviawhatsapps, afirmou ao jornal que não tinha conhecimento da utilização irregular de seu aplicativo até que o Whatsapp suspendeu algumas das linhas de sua empresa. “Estávamos tendo muitíssimos cortes, fomos olhar os IPs [endereço de Internet], era tudo do Brasil, olhamos as campanhas, eram campanhas brasileiras”, disse o empresário no áudio. De acordo com o jornal, brasileiros compraram cerca de 40 licenças de software da agência espanhola, que, em conjunto,permitiam até 20.000 disparos de mensagens de campanha por hora nas últimas eleições. O jornal ainda aponta que a licença para um mês, segundo o site da Enviawhatsapps, custa 89 euros (386 reais), a anual custa 350 euros (1.518 reais), e o WhatsApp Business API, voltado especificamente a empresas, sai por 500 euros ao ano (2.169).
A mesma empresa espanhola foi responsável por campanhas de disparos em massa de WhatsApp na Espanha, diz a Folha. As contas dos partido de esquerda Podemos e PSOE acabaram suspensas pelo aplicativo, por violação das regras de uso, já que o WhatsApp não permite disparos em massa. O mesmo aconteceu no Brasil durante as presidenciais do ano passado.
A campanha de 2018 foi marcada pela disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e em grupos de Whatsapp. O candidato derrotado Fernando Haddad (PT) acusou a equipe de Bolsonaro de estar por trás e de não coibir essas práticas. Em algumas mensagens o petista teve seu nome associado à pedofilia e a uma mamadeira com formato de pênis que, segundo o texto, teria sido enviada para creches durante a gestão de Haddad na prefeitura de São Paulo. Por sua vez, simpatizantes do PT espalharam notícias falsas afirmando que o programa Bolsa Família iria acabar caso o candidato do PSL fosse eleito. Inquéritos abertos para apurar irregularidades ainda não tiveram grandes avanços no TSE.
A relação de empresários com mensagens pró-Bolsonaro também já haviam sido apontadas pelo EL PAÍS Brasil em agosto de 2018. Hang, o dono da Havan que meses depois cometeria irregularidades financiando disparos em massa no Whatsapp, pagou para impulsionar mensagens favoráveis ao militar da reserva no Facebook. A prática é ilegal, uma vez que apenas representantes oficiais das campanhas podem contratar impulsionamento de conteúdo eleitoral nas redes. De acordo com o TSE isso seria “terceirização da propaganda”, algo vedado pela nova legislação eleitoral. Após a reportagem, o Tribunal ordenou que Hang removesse o conteúdo de suas páginas, depois que o vídeo postado pelo empresário já tinha alcançado mais de um milhão de pessoas.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Dez truques do mercado para justificar o fracasso de suas políticas, por Luis Nassif



O mesmo ocorrerá com a reforma da Previdência. O Congresso vai entregar uma parte da reforma e a economia continuará em profunda recessão. A alegação futura do mercado será a de que a reforma não foi suficientemente radical.

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:


Para Platão, os sofistas rejeitavam a verdade e relativizavam a realidade resumindo o universo a partir, somente, de seus aspectos fenomenais.


Truque 1 – o conceito de interesse nacional.

Trate como antinacional toda medida econômica que não beneficie seu grupo. Esse truque existe desde a República Velha. O custo das políticas de sustentação do café era tratado como benefício para o país. O custo de políticas econômicas para outras regiões, como sendo contra o interesse nacional.

Truque 2 – o conceito de populismo.

Com todos seus equívocos, a vantagem da democracia é permitir que o interesse geral se sobreponha aos interesses particulares. É a única força que induz governantes a implementarem políticas universais em áreas essenciais.
Historicamente, populismo se referia a medidas de alcance imediato visando conquistar eleitores, sem nenhuma preocupação com a construção do futuro.
Com o tempo, todas os recursos que voltam ao cidadão, na forma de serviços, mesmo os essenciais, passaram a ser tratados como populismo.
O ápice dessa manipulação foi o brilhantíssimo ex-Ministro da Educação Cristovam Buarque afirmando que Lula abriu inúmeras universidades federais com propósitos eleitorais.

Truque 3 – o sucesso e o truque da defasagem.

Um governante adota uma série de medidas desastrosas, que impede a economia de crescer. Entra outro governante que toma uma série de medidas reativando a economia. O discurso passa a ser que o primeiro se sacrificou, trabalhando com responsabilidade, para que o segundo levasse a fama.
É histórico. Campos Salles renegociou a dívida externa brasileira, irresponsavelmente ampliada por Ruy Barbosa, em condições ultrajantes. Com o país quebrado e, portanto, em condições de negociar deságios, aceitou todas as imposições da Casa Rotschild. E ainda levou na comitiva de beija-mão jornalistas que reportaram os elogios do banqueiro à seriedade do futuro presidente. Ou seja, no seu beija-mão a Donald Trump, Bolsonaro teve antecedentes ilustres.
Depois, Rodrigues Alves fez um governo vitorioso. A história, segundo o mercado, foi de que a virtude maior foi de Campos Salles, preparando o terreno para seu sucessor.
Do mesmo modo, Fernando Henrique Cardoso implementou uma política monetária ruinosa, que jogou o nível de endividamento público e privado nas nuvens, provocou a estagnação da economia, comprometeu o ganho de mercado obtido com a estabilização da moeda. No período em que adotou uma política econômica pró-ativa, Lula conseguiu índices de crescimento inéditos, em plena crise global.
Mas o sucesso de Lula é atribuído ao trabalho prévio de FHC.

Truque 4 – o fracasso e o truque da defasagem

O segundo governo Dilma Rousseff foi um desastre. O pacote Joaquim Levy afundou ainda mais a economia, quebrou as pernas políticas do governo que, a partir dali, foi sufocado pelas pautas-bombas do Congresso. Ponto.
Entre Henrique Meirelles, pelo governo Temer, Paulo Guedes, pelo governo Bolsonaro, e mantem as mesmas políticas restritivas anteriores. Ou seja, tudo passou a ser de sua estrita responsabilidade, mesmo tendo apoio expressivo do Congresso.
Depois de quedas do PIB, a recuperação costuma ser rápida, porque há capacidade instalada a ser ocupada. No entanto, até hoje não ocorreu a recuperação da economia brasileira, configurando o mais longo período sem recuperação da história.
Mas a culpa continua sendo da Dilma.

Truque 5 – o golpe da lição de casa.

Foi aplicado sistematicamente, de Pedro Malan a Henrique Meirelles, com a contribuição luxuosa de Antônio Palocci e Joaquim Levy.
Consiste em impor um conjunto de medidas amargas – para os outros -, acenando com o pote de ouro no final do arco íris. Se tirar o leite das crianças, a aposentadoria dos idosos, se reduzir os direitos trabalhistas, se reduzir os gastos com saude e educação, a economia voltará a ser pujante e todos ganharão.
Começa o ano com tais promessas. Chega-se ao final com os sacrifícios impostos e nada de aparecer o pote de ouro. Alega-se, então, que o sacrifício foi insuficiente e toca a apertar mais ainda o torniquete em cima da rapa.
Como garantia o sábio Ministro Luis Roberto Barroso: se a legislação trabalhista tirar os torniquetes sobre as empresas, haverá abundância de emprego. Mudam-se as regras, o emprego cai por conta da recessão e a informalidade explode, por conta da nova legislação.

Truque 6 – o golpe do fim do mundo.

Utilizado desde tempos imemoriais. Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil. Ou o Brasil acaba com esses velhinhos que sugam a Previdência, ou esses malandros que teimam em ficar doentes para conseguir o auxílio-doença, ou eles acabam com o Brasil.
Imposto sobre grandes fortunas? Não, porque é de difícil aplicação. Sobre ganhos financeiros? Não, porque irá desestimular os investimentos. Contenção da engenharia fiscal dos grandes grupos? Não, porque embotará o empreendedorismo.

Truque 7 – a impossibilidade do impossível

Analise-se o pacote Joaquim Levy-Dilma. Aplicou simultaneamente choque tarifário, choque monetário, restrição de crédito, corte drástico de despesas prometendo a quadratura do círculo: se cortar toda a demanda, haverá o equilíbrio fiscal e instantaneamente os investimentos voltarão para a economia.
O resultado óbvio seria: se cortar toda a demanda, com a economia em queda, acelerará a queda do consumo. Com isso não haverá a volta do investimento, mas a queda vertiginosa da atividade econômica.
Alegação do mercado: o ajuste não foi suficientemente severo.
O mesmo ocorrerá com a reforma da Previdência. O Congresso vai entregar uma parte da reforma e a economia continuará em profunda recessão. A alegação futura do mercado será a de que a reforma não foi suficientemente radical.

Truque 7 – o truque do denominador

O país tem uma receita fiscal de 100 e uma dívida pública de 50. Aí, implemento uma política recessiva que derruba a receita em 10%. E uma política de juros que custa 6% ao ano. Mantidos todos os demais fatores, em apenas dois anos a relação dívida/PIB passará de 50/100 = 50% para 56/90 = 62%. Mas, aí, explico que a culpa do déficit foi das despesas.
É o que acontece com todos os cálculos de déficit primário e déficit da previdência. O déficit seria menor se as políticas econômicas não tivessem derrubado a receita.

Truque 8 – o truque da relação causal no déficit

É primo irmão do Truque 7. O país tem 100 de receita e 100 de despesa primária, portanto orçamento primário equilibrado. Aí derruba a receita que cai para 90. As despesas continuam as mesmas. Dir-se-á que a causa do desequilíbrio são as despesas.

Truque 9 – o golpe da identidade contábil

Os manuais de economia costumam recorrer a identidades contábeis para medir os fatores econômicos. Uma das identidades consiste em estimar que o gasto privado corresponde ao total produzido, menos o gasto público. É apenas uma medida.
Por ser apenas uma conta não leva em consideração, por exemplo, que gasto público significa ganho privado. Se o governo paga salários, ou contrata serviços, ou adquire bens, esse dinheiro será injeção na veia das empresas privadas, que produzem bens de consumo, bens de investimento e serviços. Se corta o gasto público, automaticamente diminui a renda privada.
Mas os cabeções sacam impavidamente a identidade contábil e garantem que bastará cortar o gastos público para o lugar ser imediatamente ocupado pelo setor privado.

Truque 10 – a falsa eficiência

Parte do pressuposto de que se um gasto é mal aplicado, basta corta-lo para melhorar a eficiência do serviço. O SUS (Sistema Único de Saúde) é um milagre brasileiro, porque consegue determinado nível de universalização pagando merreca pelos procedimentos médicos. A lógica dos cabeções é simples. O aumento da eficiência de qualquer serviço, especialmente os serviços públicos, depende de modelos gerenciais, implementação eficiente, criação de indicadores. Para os cabeções a lógica é outra. Se um serviço não é suficientemente eficiente, basta reduzir seu orçamento que a eficiência aparece.