terça-feira, 10 de março de 2020

Bernie Sanders x Joe Biden: a disputa final do Partido Democrata, ou o conflito entre a mudança real e a proteção do demente establishment anti-humanismo. Texto de Vinicius Gomes Melo



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Joe Biden se consolida como o candidato do establishment do Partido Democrata com a vitória de mais estados e delegados na Super Terça e com a desistência de quatro competidores diretos. Bernie Sanders segue vivo na disputa e é o nome a ser derrotado
Por Vinicius Gomes Melo, publicado originalmente em berniesanders.com.br
O ex-vice-presidente Joe Biden não poderia ter tido uma noite melhor na última terça-feira (3), na chamada Super Terça, quando 15 estados e territórios norte-americanos realizaram caucuses e primárias pelo Partido Democrata. Ao conquistar ao menos nove estados, Biden retoma a liderança pela nomeação do partido e individualiza a disputa democrata com o senador de Vermont Bernie Sanders.
Aproveitando o bom momento que sua expressiva vitória no sábado, 29 de fevereiro, nas prévias pela Carolina do Sul, Joe Biden viu sua campanha ressurgir das cinzas. A façanha foi tomada como uma surpresa para todos, ou praticamente todos. Isso porque as 48 horas entre a primária de sábado e a Super Terça trouxeram novos elementos ao pleito democrata.
Ainda no domingo (1), o candidato Pete Buttigieg, ex-prefeito de South Bend, Indiana, anunciou que estava encerrando sua participação na corrida eleitoral pela nomeação do partido.
Na segunda-feira (2), foi a vez da candidata Amy Klobuchar dizer que também estava abandonando a disputa, cerca de 24 horas antes do início da Super Terça. Curiosamente, o estado pela qual ela é senadora, Minnesota, estava entre aqueles que teriam primárias n
Ao final da terça-feira, Joe Biden terminava o dia vencendo ao menos nove estados (Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas e Virgínia) e liderando no Maine. Enquanto Sanders conquistaria Colorado, Utah e Vermont, e liderava no maior prêmio da noite, a Califórnia.
Na manhã de quarta-feira (4), foi a vez de Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, desistir da nomeação e apoiar Joe Biden.
Para ser nomeado pelo Partido Democrata e ir disputar as eleições contra Donald Trump, em novembro, o candidato ou a candidata precisa conquistar 1.991 delegados entre os 3.979 totais. Nessa Super Terça, estavam em disputa 1.357. Segundo previsões do New York Times, o ex-vice-presidente deve conquistar 670, enquanto Sanders ficaria com 589.
Todos contra Bernie
Se a coalizão centrista por trás de uma única candidatura era previsível, ela certamente não era esperada já para a Super Terça. É quando percebe-se a mão invisível do alto escalão democrata já agindo para combater a então liderança de Bernie Sanders na disputa do partido.
Pouco tempo depois de abandonar as primárias, Buttigieg recebeu um telefonema de Barack Obama. O ex-presidente tem se mantido, publicamente, distante das primárias democratas, evitando explicitar apoio até mesmo ao seu ex-vice. No entanto, ainda que Obama não tenha diretamente solicitado que Buttigieg endossasse Biden, ele afirmou que o ex-prefeito agora tinha conquistado força e ele deveria considerar como melhor usá-la para o partido. Por sua vez, a senadora Klobuchar correu rumo à Dallas, no Texas, para participar, ao lado de outro ex-postulante democrata, Beto O’Rourke, de um comício de apoio à Joe Biden. Outros nomes proeminentes dos Democratas também entraram no bonde Biden após sua vitória na Carolina do Sul, tendo como único objetivo conter a ascensão de Sanders.
Questionado sobre essa consolidação de “moderados” contra ele, Sanders foi direto: “Veja bem, isso não é um segredo – só o Washington Post tem 16 artigos por dia sobre isso – existe uma esforço massivo para parar Bernie Sanders. Isso não é segredo para ninguém aqui. Os establishments corporativo e político estão se unindo e eles farão tudo e qualquer coisa [para vencê-lo]”.
O eleitorado negro
As primeiras horas da Super Terça já indicavam uma noite favorável ao ex-vice-presidente. Os primeiros estados a fecharem suas urnas e iniciarem as contagens de votos eram do Sul, onde Biden já era o favorito: especialmente pela forte presença do eleitorado negro e por sua vitória, três dias antes na Carolina do Sul.
Após performar muito mal nos primeiros estados disputados (Iowa, New Hampshire e Nevada), Joe Biden colocou todas as suas fichas na Carolina do Sul, contando com o apoio do expressivo eleitorado negro no estado para esse tudo ou nada. Deu certo. Ele recebeu mais votos em todos os condados do estado, o que lhe deu garantiu 38 dos 54 delegados disputados. Bernie Sanders ficou em segundo lugar, com 15 delegados.
A larga vitória de Biden fez sua primeira vítima já no sábado: o bilionário Tom Steyer, que também havia colocado todos os seus ovos na cesta da Carolina do Sul. No entanto, ele não chegou nem a conquistar os 15% de votos necessários para angariar delegados.
Ao longo da noite de terça-feira, todos os estados do sul em disputa se alinhavam à Joe Biden: primeiro a Virgínia, depois a Carolina do Norte, o Alabama veio logo em seguida, Tennessee, Arkansas e Oklahoma fecharam a conta e confirmaram o favoritismo de Biden junto ao eleitorado negro, uma das principais bases de apoio ao Partido Democrata e, na qual, Bernie Sanders esperava performar melhor após sua primeira disputa presidencial, em 2016.
À essa altura, Joe Biden já ultrapassava Bernie Sanders, que ganhara no Colorado e confirmava seu favoritismo em Vermont.
Texas, Minnesota e Massachusetts
O verdadeiro golpe para Bernie Sanders veio, no entanto, de lugares onde ele apostara suas fichas nos últimos dias.
Ciente da quase certa derrota nos estados do Sul, o senador de Vermont colocou sua mira em dois estados mais progressistas que tinham sua disputa em aberto: Minnesota e Massachusetts. O plano era ousado, especialmente porque os dois estados eram redutos eleitorais de duas candidatas: a senadora Amy Klobuchar e a senadora Elizabeth Warren, respectivamente. As previsões apontavam que Sanders poderia disputar de igual para igual com ambas.
Não foi o que se sucedeu. A saída de Klobuchar e seu subsequente apoio à Biden deram enorme força ao ex-vice-presidente em Minnesota. Já em Massachussets, onde Biden sequer pisou nos meses anteriores à Super Terça, sua vitória foi mais surpreendente. Ao que parece, no fim, a disputa de votos entre Sanders e Warren serviu impulsionar Biden.
O Texas, por sua vez, era o segundo grande prêmio da noite. Com 228 delegados em disputa, o estado era uma incógnita. As primeiras previsões apontavam para uma vitória de Bernie Sanders, especialmente após sua vitória no estado vizinho de Nevada.
No entanto, a vitória posterior de Biden na Carolina do Sul e todos os outros estados sulistas ao longo da Super Terça, contribuíram para a vitória apertada do ex-vice-presidente no estado.
A matemática por delegados
Quando a Super Terça terminou, Joe Biden contabilizava nove estados e Bernie Sanders apenas três (Utah se juntava à Vermont e Colorado). Seguiam em disputa o Maine, acirrado mas pendendo para Biden, e a Califórnia, tendo Sanders como favorito.
Mas enquanto o estado da Nova Inglaterra oferece apenas 24 delegados, o gigante da Costa Oeste contabiliza 415 delegados. E é graças a Califórnia que Bernie Sanders continua vivo na dipusta apesar de Joe Biden ter vencido mais estados.
Isso acontece porque, no fim, não é a quantidade de votos que se recebe que conta, apesar de ela ser um importante indicador de que tal candidato está ressoando em mais lugares. O que os candidatos em disputa querem mesmo é o número de delegados.
Mesmo conquistando apenas 4 estados, Sanders deve ficar atrás de Biden por menos de 100 delegados.
Porém, mesmo pela ótica dos delegados, Biden também teve uma noite melhor. Isso porque mesmo nos poucos estados que Sanders venceu – excluindo Vermont – ele precisou “dividir” o total de delegados com até outros candidatos, além de Biden.
Em Colorado, tanto Elizabeth Warren, quanto Michael Bloomberg, ultrapassaram a barreira dos 15% e tomaram parcelas de delegados que poderiam ser de Bernie Sanders. O mesmo deve ocorrer em Utah, que não finalizou sua contagem de votos.
Por sua vez, Joe Biden não teve o mesmo problema nos estados em que foi vitorioso. Exceto por Arkansas, Massachusetts, Minnesota, Texas e Virgínia, o ex-vice presidente teve que dividr o total de candidatos apenas com Sanders. Sendo que nesses dois últimos estados, ele perdeu apenas 3 delegados para Warren e Bloomberg.
Assim sendo, não deve-se perder de vista que, apesar de Joe Biden ganhar muito mais estados que Bernie Sanders, a diferença entre delegados conquistados é consideravalmente menor que as manchetes dando a vitória da Super Terça à Biden podem sugerir.

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