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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Xadrez dos cenários com Bolsonaro e o tiro de partida de Lewandowski, por Luis Nassif




Os cenários são válidos não como verdades absolutas, mas como método para permitir a discussão organizada.

Peça 1 – os analistas do foco único

GGN. -Traçar cenários políticos é tarefa complexa, por envolver um conjunto grande de variáveis e de temas, a economia, a política, os aspectos psicossociais, os movimentos do governo e do Congresso etc. Não é meramente uma analise dos movimentos do Congresso.
Fuja dos analistas políticos de foco único, e da análise estática. Há motivos para essa desconfiança.
  1. Há inúmeros fatores psicossociais que interferem na opinião pública e, no final da linha, vão bater nas preferências eleitorais ou no posicionamento das instituições. Composições, alianças, partidos políticos antecipam esses movimentos. 
  2. O estado de espírito da opinião pública depende da sensação de bem ou mal estar social, influenciado por inúmeros fatores. A economia é um deles, mas não o único. A sensação de segurança, a leniência com a violência política, a maior ou menor resistência das instituições contra os abusos anti-democráticos são outros fatores. São conhecidos os processos midiáticos de criação de perigos (lembrem-se dos arrastões na praia, nos tempos de Brizola), de derrubada da auto-estima (Copa do Mundo, mesmo antes dos 7 x 1).
  3. Por outro lado, há inúmeros fatores que afetam as instituições, tornando-as mais ou menos resistentes em relação aos poderes do Executivo.
Por tudo isso, a analise empírica dos fatos é essencial em momentos de ruptura, como o que vivemos atualmente.

Peça 2 – os analistas unidirecionais

Exemplo desse viés analítico unidirecional foram as últimas eleições. Confira:
Padrão histórico – O primeiro turno começa indefinido, abrindo espaço para outsiders. Assim que começa o horário gratuito, é recomposta a bipolarização tradicional entre PT e PSDB, partidos com maior tempo de televisão.
Novos fatores – não se considerouA) A delação da JBS, jogando o PSDB na vala comum dos partidos corrompidos. B) O fenômeno das redes sociais sendo trabalhadas há anos pela direita. E mais o adicional, a facada em Bolsonaro permitindo exposição maior na TV e desobrigando-o dos debates políticos. 
Resultado final – Geraldo Alckmin, do PSDB, terminando com 5% dos votos.
Vamos a uma exemplo dessa metodologia no quadro atual:
Cenário atual – Bolsonaro tem recuado em muitos pontos, sob pressão das instituições e do Congresso. No momento, seu Partido 38 é inexpressivo e com poucas condições de se viabilizar. Sua base no Congresso é difusa.
Avaliação – Bolsonaro é a favor do estado de exceção apenas na retórica. No mundo real, se sujeita aos limites constitucionais.
Conclusão – se ele aceita, agora, o jogo democrático, significa que continuará jogando de acordo com as regras do jogo.
Ou seja, presume-se que todos os fatores permanecerão estáticos, e que o comportamento dos Bolsonaro, com poder consolidado, será similar ao comportamento atual, com poder em consolidação. Ora, um cenário pressupõe a tentativa de identificar os fatores relevantes e prever sua evolução. Senão, não é cenário, é fotografia.
Os cenários são válidos não como verdades absolutas, mas como método para permitir a discussão organizada. Decompondo o cenário em fatores, fica mais fácil questionar ou avalizar o resultado final e a própria lógica da disposição dos fatores.
Dadas as incertezas do cenário, a conclusão depende muito mais de cálculos de probabilidade intuitivos do que de certezas enganadoras.

Peça 3 – Bolsonaro e o AI-5

No nosso cenário, há uma certeza: os Bolsonaro são defensores incondicionais do estado de exceção e inimigos declarados do processo democrático. Tendo condições, implantarão seu AI-5.
Agora mesmo, planejam ampliar o conceito de GLO (Garantia da Lei e da Ordem)  permitindo o excludente de ilicitude (autorização para o militar matar) em manifestações contra o governo.
Mais que isso, pretendem utilizar o GLO para acionar a Força Nacional em episódios de invasão de terra, atropelando completamente a autonomia federativa.
Finalmente, explicitando a ameaça de um novo AI-5, não apenas através de filhos alucinados, mas do próprio Ministro da Economia, Paulo Guedes.
Tudo isso ao mesmo tempo em que as reformas vão destruindo direitos básicos da população da base da pirâmide e que a América Latina arde em chamas.
Portanto, a análise de cenários consiste em identificar os fatores centrais que impactarão positiva ou negativamente a força do bolsonarismo, para avaliar se ele conseguirá juntar as condições para o golpe final nas instituições. 

Peça 4 – fatores determinantes

No curto prazo, há um conjunto de fatores que poderão fortalecê-lo.
Mais do que a situação econômica do momento, o que define o estado de espírito da população são as expectativas em relação à economia. Após períodos de ascensão social, qualquer interrupção nas expectativas de continuidade da ascensão gera resistências. Exemplos típicos são os metalúrgicos do ABC nos anos 70, terminando a década em muito melhor situação que no começo, mas com as expectativas frustradas pela crise. O segundo exemplo são os incluídos do período Lula-Dilma.
Por outro lado, depois de períodos de aperto, pequena melhora, por menor que seja, angaria apoio pela sensação de que, qualquer movimento contrário, colocará tudo a perder. Meros voos de galinha podem gerar clima de apoio. 
Juros baixos e câmbio alto produzirão efeitos positivos na economia e fortalecerão o bolsonarismo? Ou persistirá o mal-estar com uma economia que continua andando de lado?
É questão crucial: em 1968, um dos grandes enganos da esquerda foi supor que as reformas de Campos-Bulhões mergulhariam o país em uma recessão por tempo indeterminado.

  • A tutela do mercado

O desmonte do estado social, a privatização selvagem, abrindo espaço para grandes negócios, garantem o apoio ao bolsonarismo por essa entidade chamada mercado e pelo conjunto das associações empresariais. Por outro lado, as extravagâncias internas e externas do bolsonarismo, mais as manifestações que explodem em toda a América Latina, acenderam luz amarela para os grandes investidores.
Qual tendência prevalecerá, de apoio ou descarte?
 A tutela das Forças Armadas
A corporação necessita de bandeiras de legitimação. Definitivamente, sua bandeira deixou de ser a defesa de algum projeto nacional ou de um entendimento mais sofisticado sobre o conceito de soberania, como em outros momentos da história, nos anos 30 e no pós-64. 
Hoje em dia, a única forma de soberania que entendem é a territorial. Reagem às tentativas de instalação de bases estrangeiras no país, ou de internacionalização da Amazônia. Mas não demonstram a menor sensibilidade para outra formas de enfraquecimento da segurança nacional, como a venda da Embraer, a privatização da Eletrobras, com consequências dramáticas para um insumo estratégico, o desmonte da engenharia nacional, ou mesmo a expansão econômica do crime organizado.
Por outro lado, há indícios de interferência militar brasileira na política interna de vários vizinhos, Bolívia, Venezuela, Colômbia e Chile. Os militares, estariam redescobrindo seu papel nesse cenário extemporâneo de guerra fria? Essa é a pergunta que vale a estabilidade democrática ou a volta aos tempos do AI-5.
 O papel do STF
 O guardião da Constituição está dividido em relação à marcha do arbítrio de Bolsonaro. Há um núcleo legalista corajosa, integrado por Gilmar Mendes, Marco Aurélio de Mello, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Um núcleo confuso, com Dias Toffoli e Rosa Weber. E um núcleo não confiável, em relação à defesa dos valores democráticos, integrado por Luis Roberto Barroso, Luiz Edson Fachin, Luiz Fux e Carmen Lúcia. E mais Alexandre de Moraes. E um caso rumoroso pela frente: as suspeitas que pairam sobre a família Bolsonaro, não apenas em relação ao caso Marielle como há inúmeras manifestações anti-democráticas. 

Peça 5 – O bolsonarismo em marcha

Em regimes efetivamente democráticos, Bolsonaro já teria sido detido pelas instituições. Cada dia de vida significa o fortalecimento de sua estrutura, em cima dos seguintes trunfos.
  • O fato de ser governo, que lhe confere poder de coerção e de cooptação.
  • O peso do eleitorado, calculado em 1/3.
  • A violência da sua militância.
  • Redes associadas que estão sendo armadas, composta por neopentecostais, clubes de tiro, milícias, empresas de segurança doméstica, baixo clero das Polícias Militares, ruralistas.
  • A expansão econômica acelerada do crime organizado, especialmente do modelo de ocupação territorial das milícias.
  • Infiltração nas instituições, especialmente nos Ministérios Públicos, Judiciário, policiais, incluindo a Polícia Federal, associações empresariais e parte da mídia.
Por outro lado, estão enrolados até o pescoço em uma série de episódios que podem gerar movimentos de impeachment no Supremo. 
Em artigo para a Folha, o calmo e firme Lewandowski rompeu a blindagem, o pacto de silêncio do STF, ao alertar Bolsonaro que abusos de autoridade poderão provocar o impeachment.
Vamos ver quais por quais caminhos a história vai se desenrolar.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

The Intercept: O Sergio Moro do passado concorda que o Moro do presente está colocando a Lava Jato em dúvida



  "A repetição da História deveria ser motivo de preocupação geral, mas, em um país com baixa cultura democrática, intoxicada pelo maniqueísmo, o fato está sendo encarado por boa parte da população como o fortalecimento do time do Bem na luta contra o do Mal. Deve estar em algum lugar da Bíblia. Lembre-se que o lema do medievalismo contemporâneo é “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.” 




O Sergio Moro do passado concorda que o Moro do presente está colocando a Lava Jato em dúvida

João Filho — 4 de Novembro

O juiz negou pretensões políticas pelo menos oito vezes. Agora, vai despachar ao lado de investigados por corrupção.











The Intercept Brasil:

O JORNALISTA Maurício Stycer lembrou: “Em 9 de novembro de 1989, o TSE, presidido por Francisco Rezek, barrou a candidatura Silvio Santos. Eleito presidente, Collor convidou Rezek para ser ministro das Relações Exteriores, que aceitou”. Em 1992, Rezek seria indicado por Collor a uma cadeira no STF. É exatamente esse plano de carreira que Bolsonaro ofereceu, e Sérgio Moro aceitou.
A repetição da História deveria ser motivo de preocupação geral, mas, em um país com baixa cultura democrática, intoxicada pelo maniqueísmo, o fato está sendo encarado por boa parte da população como o fortalecimento do time do Bem na luta contra o do Mal. Deve estar em algum lugar da Bíblia. Lembre-se que o lema do medievalismo contemporâneo é “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.”
Enquanto Rosângela Moro fazia campanha para Bolsonaro nas redes sociais, Paulo Guedes oferecia para seu marido uma nova carreira na política. O juiz passou semanas projetando sua estréia na política enquanto ainda vestia a toga, o que é apenas mais uma acintosa imprudência para a coleção de acintosas imprudências praticadas pelo magistrado nos últimos anos. Na última quarta-feira, General Mourão disse que o convite de Paulo Guedes aconteceu “há algumas” antes da eleição. Quantas semanas antes? Terá sido antes de Moro liberar trechos da delação de Palocci às vésperas do primeiro turno? Não se sabe, mas a suspeita por si só já deveria ser considerada inaceitável. Segundo os próprios procuradores da Lava Jato, a delação de Palocci não tem “provas suficientes” e as “expectativas não vão se revelar verdadeiras”. Não havia, portanto, nenhum motivo jurídico para a divulgação. É legítimo acreditar que Moro atuou com uma agenda eleitoral debaixo do braço e calculou os efeitos políticos enquanto vestia a toga. Haddad foi para as cordas no noticiário, enquanto Bolsonaro faturou eleitoralmente com a ação do seu futuro ministro da Justiça.
Além da suspensão do sigilo da delação de Palocci, outras ações tomadas por Moro influenciaram decisivamente o processo eleitoral. Depois de um processo repleto de incoerências jurídicas, o juiz determinou a prisão de Lula, retirando da disputa o candidato favorito dos brasileiros nas pesquisas, faltando 6 meses para o pleito. Chegou a interromper as próprias férias para contestar a decisão de um desembargador que determinou a soltura de Lula, impedindo que o ex-presidente participasse da campanha. Com a eleição definida, Moro não esperou nem a fervura eleitoral baixar e aceitou de imediato fazer parte do governo Bolsonaro, cuja candidatura inequivocamente foi a principal beneficiada pelas ações do juiz durante o período eleitoral.
A suspeita de que Moro atuou nos tribunais calculando efeitos políticos que beneficiassem o candidato que lhe ofereceu um ministério torna-se enorme. Parecer imparcial, tanto quanto sê-lo, é um preceito básico para um juiz. E a história recente mostra que Moro despreza esse conceito, não vendo problema em desfilar em eventos organizados por tucanos ou aparecer cochichando com Aécio Neves em evento público. O juiz aceitou o figurino de antagonista de Lula e fez questão de viajar pelo mundo cumprindo esse papel. Durante muito tempo se cogitou que ele tinha um projeto político pessoal. Agora é possível dizer, fora do campo das cogitações, que esse projeto existia. Resta saber quando que ele começou a ser desenhado. Bolsonaro já vinha cogitando levar Moro para Brasília pelo menos desde outubro do ano passado. A possibilidade, portanto, já estava há algum tempo no horizonte do juiz.
Como todo bom político que nega que será candidato, Moro negou ter pretensões políticas por pelo menos oito vezes. Em uma entrevista para a Veja em novembro de 2017, foi categórico: “no momento — e também não vejo isso no futuro — não seria apropriado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político. Isso poderia, vamos dizer assim, colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento.” A jornalista pergunta se seria inapropriado “neste momento”, mas Moro faz questão de reforçar: “no futuro também”. Podemos dizer, então, que o Moro do passado concorda que o Moro do presente está colocando em dúvida o seu trabalho frente à Lava Jato.
A condição de super-herói do combate à corrupção foi definitivamente colocada em xeque. Moro topou integrar o governo de um presidente que recebeu 200 mil da JBS e encaminhou esse dinheiro para o seu partido, o PP, o mais enlameado pela Lava Jato. Que conseguiu empregos (alguns deles, fantasma) em gabinetes do Legislativo pro irmãoex-mulheres, ex-cunhado, ex-sogro. Que usou o auxílio-moradia “pra comer gente”. Que desviou verba da Câmara durante 15 anos para pagar o salário da sua caseira, a Wal do Açaí. O nosso herói da luta contra a corrupção aceitou de bom grado ser subordinado a um político com essas credenciais éticas. O convite para integrar o governo bolsonarista foi intermediado pelo seu futuro colega Paulo Guedes, que está sofrendo uma investigação criminal no MPF por suspeita de gestão fraudulenta em fundos de pensão ligados a estatais. Fico imaginando também como serão as reuniões de Moro com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que admitiu ter recebido caixa 2 da JBS. É que, no ano passado, o juiz afirmou que “caixa 2 é pior que corrupção”. Será que o Moro do passado concorda com o Moro do presente nessa questão?
As qualidades democráticas de Sergio Moro também entram em xeque. Ele se disse “honrado” com o convite de um homem que fala em fuzilar e varrer seus opositores políticos. Que cujo filho afirmou que resolveria um problema com o STF mandando militares fazer uma visitinha ao tribunal. Que considera a ditadura militar um período de ouro do país. Que cujo livro de cabeceira é da autoria de um torturador. Ou seja, Sergio Moro aceitou com muito orgulho ser subordinado por um sujeito que reiteradamente despreza a democracia e que passará o mandato inteiro com a carta do golpe militar na manga. Isso diz muito sobre Sergio Moro como cidadão, como juiz e como político.
A escolha no novo ministro da Justiça teve repercussão internacional. Grandes jornais como Le Monde, El País, New York Times, Washington Post, Financial Times e BBC lembraram que a atuação de Moro nos tribunais teve consequências políticas que ajudaram a pavimentar o caminho de Bolsonaro ao Planalto. A manchete do britânico The Timesnão poderia ser mais cirúrgica: “Jair Bolsonaro promete alto cargo a juiz que prendeu seu rival”. Já a grande imprensa nacional, que serviu de palanque para Moro durante toda sua trajetória até Brasília, se mostrou bem mais tímida em contextualizar a indicação de Bolsonaro em suas manchetes. A sacralização do juiz e a a construção do seu projeto político não seriam possíveis sem os holofotes sempre generosos da imprensa.
A mosca azul da política picou Moro. Largou uma aclamada carreira jurídica pela metade para assumir um dos principais cargos de poder do governo federal. Se tudo der errado, tem garantida a promessa de pular para o STF assim que liberar uma vaga. Até lá, Moro terá sob suas rédeas um super-ministério. Com a fusão da Justiça e da Segurança Pública, o ex-juiz comandará a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. A operação Lava Jato, que sempre atuou com independência em relação aos governos Dilma e Temer, foi levada para Brasília e agora atuará dentro do governo de Jair Bolsonaro. Não me parece um bom caminho.
Moro ocupará o segundo cargo mais poderoso do país, o que o coloca diretamente na fila dos presidenciáveis para 2022. É a posição perfeita para quem tem um projeto político e sonha com voos maiores na política. Se perguntarem hoje para ele se existe essa pretensão, Moro provavelmente dirá o que disse para o Estadão há exatos dois anos sobre uma possível migração para o mundo político: “Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política. (…) Então, não existe jamais esse risco.”
Palavra de juiz.

ENTRE EM CONTATO:

João Filhojoao.filho@​theintercept.com@jornalismowando



quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Reinaldo Azevedo, a estrela da direita, desanca Bolsonaro e adere ao #EleNão


Até ele diz #EleNão !



Fonte: Youtube




Fonte: Youtube

#NotHim, #EleNão, chega aos Estados Unidos: Mourão levou Bolsonaro ao “The New York Times”, por Fernando Brito




"Ele (Mourão) deu o coice que faltava para Jair Bolsonaro alçar-se ao status de cavalgadura internacional, quando chamou as mulheres  que criam filhos sós de “fabricantes de desajustados”."

Do Tijolaço:




O General Hamílton Mourão pode se orgulhar.
Ele deu o coice que faltava para Jair Bolsonaro alçar-se ao status de cavalgadura internacional, quando chamou as mulheres  que criam filhos sós de “fabricantes de desajustados”.
Reavivou todas as fornalhas acesas por Bolsonaro e o elevou a fenômeno de grosseria no The New York Times, em texto da correspondente Sasha Darlington.
Uma campanha de mídia social chamada # EleNão – ou #NotHim – é o exemplo mais recente de como as mulheres no Brasil estão se mobilizando contra um político que chamou publicamente as mulheres de ignorantes , feias demais para estuprar ou indignas do mesmo salário que os homens . Em um discurso, Bolsonaro, pai de quatro filhos e uma filha, disse que ter uma criança do sexo feminino é um “momento de fraqueza”.
Sábado, por todo o país – e nas áreas de classe média e alta que ainda lhe são celeiros de votos – as  ruas vão se encher de mulheres sob a bandeira do “EleNão”.
E quanto mais os “minions” se mobilizam para reagir, mais pioram as coisas.
Protagonizaram, no Recife, o espetáculo dantesco do “têm mais pelos  que cadelas” para as mulheres “de esquerda” (tradução, as que não gritam pelo “Mito”). No Rio, ajustaram sua minúscula manifestação em Copacabana para receber uma tropa de centenas de ex-paraquedistas e policiais  numa corrida de “calça e coturno, com a parte superior do corpo exposta”, como determinavam seus organizadores.
Só mesmo o torso nu e a pele morena os diferenciavam dos camisas pardas de Hitler.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Voto das mulheres vira pesadelo do falso mito da extrema-direita, que não consegue com elas nem metade das intenções de votos que tem entre homens . Veja a reportagem de Mário Magalhães do The Intercept


“Nós temos que acabar com o mimimi, acabar com essa história de feminicídio”, declarou Jair Bolsonaro no ano passado. No começo do mês, o deputado falou: “Se uma pessoa matar o meu pai ou a minha mãe, eu vou me sentir triste de qualquer maneira”; “não tem que ter Lei do Feminicídio”. O candidato a presidente omitiu que o padrão é companheiro matar companheira, e não o contrário.

Do The Intercept Brasil:

SÃO PAULO, SP, 08.08.2018: PROTESTO-ABORTO-SP - Mulheres de diversos movimentos sociais participam de um protesto à favor da legalização do aborto na frente do consulado da Argentina, na avenida Paulista, região central de São Paulo, nesta quarta-feira, 08. O grupo luta pela legalização do aborto e o controle da escolha de decidir sobre o destino do próprio corpo. (Foto: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress)
Foto: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress


VOTO DAS MULHERES VIRA PESADELO DE BOLSONARO


LUÍS FELIPE MANVAILER espancou Tatiane Spitzner no carro, na garagem, no elevador, até ela despencar do quarto andar do prédio onde moravam. Se foi empurrada, morta ou viva, ou pulou em desespero pouco importa: foi assassinato. Anderson da Silva contou ter asfixiado Simone da Silva na frente do filho deles, de três anos. Ao matá-la, ele sabia que ela estava grávida.
A Justiça decretou a prisão de Pedro Paulo Barros Pereira, suspeito de ser o mandante da execução de Karina Garofalo, baleada diante de um menino de 11 anos, filho de ambos (“Papai mandou matar mamãe”, teria dito o garoto). Altamiro Lopes dos Santos agrediu até a morte Patrícia Mitie Koike. Rodrigo Bessa Paixão foi preso pela suspeita de ser o autor dos três disparos que tiraram a vida de Natasha Conceição Fonseca da Silva. Duas vezes Natasha prestara queixa de Rodrigo, por agressão e ameaça.
Na cidade paranaense de Guarapuava, no complexo do Alemão, na Barra da Tijuca, em Nova Iguaçu e Jacarepaguá, os suspeitos, acusados ou assassinos confessos eram marido, ex-marido, namorado ou ex-namorado das mulheres mortas. O gênero das vítimas foi determinante para os crimes, todos deste ano. Por isso, a tipificação apropriada é feminicídio.
De 2016 para 2017, os episódios de feminicídio subiram 22% (929 para 1.133), embora persistam resistências à aplicação da norma sancionada em 2015 por Dilma Rousseff. Os registros de violência doméstica somam anualmente 221.238, ou 606 por dia. No aniversário de 12 anos da Lei Maria da Penha, Brasília despertou com mais dois feminicídios.
Lei 13.104 alterou o Código Penal e introduziu o feminicídio “no rol dos crimes hediondos”. Definiu-o como delito “contra a mulher por razões da condição do sexo feminino”. Decorre de “violência doméstica e familiar”, de “menosprezo ou discriminação à condição da mulher”. A pena é dez anos maior do que a de homicídio. A taxa de feminicídio no Brasil é a quinta mais alta do mundo.
“Nós temos que acabar com o mimimi, acabar com essa história de feminicídio”, declarou Jair Bolsonaro no ano passado. No começo do mês, o deputado falou: “Se uma pessoa matar o meu pai ou a minha mãe, eu vou me sentir triste de qualquer maneira”; “não tem que ter Lei do Feminicídio”. O candidato a presidente omitiu que o padrão é companheiro matar companheira, e não o contrário.
No jornalismo, há quem teime em chamar de “crime passional” o que é feminicídio. Paixão e amor são uma coisa. Ódio, outra. Quem ama não mata.

Mentira tem pernas curtas

Na sexta-feira, no debate da RedeTV!, Bolsonaro perguntou a Marina Silva sobre posse de armas de fogo – para não esquecer o tema, ele consultou uma cola anotada na palma da mão esquerda. A ex-senadora mudou o rumo da prosa. Disse que o adversário desconhece “o que significa uma mulher ganhar um salário menor do que um homem e ter as mesmas capacidades, a mesma competência e ser a primeira a ser demitida, ser a última a ser promovida”.
Candidatos à Presidência da República participam do segundo debate das eleições de 2018
Marina desafia Bolsonaro no debate realizado pela RedeTV! e Revista Isto É, em São Paulo.

Foto: Diego Padgurschi/Folhapress

O concorrente do PSL contra-atacou: “Temos aqui uma evangélica que defende o plebiscito para aborto e para maconha”. A candidata da Rede viveu seu momento mais glorioso na campanha até agora: “Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência”; “você um dia desses pegou a mãozinha de uma criança e ensinou como se faz para atirar”.
Bolsonaro encarou Henrique Meirelles. O candidato do MDB indagou sobre desigualdade salarial entre mão de obra feminina e masculina. O deputado engrossou: “É mentira que eu defendi em qualquer época da minha vida que mulher deve ganhar menos do que homem! É mentira! Não existe um só áudio, uma só imagem minha nesse sentido”.
Bastou uma visita ao YouTube para assistir ao que Bolsonaro descartara como mentira. No programa Superpop, ele se abriu: “A mulher, por ter um direito trabalhista a mais, no caso a licença gestante [maternidade], o empregador prefere contratar homem […]. Muitas vezes, por ser mulher, prefere dar um emprego ganhando menos”. A apresentadora Luciana Gimenez questionou: “O que você acha?” Ele respondeu: “Eu não empregaria com o mesmo salário”.
O repórter José Roberto de Toledo conferiu o programa de governo de Bolsonaro e descobriu: a palavra “mulher” é mencionada uma vez. “Deus”, 82.

Rogando pela morte de Dilma

No Brasil que o veterano capitão pretende administrar, o desempregoentre os homens é de 11%; entre as mulheres, de 14,2%. O de pretos alcança 15%, e o de brancos permanece aquém dos 10%. A mulher negra é a mais afetada pela falta de ocupação. Nem um terço das crianças até três anos têm acesso a creches, sobrecarregando muito mais as mães do que os pais.
A Agência Nacional de Cinema divulgou que três em cada quatro dos 142 longas-metragens nacionais que estrearam comercialmente em 2016 foram dirigidos por homens brancos, e nenhum por cineasta negra. Em junho se soube que uma mulher pobre, Janaína Aparecida Quirino, fora submetida a laqueadura por determinação judicial. Não havia diagnóstico clínico que respaldasse a ordem.
A Polícia Militar do Paraná instituiu o critério de “masculinidade” num edital para 16 vagas de cadetes. Explicou o quesito como “capacidade do indivíduo de não se impressionar com cenas violentas, não se emocionar facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”. Depois da grita, a PM reformulou o edital. De vez em quando eu, que me delicio com comédias românticas, choro vendo filmes; devo ser fraco em matéria de “masculinidade”.
Para contornar a obrigação de encaminhar ao menos 30% do fundo eleitoral para as mulheres, partidos as escalam como suplentes de candidatos homens ao Senado, contabilizando o dinheiro que se destina aos postulantes titulares. No “Roda Viva”, Manuela D’Ávila foi interrompida no mínimo 40 vezes pelos entrevistadores. Ciro Gomes, oito. Guilherme Boulos, nove. A deputada vestia uma camiseta com a inscrição “Lute como uma garota”.
Bolsonaro praguejou, em 2015, sobre o mandato da então presidente: “Eu espero que acabe hoje, [com ela] infartada ou com câncer, [de] qualquer maneira”.
No passado recente, Dilma tinha pelejado contra o câncer.

‘Ideologia mata!’

As mulheres vão à luta contra a injustiça e a covardia. No campus de Belém da Universidade Federal Rural da Amazônia, estudantes protestaram contra colegas que disseminaram por WhatsApp mensagens misóginas, homofóbicas e racistas. Um dos interlocutores incitou, aparentemente em referência a uma aluna: “Bora logo meter o estupro”. Outro emendou: “Estupro não, sexo surpresa”.
Na quinta-feira, secundaristas da rede carioca de colégios Pensi denunciaram no Twitter assédio sexual cometido por diretores, professores e inspetores (#AssédioÉHábitoNoPensi). Elas relataramcomentários, cantadas, carícias, abraços, toques – um conjunto de abordagens não consentidas e intimidadoras, portanto abusivas. A gota d’água foi a demissão de duas professoras que as apoiavam.
Anteontem, houve manifestações em várias unidades da rede e em outros colégios, com gurias e guris vestidos de vermelho. Uma garota carregou um cartaz que ensinava: “Quem cala as vítimas é cúmplice”. As manifestantes entoaram: “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim do assédio escolar!”
Jornalistas esportivas lançaram em março a campanha#DeixaElaTrabalhar, contra o assédio, o machismo e a violência de que são alvo no ambiente do futebol. Exigiram respeito. “Sai daqui, puta”, uma delas ouviu de um cafajeste travestido de torcedor, antes de ser agredida por ele. Outras foram surpreendidas por quem tentou lhes agarrar enquanto trabalhavam. Na Copa da Rússia, um cretino quis beijar a repórter Julia Guimarães, que se preparava para entrar no ar. “Eu não permito que você faça isso!”, ela reagiu altiva, em inglês. “Nunca!”
Mobilizadas por movimentos feministas e outras entidades, manifestantes acompanharam neste mês a audiência pública do Supremo Tribunal Federal que discutiu a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação –uma questão de saúde pública. O procedimento só é legalmente autorizado em casos de estupro, risco da mulher e anencefalia do feto. O Ministério da Saúde estima que no ano passado tenham ocorrido de 938 mil a 1,2 milhão de abortos provocados, quase todos clandestinos. Ao menos 224 mulheres morreram ao interromper a gestação, numa estimativa afetada por subnotificação.
Na barca Rio-Niterói, na sexta-feira, um PM contrariou-se com um passageiro que o fotografava e sacou a arma. O sargento encrencara com a candidata a deputada federal Talíria Petrone e militantes que carregavam material de campanha. A vereadora do PSOL em Niterói, contudo, não distribuía panfletos. “Arma mata!”, advertiu Talíria. “Ideologia mata mais!”, esbravejou o sargento. O fotógrafo Bruno Kaiuca filmou a truculência, documentando a grotesca tirada filosófica do policial.
Quem matou Marcos Vinícius da Silva foi um policial civil, asseguraram testemunhas. Em junho, o adolescente de 14 anos caminhava para a escola no complexo da Maré, onde morava. Sua mãe, a empregada doméstica Bruna da Silva, narrou o último diálogo com o filho. “Ele falou ‘mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Eu falei ‘meu filho, quem foi que atirou em você?’ ‘Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa da escola’”.
Carregando a camisa escolar ensanguentada do filho, Bruna participou em São Paulo de um protesto de mães. Desabafou: “Eu criei meu filho na comunidade até os 14 anos sem tomar tiro do poder paralelo. Aí, o Estado, que era para proteger e servir meu filho, alveja e assassina ele. Não pode. Chega! Aquela blusa do meu filho é uma vergonha para o Estado e para o Brasil!”.
Hoje faz 161 dias que Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados. O crime continua sem punição.

Sufragistas

Na nova pesquisa presidencial do Ibope, Bolsonaro é o único dos oito primeiros colocados que não colhe no eleitorado feminino nem metade da intenção de votos que obtém no masculino: 13% entre as mulheres e 28% entre os homens, no cenário que Lula lidera com folga. No total, o deputado atrai 18%, atrás de Lula (37%) e à frente de Marina (6%), Geraldo Alckmin e Ciro (ambos com 5%).
O desempenho de Bolsonaro entre os homens é 115% melhor. Outro contraste expressivo, que contribui para o deputado minguar entre as entrevistadas, é de Marina: a ex-ministra atinge 15% entre elas – 50% a mais – e 10% entre eles. Se somente eleitoras votassem, a dianteira de Lula, com 39%, seria mais ampla (ele se limita a 35% no eleitorado masculino). A candidatura do ex-presidente está na iminência de ser cassada pelo tapetão.
A vantagem de Lula sobre Bolsonaro é imensa também no universo dos brasileiros mais pobres. Entre os de renda familiar até um salário mínimo mensal, o ex-presidente ganha por 53% a 12%. Entre os com mais de cinco salários, Bolsonaro prevalece, com 32% a 17%. A esmagadora maioria das mulheres pobres recusa Bolsonaro.
O problema do extremista de direita é ainda mais grave porque as mulheres compõem 52,5% do eleitorado, com 7.436.871 inscritas a mais. Elas podem fazer a diferença, sobretudo em eventual segundo turno.
Bendita a hora em que as sufragistas saíram às ruas.
Foto em destaque: Mulheres protestam a favor da legalização do aborto na frente do consulado da Argentina, em São Paulo.
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