quinta-feira, 26 de novembro de 2020

A encruzilhada econômica chamada Paulo Guedes, por Luis Nassif

 

Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

Jornal GGN:
A economia está na encruzilhada do chamado problema Paulo Guedes.
Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

No final do ano passado, analisamos os indicadores que, supostamente, indicariam a recuperação da economia – segundo Guedes – e nenhum deles dava a menor indicação da reversão da crise. Mesmo assim, continua insistindo que a economia se recuperaria em V, não fosse a pandemia.

Agora, anuncia uma nova recuperação em V, contra todos os sinais.

Os nós que têm pela frente seriam desafios até para gente grande. Teria que administrar simultaneamente os seguintes problemas:

  1. A bomba do desemprego.

Com o fim do auxílio emergencial, haverá uma explosão maior no próximo ano, com a possibilidade da taxa de desemprego bater nos 20%.

  1. A recuperação econômica.

A volta da economia depende fundamentalmente do emprego – que não irá se recuperar. Guedes é incapaz de montar uma política ativa de crescimento. Seu repertório teórico ainda não conseguiu superar a miragem do choque fiscal anticíclico. É uma loucura de cabeças de planilha, que não resiste à menor análise.

  • Investimentos são diretamente proporcionais à demanda.
  • Se a economia está em qeuda e há um choque fiscal, amplia a queda da demanda, a capacidade ociosa.
  • Mas, segundo a lógica guediana, se o investidor sentir firmeza nos cortes fiscais, será estimulado a investir.

A questão central é: investir para quê, se o retorno do investimento depende da demanda?

  1. Equilíbrio fiscal.

Tem-se, de um lado, o torniquete da Lei do Teto. Todas as estimativas revelam impossibilidade de montar um orçamento minimamente viável, que se enquadre nas restrições da Lei. Ao mesmo tempo, o rigor fiscal, em um quadro de economia em queda, acentua o movimento de queda e, com ele, a não recuperação das receitas fiscais.

  1. O aumento da inflação.

A incapacidade de Guedes de administrar estoques reguladores e criar amortecedores para a alta das commodities – influenciada pelo câmbio, pelas exportações e pelas cotações internacionais – promoveu uma pressão disseminada de preços.

A pressão dos preços

Vamos a um detalhamento do IPCA-15 de novembro.

Em novembro, a maior alta foi, novamente, de Alimentos e Bebidas, com 4,5%. O acumulado, desde fevereiro, é de 10,12%. A segunda alta foi de Artigos de Residência, com 2,83% em novembro e 3,88% desde fevereiro. A terceira alta foi em Transportes, com 2,35% desde fevereiro.

No gráfico abaixo, analisa-se o peso de cada item no índice final. Desde fevereiro, o IPCA-15 acumulado foi de 2,41%. Desse total, 2,05% se devem ao grupo Alimento e Bebidas.

Uma análise dos subgrupos de Alimentação, identifica  facilmente a razão das altas: exportações excessivas e desvalorização cambial.

Desde fevereiro, as maiores altas foram em Cereais, Leguminosas e Oleaginosas (48,95%), Óleos e Gordura (46,79%).

Quando se analisa o peso de cada produto no índice final, derivados de oleaginosas, carne e laticínios puxam a fila.

Essas altas tem um componente de bomba relógio.

No Índice de Preços ao Produtor do IBGE aparecem nitidamente as pressões no atacado. Os últimos levantamentos do IBGE referem-se ao mês de setembro. Dps 23 setores acompanhados, 22 registraram altas.

A maior alta foi em Resinas e Elastômeros, largamente utilizados para material elétrico, garrafas, brinquedos e material de segurança.

Desde fevereiro, derivados de carne experimentaram alta de 41%, assim como laticínios, produtos siderúrgicos e químicos.

A alta nas matérias primas bateu direto no preço das manufaturas.

A quadratura do círculo

O nó está dado.

Dependendo exclusivamente da equipe da Economia, o cenário é previsível e dramático.

  1. Elevação da Selic, encarecendo o crédito e a dívida pública e atrasando ainda mais a recuperação.
  2. Cortes maiores de despesas e investimentos públicos, abortando qualquer possibilidade de recuperação econômica.
  3. Aumento do déficit fiscal, por conta do moto contínuo dos cortes: mais cortes -> menos atividade -> menos receita fiscal -> mais corte.
  4. Bomba relógio da explosão do desemprego e das tensões sociais.

O único ponto menos pessimista será a atuação do Congresso, impedindo a manutenção dessa caminhada para o desastre, desenhada por Guedes.


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