sábado, 12 de dezembro de 2020

Moro gerente do butim. Na guerra híbrida, foi borracheiro malandro, por Armando Coelho Neto, advogado, jornalista, delegado aposentado da PF e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

Moro foi agente local da Farsa Jato, e agora se tornou o gerente de extração da massa remanescente.

Jornal GGN:

Moro gerente do butim. Na guerra híbrida, borracheiro malandro

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Deixem-me explicar para o leigo o que é butim. Nos verbetes das nets da vida constam que butim é o conjunto de bens materiais e de escravos, ou prisioneiros, que se toma do inimigo depois de um ataque, batalha, guerra. É produto de roubo, pilhagem. Leia-se, depois da tempestade vem a bonança para o vitorioso.

Moro gerente de butim é uma metáfora real. Roubei a expressão do Facebook de Piero Leirner – antropólogo (vasto currículo), professor da Universidade Federal de São Carlos, experiente estudioso de guerra, sistemas hierárquicos. Ele se referia ao modelo americano de gerir os estragos das guerras promovidas pelos EUA.

O Iraque vítima do diletantismo dos EUA é exemplo. Citando a jornalista canadense Naomi Klein (autora da obra Doutrina do Choque), Leirner diz que, depois de arrasar um país, invasores se tornam os administradores da reconstrução local, usando suas próprias firmas. Ganham muito dinheiro na reconstrução do que destruíram.

A multinacional americana Halliburton, ligada a exploração de petróleo, obteve um lucro de US $ 39,5 bilhões na guerra do Iraque. A empresa foi comandada por Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush. É o que informa a Eco Link Brasil com o subtítulo “Máquina de Guerra que mata pessoas, povos, nações e culturas”.

Aliás, Jonh Perkins (ex-CIA, já falei dele neste GGN*) disse: “Somos muito bem pagos para enganar países ao redor do mundo e subtrair-lhes bilhões de dólares”, para atender interesses americanos. Ele conta muitas histórias sobre como os EUA ganharam dinheiro com golpes de estado. Qualquer semelhança com a Farsa Jato…

No caso do Brasil, o butim é consequência da guerra híbrida. Grosso modo, guerra híbrida é um conjunto de fatores – inclusive manifestações populares e o uso da lei utilizados para perseguir o alvo, desestabilizar governos. Para Leirner, a guerra híbrida pátria teve como sócia as Forças Armadas, a alma invisível do golpe.

Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) provou que a Farsa Jato deu origem à crise de emprego no país, pois desorganizou a cadeia de petróleo e gás, com importante impacto na construção civil. Acesso a crédito, licitações, realizar negócios foram impedidos às empresas investigadas.

Com números de 2015/2016, a revista Carta Capital mostrou que os investimentos da Petrobras eram 2% do PIB; o conjunto das empreiteiras envolvidas pela operação faziam investimentos da ordem de 2,8% do PIB. A OAS tinha 120 mil trabalhadores e caiu para 30 mil, a Engevix de 20 mil empregados foi para apenas 3 mil.

A mesma matéria revela que o desastre chegou ao mercado informal de trabalho, já que, por exemplo, um o desempregado egresso da OAS dispensou a diarista, e pode ter aberto mão de outros serviços. Desse modo, por incompetência ou mesmo como recurso da guerra híbrida, a Farsa Jato é parte da crise e do golpe de 2016.

O ex-presidente Lula, com base em dados de sua assessoria, tem dito que a Farsa Jato se vangloria de haver devolvido R$ 500 milhões à Petrobras. Mas, fez desaparecer mais de 2 milhões de empregos na construção civil, desmontou a indústria da infraestrutura, causando prejuízos em torno de R$ 142 bilhões ao país.

A cifra de Lula está defasada, pois já atingiu R$ 146 bilhões, segundo a professora Rosa Maria Marques, do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da PUC-SP. Numa entrevista ao Brasil 247 ela fala que não é economista progressista quem confirmam os prejuízos, mas sim empresas de consultoria.

Empresas estrangeiras envolvidas em escândalos financeiros, tais como Ericsson, Volkswagen Hoechst, Bayer, Basf estão firmes e fortes, mesmo tendo participado de esquemas de corrupção. A Farsa Jato como instrumento da guerra híbrida ajudou a fomentar o golpe de 2016. Sem crise o golpe ficaria mais difícil, claro!

Estrago feito, golpe dado, projetos frustrados, Moro torna-se ex-juiz, ex-ministro, ex-professor, ex-estrerma direita e …

Volto ao professor Leirner. “Não há outro nome para isso que não seja ‘administração do butim’”, diz ele. Moro foi agente local da Farsa Jato, e agora se tornou o gerente de extração da massa remanescente. O novo emprego do ex-tudo, para ele, é mais que um “reconhecimento pelos serviços prestados”.

Mas, que raio de emprego é esse? Em pleno dia da eleição, sabe-se lá por que motivo, veio a notícia de que o ex-juiz se tornou sócio da companhia americana Álvaro e Marçal (A&M), empresa que trabalha com a recuperação da Odebrecht, empresa essa que a Farsa Jato ajudou a destruir. É gerência de butim ou não é?

A Farsa Jato engordou os bolsos de muitos de seus capitães do mato, seja com palestras, livros e estrelato em círculo vicioso. Como diz um polêmico jornalista da Band News, se Moro fosse hoje juiz de Moro, ele estaria na cadeia. O dinheiro que Moro recebe vem, em parte, da empresa que ele ajudou a quebrar. Virou troca-troca.

Gerência de butim à parte, o raciocínio hediondo que Moro e os procuradores da República fizeram sobre as palestras de Lula valeria também para Moro? Seria o cargo (sócio) uma recompensa pelos benefícios concedidos às empresas investigadas? Seriam benefícios inespecíficos, aleatórios em troca de favores?

Na prática, Moro teria agido mesmo como um borracheiro malandro que manda moleques espalhar pregos nas redondezas para faturar com a recuperação de pneus furados. Será?

 (*) https://jornalggn.com.br/artigos/rosa-weber-deu-o-salve-e-o-golpe-comecou-por-armando-coelho-neto/

Armando Rodrigues Coelho Neto – Jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal, ex-integrante da Interpol em São Paulo.

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