quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A destruição da política científico-tecnológica pelo governo Bolsonaro. Reportagem de Luis Nassif a partir de relatos de professores universitários

 Jornal GGN:

Recebo o seguinte relato de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:

Há informação repassada pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) a alguns pró-reitores (acabo de ouvir do pró-reitor da minha universidade) da consolidação de algumas mensagens enviadas nos últimos meses.

A primeira: as bolsas do CNPq não serão mais enviadas aos PPGs (Plano de Desenvolvimento da Pós-Graduação), e serão acessadas somente por meio de editais. Este semestre tivemos uma série de cancelamentos de bolsas (que não foram renovadas após as defesas dos estudantes), que seriam parcialmente compensadas por um edital específico. Mas o atendimento nacional da demanda do edital foi próxima a 30%. Ou seja, houve redução enorme no número de bolsas ofertadas pelo CNPq neste semestre, e isso continuará no ano que vem. O bloqueio da cota é anterior à abertura do edital, então além da redução drástica no numero de bolsas teremos um vazio na nossa capacidade de captação de estudantes. Que estão cada vez mais deprimidos, ansiosos, desesperançosos com seus projetos profissionais e saindo do país (somente tomando a mim como exemplo, tenho 4 doutores formados recentemente que seguiram para fora do país).

A segunda se refere às bolsas de pós-doutoramento da CAPES, do programa PNPD (Programa Nacional de Pós-Doutorado). Este programa é fundamental, tanto pela absorção de pesquisadores no tempo entre o fim dos seus doutorados e um concurso (ainda mais importante nesse momento atual, onde não há concursos para docentes) quanto pelo fato de que esses são uma das principais forças de trabalho científica no país. Como consequência deste processo, teremos uma redução drástica na nossa capacidade de produção cientifica, de manutenção de pesquisadores no país, de interesse de jovens pela carreira e uma aceleração da diáspora dos nossos pesquisadores.

E todas essas informações foram acessadas somente através de conversas individuais de gestores, nenhuma informação oficial está disponível, é impossível nos planejarmos e estamos continuamente enxugando gelo para tentar manter os Programas de Pós-Graduação em funcionamento, alunos e docentes engajados mesmo nesta situação insustentável. Esse processo terá como provável consequência o fechamento de programas com avaliações menores, enquanto as (poucas) bolsas se sustentam somente nos programas de excelência (principalmente no centro-sul do país).

Bastou Bolsonaro acabar com as bravatas verbas para que os idiotas da objetividade passassem a argumentar que foi enquadrado pelas instituições. Hoje, a destruição do país é feita de forma silenciosa.

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