quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Brasil retoma visão anacrônica de neoliberalismo, alerta Bresser-Pereira



Professor avalia que crise política está associada à perda da ideia de nação pelas elites e declara: ‘Desenvolvimentismo é nacionalismo econômico’
 


 
Jornal GGN A crise política desencadeada em várias partes do mundo hoje, e que se aprofundou em 2016, é um sinal de insatisfação, cada vez maior, de grande parcela da população, “sobretudo branca e não-educada”, e que estaria se sentindo prejudicada pelo neoliberalismo há pelo menos três décadas. 
 
A avaliação é do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira que, em entrevista exclusiva para o programa Na sala de visitas com Luis Nassif, avaliou as consequências da crise política sobre a economia no Brasil e a insistência de conceitos neoliberais no país, enquanto até mesmo os países centrais já deixaram de lado “a crença cega no mercado”.
 
Bresser-Pereira é da ala dos economistas desenvolvimentistas, compreendendo o desenvolvimentismo como sendo “nacionalismo econômico e intervenção moderada do Estado” no mercado. Para os setores não competitivos da microeconomia (formada por empresas de infraestrutura e de base) o professor destaca que o Estado deve atuar garantindo os preços macroeconômicos, para evitar guerras de preços e, ao mesmo tempo, precisa dar conta de um sistema educacional eficaz, desenvolvimento tecnológico e planejamento dos setores mais competitivos da economia. 
 
Essa visão de Estado existiu entre os países capitalistas centrais até os anos 1980, quando o neoliberalismo ascendeu em todo o mundo, alcançando as nações menos desenvolvidas, como o Brasil, de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Com a quebra de Wall Street, em 2008, e propagação da crise em todo o mundo, os governos retomaram a linha protecionista e reforçaram o papel do Estado sobre o mercado. 
 
Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, apesar da ascensão de políticos mais à direita, aumentaram suas ações protecionistas nos últimos anos. Já o Brasil, desde o golpe que afastou a presidente Dilma Rousseff, vem tomando um rumo alternativo no mundo, mantendo uma visão anacrônica do neoliberalismo dos anos 1990.
 
Bresser completa que, de maneira geral, a crise política e, portanto, da globalização, ronda o mundo, mas não da maneira como ocorre no Brasil. E, essa crise, pode ser associada a perda da ideia de nação pelas elites. 
 
“Hoje temos a impressão de que ser capitalista é ser burguês, é ser liberal. Não é verdade, o capitalismo nasceu desenvolvimentista”, lembrando, por exemplo, do New Deal, nome dado a uma série de tratados implementados para combater os efeitos da crise de 1929, durante o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt nos Estados Unidos. As medidas, anticíclicas, foram tomadas para recuperar a economia a partir da forte intervenção do estado fazendo investimentos na indústria e em grandes obras.
 
“O que a Escola da Regulação, uma escola francesa de economia, chamou de modelo Fordista, porque foi um acordo político envolvendo empresários, trabalhadores, classe média e voltado ao crescimento da economia e uma moderação da atuação do Estado na economia, e funcionou muito bem”. 
 
O programa completo Na sala de visitas com Luis Nassif, você acompanha aqui no GGN, a partir das 18h, com os principais trechos desta entrevista. Assinantes GGN já podem acompanhar a participação completa do professor Bresser-Pereira na revista. Clique aqui

Temer,o ilegítimo, taxa Netflix e a Globo que o pôs no poder agradece, por Altamiro Borges



Do blog do Miro (também publicada no GGN)
 
A bondade presidencial atende a uma antiga demanda dos impérios midiáticos, que reclamavam da 'concorrência desleal' que fez desabar as audiências da TV.
 
por Altamiro Borges
Na virada do ano, o Judas Michel Temer deu mais um presentão às emissoras privadas que exploram as concessões públicas de rádio e tevê. Ele sancionou a lei complementar que determina a cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) para as transmissões online de áudio e vídeo, conforme publicação do Diário Oficial da União de sexta-feira (30). Desta forma, Netflix, Spotify e outros serviços online serão taxados, o que elevará os seus preços. A bondade presidencial atende a uma antiga demanda dos impérios midiáticos, que reclamavam da "concorrência desleal" que fez desabar as audiências das emissoras de tevê e rádio e diminuir os bilionários anúncios publicitários. 
Pelo projeto sancionado pelo usurpador também estão sujeitos à cobrança do imposto os serviços de "processamento, armazenamento, hospedagem de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e sistemas de informação, entre outros formatos, e congêneres". A produção de programas de computadores, "inclusive de jogos eletrônicos, também passa a ser taxada, assim como a disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da Internet", informa o Diário Oficial. A alíquota mínima do imposto foi estipulada em 2%. A cobrança segue a regra de considerar que o ISS é devido ao município onde está a sede do prestador de serviço.

Queda de até 20% no faturamento

Na era da internet, as transmissões online de filmes, shows e de outros atrações afetaram duramente o modelo de negócios da mídia tradicional. Em artigo publicado no jornal A Tarde neste domingo (1), o jornalista Ricardo Feltrin demonstrou a gravidade da crise. "2016 não termina nada auspicioso para as TVs abertas. O ano foi difícil para toda a economia, e não foi diferente para as TVs: especialistas ouvidos pela coluna estimam que haverá retração de 10% a 20% no faturamento (dependendo da emissora), a despeito de o país ter sediado os Jogos Olímpicos do Rio". Como efeito, "Record, SBT e Band terminam o ano fazendo cortes de custos e de equipes".

"Perto das demais, a situação da Globo pode ser considerada fantástica. Afinal, ela é a única emissora aberta do país que continua registrando lucro líquido no final de suas operações. Record, SBT, Band e RedeTV! devem fechar 2016 com prejuízo ou no limite; mas a Globo segue num vibrante azul. Em 2015, por exemplo, o lucro líquido do Grupo Globo foi de cerca de R$ 2 bilhões. Deve ficar um pouco abaixo disso em 2016. Mas o grupo também tem novos percalços no ano que começa hoje, e o maior deles é o surgimento de concorrência pesada na TV por assinatura: agora há grupos tão ou mais fortes como o Turner (Esporte Interativo) e Fox".
 
Já Maurício Stycer, outro especialista em mídia, publicou na Folha, em 25 de dezembro passado, um artigo que mostra os impactos diretos da internet no setor. Vale conferir:

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Demorou um pouco, mas a Globo, finalmente, aceitou que não há mais como trazer para a televisão linear parte do público que a trocou pela internet. O ano de 2016 se encerra com acenos explícitos a este espectador desinteressado em seguir a grade rígida da emissora. 
 
No último domingo (18), no início da tarde, no intervalo de 'A Cara do Pai', a Globo informou aos espectadores que o seu aplicativo online iria exibir às 16h30 um programa especial sobre os bastidores do 'Melhores do Ano', uma atração que a emissora programou para as 17h30. 
 
Ou seja, convidou o público a trocar a própria Globo, no momento em que estaria exibindo um filme, "O Espetacular Homem-Aranha", pelo Globo Play (acessível via laptop, smartphone ou mesmo o próprio aparelho de TV), onde poderia ver o blogueiro Hugo Gloss entrevistando atores da emissora.

Não que a Globo tenha desistido da TV aberta. Pelo contrário. Ela ainda é, no Brasil, o principal motor da indústria audiovisual, na qual estão concentrados os maiores investimentos em publicidade e os principais esforços de criação. Mas me parece altamente simbólico o reconhecimento de que é preciso competir no mesmo campo em que outras gigantes já estão nadando de braçada. 
 
A Amazon, por exemplo, acaba de lançar o seu serviço de vídeo por streaming em 200 países. Ainda que o conteúdo oferecido deixe a desejar, convém lembrar, como fez o jornalista Andre Mermelstein, do Teletime, que o faturamento da Amazon é 15 vezes superior ao da Netflix -e, portanto, a sua capacidade de investir em conteúdo próprio e licenciamento é enorme".

Nos Estados Unidos, a "velha mídia" já se deu conta, há mais tempo, da necessidade de se adequar aos novos tempos. O anúncio da compra da Time Warner pela AT&T em outubro, por US$ 85,4 bilhões, foi o sinal mais recente - e eloquente - de que é preciso se armar para a guerra.

Como disse Randall Stephenson, principal executivo da AT&T, assumir o controle da HBO e da Warner Bros., entre outros ativos, vai permitir à empresa oferecer conteúdo de vídeo on demand de maneira a compensar as perdas com a divisão de TV via satélite do grupo, a DirecTV.

Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, a legislação brasileira não permite que uma mesma empresa atue na produção de conteúdo e na sua distribuição, o que obrigará a AT&T, caso a fusão seja aprovada, a vender a Sky no Brasil. Trata-se da segunda maior empresa de TV por assinatura no país, com 5,3 milhões de assinantes.

No final de novembro, a AT&T lançou nos EUA o DirecTV Now, um serviço de streaming com 60 canais, incluindo alguns considerados indispensáveis, como ESPN e Disney, por US$ 35 mensais (cerca de R$ 115).

Como observou o "New York Times", é um serviço claramente dirigido aos "cortadores de cabo", ou seja, consumidores que desistiram de pagar por TV a cabo (ou satélite), mas dispõem de internet banda larga.

A associação entre plataformas que oferecem conteúdo audiovisual e provedores de internet, sem vinculação a operadoras de TV paga, é outra tendência dando seus primeiros passos no Brasil. A HBO lançou o seu serviço, seguida pela Crackle, ambas ainda limitadas a alguns Estados.

A crise econômica ainda ajuda quem aposta no atraso, mas o ritmo das mudanças parece mais acelerado do que nunca.
 
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Outras duas notícias recentes confirmam a crise no setor. Na semana passada, o SBT anunciou o fim do mais antigo telejornal da emissora, o "Jornal do SBT", que era apresentado por Hermano Henning e estava no ar desde 1991. Num comunicado lacônico, a empresa de Silvio Santos alegou tratar-se "de uma nova estratégia na grade de programação". Na prática, foi mais uma medida de corte de custos. Em julho passado, o "Jornal do SBT" já havia deixado de ser ao vivo e passou a ser gravado no final da noite, algumas horas antes de ir ao ar. Na época, a emissora estimou economizar cerca de R$ 1 milhão por ano com a medida, que reduziu gastos com horas extras e adicional noturno.
 
Outro notícia preocupante foi dada pelo mesmo Ricardo Feltrin, desta vez no site UOL. "Nas últimas semanas tanto a Kantar Ibope como a GfK começaram a divulgar alguns dados estatísticos a respeito do hábito de consumo dos telespectadores em outros aparelhos, que não as TVs. O Ibope, por exemplo, chegou a calcular que, em outubro, cerca de 5 milhões de indivíduos no Brasil assistiram a algum tipo de programa de TV de forma não-linear - o chamado TSV (Time Shifted Viewing) - por pelo menos 1 minuto. Ou seja, essas seriam as supostas pessoas que viram programas de TV por meio de 'on demand', ou deixaram atrações gravadas como futebol e novelas para ver depois, ou mesmo baixaram algum episódio de alguma série num pendrive, com a mesma finalidade".

Mesmo questionando a validade destes números, o jornalista concluiu: "Quase NINGUÉM no Brasil assiste a conteúdo de televisão em celulares, laptops ou outros aparelhos. Isso mesmo. Com raras exceções, como um ou outro trecho de capítulo final de novela, um jogo de futebol ou algum trecho de episódio de reality show culinário (como o 'Masterchef' da Band), as emissoras entram em 2017 sem conseguir arrastar seus telespectadores para as outras telas. Em outras palavras, a audiência de TVs abertas ou pagas nos chamados 'devices' é equivalente a um inexpressivo traço de audiência. Zero... Eis um grande problema para as TVs não só para 2017 como para os anos vindouros: como fazer o público consumir seus produtos em outros aparelhos que não o caseiro televisor?".

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Arbeit macht frei: a velha "grande mídia" restabelece lema do nazismo, por Esmael Morais


  "Em tempos de golpe de Estado e de Michel Temer, a velha mídia se esforça para criar um clima de normalidade no país a ponto, até, de resgatar um lema que era inscrito nos portões dos campos de concentração nazista dizendo que “o trabalho liberta” (arbeit macht frei).
Dito isto, vamos ao jornal Valor Econômico que na edição desta terça (3) traz a matéria “Trabalhar demais virou símbolo de status”. Trata-se de uma corruptela da máxima nazista."




Do blog de Esmael Morais
 
 
Esmael Morais
 
Em tempos de golpe de Estado e de Michel Temer, a velha mídia se esforça para criar um clima de normalidade no país a ponto, até, de resgatar um lema que era inscrito nos portões dos campos de concentração nazista dizendo que “o trabalho liberta” (arbeit macht frei).
Dito isto, vamos ao jornal Valor Econômico que na edição desta terça (3) traz a matéria “Trabalhar demais virou símbolo de status”. Trata-se de uma corruptela da máxima nazista.
O jornalão reproduz “estudo” norte-americano afirmando que compartilhar fotos de férias, momentos prazerosos ou de tempo livre perdeu espaço para o estilo de vida “workaholic” (viciado em trabalho).
Na verdade, o que o Valor quer incutir na mente dos brasileiros é que o trabalho dignifica o homem e os que não trabalham são vagabundos. Um contra-senso no país do golpe e do desemprego. Tirar férias, então, um pecado mortal!
É o neoliberalismo econômico fazendo a disputa ideológica (falsa representação da verdade) com os trabalhadores.
Aos que não se enquadrarem ao esquema da burguesia golpista, de trabalho num país de desempregados, xilindró, de preferência num presídio privado como aquele de Manaus onde 56 detentos foram exterminados no dia 1º deste ano.
Abaixo, a íntegra da matéria nonsense do Valor (Organizações Globo):
Trabalhar demais virou símbolo de status
SÃO PAULO – O que denota mais poder e status hoje em dia? Compartilhar fotos de uma prazerosa viagem de férias nas redes sociais ou repetir com frequência que a vida está “corrida” e o trabalho está tomando todo o seu tempo?
Segundo um estudo de pesquisadoras americanas, o estilo de vida “workaholic” é hoje um símbolo de status mais significativo do que a capacidade de ter tempo livre e se dedicar a atividades voltadas apenas ao lazer.
Por meio de uma série de experimentos, as professoras Silvia Bellezza, da Columbia Business School, Neeru Paharia, da Universidade de Georgetown, e Anat Keinan, da Harvard Business School, testaram como o ato de alguém sinalizar que está muito ocupado no trabalho influencia a percepção de status social dessa pessoa aos olhos dos outros.
Em um dos estudos, com 450 participantes, os entrevistados avaliaram o status de pessoas que faziam compras em um serviço on-line de entrega, ao invés de em uma rede de supermercados de alto padrão. Por associar o serviço de entregas à falta de tempo, os participantes atribuíram o mesmo status social aos seus compradores do que os que frequentavam a rede de supermercados de luxo — apesar de eles próprios não considerarem o primeiro tão caro quanto o segundo.
Outro experimento analisou a percepção dos participantes em relação a uma mulher que usava fones de ouvido sem fio, associados ao ato de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, ou fones normais tradicionalmente usados para ouvir música. Mesmo quando as marcas dos fones tradicionais eram mais caras do que as do fone sem fio, os participantes associaram mais status aos aparelhos dedicados às atividades profissionais.
Para as pesquisadoras, a percepção crescente de que estar ocupado sinaliza status está relacionada ao desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento, onde certas habilidades profissionais são muito valorizadas no mercado. “Ao dizer aos outros que estamos ocupados e que trabalhamos o tempo todo, estamos sugerindo implicitamente que somos pessoas em alta demanda”, escreve Silvia Bellezza, em artigo para a “Harvard Business Review”.
Uma condicionante dessa percepção descoberta durante os estudos, no entanto, foi a crença de cada participante no conceito de mobilidade social. Aqueles mais propensos a acreditar que trabalhar duro resulta em sucesso também atribuíram mais status social às pessoas mais ocupadas.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

2016, o ano em que o capitalismo real mostrou a que veio, por Jerome Ross, do Instituto Universitário Europeu


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Tudo que  um dia nos disseram deveríamos temer sobre o socialismo — desde repressão estatal e vigilância em massa até padrões de vida em queda — aconteceu diante de nossos olhos
Por Jerome RoosRoarmag | Tradução Gabriel Simões | Ilustração de Mirko Rastić
Nós vivemos em um mundo de ponta-cabeça. Como recentemente colocou um meme amplamente compartilhado, “tudo que nós temíamos acerca do comunismo — que perderíamos nossas casas e economias e seríamos forçados a trabalhar eternamente por salários miseráveis, sem ter voz no sistema — aconteceu sob o capitalismo.” Longe de levar a uma maior liberdade política e econômica, como seus acólitos e a intelligentsia sempre alegaram que seria, o triunfo definitivo do projeto neoliberal se deu de mãos dadas com uma expansão dramática da vigilância e controle estatal. Há mais pessoas no sistema penitenciário dos Estados Unidos do que havia nos Gulags, no auge do terror stalinista. Os servidores da NSA agora podem capturar 1 bilhão de vezes mais dados do que o Stasi jamais pôde. Quando o muro de Berlim veio abaixo em 1989, havia 15 muros dividindo fronteiras ao redor do mundo. Hoje são 70. Em muitos aspectos, o futuro distópico dos romances e do cinema já acontece.
Em sua aposta faustiana de reestruturar sociedades inteiras, alinhada às prerrogativas do lucro privado e crescimento econômico infinito, o neoliberalismo sempre colocou a a mão de ferro do estado firmemente ao lado da mão invisível do mercado. No despertar da crise financeira global, contudo, este conluio entre os interesses privados e o poder público se radicalizou. Giorgio Agamben escreve que estamos testemunhando “a paradoxal convergência, hoje, entre um paradigma absolutamente liberal na economia e um controle estatal e policial sem precedentes, igualmente absoluto.” Ao traçar as origens deste paradigma no surgimento da polícia e a obsessão burguesa em relação à segurança na Paris pré-revolucionária, Agamben observa que “o passo radical foi dado apenas nos nossos dias e ainda está em processo de realização plena.”
Os ataques terroristas de 11/9 e as consequências da Grande Recessão desempenharam um papel importante na catalisação desses desdobramentos, acelerando a “desdemocratização” do Estado em curso e forjando a natureza fundamentalmente coerciva do neoliberalismo em crescente alívio. O resultado, para Agamben, foi o surgimento de uma nova formação política que opera de acordo com sua própria lógica:
O Estado sob o qual vivemos hoje não é mais um Estado disciplinar. Gilles Deleuze propôs chamá-lo de “État de contrôle”, ou Estado de controle, porque o que o Estado deseja não é ordenar e impor disciplina mas sim gerenciar e controlar. A definição de Deleuze está correta, pois gerenciamento e controle não necessariamente coincidem com ordem e disciplina. Ninguém deixou isso tão claro quanto o policial italiano que, após as revoltas de Gênova, em julho de 2001, declarou que o governo não queria que a polícia mantivesse a ordem, mas que gerenciasse a desordem.
O gerenciamento da desordem — este se torna o principal paradigma do governo sob o neoliberalismo. Em vez de confrontar diretamente as causas subjacentes à instabilidade política, à catástrofe ecológica e aos problemas sociais endêmicos, o Estado de controle considera “mais seguro e útil tentar administrar seus efeitos.” Assim, em vez de combater as obscenas desigualdades de riqueza e poder no coração do capitalismo financeiro, o Estado de controle cada vez mais recorre à polícia contra o precariado. Em vez de reverter a exclusão social e a marginalização econômica de minorias historicamente oprimidas, o Estado de controle há muito resolveu hostilizar, assassinar e encarcerar essas pessoas. Em vez de acabar com a pobreza e a guerra, o Estado de controle agora promete agora construir novos muros e cercas para manter afastados os os indesejados migrantes e refugiados. Resumindo, em vez de tentar enfrentar os conflitos e crises multifacetados que a humanidade enfrenta pelas suas causas mais profundas, o Estado de controle se contenta em apenas gerenciá-los.
Se há uma imagem que veio definir este paradigma incipiente de controle, é a falange da polícia de repressão a manifestações — armada com fuzis e apoiada por veículos blindados — preparando-se para o confronto com populações locais quase sempre desarmadas em locais como Rio de Janeiro, Diyarbakir e Standing Rock. Desde a aparência dos policiais até as armas e as táticas empregadas em solo, essas imagens mostram claramente como os espaços internos de segregação do mundo começaram a se assemelhar cada vez mais com uma zona de guerra ocupada. É claro que a semelhança não é mera coincidência: a ação policial não apenas recebe material excedente do complexo militar-industrial, incluindo armas e veículos que teriam sido empregados em verdadeiras zonas de guerra, como também começou a aplicar métodos militares de contra-insurgência no policiamento de protestos e do espaço urbano, de maneira geral. Na verdade, dois dos quatro esquadrões empregados em Ferguson, em 2014, receberam o seu treinamento em controle de multidões da polícia israelense, a qual aprimorou suas habilidades nos territórios ocupados da Palestina. Sob o neoliberalismo, em resumo, os métodos de ocupações militares no exterior e de uso doméstico pelas polícias locais estão cada vez mais misturados.
O mesmo tipo de fusão ocorre no limiar entre os interesses privados e o poder público, ou entre corporações e o poder estatal. Assim como as exigências de Wall Street se condensam nas prioridades políticas do Fed e do Tesouro Americano, e assim como os interesses dos fabricantes de armas continuam a alimentar as decisões políticas tomadas dentro da Casa Branca e do Pentágono, a capacidade de coleta de dados e controle algorítmico do Vale do Silício rapidamente se integra ao aparato de inteligência e segurança dos EUA. Enquanto isso, os exércitos ocidentais cada vez mais se apoiam em serviços militares privados para prestar apoio e até mesmo exercer funções ativas em combate, como as equipes de segurança privada estão assumindo o papel da polícia, com os primeiros agora superando os últimos numa proporção de 2 para 1 em escala global. Em outras palavras, como o Estado neoliberal expande dramaticamente o seu controle sobre populações cada vez mais rebeldes, dentro e fora de seu país, empresas bem relacionadas estão se inserindo com sucesso na atividade de “gerenciar a desordem” em troca de lucro privado.
Tudo isso culminou no desenvolvimento de novas tecnologias poderosas — desde os smartphones em nossos bolsos até os drones pairando sobre nós — que possibilitam uma intrusão sem precedentes da lógica de poder público-privado em todos os cantos do mundo e em todos os aspectos de nossas vidas. Nunca antes uma miríade de empresas privadas e agências estatais tinha tido tal acesso tão amplo às comunicações e ao paradeiro de tantos cidadãos insuspeitos. E nunca antes um presidente dos EUA teve tanto controle sobre uma máquina de matar tão sofisticada e versátil para as suas ações de assassinatos extrajudiciais. Agora, com uma oligarquia autoritária e racista na Casa Branca, além de demagogos de direita igualmente perigosos aguardando a sua chance na Europa e boa parte do resto do mundo, a questão que inevitavelmente surge é como iremos nos defender deste Estado de controle que tudo vê e devora, com o seu ímpeto intrínseco de contínua autoexpansão e seu completo desprezo pelos direitos humanos mais básicos e pelas liberdades políticas.
A quarta edição da ROAR Magazine considera esta questão à luz dos desdobramentos profundamente problemáticos dos últimos anos. Ela examina as várias novas tecnologias de controle estatal e as formas inovadores de resistência que surgem contra elas. Traçar os contornos do neoliberalismo autoritário conforme ele mostra a sua cara feia ao redor do mundo oferece tanto uma avaliação distópica de nosso atual momento político quanto uma visão radical para libertação coletiva e transformação social para além do Estado de controle. Se tudo o que nós um dia tememos sobre o comunismo aconteceu sob o capitalismo, talvez seja o momento certo de começarmos a pensar em alternativas democráticas anticapitalistas.

Jerome Roos

Jerome Roos é doutorando em Economia Política Internacional no Instituto Universitário Europeu e editor fundador da ROAR Magazine.

Leonardo Boff apresenta o economista José Álvaro de Lima Cardoso que discute,em artigo, o desmonte do sistema de defesa Nacional, pela Lava Jato e os golpistas



Mauro Santayana, em artigo, afirma: "a engenharia nacional morreu". O golpe a matou...

Precisamos superar o nosso complexo de “vira-latas” e tomarmos consciência da importância geopolítica e estratégica do Brasil no conjunto das nações do mundo. Somos uma das maiores nações em termos geográficos e populacionais. Somos a sétima economia do mundo com um mercado interno de 204 milhóes de brasieiros. Mas mais que tudo, somos um reserva de bens e serviços naturais como nenhum país do mundo possui em termos de terras férteis, de água doce, de florestass úmidas, de biodiverdade e de riqueza populacional pluri-etnica. Tal fato não passa desapercebido pelas potências que se arrogaram o poder de decidir o caminho por onde deve andar o planeta, o sistema-vida e o sistema-Terra. É por isso que nosso país, seu governo, as grandes empresas são vigiadas e espionadas. Ademais somos a grande potência do Atlântico Sul voltada para a África. Para onde irá o Brasil? Que posição tomará face aos problemas mundiais? Fará um caminho próprio, baseado na sua riqueza natural e histórica, influenciando outros países? Estas são as preocupações das potênciais que têm sob seu controle o processo de globalização . Transcrevemos essse artigo para nos alertar da importância que possuimos em termos de defesa de nossa soberania nacional. E também denunciar aqueles grupos e poderes que querem se alinhar a um dos poderes mundiais dominantes renunciando à construção de nosso próprio caminho e de nossa identidade nacional e desta forma dar uma contribuição à inteira humanidade. O estudo foi feito por um economista JOSÉ ALVARO DE LIMA CARDOSO, recomendado pelo nosso maor analista das políticas internacionais LUIS ALBERTO MONIZ BANDEIRA. Recomendo a leitura para melhorar nosso quadro de análise de nossa realidade nacional no contexto global: Lboff


Nesta altura dos acontecimentos até as pedras sabem que o interesse imperialista nas matérias primas do Brasil (petróleo, minerais, água, biodiversidade da Amazônia) foi um dos carros-chefe do golpe. No entanto, além do interesse econômico imediato – nas matérias-primas e na eliminação de direitos e redução de salários – o golpe tem decisivo componente geopolítico, com cada vez maiores evidências do envolvimento direto das forças de inteligência norte-americanas (CIA, FBI, NSA). Está cada vez melhor documento, por exemplo, o envolvimento da equipe da Lava Jato com estratégias montadas em instituições de inteligência dos EUA.

Ao contrário de 1964, quando a censura e a repressão impediam a circulação de informações, neste golpe, apesar da democracia ter sido restringida, está sendo possível denunciar suas entranhas enquanto ele se desenrola (apesar da blindagem da mídia). Sabemos, por exemplo, da relação de Sérgio Moro com a comunidade de informações dos EUA. Moro fez cursos no Departamento de Estado, dos EUA, em 2007. No ano seguinte fez um programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard. Em 2009 participou da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida pela Embaixada dos Estados Unidos. Foi treinado, segundo o historiador Moniz Bandeira, em ação multi-jurisdicional e práticas de investigação pelos estadunidenses. Inclusive em demonstrações reais, segundo o historiador Moniz Bandeira, de como preparar testemunhas para delação.

Tivemos a informação também, ainda antes do impeachment, que Sérgio Moro, e o procurador-geral da República Rodrigo Janot, atuam em parceria com órgãos dos Estados Unidos contra empresas brasileiras. E que Sergio Moro recentemente autorizou o compartilhamento da delação premiada do ex- diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, com investigadores de Londres em processo contra a Petrobrás. Segundo informações divulgadas na imprensa, Sergio Moro tem autorizados conversas feitas diretamente com cada delator da Lava Jato e o Departamento de Justiça dos EUA, sem passar pelo Estado brasileiro, como prevê a lei. Ou seja, os responsáveis pela operação Lava Jato permitem o acesso a órgãos do Estado norte-americano, a informações sigilosas, que são utilizadas para atacar e processar judicialmente a Petrobrás e outras empresas brasileiras. Como podemos nominar esse tipo de atitude? Como podemos chamar também a prisão do Vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, principal responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria, no mundo?

Não foi por acaso que na preparação do golpe, nos últimos anos, foi estimulado no povo brasileiro o complexo de vira-latas e se depreciou de forma sistemática tudo que poderia significar orgulho pelo País ou amor pela pátria. A campanha foi tão eficiente que idiotas saíram nas manifestações pró impeachment vestidos com as cores ou enrolados na bandeira dos EUA. Somente um processo sofisticado de manipulação da população poderia possibilitar o apoio a uma operação entreguista como a Lava Jato, pensada para quebrar a Petrobrás e o seu entorno, que gerou R$ 140 bilhões em prejuízo para a economia, provocando a demissão de milhares de trabalhadores, liquidando com dezenas de projetos na área de energia, indústria naval, infraestrutura e defesa. Recentemente, membros do Ministério Público Federal vieram a público para colocar sob suspeição o programa de construção de 36 caças estratégicos com a Suécia, colocando em dúvida a lisura de um ex-presidente da República e dos militares que participaram do negócio.
O golpe e o entreguismo estão só no começo. No apagar das luzes de 2016, o presidente golpista determinou à Comissão Aeronáutica Brasileira na Europa (CABE) a contratação, com urgência, de serviços de sensoriamento remoto por satélite. O custo de importação do equipamento está estimado em cerca de R$ 300 milhões. Segundo informações da imprensa, os membros da CABE estranharam a ordem, visto que este tipo de serviço para as Forças Armadas, só pode ser realizado por empresas nacionais ou constituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no País. Salvo raras exceções.
A ordem, que partiu da Casa Civil, tem graves implicações também no campo da soberania e segurança nacional. Segundo informações, a divisão de licitações e contratos da Aeronáutica classificou como ilegal a determinação, visto que esse tipo de fornecimento tem que ser feito por empresas brasileiras, inscritas no Ministério da Defesa. Os oficiais da Força Aérea, segundo os jornais, estão intrigados com o pedido da Presidência da República, que está se metendo diretamente nesse tipo de assunto, e atropelando regras que, dentre outras coisas, exigem a presença de empresas nacionais no processo. O que pode explicar essa entrega voluntária da vigilância do território brasileiro a empresas estrangeiras, senão entreguismo e subserviência? O que representa, do ponto de vista da segurança e soberania, buscar apoios em outros países, se empresas nacionais sabidamente têm condições de fornecer com excelência esse tipo de serviço? É que este não é um golpe qualquer. A agressão imperialista que o Brasil está sofrendo pode se comparar às guerras contra o Iraque e a Líbia, as técnicas de desestabilização utilizadas são semelhantes.

José Alvaro de Lima Cardoso, economista.

Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista social, fala sobre Trump, fascismo, racismo, nazismo e massas raivosas reacionárias



Segue um curto vídeo onde Noam Chomsky, ainda no processos das primárias das eleições americanas de 2016, discute os motivos da ascenção de Donald Trump.... Muito do que ele disctue sobre a classe média conservadora norte-americana serve para a classe média exclusivista brasileira. Assistam e reflitam... Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Fonte: Youtube

O desafio hoje, em tempos teméricos, ou aprendendo com Antonio Gramsci







“O desafio da modernidade é 
viver sem ilusões, sem se tornar desiludido”. 

Antonio Gramsci (1891-1937)

Sim... Os tempos tornaram-se menos lúcidos... Já não se tem o poder de decidi pelo voto, posto que a Casa Grande não aceita o voto que contrarie seus interesses... Aprendamos, pois, o valor de se ter uma consciência crítica em tempos de correntes midiáticas, de imposturas comunicativas, de imposições escravistas em épocas onde valores como justiça social, democracia e solidariedade perderam sentido...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

domingo, 1 de janeiro de 2017

Foster Gamble sobre as elites e o controle financeiro contra todos nós, as pessoas e o meio-ambiente





  Foster Gamble, um dos herdeiros da corporação P& G, é um dos poucos empresários que, apesar de tudo contra, conseguiu manter a mente aberta ao mundo e à sua época. Ele e sua esposa, Kimberly, são os apresentadores de um interessante documentário chamado Thrive - Prosperar: o que será necessário?", que põe em questão os reais motivos por trás da crise econômica, energética e ambiental que se abate sobre todos nós, com as consequencias graves que conhecemos.... Apesar de passagens bastante polêmicas, no geral o documentário, efetuado a partir de entrevistas com especialistas, é bem direito nas causas do mal que se abate de cima para baixo sobre o mundo inteiro...  Vejamos, aqui, apenas uma parte do que Foster Gamble discute, em um trecho do documentário (que pode ser assistido na íntegra ao final da postagem):


"Tão difícil quanto foi pra mim, cheguei a uma conclusão inevitável e profundamente perturbadora: Eu acredito que um grupo de elite e as corporações que ele dirige tomaram o controle não apenas da nossa energia, fonte de alimentos, educação e medicina, mas de praticamente todos os aspectos de nossas vidas. E eles fazem isso através do controle do mundo financeiro: não criando mais valores, mas realmente controlando a fonte do dinheiro. Quando eu segui o dinheiro, ele me levou aos níveis de uma pirâmide.
Estamos aqui, no nível inferior, apenas vivendo nossas vidas cotidianas.

Acima de nós está o governo. Pessoas que receberam o monopólio da força que utiliza para nos controlar e exigir o pagamento de impostos, concordemos ou não. Mas quem os controla?
No próximo nível estão as corporações. Muitos diriam que agora são as corporações que governam o mundo e não os Governos, chamam isso de "corporocracia". Para adquirir os recursos do mundo e controlar os mercados, esta "corporocracia" deve possuir acesso a dinheiro fácil. As grandes corporações obtém seus empréstimos nos grandes bancos com tarifas baixas.


O que significa que aqueles que controlam os grandes bancos, e elite financeira, em última análise, controlam as corporações.
Quando eu segui o dinheiro, descobri que tudo o que eu sempre soube a respeito de dinheiro simplesmente não era verdade."
 Mais adiante, o mesmo pesquisador afirma:

"Será que estou errado? Talvez... Mas e se eu não estiver? Estamos numa bifurcação crítica no caminho da evolução humana. Um caminho leva à tirania, e provavelmente à autodestruição. O outro nos levaria a uma civilização pacífica e saudável, baseada em honrar os direitos e a liberdade de cada pessoa deste planeta. Partir nessa nova direção, depende de mim e de você. Chegou a hora de dizer: Basta! Existe outro caminho! Eu acredito que, juntos, nós temos o conhecimento, os recursos e as soluções para passar por este desafio. 
Eu vejo todo esse processo como nada menos do que uma luta pela alma humana. Começa com uma mudança na forma de enxergar o mundo, fazendo-nos perguntas como: Quem somos nós, de verdade? O que é a natureza humana? Nós somos o que a elite acha que somos? Criaturas estúpidas e gananciosas, que, se forem deixadas soltas, criam a violência e o caos, e que, para o nosso próprio bem, devemos ser controlados por uma autoproclamada elite? Ou somos naturalmente cuidadosos e criativos? Eu acredito que quando o povo está saudável e tem o que precisa para sobreviver, pode criar um mundo baseado na integridade, liberdade e compaixão. Um mundo onde todos podem prosperar!
Qual dessas duas visões irá moldar o nosso futuro? Essa é a nossa decisão. AGORA!
A agenda de controle da elite global é o produto de uma visão destrutiva do mundo, baseada na crença de que não há o suficiente para todos; que algumas pessoas merecem mais do que as outras; e que a sua segurança depende do controle que mantêm sobre o resto de nós. Em poucas palavras, sua visão de mundo está baseada em escassez e medo. Mas apesar de seu poder, os arquitetos dessa Nova Ordem Mundial não podem criar essa visão terrível sem o nosso apoio. Para detê-los, para tornar a sua agenda obsoleta, nós temos que acordar! Devemos tomar uma atitude."

Sobre a esperança de um Novo Ano Bom


 Se nós fizemos e/ou participamos da, enquanto coletividade, História de um ano que marcou por seus excessos de coisas ruins, que a percepção de sermos co-autores de tudo o que ocorre nos faça refletir sobre nós mesmos... E que, se de fato queremos, tomemos a decisão de mudar os rumos de nosso caminhar... Se renovou-se o Ano, que não seja isso apenas nos números que o rotulam, mas as pessoas que o fazem... Renovemos nossas percepções e, com elas, nossas atitudes... Assim, o que foi tragicamente ruim servirá de lição sobre nós mesmos e, assim, ao aprender, possamos fazer um Ano Novo realmente Bom....

Carlos Antonio Fragoso Guimarães


Folha e 247: Em editorial, a Folha agora lamenta (até onde vai a sinceridade?) o GOLPE de 2016 que apoiou





"Há algo errado numa jovem democracia que depõe, pela via legítima da Constituição, dois chefes de Estado num lapso de 24 anos. Falharam os controles que deveriam evitar o uso desse recurso brutal e traumático contra o mandato presidencial concedido pelo voto direto", diz editorial da Folha, de Otávio Frias Filho, que apoiou o golpe parlamentar de 2016, que praticamente quebrou a economia brasileira

247 – Em editorial publicado neste domingo, a Folha lamenta o impeachment da presidente Dilma Rousseff, deposta por um golpe parlamentar, mas tenta sustentar a tese de que houve crime de responsabilidade, quando, na verdade, foi o próprio golpe que praticamente quebrou a economia brasileira.
Confira abaixo:
Muitos anos em um 
Quem detinha o poder não mais o exerce. Quem em liberdade desfrutava de status e riqueza está preso. Frustraram-se expectativas econômicas e subverteram-se, nas urnas, desfechos de votações tidos como certos. O mundo e o Brasil se mostraram mais complexos e imprevisíveis do que se supunha no desenrolar de 2016.
impeachment de Dilma Rousseff (PT) não é fato a festejar. Há algo errado numa jovem democracia que depõe, pela via legítima da Constituição, dois chefes de Estado num lapso de 24 anos. Falharam os controles que deveriam evitar o uso desse recurso brutal e traumático contra o mandato presidencial concedido pelo voto direto.
A reincidência do impeachment não foi o único elemento incomum. Extraordinária também se mostrou a latitude do poder presidencial para atropelar a responsabilidade fiscal e sustentar seu apoio com centenas de bilhões de reais em contratos e créditos a fluir por fora do Orçamento, nos balcões de empresas e bancos estatais engordados.
Uma parcela dessa dinheirama fluiu para políticos de todos os naipes a título de propina. Empreiteiras compravam regulamentos no Legislativo. Financiavam governistas e oposicionistas na União, nos Estados e nos municípios com a mesma lógica de quem adquire serviço em mercado especializado.
Se a fatia majoritária dos fundos retirados do contribuinte, ou emprestados a juros de agiota dos detentores da dívida estatal, houvesse sido aplicada diligentemente, ainda haveria um pequeno alívio.
Quase tudo o que fez, no entanto, foi alimentar o Leviatã da ineficiência e projetos megalomaníacos que jamais serão recompensados.
A deficiência de controle em aspectos importantes do funcionamento do Estado esteve, portanto, entre as causas da violenta recessão que engolfou o Brasil a partir de meados de 2014, cujos efeitos acumularam-se nos anos seguintes e ajudaram a demolir a base popular e política de Dilma.
Mal controlado também estava um sistema de apoio cuja cooptação dependia de moeda suja.
O avanço da Lava Jato e as maiores manifestações populares da chamada Nova República fizeram o que os instrumentos preventivos não conseguiram. Impuseram um custo elevado à manutenção do statu quo. Dilma não entendeu o recado, apostou em mais do mesmo, atiçou a polarização —e caiu.
A mensagem de que a lei impera sobre todos —reforçada por outras ações que na Justiça derrubaram poderosos— e a disposição de milhares de pessoas de antepor-se nas ruas aos governantes de turno estão entre os poucos fatos positivos num ano cheio de notícias ruins.
Soergueram-se o Ministério Público e o Poder Judiciário, mas a extensão no tempo e a multiplicação de prisões sem juízo de culpa formado, o hábito de impor condução coercitiva a quem jamais se recusara a depor e a divulgação por autoridades de informações fora dos cânones legais são ocorrências preocupantes que se acentuaram em 2016.
A velocidade exemplar de Curitiba na condução dos processos penais fez ressaltar a morosidade da Procuradoria-Geral da República nos casos submetidos ao Supremo Tribunal Federal. É péssima a mensagem que esse duplo padrão transmite: mais estropiado, inclusive na Justiça, está quem perdeu o poder político em Brasília.
Iluminadas e talvez estimuladas pelos holofotes, as veleidades e as idiossincrasias do STF também têm custado caro. Ministros comentaram as mais delicadas questões fora dos autos e intrometeram-se individualmente em assuntos típicos da alçada legislativa ou executiva.
Acuadas, lideranças do Congresso reagiram da pior maneira. Não desistiram de revidar a quem as investiga. O presidente do Senado chegou ao desplante de ignorar uma ordem judicial.
Na economia, o remédio tardio mas necessário ministrado ao paciente descuidado será uma camisa de força nos gastos públicos por ao menos uma década, além de uma reforma da Previdência duríssima para todos os trabalhadores. A receita amarga tende a reproduzir-se nos Estados. Não aceitá-la produzirá desmantelo nos serviços básicos.
Fora do país, o quadro não ajudou. A ameaça dos nacionalismos tornou-se mais que uma hipótese após a vitória de campanhas isolacionistas no Reino Unido —que decidiu em junho deixar a União Europeia— e nos EUA —que elegeram Donald Trump em novembro.
A melhor doutrina da convivência humana e o pensamento progressista sofreram revés histórico.
O Brasil não se precaveu e está sofrendo mais. Resta a esperança de termos aprendido as principais lições, para que as próximas crises por aqui sejam no mínimo suaves e encontrem uma democracia bem mais fortalecida a dar-lhes combate.