domingo, 8 de novembro de 2020

Com Bolsonaro, Guedes e Ernesto Araújo e, portanto, sem qualquer capacidade de diálogo internacional, o Brasil, ruma para a ruína, por Ion de Andrade

 

As políticas econômicas e externa levadas adiante pelo governo só podem ser entendidas pela lógica da subordinação do interesse nacional ao interesse americano.

Jornal GGN:
Foto PR

Sem qualquer capacidade de diálogo internacional o Brasil ruma para a ruína

Não escapará da derrocada nem a indústria, nem o agronegócio

por Ion de Andrade

As forças do mercado são cegas, essa máxima pode parecer uma frase de efeito, mas não é. Ilustra isso a questão da renda de emergência, (e da renda mínima que deveria substituí-la) cujos efeitos, para além de evitar a miséria de milhões de brasileiros, têm sido extremamente benéficos em primeiro lugar para o “mercado”, por um aumento no volume de vendas que produz aquecimento dos negócios. A rede de supermercados já identificou a queda nas vendas em decorrência do seu progressivo encerramento…

Note-se que para o mercado, essa renda que termina por encher o bolso dos oligopólios que mandam na economia, não sai do bolso das empresas. Isso significa que a política de arrocho dos salários e da renda promovida por Guedes et caterva, que dá aos empresários essa “saciedade” imediatista de gastar menos com a folha salarial, tem na renda emergencial ou na mínima uma  compensação pelo Estado que, através dos impostos faz rodar essa espécie de fordismo canalha no qual o empresário arrocha o trabalhador diretamente mas recebe de graça um mercado promovido pelo Poder Público. Em lugar de apoiar essa ideia unanimemente e com unhas e dentes, sequer entendem. Forças cegas, são incapazes de compreender que o problema orçamentário é que tem que se resolvido e a renda mínima assegurada e que isso coincide com a necessidade de sobrevivência de milhões.

Portanto embora possa parecer simples para quem costuma olhar para a economia e para a sociedade de forma sistêmica, o que vamos enunciar aqui pode ser complexo demais para o dito mercado, cuja cegueira imediatista só não é maior do que a ganância.

Ora, as políticas econômicas e externa levadas adiante pelo governo só podem ser entendidas pela lógica da subordinação do interesse nacional ao interesse americano. Vejamos, por que é que o meio ambiente está sendo ostensivamente agredido? Servem a quê os recordes de destruição da Amazônia, do Pantanal, a liberação da pesca no Parque de Fernando de Noronha, ou a tentativa de acabar com as restingas e mangues? Há quem ache que é do liberalismo e que isso serve para incrementar a economia, como se a portentosa produção agropecuária brasileira estivesse realmente precisando disso, mas não está. O próprio agronegócio, já anunciou que não precisava da Amazônia. Então a que serve?

Serve a criar na Europa nojo suficiente do Brasil para inviabilizar o acordo da União Europeia como Mercosul, aliás conseguiram. Mas em que é que isso beneficia os Estados Unidos? Aqui os agentes do mercado, se lerem, terão que fazer um esforço de compreensão adicional: Exceto o Mercosul, o grande produtor agrícola capaz de alimentar a Europa são… suspense… os Estados Unidos, bingo! Sem o acordo com o Mercosul a Europa cai nos braços sim do agronegócio… americano.

E por que é que temos que entender que as ridículas provocações com a China são de encomenda dos Estados Unidos? Porque a Soja do Brasil concorre com a dos… suspense… Estados Unidos! As políticas de estado não são casuais, são propositais. Os efeitos não são imediatos, mas eles vêm e isso é claro como água, no médio e longo prazos. A China, aliás, que também já entendeu o jogo, está se esorçando para ampliar o seu mercado de Soja. Um dos países beneficiários é a … Argentina.

E por que as nossas brigas com a Argentina devem também ser entendidas como de encomenda? Porque isso torpedeia o nosso maior mercado para a indústria… e quem se beneficia com a nossa derrocada industrial…. suspense… os Estados Unidos e colateralmente a China e a Europa.

E súbito o jogo muda, e o Presidente da República  do Brasil deixa de poder representar o país também… suspense… nos Estados Unidos. Portanto, a única porta até aqui aberta de diálogo dessa que já foi a sexta economia do mundo está se fechando porque sim deu Biden.

Olhemos à volta nas nossas relações internacionais:

O presidente e o Brasil não têm interlocução com a China, que por encomenda dos Estados Unidos vem sendo continuamente desrespeitada;

Não tem interlocução com a Alemanha, importante parceiro comercial do Brasil e país com laços profundos com o nosso;

Não tem interlocução com a França desde que o governo na pessoa do seu mandatário mais alto (e de ministros) desrespeitou nada menos do que a pessoa da primeira dama daquele país;

Não tem interlocução com a Argentina, parceiro comercial estratégico para o Brasil, de quem a China está ampliando a compra de Soja e se tornou deles o primeiro parceiro comercial, roubando de nós essa importante condição para a consolidação de União Sul-americana também desmontada pelo atual governo.

E agora também perdeu a condição de ter interlocução com o governo americano!

Os agentes do mercado deveriam entender que em língua de gente isso representa um xeque mate. Se pudéssemos construir uma linha do tempo antevendo de que será feito o comércio exterior do Brasil e sua economia nos dois anos que faltam ao governo Bolsonaro teríamos que incluir:

– A ruína do acordo do Mercosul com a Europa e a incapacidade (e desinteresse) brasileiro de remediar (e até de reconhecer) esse desastre;

– A queda das importações do Brasil à China, não somente de Soja, mas certamente de metais, substituídas pela de países conduzidos com inteligência e pragmatismo (e não com subserviência e arrogância);

– A preferência da Argentina pela China e o ganho de poder de barganha do nosso parceiro comercial para conosco, a quem a China que não é besta nem nada, oferecerá, com o intuito de se tornar independente de nós, inúmeras recompensas comerciais (e pode fazê-lo) e

– Uma previsível rejeição por parte do governo americano que acentuará o isolamento do Brasil e talvez promova retaliações comerciais que funcionarão como um desfecho final ao suicídio comercial e político perpetrado por políticas que em lugar de beneficiar o país visaram beneficiar aos… suspense… Estados Unidos. Sim, pois melhor do que reduzir o tamanho e a capacidade de diálogo do Brasil no cenário internacionais, em bases consensuais e bilaterais como agora, será rifar o Brasil promovendo retaliações pesadas em áreas estratégicas que poderão anular décadas de trabalho e perdas multibilionárias.

Porém, o grande responsável por isso tudo é… suspense… o M E R C A D O “brasileiro”! Cujo olho gordo foi maior do que a barriga!

Portanto, se os senhores, barões do Brasil, se agregarem um mínimo de bom senso, verão que esse governo, no curto horizonte de dois anos, onde ainda estaremos enfrentando a pandemia de Covid-19, por sua total subserviência aos interesses americanos e incapacidade de diálogo com tradicionais parceiros do Brasil representa a ruína do nosso país. E não teremos no governo advogados à altura para enfrentar os desafios que se anunciam.

Eis o presente que a nação recebeu dos senhores.

Finalizo esse artigo trazendo também o fato de que além de ter trazido prejuízos imensos à cadeia nacional do petróleo, à engenharia civil nacional, à indústria naval e à de máquinas, a política belicosa desse governo de ameaçar a integridade de países vizinhos, o que nunca foi a tradição do Brasil republicano, trouxe para a geopolítica do que sempre tivemos como um espaço comum com países irmãos, a América do Sul, a presença de um player mundial: a Rússia.

É um desastre completo e a vitória de Biden poderá ser para esse governo, o ferrolho que faltava.

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