segunda-feira, 17 de maio de 2021

Pedro Simonard: Novas informações delineiam e revelam o projeto genocida de Bolsonaro e seus cúmplices

 

O tempo joga contra Bolsonaro e entre as poucas medidas que lhe restam estão acirrar seu discurso ou jogar por terra a política econômica neoliberal


(Foto: Carolina Antunes/PR)


247. - Nas últimas duas semanas, novas e velhas informações delinearam o projeto genocida em curso no Brasil de maneira bem clara e evidente. Por mais que a gente se debruce sobre elas, não é possível compreendê-las segundo a lógica da busca pelo bem-estar do povo do Brasil. Só são possíveis de serem compreendidas segundo a lógica de um projeto genocida.

A CPI do Genocídio está funcionando a pleno vapor há duas semanas. Seis depoimentos que apontam para um projeto de genocídio já foram prestados à ela. Nesses depoimentos vieram à tona um ministério da saúde paralelo, a recusa de compra de vacinas oferecidas pela farmacêutica Pfizer, campanhas publicitárias que difundiram princípios e regras contrárias àquelas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos cientistas para a contenção do coronavírus.

Enquanto os especialistas recomendavam o distanciamento social, o uso de máscara e atestavam a não eficácia de tratamento precoce com o uso da cloroquina e derivados, bem como da ivermectina, um ministério da Saúde paralelo recomendava o contrário e ainda defendia aglomerações para que houvesse a contaminação em massa para atingir-se uma suposta imunidade de rebanho, imunidade esta também sem eficácia comprovada cientificamente. A CPI do Genocídio tem indícios de que entre os componentes deste ministério paralelo que aconselhava o general-grande-especialista-em-logística, Eduardo Pazuello, encontravam-se o dono do curso de inglês Wizard, Caros Wizard, a médica defensora da cloroquina, Nise Yamaguchi, e Carlos Bolsonaro. Jair Bolsonaro franqueava o acesso à TV pública para que esse ministério paralelo pudesse divulgar suas ideias falaciosas. Para que interessava este ministério paralelo e a propagação de tratamentos e medidas equivocadas senão para incentivar o extermínio de pobres e idosos, vistos como descartáveis pelo governo genocida? Se a imunidade de rebanho tivesse alguma eficácia comprovada o que, no caso da covid-19, não tem, ela seria alcançada às custas das vidas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras considerados pelo capital como “gastáveis”.

Por sua vez, Jair Bolsonaro acusou o governo da China de ter desenvolvido a covid-19 como arma química. Isto gerou uma crise com os chineses que interromperam o envio dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), obrigando o Instituto Butantan e a Fiocruz a interromperem a produção de vacinas. A CPI do Genocídio ameaçou chamar o presidente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para esclarecer de onde o presidente tirou a informação para esta acusação grave ao maior parceiro econômico do Brasil. Mais uma leviandade gratuita e perigosa proferida por Jair Bolsonaro que causa desinformação, confusão e desestimula os trabalhadores a se vacinarem.

A secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, assumiu ter organizado uma viagem para Manaus em janeiro de 2021 com o intuito de divulgar o uso dos remédios ineficazes para o combate à pandemia. A “Capitã Cloroquina”, como Mayra é conhecida, organizou a referida viagem em janeiro, às vésperas do sistema de saúde da cidade entrar em colapso. Qual o fundamento para tal viagem e tal campanha? Que tipo de benefícios o uso de medicamentos reconhecidamente ineficazes traria para o controle da pandemia? Por que o governo do genocida desperdiçou dinheiro do contribuinte em tal ação? Certamente esta ação governamental não visou o bem-estar e a segurança dos brasileiros e brasileiras.

A CPI do Genocídio obteve informações de que uma reunião comandada pelo general Braga Netto, a época Ministro-Chefe da Casal Civil do Brasil,  teria tido como item de pauta a aprovação de texto de um decreto presidencial que alteraria a bula da cloroquina para inserir a covid-19 entre as doenças contra as quais esse medicamento seria eficaz. Se efetivada esta alteração na bula, configuraria um crime previsto em lei porque bulas de remédios não podem ser modificadas por decreto presidencial.

O vice-governador do Amazonas, Carlos Filho (sem partido), afirmou que o alinhamento do governador Wilson Lima (PSC) com Jair Bolsonaro seria a principal causa do caos sanitário pelo qual passou seu estado. O governador teria colocado em prática princípios e ações que visavam a imunidade de rebanho, defendida por Jair Bolsonaro, Osmar Terra e outras figuras adeptas do genocídio e não teria tomado as medidas necessárias para o combate da covid-19 e a contenção da pandemia. Mais uma vez, foram tomadas medidas governamentais baseadas no equivocado princípio da imunidade de rebanho que, é bom lembrarmos, só seria alcançada após a morte de vários brasileiros considerados “gastáveis” pelo capital.

O governo de Jair Bolsonaro foi um dos poucos que colocou-se contrário à quebra de patentes das vacinas, posição defendida por Donald Trump. Quando Joe Biden implementou a quebra de patente das vacinas, Bolsonaro isolou-se ainda mais a nível internacional. Por que ele critica a quebra das patentes? O que ele ganha com isso? Que interesses obscuros está defendendo? Certamente não são os interesses do povo brasileiro. A manutenção das patentes só interessa ao grande capital e torna a aquisição de vacinas mais cara para o governo genocida. A não adoção da quebra de patentes prejudica as contas públicas porque encarece a aquisição de vacinas e coloca em risco as vidas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.

Bolsonaro demorou mais de 10 dias para atender recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para proibir o pouso de voos comerciais originários da Índia nos aeroportos brasileiros. A Índia é hoje o epicentro da pandemia no mundo e a manutenção de voos regulares entre os dois países tornaria o controle da pandemia ainda mais difícil. Se a ANVISA recomendou a suspensão desses voos é porque reconheceu o risco que eles representavam para os trabalhadores brasileiros. Nestes dez dias de inação, milhares de passageiros circularam entre os dois países, propagando as cepas do coronavírus originárias da Índia e do Brasil entre a população de ambos os países.

A ministra Damares Alves solicitou a Jair Bolsonaro que negasse leitos de UTIs e produtos de limpeza às populações indígenas porque esses povos não haviam sido diretamente consultados pelo Congresso Nacional sobre a adoção dessas medidas. Isso em plena pandemia. Damares é titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, além de ser pastora evangélica. Com este tipo de medida ela coloca seu ministério na linha de frente do projeto genocida, ocupando-se especificamente de ações de extermínio de povos indígenas e de populações tradicionais.

Existem 17 projetos de pesquisa de vacinas contra a Covid-19 em curso nas universidades e instituições de pesquisa nacionais. Todos prejudicados pelos cortes no orçamento destinado à pesquisa do país. O teto de gastos é respeitado em detrimento da vida do povo brasileiro. O governo coloca a transferência de renda para o capital rentista como prioritária frente à defesa da vida dos seus cidadãos e cidadãs.

O projeto genocida só é unânime entre os bolsonaristas. Pesquisas recentemente divulgadas sobre a avaliação do governo Bolsonaro, além de pesquisas eleitorais mais recentes indicam que Bolsonaro vem perdendo apoio rapidamente entre o povo brasileiro. Na mesma proporção e velocidade com que a aprovação de Bolsonaro cai, sobe a aprovação do ex-presidente Lula.

O capitalismo neoliberal implementou um projeto de extermínio dos trabalhadores e trabalhadoras seja via precarização do trabalho, seja via repressão e assassinato puro e simples, seja por meio da fome. No Brasil este projeto encontra-se a cargo de Bolsonaro e Paulo Guedes, com apoio dos militares traidores e entreguistas. A CPI do Genocídio tem, paulatinamente, desnudado todas as ações e estratégias dessa política de extermínio e genocídio. Contudo, mesmo após as primeiras revelações da CPI, Bolsonaro não arrefeceu sua verborragia raivosa. 

Bolsonaristas como os jornalistas Alexandre Garcia e Leda Nagle apagaram de suas redes sociais materiais negacionistas e que reproduziam as linhas mestras do discurso de Bolsonaro, numa clara medida de autoproteção e de distanciamento do discurso genocida. Os responsáveis pelas redes sociais do presidente fizeram o mesmo em suas contas. Contudo, em suas aparições públicas nas quais organiza aglomerações insanas onde ele faz questão de aparecer sem máscara, Bolsonaro continua a repetir suas sandices sobre tratamento precoce e cloroquina, defendendo que a economia não pode parar. Partiu para o ataque aos membros da CPI do Genocídio e colocou Lula na sua alça de mira. Em cada fala pública, mais elementos Bolsonaro fornece a seus adversários e à CPI. Esta atitude expõe seu desespero. Com esses comunicados ele procura manter seus apoiadores motivados para apoiá-lo em uma aventura golpista, mas, no momento, ele perde apoio constantemente para seu projeto autoritário. Sua estratégia política mostra-se arriscada. Se ele não conseguir apoio para um golpe de Estado, terá fornecido argumentos e mais argumentos para seus adversários tirá-lo da presidência.

O avanço da vacinação também é sua inimiga e é possível que este seja o motivo pelo qual ele dificulta ao máximo a compra de vacinas. Bolsonaro teme que a população vacinada ocupe as ruas para pressionar pelo impeachment. Pesquisa Datafolha publicada em 15 de maio mostra que 49% dos entrevistados apoiam sua destituição do poder. A tendência é que a porcentagem dos que não apoiam o governo aumente nas próximas semanas, assim como aumente também o apoio ao impeachment.

O tempo joga contra Bolsonaro e entre as poucas medidas que lhe restam estão acirrar seu discurso ou jogar por terra a política econômica neoliberal. Ele hesita em tomar esta atitude porque sabe que perderá apoio entre a burguesia neocolonial que ainda o apoia. Resta-lhe arriscar o golpe de Estado 

O cerco se fecha sobre ele. A CPI do genocídio convocará Carlos Bolsonaro para testemunhar. Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo irão depor na CPI nesta semana. Pazuello obteve um habeas corpus e poderá ficar calado no que concerne ao que pode incriminá-lo diretamente, mas não poderá calar-se nem mentir sobre as questões que incriminarem outros membros do governo.

É provável que Bolsonaro ligue sua metralhadora giratória movido pelo desespero pelo depoimento do general e de seu ex-ministro das Relações Exteriores. Tentará motivas seus apoiadores.

A semana que começa promete aumentar a pressão sobre o presidente genocida.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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