sexta-feira, 7 de maio de 2021

Nero tocou fogo em Roma, o genocida do planalto espalha gasolina pelo país, por Francisco Celso Calmon

 

A CPI vai alterar a conjuntura, pode não terminar com a criminalização dos envolvidos, mas o desgaste ao governo será tal que dará muitos subsídios e motivação para o impeachment.

Nero tocou fogo em Roma, o genocida do planalto espalha gasolina pelo país

por Francisco Celso Calmon

Ao determinar a instalação da CPI, o STF mandou recado no sentido da autocritica e dignificação do próprio poder judiciário, que esteve cúmplice da subversão do devido processo legal realizada pelo grupelho de Curitiba, autodenominado de lava jato. Muito embora a CPI deveria ter sido criada pelo poder Legislativo, sem necessidade da judicialização, uma vez que ocorreu, o resultado é positivo.

A CPI vai alterar a conjuntura, pode não terminar com a criminalização dos envolvidos, mas o desgaste ao governo será tal que dará muitos subsídios e motivação para o impeachment.

A probabilidade de serem apurados delitos, por negligência, imprudência, imperícia, charlatanismo e curandeirismo, não deve ser pequena.  A pressão para que um ministro da saúde, médico, prescrevesse cloroquina, assim como a tentativa de fraudar à bula desta droga, que é de responsabilidade do laboratório que a fabrica, são, no momento, sinais do que ainda pode vir.

Não apenas a CPI, mas a sociedade há de estar se perguntando os porquês desta obsessão à cloroquina pelo presidente genocida.

A esquiva temporária do general Pazuello de comparecer à CPI cheira a diarreia da covardia. E o lero, lero do atual ministro da saúde, Queiroga, vai levando a acharmos que há o que esconder para blindar o presidente. E como há!

Nesta temperatura o Centrão, que é a força parlamentar do Bolsonaro, está em pêndulo, vislumbrando eleições para 2022. As últimas pesquisas dão o genocida em queda livre, nem mesma a região sul o sustenta, enquanto o Lula está em ascensão.

A CPI pode ser um cadafalso político do governo, ainda que não signifique que chegue ao finalmente desejado de abertura do processo do impeachment. Até por razões de timing operacional é difícil vir a ocorrer. De todo modo, ocorrendo ou não, a solução será mesmo em 2022. A que custo, eis a questão!?

Bolsonaro fará de tudo para desviar a atenção da sociedade da CPI, palavreando idiossincrasias, como as acusações à China como responsável pelo coronavirus covid-19 e de guerra química, nesse caso também tem o propósito de ser a bucha de canhão dos EUA em sua disputa de mercado com aquele país, que é o maior parceiro comercial do Brasil.

Provavelmente aumentará seus agrados aos membros do Centrão. E o núcleo duro do bolsonarismo pode vir a orientar e implementar mais ações de terror e perseguição aos opositores políticos e sociais. 

Numa semana rica em acontecimentos e narrativas, Biden discursou o que aprendeu na prática da gestão capitalista as verdades que Marx, Engels e Lênin ensinaram em teoria: a luta econômica pelos sindicatos não empareda o sistema capitalista, pelo contrário, impulsiona a novas formas de mais valia, por meio da produtividade, da tecnologia, da terceirização. É a história da luta de classes como motor, evolucionário ou revolucionário, que comprova. 

Consumo e crédito são os combustíveis do capitalismo, sem os quais entra em recessão.

Biden não é um político à esquerda, a nossa esquerda é que ficou à direita, abandonou ou não chegou a acalentar a concepção científica da história, e principalmente as formas de operar a luta de classes tendo no horizonte o socialismo.

A pandemia está comprovando que a maior paralização (ou mesmo uma greve geral economicista) não leva à revolução social, somente a luta política da classe trabalhadora reúne potencial para construir as condições subjetivas e objetivas com vistas à transformação do sistema capitalista.

A história vem demonstrando que, os que não linkam a luta pelas reivindicações parciais e imediatas com o objetivo final, e vice-versa, desviam e não somam, por vontade ou não, à luta emancipatória da classe trabalhadora, e fazem, em última instância, o jogo da classe dominante.

Os revolucionários lutam para realizar os objetivos e interesses imediatos da classe operária, ao mesmo tempo que propugnam pelo futuro do movimento. Não se combate o presente sem apresentar uma alternativa sistêmica para o futuro, sob pena de criar um movimento com os pés de barro.

A burguesia brasileira é débil, covarde, incapaz de politicamente conquistar aquilo que foi conquistado em outras plagas, por isso, estamos com a necessária revolução social em atraso de um século.

As forças de esquerda que se propõem a realizar essa travessia, não deveriam incrementá-la sem ligar a proposta do futuro da classe trabalhadora que é o socialismo democrático, de raiz, construído pela organização e consciência dos trabalhadores, ou seja: um projeto de nação para a sociedade.

As lutas pretéritas, econômicas e políticas, que se verificaram nos países capitalistas, reproduzem e iluminam (oxalá) com nova luz as principais contradições, só que no presente de forma mais complexa e desafiadora.

“Nos grandes processos históricos, vinte anos equivalem a um dia, se bem que possam ocorrer dias nos quais se condensem vinte anos.” (Correspondência de Marx com Engels). 

As crises econômica e sanitária, levando o desemprego, a miséria e a morte aos lares brasileiros, e a balburdia política do governo bolsonarista hão de provocar uma indignação na sociedade, e caberá as forças de esquerda fomentar, galvanizar e canalizar para o combate sem tréguas ao fenômeno nazifascista do bolsonarismo. 

As articulações de cúpula para (quem sabe?) elaborar um pacto político para estancar os males bolsonaristas não devem ser obscuras, devem ser transparentes à sociedade. Assim poderá receber o respaldo necessário para hoje não ser o pecado do amanhã, como foi a lei da anistia.

Parafraseando Marx, temos que admitir que não possuímos uma visão exata do que deverá surgir. Entretanto, a vantagem é a de que não queremos antecipar dogmaticamente uma nova sociedade, mas encontrar um novo sistema a partir da crítica ao atual. 

Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

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