Do ICL Notícias:
São Paulo é o maior exportador brasileiro aos EUA, com mais de R$ 66 bilhões em vendas em 2024, e terá seis cidades entre as dez mais afetadas pela nova medida americana
Tarcísio celebrou vitória de Trump e agora teme perder apoiadores com aumento de tarifa
Por Cleber Lourenço
O governo de São Paulo, liderado por Tarcísio de Freitas, foi um dos primeiros a comemorar publicamente a vitória de Donald Trump nas eleições americanas de 2024. Em notas e discursos, Tarcísio afirmou que a volta do republicano à Casa Branca representaria uma oportunidade para fortalecer as relações comerciais com os Estados Unidos e beneficiar a economia paulista. Poucos meses depois, o mesmo estado que saudou Trump agora se vê como o mais prejudicado pela tarifa geral de 50% anunciada pelo republicano sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto.
São Paulo é, de longe, o principal exportador brasileiro para os EUA. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e do Monitor do Comércio Brasil-EUA 2024 mostram que o estado foi responsável por 33,6% das exportações brasileiras aos americanos no ano passado, totalizando mais de US$ 13,5 bilhões, equivalentes a cerca de R$ 66 bilhões. Os três principais produtos exportados por São Paulo — aeronaves, equipamentos de engenharia civil e sucos — sozinhos movimentaram bilhões de dólares. Essa dependência do mercado americano explica por que os setores industriais e logísticos paulistas serão duramente impactados pela nova tarifa.
Entre os dez municípios brasileiros que mais exportaram para os EUA em 2024, seis são paulistas: São José dos Campos (US$ 1,9 bi), Piracicaba (US$ 1,3 bi), Santos (US$ 776 mi), Ilhabela (US$ 623 mi), Guarulhos (US$ 609 mi) e Gavião Peixoto (US$ 594 mi). Essas cidades concentram polos industriais aeronáuticos, automotivos, de alimentos e logística. Em São José dos Campos e Gavião Peixoto, por exemplo, está a produção de aeronaves que totalizou sozinha US$ 2,38 bilhões em exportações nacionais para os EUA. O aço, segundo maior item da pauta brasileira (US$ 2,8 bilhões), também tem forte presença em fábricas paulistas, e sucos de frutas movimentaram mais de US$ 1,1 bilhão, boa parte proveniente do interior do estado.
Exportações de São Paulo para os EUA
Os dados oficiais revelam ainda que São Paulo responde por 31,8% de todas as exportações brasileiras para os EUA que saem pelo Porto de Santos, além de 4,2% que partem pelo Aeroporto de Guarulhos — ambos sob influência direta da economia paulista. Essa estrutura logística robusta, que em tempos normais é uma vantagem competitiva para o estado, também amplifica o efeito negativo de barreiras comerciais como a anunciada por Trump.
Na carta enviada a Lula para comunicar a nova tarifa, Trump citou Jair Bolsonaro e classificou o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal como “vergonha internacional”. Também acusou o Brasil, sem apresentar provas, de atacar eleições livres e censurar empresas americanas. Em tom ameaçador, Trump declarou que qualquer retaliação do Brasil levará a novas punições tarifárias sobre os produtos brasileiros. O republicano alegou que o comércio bilateral é injusto para os EUA — embora números do MDIC mostrem que o Brasil acumula déficits comerciais com os americanos desde 2009, somando mais de US$ 90 bilhões.

Trump citou Jair Bolsonaro e classificou o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal como “vergonha internacional.
Em resposta, Lula reafirmou que o país reagirá com base na Lei de Reciprocidade Econômica e defendeu a soberania brasileira: “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. O presidente também reafirmou o compromisso do Brasil com o multilateralismo e a defesa do Brics, que também foi alvo de críticas de Trump.
Analistas destacam que a medida tem forte viés político e serve aos interesses eleitorais e diplomáticos do republicano, aumentando seu poder de barganha internacional. Para São Paulo, porém, o impacto econômico será imediato: cadeias produtivas sofisticadas e de alto valor agregado correm risco de perder competitividade, com efeitos sobre exportações, empregos, arrecadação estadual e a saúde de setores industriais estratégicos.
Governo Tarcísio
A postura do governo Tarcísio à época da eleição americana contrasta agora com a realidade imposta pela política protecionista de Trump. O governador apostou politicamente em um aliado ideológico, mas os números evidenciam que os setores mais dinâmicos da economia paulista — responsáveis por bilhões em exportações e dezenas de milhares de empregos — são justamente os que sofrerão as consequências diretas da medida. A celebração da vitória de Trump, vista como estratégia para aproximar São Paulo do novo governo americano, hoje expõe o estado a perdas concretas, reforçando a necessidade de estratégias comerciais menos dependentes de alinhamentos políticos momentâneos.
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