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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Do El País: Volkswagen assina acordo milionário de reparação por colaborar com a horrenda ditadura militar brasileira na prisão e tortura de funcionários e abre precedente histórico

 

Do El País:

 Em termo de ajuste com procuradores, empresa reconhece cumplicidade com os órgãos de repressão brasileira e destina 36,3 milhões de reais a ex-trabalhadores e iniciativas pró-memória


Volkswagen assina acordo milionário de reparação por colaborar com ditadura e abre precedente histórico


Lúcio Bellentani, que foi preso pela ditadura enquanto trabalhava na Volks, durante entrevista em 2017.LUCAS LACAZ RUIZ / FOLHAPRESS



Volkswagen do Brasil assinou nesta quarta-feira um acordo extrajudicial que abre um precedente histórico no campo da reparação às violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura brasileira (1964-1985). A montadora de origem alemã, cuja cumplicidade com a repressão nos anos de chumbo já havia sido apontada no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014, assumiu o compromisso de destinar 36,3 milhões de reais tanto a ex-empregados presos, perseguidos ou torturados como a iniciativas de promoção de direitos humanos. Em troca, serão encerrados três inquéritos civis que cobram a empresa pela aliança com os militares assim como ficam vetadas novas proposições de ações.

É a primeira vez que uma companhia ―uma pessoa jurídica, e não física― admite reparar crimes durante a ditadura, o que abre um precedente jurídico para que outras empresas envolvidas com a repressão sejam investigadas. Ainda em 2014, o relatório final da CNV enumerou 53 empresas, tanto estrangeiras quanto nacionais e de portes variados, que contribuíram de alguma forma com a concretização do golpe de 1964. Entre elas estão Johnson & Johnson, Esso, Pirelli, Texaco, Pfizer e Souza Cruz.

Tecnicamente, a montadora assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que foi negociado com representantes dos ministérios públicos Federal, Estadual e do Trabalho e está pendente de homologação pela Procuradoria Geral da República. “O ajuste de condutas estabelecido nesta data é inédito na história brasileira”, comemoram os procuradores em nota, frisando que, no mundo, ainda são raros os casos de empresas que aceitam analisar a sua colaboração com regimes autoritários. Pelo acordo, a Volks também deverá publicar em jornais de grande circulação uma declaração pública sobre sua cumplicidade com os órgãos de repressão. Todo o arranjo é um revés para o Governo Bolsonaro, que nega as violações cometidas no período e tem agido ativamente para desmontar estruturas oficiais ligadas à memória e à reparação.

O acordo da Volks é paradigmático num momento em que a Justiça brasileira segue dando passos lentos na direção da punição dos repressores e da compensação das vítimas da ditadura. O Brasil segue ignorando decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que há uma década decidiu que a Lei da Anistia, que impede a investigação e a sanção a graves violações de direitos humanos, deve ser invalidada. Nesta segunda-feira, o mecanismo voltou a ser evocado, desta vez pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que decidiu interromper a tramitação da ação penal contra cinco militares pela morte do ex-deputado Rubens Paiva em 1971. Ou seja, por ora, o crime contra o parlamentar, cujo corpo até hoje não foi localizado, continuará sem julgamento.

Da CNV às ações de reparação

A elucidação do papel da Volks durante a ditadura militar vinha caminhando desde a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, em 2014. Na época, a empresa encomendou um parecer próprio, produzido pelo historiador Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld (na Alemanha) sobre o tema. O documento divulgado pela própria companhia em 2017 reconhece a colaboração entre a segurança industrial da fábrica brasileira e a polícia política do governo militar, que começou em 1969 e se estendeu até 1979.

Diversos ex-empregados afirmam que durante a ditadura militar a empresa forneceu aos órgãos policiais informações sobre os funcionários e permitiu, dentro de sua própria fábrica, prisões sem ordem judicial e tortura policial. Lúcio Bellentani foi uma das vítimas desta parceria que foi mantida em segredo por décadas. Em entrevista concedida ao EL PAÍS em 2017, o ferramenteiro, que trabalhou na montadora entre 1964 e 1972, disse que foi preso sem qualquer mandado judicial enquanto trabalhava. “Ali mesmo começaram as torturas. Comecei a ser espancado dentro da empresa, dentro do departamento pessoal da Volkswagen. Por policiais do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] e na frente do chefe da segurança e dos outros seguranças da fábrica”, contou ele. Militante do Partido Comunista brasileiro, Bellentani foi detido porque os policiais queriam que ele indicasse quem eram seus companheiros que exerciam atividades sindicais ou políticas. Como ele, outros empregados passaram por situações parecidas, todas com o conhecimento e aval da montadora.

Ao longo das investigações apurou-se que houve cooperação dos funcionários da segurança interna da Volkswagen com os militares e que a empresa se beneficiou economicamente de medidas do período como o enfraquecimento dos benefícios trabalhistas. O reconhecimento de sua responsabilidade e conivência com violações de direitos humanos pela montadora é um primeiro passo para o direito à reparação histórica que as vítimas do período fazem jus.

Do montante total fixado no acordo assinado nesta quarta-feira, R$ 16,8 milhões serão doados à Associação Henrich Plagge, que congrega os trabalhadores da Volkswagen, e repartido entre os ex-funcionários que foram alvo de perseguições por suas orientações políticas. Outros R$10,5 milhões serão destinados ao reforço de políticas de Justiça de Transição, com projetos de preservação da memória das vítimas das violações de direitos humanos na época. A Volkswagen também pagará 9 milhões de reais aos Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos. Na nota divulgada, os procuradores cobram a Justiça que dê seguimento aos julgamentos de repressores e lamentam que o Brasil siga “como um caso notável de resistência à promoção ampla dessa agenda” de reparação. “Não por acaso ecoam manifestações de desapreço às suas instituições democráticas.”


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O fascismo do governo afronta o mundo civilizado ao dizer para a ONU que Bolsonaro é livre para defender torturadores, assassinos e a Ditadura Militar

 

Bolsonaro é livre para defender torturadores e Ditadura, diz governo à ONU

ONU lista declarações revisionistas e negacionistas de Bolsonaro como presidente, e diz que elas afrontam o dever do Estado de evitar que a História se repita

Jornal GGN:

Jornal GGN – O governo federal disse à Organização das Nações Unidas que Jair Bolsonaro exerce seu direito constitucional à liberdade de expressão quando defende torturadores e diz que a Ditadura Militar foi uma revolução que salvou o País.

Segundo reportagem do correspondente internacional do UOL, Jamil Chade, a comissão de direitos humanos da ONU afirmou ao governo que “a negação de violações do passado e a desinformação deliberada sobre eventos passados” são contrárias “ao dever dos Estados de garantir a total divulgação da verdade e a preservação da memória sobre violações do passado”, para evitar que esses erros se repitam.

O governo rebateu que é “injustificável” que a ONU cobre o chefe de Estado brasileiro sobre este assunto, e reforçou o entendimento de que Bolsonaro é livre para dizer o que quiser. “(…) o Brasil é uma democracia sólida, com instituições em totalmente funcionamento, regida por princípios constitucionais e garantias baseadas nos mais altos padrões do Estado de direito, incluindo o direito à liberdade de pensamento, o direito à liberdade de expressão e o direito à liberdade de opinião. Tais direitos, claro, estendem-se aos detentores dos mais altos cargos na República.”

Em um documento enviado ao governo, a ONU ainda resumiu as declarações de Bolsonaro que violam os direitos humanos.

– Em 30 de julho de 2019, Bolsonaro criticou o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, que em 2014 concluiu que a ditadura foi responsável por 434 assassinatos e desaparecimentos e centenas de casos de detenção arbitrária e tortura. – Em 1º de agosto de 2019, o governo alterou a composição da Comissão Especial sobre Mortes e Desaparecimentos Políticos, substituindo pessoas com reconhecida experiência no campo da justiça transicional por um conselheiro com poucos conhecimentos neste campo, e dois membros das forças armadas com uma história relatada de defesa da ditadura militar, o que por sua vez poderia impedir seu trabalho efetivo e imparcial. As mudanças aconteceram uma semana após a Comissão ter documentado o desaparecimento e morte de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira como uma morte violenta causada pelo Estado.

– Em 8 de agosto de 2019, Bolsonaro chamou Carlos Alberto Brilhante Ustra de “herói nacional”. Brilhante Ustra foi o chefe do DOI-CODI de 1970 a 1974. Ele foi o primeiro funcionário público a ser condenado pelos crimes de sequestro e tortura cometidos durante a ditadura do país.

– Em 1º de março de 2020, Bolsonaro afirmou que “a alegação de tortura é um esquema para obter indenizações”.

– Em 31 de março, no aniversário do golpe militar, Bolsonaro afirmou novamente que não havia havido um golpe de Estado no Brasil em 1964 e declarou que este era o “Dia da Liberdade”. No mesmo dia, o Vice-Presidente do Brasil declarou que em 1964 as Forças Armadas “intervieram na política nacional para enfrentar desordem, subversão e corrupção”.

– No dia 4 de maio, Bolsonaro reuniu-se com o Major Curió, tenente-coronel aposentado responsável pela repressão da Guerrilha Araguaia nos anos 70.

– Em 5 de maio, o canal de comunicação institucional da presidência publicou um texto e uma foto do encontro, chamando o Major Curió de herói do Brasil, em contravenção a uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Gomes Lund ordenando ao Brasil que reconhecesse e divulgasse as violações cometidas contra a Guerrilha do Araguaia durante a ditadura militar (1964-1985).

– Em 7 de maio, a Secretaria Especial de Cultura do Brasil declarou em referência ao período da ditadura: “cobrar por coisas que aconteceram nos anos 60, 70 e 80”. Em seguida, ela cantou um jingle do regime militar dizendo: “não foi bom quando cantamos isto? Em resposta à pergunta de uma jornalista sobre tortura, ela respondeu: “Sempre houve tortura” […] “Eu não quero arrastar um cemitério nas costas. Não quero isto para ninguém”. Eu sou leve”.

Além disso, a ONU demonstrou preocupação com o desmonte de setores que lutam pela preservação da memória, busca da verdade e justiça de transição, como a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

ONU condena claramente a política do governo Jair Bolsonaro e suas aspirações ditatoriais



Em golpe ao discurso da embaixadora do Brasil nas Nações Unidas, comitê conclui que presidente brasileiro viola tratado sobre tortura
Jornal GGN A política de combate à tortura mantida pelo governo Jair Bolsonaro foi condenada por um organismo da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em sua coluna no UOL, o jornalista Jamil Chade explica que os peritos do Subcomitê das Nações Unidas para a Prevenção da Tortura emitiram uma avaliação a respeito de queixas recebidas contra Brasília, na primeira constatação da violação de tratados internacionais pelo Brasil por parte de um organismo da ONU.
Tal reconhecimento é um golpe direto no discurso da embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Nazareth Farani Azevedo – que recentemente declarou que o país era um “exemplo” e “inspiração” em termos de direitos humanos, e marca o grande mal-estar das entidades internacionais com relação às políticas do governo Bolsonaro.
A queixa foi recebida em setembro e, após análise, a conclusão é de que as regras precisam ser revistas. O ponto central da análise era o decreto 9.831 de 10 de junho, que foi denunciado como um desmonte dos sistemas de controle de tortura e prevenção no Brasil. Na visão da entidade internacional, o Mecanismo Nacional de Prevenção da Tortura que foi comprometido pelo governo Bolsonaro não é uma opção, mas uma obrigação do estado brasileiro.
A recomendação da entidade é que o governo ofereça os recursos humanos e financeiros necessários para o mecanismo preventivo nacional funcionar de maneira efetiva, além de conceder autonomia institucional para o uso dos recursos.
Embora o posicionamento do organismo da ONU não gere sanções concretas, ele ajuda a aprofundar a crise de credibilidade brasileira em termos de cumprimento de acordos internacionais – o que também compromete a imagem internacional do governo Bolsonaro.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A Lava Jato e os indignos "filhos de Januário", por Luis Nassif




A faceta mais óbvia do fascismo é a banalização do mal, a desumanização das vítimas, uma das características do direito penal do inimigo



Artigo publicado originalmente em 27 de agosto de 2019
Anivaldo Padilha, torturado pela ditadura militar, narra uma cena que explica bem a banalização do mal. Estava sendo torturado por um torturador implacável. Aí toca o telefone. A sessão é interrompida e torturador atende. Do outro lado, a filha. O torturador se enternece:
– Oi, filha, o papai já vai, fique tranquila, já estou indo.
E volta mais feroz ainda, porque a resistência do torturado estava atrasando a ida dele para os compromissos familiares.
A faceta mais óbvia do fascismo é a banalização do mal, a desumanização das vítimas, uma das características do direito penal do inimigo.
Os diálogos da Lava Jato sobre as mortes dos parentes de Lula – divulgados pelo The Intercept e UOL – são a comprovação definitiva de como o fascismo se espalha, contaminando corações e mentes de pessoas de pequena estatura  moral.
A celebração da morte, por esses procuradores indignos, entrará definitivamente para a história. No futuro, será erguido um Panteão dos Atos Indignos, para lembrar esses tempos tenebrosos que se iniciam com a Veja, prosseguem com a Lava Jato e se encerram com Jair Bolsonaro, todos da mesma natureza, banalizadores do mal, cultivadores da morte, da selvageria, deslumbrados com o poder que receberam, mentes sádicas, se comprazendo em liquidar com reputações, empresas, empregos e não demonstrar respeito nem pela morte.
No Panteão dos Atos Indignos, esses diálogos ocuparão lugar especial, ao lado de frases escolhidas de Bolsonaro e filhos, todos da mesma laia, da mesma natureza moral, e entronizarão os nomes de Januário Paludo, Monique Cheker, Thamea Danellon, Laura Tessler, Jerusa Viecili, Roberto Pozzobon, Deltan Dallagnol, para que não se esqueça, não se repita. A lembrança desses diálogos atravessará os tempos, amaldiçoando a memória dos comensais desse banquete de horrores, será um peso na memória dos seus filhos e netos, uma mancha que se estenderá por gerações.
Tolos, medíocres, como o mais reles dos bolsominions, incapazes de enxergar para além do momento de paroxismo, de avaliar os desdobramentos futuros sobre sua própria história e biografia. E, no Twitter, invocando o nome de Deus e da fé, meramente porque falar de Deus e da fé se tornou um bom negócio.
Restaram, no diálogo, as observações do mais vulnerável e sensível dos procuradores, Diogo Castor, o que se deixou influenciar por colegas mais velhos, a ponto de se expor em críticas abertas a Ministros do Supremo, enquanto as raposas velhas usavam o biombo de partidos políticos e movimentos de rua para não se expor. Diz ele, por ocasião do velório do irmão Vavá:
“Entendo as ponderações. Considero razoáveis. Mas mesmo assim não acho que ele possa ser penalizado por causa disso, sendo que a lei prevê que todos os presos em regime fechado tem esse direito”.
E Januário Paludo, o mais experiente do grupo:
“O safado só queria passear”.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A ousadia de um torturador, por Francisco Celso Calmon



Aos torturadores cabe o arrependimento e o pedido de perdão às suas vítimas e à nação brasileira. Esta é a única atitude digna que lhes resta.

A ousadia de um torturador

por Francisco Celso Calmon, no GGN

 O ex-prisioneiro político, jornalista Aluízio Palmar, e o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu, estão sendo processados pelo ex-tenente, advogado Mario Espedito Ostrovsk, no Juizado Especial Civil de Foz do Iguaçu, datado de 25/09/2019. 
Seis anos antes, em 28 de junho de 2013, o CDHMP realizou um protesto, na forma de escracho, em frente ao edifício, no qual o ex-agente da ditadura tem escritório. 
O ex-tenente, Mario Espedito Ostrovski, é citado como torturador no livro Brasil Nunca Mais -BNM- e no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade.
O autor, autointitulado nos autos como de ilibada reputação, requer indenização por danos morais, no valor de R$ 39.920,00 (trinta e novel mil, novecentos e vinte reais). E se disse motivado à ação porque a sua neta de 15 anos lhe cobrou explicações sobre essas denúncias narradas pelo Centro de DH e Memória Popular.   
A reputação do autor está em desonra desde 1985, quando veio a público o relatório do projeto BNM, promovido pelo Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, pelo Rabino Henry Sobel e pelo Pastor presbiteriano Jaime Wright. 
Nesse relatório consta um dos casos dos mais perversos de tortura da ditadura militar sobre a jovem professora da escola rural no interior do Paraná, Isabel Fávero. 
Descreve Isabel que em 1969 ela e seu marido foram levados para o quartel do Exército, em Foz do Iguaçu, no qual o então tenente Espedito lhe aplicou choques elétricos nos mamilos, genitália e nas extremidades do corpo. Estava grávida de dois meses e devido às torturas, sofreu um aborto. A professora revelou ainda que, após o aborto, sangrou durante dias, sem possibilidade de fazer qualquer tipo de higiene. (páginas 136/137 do Tomo II Vol. 1 – BNM). 
Seu depoimento está hospedado choca qualquer cidadão com um mísero de dignidade e humanidade.
Ainda nesse mesmo ano de 1985 O jornal Correio de Notícias, de Curitiba, publicou na capa, notícia que o governador José Richa, o exonerou da chefia da Assessoria de Segurança e Informações da Copel, devido as denúncias de torturas cometidas pelo ex-militar. 
Nesse mesmo ano de 1985, portanto há 34 anos, o companheiro Aluízio publicou o livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, no qual já denunciava as barbaridades da ditadura, incluindo as desse ex-tenente da seção de informações do Exército.
Em 2013, na audiência pública perante à Comissão Nacional da Verdade – CNV – e da Comissão estadual, prestaram depoimentos Aluízio Palmar, Ana Beatriz Fortes, Alberto Fávero e Isabel Fávero, nos quais constam as terríveis sevícias que sofreram.
No relatório da CNV, ele aparece na lista de torturadores sob o número 304:  “O Tenente do Exército serviu na 2ª seção do Batalhão de Fronteira de Foz do Iguaçu (PR), no início da década de 1970, quando atuou em operações militares que levaram à extinção da presença de opositores do regime militar no município nova Aurora, no Paraná. Teve participação em casos de detenção ilegal e tortura. Convocado duas vezes pela CNV, deixou de comparecer sem apresentar justificativa, o que motivou solicitação da CNV ao Departamento de Polícia Federal para abertura de inquérito policial por crime de desobediência. Vítimas relacionadas: Clari Isabel Dedavid Fávero, Luíz Andrea Fávero e Alberto Fávero (1970 e 1971).
Essas denúncias aparecem também em “Notícias das torturas no Batalhão do Exército em Foz do Iguaçu, no site da Secretaria de Estado da Justiça – Paraná; Portal G1; Portal H2Foz.  
Por duas vezes fugiu, desrespeitou uma Comissão com poderes do Estado brasileiro, e agora que passar de algoz em vítima.
Ele carrega a morte de um feto, impediu o nascimento de uma criança, além de atrozes torturas à mãe e o pai, prisioneiros, e sob ameaça de jogá-los do avião nas cataratas do Iguaçu, sob as mortalhas produzidas pelo AI5. 
As vítimas da ditadura têm filhos e netos como os seus algozes.  Uns sentem e sentirão orgulho de seus país e avós, outros sentirão vergonha. É parte de uma história não resolvida! 
Aos torturadores cabe o arrependimento e o pedido de perdão às suas vítimas e à nação brasileira. Esta é a única atitude digna que lhes resta. É dessa forma que poderão obter a compreensão de gerações descendentes e fitar no mesmo plano seus inocentes parentes. 
Quem tortura esquece, por mecanismos psicológicos próprios do pervertido, quem é torturado jamais esquece. As consequências da tortura são perenes.
Nos autos, a parte Autora requer a realização da audiência de conciliação. Mas não há de se cogitar sequer de conciliação com torturadores. A tortura é crime hediondo, de lesa-humanidade, imprescritível e sem perdão. Há, sim, que processá-lo pelas graves violações aos Direitos Humanos e por essa crápula ousadia. 
Durante a ditadura de 64 eram prepotentes pela força das armas e poder do Estado, na democracia viraram covardes fujões, no presente, sob  a égide de um Estado Policial bolsonarista, de natureza nazifascista,  mantido por milicianos, militares e togas deformadas, que estimula o ódio, a belicosidade e a arrogância de pronunciar um novo AI5, estão novamente se portando como tiranos.
O FMV-ES, integrante da RBMVJ, indignado com a ousadia desse torturador e solidário com o companheiro Aluízio Palmar e com a luta do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz de Iguaçu, afirma em letras másculas: A DITADURA MILITAR NÃO NOS CALOU E NENHUMA OUTRA TIRANIA NOS CALARÁ. 
Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

A Lava Jato e os indignos filhos do Januário, por Luis Nassif


 


A faceta mais óbvia do fascismo é a banalização do mal, a desumanização das vítimas, uma das características do direito penal do inimigo.


Do GGN:

Anivaldo Padilha, torturado pela ditadura militar, narra uma cena que explica bem a banalização do mal. Estava sendo torturado por um torturador implacável. Aí toca o telefone. A sessão é interrompida e torturador atende. Do outro lado, a filha. O torturador se enternece:
– Oi, filha, o papai já vai, fique tranquila, já estou indo.
E volta mais feroz ainda, porque a resistência do torturado estava atrasando a ida dele para os compromissos familiares.
A faceta mais óbvia do fascismo é a banalização do mal, a desumanização das vítimas, uma das características do direito penal do inimigo.
Os diálogos da Lava Jato sobre as mortes dos parentes de Lula – divulgados pelo The Intercept e UOL – são a comprovação definitiva de como o fascismo se espalha, contaminando corações e mentes de pessoas de pequena estatura  moral.
A celebração da morte, por esses procuradores indignos, entrará definitivamente para a história. No futuro, será erguido um Panteão dos Atos Indignos, para lembrar esses tempos tenebrosos que se iniciam com a Veja, prosseguem com a Lava Jato e se encerram com Jair Bolsonaro, todos da mesma natureza, banalizadores do mal, cultivadores da morte, da selvageria, deslumbrados com o poder que receberam, mentes sádicas, se comprazendo em liquidar com reputações, empresas, empregos e não demonstrar respeito nem pela morte.
No Panteão dos Atos Indignos, esses diálogos ocuparão lugar especial, ao lado de frases escolhidas de Bolsonaro e filhos, todos da mesma laia, da mesma natureza moral, e entronizarão os nomes de Januário Paludo, Monique Cheker, Thamea Danellon, Laura Tessler, Jerusa Viecili, Roberto Pozzobon, Deltan Dallagnol, para que não se esqueça, não se repita. A lembrança desses diálogos atravessará os tempos, amaldiçoando a memória dos comensais desse banquete de horrores, será um peso na memória dos seus filhos e netos, uma mancha que se estenderá por gerações.
Tolos, medíocres, como o mais reles dos bolsominions, incapazes de enxergar para além do momento de paroxismo, de avaliar os desdobramentos futuros sobre sua própria história e biografia. E, no Twitter, invocando o nome de Deus e da fé, meramente porque falar de Deus e da fé se tornou um bom negócio.
Restaram, no diálogo, as observações do mais vulnerável e sensível dos procuradores, Diogo Castor, o que se deixou influenciar por colegas mais velhos, a ponto de se expor em críticas abertas a Ministros do Supremo, enquanto as raposas velhas usavam o biombo de partidos políticos e movimentos de rua para não se expor. Diz ele, por ocasião do velório do irmão Vavá:
“Entendo as ponderações. Considero razoáveis. Mas mesmo assim não acho que ele possa ser penalizado por causa disso, sendo que a lei prevê que todos os presos em regime fechado tem esse direito”.
E Januário Paludo, o mais experiente do grupo:
“O safado só queria passear”