sábado, 14 de dezembro de 2013

Noam Chomsky, o governo dos EUA e a reação contra o Papa Francisco e a Teologia da Libertação



Noam Chomsky: EUA matavam quem praticava o que prega Papa Francisco





Os Estados Unidos lutaram por décadas uma guerra contra católicos que praticavam os ensinamentos que levaram o Papa Francisco a ser eleito personalidade do ano pela Times, segundo o filósofo político Noam Chomsky.

Segundo Chomsky, em 1962, a conferência Vaticano II reformou os ensinamentos da Igreja Católica pela primeira vez desde o século IV, quando o Império Romano adotou o cristianismo como sua religião oficial, e isso teve um profundo impacto nos líderes religiosos da América Latina.

Na semana passada, em uma entrevista com o ativista de justiça social Abel Collins, Chomsky explicou que padres e laicos latino-americanos formaram grupos com camponeses para estudar o Evangelho e reivindicar mais direitos das ditaduras militares da região – que ficaram conhecidos como Teologia da Libertação.


“Há uma razão porque cristãos foram perseguidos pelos primeiros três séculos,” disse Chomsky. “Os ensinamentos são radicais – de um texto radical – que pregam basicamente um pacifismo radical com opções preferenciais aos pobres.”


Ele reafirmou que praticantes da Teologia da Libertação foram sistematicamente martirizados, ao longo de mais de 20 anos por forças apoiadas pelos EUA, que tentavam evitar que nações latino-americanas instalassem governos socialistas em benefício de seus próprios povos, contrariando interesses norte-americanos.


“Os Estados Unidos declararam e lutaram uma amarga, brutal e violenta guerra contra a igreja,” disse Chomsky. “Se existisse imprensa livre, é assim que representariam a historia.”


Ele explicou que os EUA apoiaram a “posse de governos e instituições ditatoriais com estilos neonazistas”, como parte de uma guerra que finalmente terminou em 1989 com a morte de seis jesuítas e duas mulheres na Universidade da América Central por tropas salvadorenhas.

Chomsky disse que aquelas tropas foram treinadas pelo governo norte-americano na Escola Kennedy de Guerra Contra a Insurgência, e agiram sob ordens oficiais do comando salvadorenho, que mantinha uma relação próxima com a embaixada norte-americana.


“Eu nem tenho que atribuir isso ao governo,” disse ele. “Já é aceito. A Academia das Américas, que treina oficiais militares latino-americanos – basicamente assassinos – um dos seus pontos de discussão é que o exército norte-americano ajudou a derrotar a Teologia da Libertação.”


O Papa Francisco, um jesuíta argentino, tem feito gestos simbólicos para uma nova aceitação da Teologia da Libertação na Igreja, depois de anos de condenação por suas aspirações políticas pelos papas João Paulo II e Bento XVI.

Seu recente Evangelii Gadium – ou Alegria do Evangelho – foi visto por muitos como um ataque ao capitalismo e economia de mercado livre, mas Chomsky acredita que até agora o Papa não transformou suas palavras em ações.


“Gosto do fato de que o discurso mudou, e de que há uma melhora na discussão sobre justiça social, mas temos que ver se isso chegará ao ponto de as pessoas se organizarem e insistirem por seus direitos percorrendo o caminho da opção preferencial pelos pobres, ou seja, de levar o Evangelho a sério.”

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Em entrevista à Revista Carta Maior, Leonardo Boff avalia o primeiro ano do pontificado do Papa Francisco

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Entrevista-Leonardo-Boff-analisa-primeiro-ano-do-Papa-Francisco/6/29800

Entrevista: Leonardo Boff analisa primeiro ano do Papa Francisco

Em entrevista à Carta Maior, Boff faz um balanço das esperanças suscitadas por Francisco, das perspectivas de transformação que se levantam no horizonte.


Entrevista concedida por Leonardo Boff a Eduardo Febbro



Petrópolis – A ternura e a inteligência juntas são armas muito dissuasivas. Escutando o teólogo brasileiro Leonardo Boff se entende rapidamente por que seu amigo Joseph Ratzinger o afastou da igreja quando foi publicado um dos livros fundadores da Teologia da Libertação escritos por Boff, “Igreja, carisma e poder”. Muito antes de ser papa, Ratzinger foi amigo de Leonardo Boff, mas quando o severo teólogo alemão começou a subir a escadaria do poder no Vaticano não duvidou em levantar a mão para fazer Leonardo Boff sentar no mesmo banco onde, muitos séculos antes, a Santa Sé julgou Galileu Galilei. Leonardo Boff pagou o tributo por suas ideias. Perdeu o direito de exercer o sacerdócio. Passaram-se muitos anos e muitos combates e Leonardo Boff não perdeu um centímetro dessa inteligência que evolve as coisas em uma mesca de racionalidade e revelação juvenil.

A paisagem que rodeia sua casa de Petrópolis é idílica, frondosa e absorvente como as ideias que este intelectual de 75 anos vai expondo com o frescor de um adolescente. Sob o título “o papa do povo”, a revista Times escolheu o papa Francisco como a personalidade do ano. “O que faz este Papa tão importante é a rapidez com que capturou a esperança de milhões de pessoas que haviam abandonado toda esperança na Igreja”, escreve a Times. Leonardo Boff não está longe de pensar o mesmo. Chega ao fim o ano da eleição de Bergoglio como primeiro papa não europeu da história.

Nesta entrevista à Carta Maior, Leonardo Boff faz um lúcido balanço das esperanças suscitadas por Francisco, das perspectivas de transformação que se levantam no horizonte, dos atos já cumpridos e dos que virão. O teólogo brasileiro está convencido de que, com Francisco, chegou muito mais que um homem vindo de longe: com ele chegou ao Vaticano outra filosofia de vida, de política, outra prática pastoral, outra sociologia e outro cristianismo inspirados nas raízes do continente.

Passam os meses e, da sua maneira sempre renovada, o papa Francisco segue proporcionando surpresas. Como você analisa este momento particular do catolicismo através de uma figura que está deslocando quase todos os centros de gravidade do Vaticano?

Estamos em uma situação totalmente nova. Nós viemos de um inverno muito duro e rigoroso, com João Paulo II e Bento XVI. Agora sentimos a primavera com suas flores e frutos. Francisco é um papa que surpreende, que a cada dia inventa coisas novas. É a primeira vez que um papa não vem da velha cristandade europeia, mas sim da periferia, ou seja, da América Latina. As igrejas da América Latina eram igrejas espelho, enquanto as da Europa eram igrejas fonte. Agora, depois de 500 anos, nossas igrejas se converteram em igrejas fonte. Nossas igrejas têm suas tradições, suas reflexões, suas liturgias, criaram um estilo de cristianismo ligado à libertação, ao compromisso social. Deste caldo, espiritual, político e religioso veio o papa Francisco.

O novo papa tem outro tipo de mensagem, não é o velho cristianismo, doutrinário, disciplinar. Trata-se de um cristianismo de profunda comunhão com todas as pessoas, livre de doutrinas castradoras, com uma mensagem baseada na simplicidade e na pobreza. Isso é inédito na história do papado. É preciso levar em conta que só 24% dos cristãos estão na Europa; 62% estão na América Latina e os demais na Ásia e na África. Isso significa que, hoje, o cristianismo é uma religião de Terceiro Mundo. Teve suas raízes no primeiro mundo, mas isso já passou.

Francisco está muito consciente desse fato. Por isso tem a fantasia criadora e é capaz de dizer “é preciso mudar”. Eu acredito muito em sua fantasia, em sua liberdade, em seu coração e liberdade espiritual. A igreja necessita de coração, não de poder. Onde há poder não há amor nem compaixão. Francisco tem amor e compaixão. Eu não quero saber nada de poder, nem de tradições.

Para você, então, Francisco é um papa de combate?

Creio que Francisco combina duas coisas: a ternura de Francisco e o rigor do jesuíta. É franciscano na forma humilde de viver, popular, mas é um jesuíta da racionalidade moderna, analisa os fenômenos, identifica a causa principal e, quando descobre, intervém com muita determinação. Creio que o papa é uma feliz combinação entre ternura e vigor. É disso que precisamos hoje na igreja. Para fora é um pastor, para dentro é muito rigoroso.

Quando esteve no Rio de Janeiro, o discurso mais duro que pronunciou foi para os bispos e cardeais. Disse a eles que não eram pobres nem interiormente, nem exteriormente, que eram duros com o povo e que não foram capazes de fazer a revolução da ternura, da compaixão, da compreensão com o povo. Em Roma disse o mesmo: os ministros da igreja tem que sair da fortaleza e ir para o povo e o povo deve poder vir e sentir-se em casa. A igreja não está aí para condenar ninguém, mas sim para acolher, perdoar, suscitar esperanças e ter compaixão com quem tem problemas. Essa é a característica mais bela e evangélica de Francisco.

Você acredita que Francisco pode realmente reformar a igreja?

Eu acredito que Francisco, antes de reformar a cúria e a igreja, já reformou o papado. O estilo do papa é outro. O papado tem um ritual, nas vestimentas, nos símbolos do poder. Francisco renunciou a tudo isso e fez o trabalho contrário: conseguiu que o papado se adaptasse a suas convicções e a seus hábitos. Por isso renunciou a todos os símbolos de poder. Ele disse: “a igreja tem que ser pobre como Jesus”. São Pedro não tinha um banco e Jesus não entendia nada de contabilidade! Jesus era um profeta que trazia fé, esperanças. Francisco resgata a tradição mais antiga da igreja e recusa chamar-se papa. Papa é um título dos imperadores. Francisco se considera um bispo de Roma que governa a igreja na caridade, não no direito canônico. Isso muda tudo.

Francisco é mais que um nome: é um projeto de igreja, de uma sociedade mais simples, solidária, é o projeto de uma simplicidade voluntária, de uma sobriedade compartilhada. Possivelmente isso vá criar uma crise entre os bispos e cardeais. Eles se acreditam príncipes da igreja e o papa não quer nada disso. Francisco quer que se renove o pacto das catacumbas quando, ao final do Vaticano segundo, 30 bispos se reuniram nas catacumbas e fizeram votos de viver na pobreza, de abandonar os palácios e viver no meio do povo. Essa é a proposta para toda a hierarquia da igreja. Essa será, para mim, a grande revolução de Francisco.

Com que forças Francisco poderá contar para mudar as más tendências profundas da igreja? Por enquanto temos ouvido uma mensagem pastoral muito entusiasta, mas para chegar à transformação completa há um grande passo. Por acaso se apoiará na teologia da libertação, tão reprimida por João Paulo II e Bento XVI?

É um papa muito inteligente. Francisco criticou muito os conservadores. No dia 11 de setembro aceitou encontrar-se com Gustavo Gutiérrez (o outro inspirador da teologia da libertação). Isso me parece muito importante para apoiar essa teologia que é, além disso, de certa forma, o lugar de onde ele vem. A Argentina tem uma teologia da libertação própria, que é a teologia da cultura popular. Francisco se apoiou nesta teologia que se diferencia da teologia da libertação comum porque não trabalha em torno do conflito de classe, mas sim em torno da cultura dominante e da cultura dominada, da cultura do silêncio que precisa ser liberada.

Ele está nesta linha. Daí vem a sua novidade.

Ele já escolheu oito cardeais de todo o mundo para criar uma instância de decisão. Seria fantástico se Francisco convidasse mulheres para dirigir os destinos da igreja na perspectiva da globalização. Até hoje, o cristianismo era algo ocidental que foi se convertendo em algo cada vez mais acidental. Ele precisa ser globalizado. Para ser global tem que ter outras dimensões. A igreja não encontrou seu lugar na globalização. Ela é muito romanizada, eurocêntrica. Mas Francisco tem a visão do jesuíta São Francisco Xavier, missionário na China, segundo a qual a igreja precisa sair para o mundo.

Para mim a melhor maneira é criar uma rede de igrejas e comunidades que se encarnam nas culturas e tem rostos chineses, japoneses, africanos, latino-americanos. É outro tipo de presença da igreja, não como poder, mas sim como uma instância de apoio a tudo o que é humano. O cristianismo se soma a outras religiões, a outros caminhos espirituais e renunciam assim a seu privilégio de excepcionalidade, como se fosse a única igreja verdadeira, a única religião válida. Não. O cristianismo está junto às demais religiões para alimentar valores humanos, para salvar a nossa civilização que está ameaçada.

No entanto, o discurso tradicional do Vaticano ainda se mantém.

Sim, eu creio que ele seguirá mantendo o discurso tradicional de defesa da vida, contra o aborto, mas com uma diferença: antes, os temas da moral sexual, familiar, do celibato dos sacerdotes ou do sacerdócio das mulheres, eram temas proibidos, que não podiam ser discutidos. Nenhum cardeal, bispo ou teólogo podia falar disso. Francisco não, ele deixou aberta a discussão. Ele vai abrir uma ampla discussão na igreja e vai recolher elementos que podem se tornar universais.

Francisco abriu muitos espaços. Não sei até que ponto poderá avançar com isso, mas haverá sim uma ampla discussão na igreja. Possivelmente consiga permitir que as igrejas locais, por exemplo, na África, onde há outras culturas tribais, outra relação com a sexualidade, possam atuar de outra forma ante a utopia cristã, uma forma que não seja só a ocidental.

Hoje temos uma só maneira de ser cristão, mas há outras. Na América Latina estamos demonstrando que é possível um cristianismo afro-indígena-europeu, uma mescla de três grandes culturas. Por isso aqui a igreja tem outro rosto, é mais aberta, mais comprometida com as mudanças que beneficiam o povo. Temos que universalizar isso, porque a injustiça mundial é muito grande. E este papa é muito sensível ante os últimos, os invisíveis. Aí está sua centralidade.

Já se passou certo tempo da renúncia do papa Bento XVI. Esse fato foi um enorme terremoto para os católicos do mundo. Qual é hoje sua análise sobre esse momento de fratura sem o qual o para Francisco não teria chegado ao trono de Pedro?

Eu creio que, quando Bento XVI leu o informe de mais de 300 páginas sobre a situação interna da igreja, seja o que concernia aos problemas do Banco do Vaticano, seja os escândalos sexuais que implicavam bispos e cardeais, creio que isso o abalou profundamente. Bento XVI sentiu que não tinha força nem física, nem psíquica, nem espiritual, para enfrentar um problema dessa natureza. Esse problema não vinha de fora, do mundo, da sociedade, não: o problema vinha de dentro da igreja, de sua parte mais central que é a cúria romana. Isso o escandalizou. Bento XVI foi muito humilde ao reconhecer que outra pessoa deveria vir com mais força, com mais determinação e outra visão da igreja para criar um horizonte de esperanças e credibilidade que a igreja havia perdido totalmente.

O Banco do Vaticano e todos os escândalos ligados a ele foi um dos desencadeadores da renúncia de Bento XVI. Assim que assumiu, as primeiras medidas do Papa Francisco tiveram a ver com o banco. Você acredita que ele poderá levar a cabo a reforma final desta instituição financeira comprometida com a máfia e a circulação de dinheiro opaco?

No Banco do Vaticano há muito dinheiro da máfia, apoiada e comprometida com altas figuras da Cúria romana. Neste sentido, há um risco que pesa sobre o papa.

Quando a máfia se sente agredida, é capaz de cometer crimes, de eliminar pessoas. Por isso, é muito inteligente que o papa não viva nos apartamentos pontificais, mas sim em uma casa de hóspedes. É muito inteligente também que não coma sozinho, mas sempre com muitas pessoas. Francisco disse brincando que assim era mais difícil envenená-lo. Mas, para além disso, creio que Francisco vá inaugurar uma dinastia de papas do Terceiro Mundo, da África, da Ásia, da América Latina. Com isso, o catolicismo se enriquecerá com valores de outras culturas que nunca foram respeitadas, mas sim colonizadas.

O cristianismo da América Latina é um cristianismo de colonização. Fizemos muitos esforços para criar um cristianismo nosso, com nossos santos, nossos mártires.

Nosso cristianismo tem seu próprio rosto, que não é o velho rosto europeu. Isso vai facilitar que o cristianismo seja uma boa proposta para a humanidade, não somente para os cristãos. Nosso cristianismo tem outro elemento de ética, de humanidade, de espiritualidade para um mundo altamente materializado, tecnologicamente sofisticado. Francisco encarna esse contraponto, essa dimensão.

Sua proposta tem futuro.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Leonardo Boff, o Papa Francisco e a crítica ao capitalismo neoliberal excludente


Segue excelente texto de Leonardo Boff:



O Papa Francisco e a economia política da exclusão

12/12/2013
Quem escuta as várias intervenções do bispo de Roma e atual Papa, se sente em casa e na América Latina. Ele não é eurocêntrico, nem romanocêntrico e muito menos vaticanocêntrico. Ele é ele mesmo, um pastor que “veio do fim do mundo”, da periferia da velha cristandade européia, decadente e agônica (só 24% dos católicos são europeus); provem do cristianismo novo que se elaborou ao longo de 500 anos na América Latina com um rosto próprio e sua teologia.

O Papa Francisco não conheceu o capitalismo central e triunfante da Europa mas o capitalismo periférico, subalterno, agregado e sócio menor do grande capitalismo mundial. O grande perigo nunca foi o marxismo mas a selvageria do capitalismo não civilizado. Esse tipo de capitalismo gerou no nosso Continente latino-americano uma escandalosa acumulação de uns poucos à custa  da pobreza e da exclusão das grandes maiorias do povo.

Seu discurso é direto, explícito, sem metáforas encobridoras, como costuma ser o discurso oficial e equilibrista do Vaticano que coloca o acento mais na segurança e na equidistância do que na verdade e na clareza da própria posição.

A posição do Papa Francisco é claríssima: a partir  dos pobres e excluidos:”não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem” esta opção já “que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres”(Exortação n.48). De forma contundente denuncia:”o sistema social e econômico é injusto em sua raiz(n.59); “devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social; esta economia mata…o ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora; os excluidos não são  os ‘explorados’ mas resíduos e ‘sobras”(n. 53).

Não se pode negar: esse tipo de formulação do Papa Francisco lembra o magistério dos bispos latino-ameriacanos de Medelin (1968), Puebla (1979) e Aparecida (2005) bem como  o pensamento comum da teologia da libertação. Esta tem como seu eixo central a opção pelos pobres, contra a sua pobreza e em favor da vida e da justiça social.

Há uma afinidade perceptível com o economista Karl Polanyi que, por primeiro, denunciou a “Grande Transformação”(título do livro de 1944) ao fazer da economia de mercado  uma sociedade de mercado. Nesta tudo vira mercadoria, as coisas mais sagradas e as mais vitais. Tudo é objeto de lucro. Tal sociedade se rege estritamente pela competição, pela regência do individualismo e pela ausência  de qualquer limite. Por isso nada respeita e cria um caldo de violência, intrínseca à forma como ela  se constrói e funciona, duramente criticada pelo Papa Francisco (n. 53). Ela gestou um efeito atroz. Nas palavras do Papa: “desenvolveu uma globalização da indiferença; tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios; já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos em cuidar deles”(n.54). Numa palavra, vivemos tempos de grande desumanidade, impiedade e crueldade. Podemos nos considerar ainda civilizados se por civilização entendermos  a humanização do ser humano? Na verdade, regredimos à primitivas formas de barbárie.

Conclusão final que o Pontífice deriva desta inversão:”não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado”(n.204). Destarte ataca o coração ideológico e falso do sistema imperante.
Onde vai buscar alternativas? Não vai beber da esperada Doutrina Social da Igreja. Respeita-a mas observa:”não podemos evitar de ser concretos para que os grandes princípios sociais não fiquem meras generalidades que não interpelam ninguém”(n.182). Vai buscar na prática humanitária do Jesus histórico. Não entende sua mensagem como regra, engessada no passado, mas como inspiração que se abre para a história sempre cambiante. Jesus é alguém que nos ensina a viver e a conviver a “reconhecer o outro, curar as feridas, construir pontes, estreitar laços e ajudar-nos a carregar as cargas uns dos outros”(n.67).
Personalizando seu propósito diz:”a mim interessa procurar que, quantos vivem escravizados por uma mentalidade individualista, indiferente e egoísta, possam libertar-se dessas cadeias indignas e alcancem um estilo de vida e de pensamento mais humano, mais nobre, mais fecundo que dignifique a sua passagem por esta terra”(n.208). Esta intenção se assemelha àquela da Carta da Terra que aponta valores e princípios para uma nova Humanidade que habita com amor e cuidado o planeta Terra.

O sonho do Papa Francisco atualiza o sonho do Jesus histórico, o do Reino de justiça, de amor e de paz. Não estava na intenção de Jesus criar uma nova religião, mas pessoas que amam, se solidarizam, mostram misericórdia, sentem a todos como irmãos e irmãs porque todos filhos e filhas no Filho.

Esse tipo de cristianismo não tem nada de proselitismo mas conquista pela atração de sua beleza e profunda humanidade. São tais valores que irão salvar a humanidade.

Fonte:  http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/12/o-papa-francisco-e-a-economia-politica-da-exclusao/

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

IstoÉ denuncia a queima de documentos do Propinoduto Tucano






Queima de arquivos do Propinoduto Tucano
Mascarados sumiram com provas do propinoduto dos tucanos paulistas, queimando 15 mil caixas de documentos
Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas
Fonte: IstoÉ
Uma pasta amarela com cerca de 200 páginas guardada na 1ª Vara Criminal do Fórum da cidade de Itu, interior paulista, expõe um lado ainda mais sombrio das investigações que apuram o desvio milionário das obras do metrô e trens metropolitanos durante governos do PSDB em São Paulo nos últimos 20 anos.
 Trata-se do processo judicial 9900.98.2012 que investiga um incêndio criminoso que consumiu durante cinco horas 15.339 caixas de documentos e 3.001 tubos de desenhos técnicos. A papelada fazia parte dos arquivos do metrô armazenados havia três décadas. Entre os papeis que viraram cinzas estão contratos assinados entre 1977 e 2011, laudos técnicos, processos de contratação, de incidentes, propostas, empenhos, além de relatórios de acompanhamento de contratos de 1968 até 2009. Sob segredo de Justiça, a investigação que poderá ser reaberta pelo Ministério Público, diante das novas revelações sobre o caso feitas por ISTOÉ, acrescenta novos ingredientes às já contundentes denúncias feitas ao Cade pelos empresários da Siemens a respeito do escândalo do metrô paulista. Afinal, a ação dos bandidos pode ter acobertado a distribuição de propina, superfaturamento das obras, serviços e a compra e manutenção de equipamentos para o metrô paulista.

Segundo o processo, na madrugada do dia 9 de julho do ano passado, nove homens encapuzados e armados invadiram o galpão da empresa PA Arquivos Ltda, na cidade de Itu, distante 110 km da capital paulista, renderam os dois vigias, roubaram 10 computadores usados, espalharam gasolina pelo prédio de 5 mil m² e atearam fogo. Não sobrou nada. Quatro meses depois de lavrado o boletim de ocorrência, nº 1435/2012, a polícia paulista concluiu que o incêndio não passou de um crime comum. “As investigações não deram em nada”, admite a delegada de Policia Civil Milena, que insistiu em se identificar apenas pelo primeiro nome. “Os homens estavam encapuzados e não foram identificados”, diz a policial.
Investigado basicamente como sumiço de papéis velhos, o incêndio agora ganha ares de queima de arquivo. O incidente ocorreu 50 dias depois de entrar em vigor a Lei do Acesso à Informação, que obriga os órgãos públicos a fornecerem cópias a quem solicitar de qualquer documento que não seja coberto por sigilo legal, e quatro meses depois de começarem as negociações entre o Cade e a Siemens para a assinatura do acordo de leniência, que vem denunciando as falcatruas no metrô e trens paulistas. “Não podemos descartar que a intenção desse crime era esconder provas da corrupção”, entende o deputado Luiz Cláudio Marcolino, líder do PT na Assembleia Legislativa do Estado.
Além das circunstâncias mais do que suspeitas do incêndio, documentos oficiais do governo, elaborados pela gerência de Auditoria e Segurança da Informação (GAD), nº 360, em 19 de setembro passado, deixam claro que o galpão para onde foi levado todo o arquivo do metrô não tinha as mínimas condições para a guarda do material. Cravado em plena zona rural de Itu, entre uma criação de coelhos e um pasto com cocheiras de gado, o galpão onde estavam armazenados os documentos não tinha qualquer segurança. Poderia ser facilmente acessado pelas laterais e fundos da construção.
De acordo com os documentos aos quais ISTOÉ teve acesso, o governo estadual sabia exatamente da precariedade da construção quando transferiu os arquivos para o local. O relatório de auditoria afirma que em 20 de abril de 2012 - portanto, três dias depois da assinatura do contrato entre a PA Arquivos e o governo de Geraldo Alckmin - o galpão permanecia em obras e “a empresa não estava preparada para receber as caixas do Metrô”. A comunicação interna do governo diz mais. Segundo o laudo técnico do GAD, “a empresa não possuía instalações adequadas para garantir a preservação do acervo documental”. Não havia sequer a climatização do ambiente, item fundamental para serviços deste tipo.
O prédio foi incendiado poucos dias depois da migração do material para o espaço. “Não quero falar sobre esse crime”, disse um dos proprietários da empresa, na época do incêndio, Carlos Ulderico Botelho. “Briguei com o meu sócio, sai da sociedade e tomei muito prejuízo. Esse incêndio foi estranho. Por isso, prefiro ficar em silêncio”. Outra excentricidade do crime é que o fato só foi confirmado oficialmente pelo governo seis meses depois do ocorrido. Em 16 páginas do Diário do Diário Oficial, falou-se em “sumiço” da papelada. Logo depois da divulgação do sinistro, o deputado estadual do PT, Simão Pedro, hoje secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, representou contra o Governo do Estado no Ministério Público Estadual. “Acredita-se que os bandidos tenham provocado o incêndio devido o lugar abrigar vários documentos”. Para o parlamentar, “esse fato sairia da hipótese de crime de roubo com o agravante de causar incêndio, para outro crime, de deliberada destruição de documentos públicos”, disse Simão, em dezembro passado. Procurados por ISTOÉ, dirigentes do Metrô de SP não quiseram se posicionar. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Leonardo Boff: "O significado de Mandela para o futuro da Humanidade"



Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.

E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar  a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes  por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade.

Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um concetio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.


Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.

Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo  devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e  sem esperança.

Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).

Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre  os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.

Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens  à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar  juntos na mesma Casa.

Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação:“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito  correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.

Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem discriminações pusermos em prática de fato o Ubuntu.

Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.

 Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/07/o-significado-de-mandela-para-o-futuro-ameacado-da-humanidade/

domingo, 1 de dezembro de 2013

O pó do helicóptero do amigo de Aécio encoberto pela tendenciosidade contra o PT

Segue artigo de Miguel do Rosário, extraído dos importantes sites TijolaçoO Cafezinho:


Novidades sobre o helicóptero do pó

Texto de

Miguel do Rosário



Perrela pai com Aécio Neves

Escrevo há uns quinze anos sobre política, de maneira quase ininterrupta, e tendo ideais progressistas, sempre fui crítico à grande imprensa brasileira. No entanto, nunca me deparei com um grau de degradação tão avassalador como vejo nos últimos dias. O Globo insiste nos “privilégios” dos presos petistas, sem refletir que, ao fazer esse tipo de campanha, contradiz a si mesmo. Afinal, que raio de privilégio é esse em ser achincalhado diariamente nos jornais, mesmo após estar preso injustamente?
Através do Globo, agora já sabemos os negócios de todos os familiares dos proprietários do hotel que empregará José Dirceu.
Enquanto isso,  a imprensa trata com inexplicável discrição aquele que pode ser o maior escândalo das últimas décadas, rivalizando até mesmo com o trensalão paulista.
O Ministério Público de Minas Gerais vai propor, nos próximos dias, uma Ação Civil Pública, para investigar repasses do governo do estado, na gestão de Aécio Neves, para a empresa Limeira Agropecuária e Participações Ltda, proprietária do helicóptero apreendido com meia tonelada de pó. Os repasses aconteceram em 2009, 2010 e 2011.
Achei reportagens do ano passado com informações sobre suspeitas do Ministério Público contra a Limeira, empresa dos Perrela. O MP apurava possível contratação irregular, sem licitação, pelo governo do estado, além de superfaturamento. A compra da fazenda Guará (a mesma onde o helicóptero foi apreendido), avaliada em R$ 60 milhões, também estava sob a mira dos procuradores, visto que o bem havia sido ocultado pelo senador Zezé Perrela.
Hoje há uma matéria no Globo sobre o tema, mencionando as suspeitas do Ministério Público, mas sem chamada na primeira página e sem qualquer citação ao partido do governo do estado, e às relações quase íntimas entre os Perrela e o provável candidato do PSDB à presidência da república, Aécio Neves. A reportagem informa que o senador Zezé Perrela (PDT-MG) também pagou com sua verba de gabinete o combustível usado no famoso helicóptero. Zezé e Gustavo, pai e filho, estão cada vez mais enredados no caso.
O assunto não é interessante? Um possível presidente da república ser tão próximo de políticos suspeitos de serem grandes traficantes de cocaína não é do interesse da nossa imprensa “livre”, “independente”, “profissional”? Será que mais uma vez, os blogueiros terão que assumir a dianteira dessa investigação, com grande risco pessoal?

sábado, 30 de novembro de 2013

O valor da amizade


Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.
Miguel de Unamuno


terça-feira, 26 de novembro de 2013

OAB pede que o Conselho Nacional de Justiça investigue Joaquim Barbosa

UNÂNIME, OAB PEDE AO CNJ QUE INVESTIGUE BARBOSA



Extraído do Brasil 247

O documento aprovado por todos os conselheiros federais da Ordem dos Advogados do Brasil, presidida por Marcus Vinícius Furtado Coelho, é ainda mais grave do que uma moção de repúdio a Joaquim Barbosa; a OAB, que liderou movimentos históricos, como o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, cobra do Conselho Nacional de Justiça uma investigação sobre a conduta do presidente do Supremo Tribunal Federal; estopim da crise foi a decisão de Barbosa de substituir o juiz responsável pela execução das penas dos condenados na Ação Penal 470; saiu Ademar Vasconcelos, entrou Bruno Ribeiro, filho de um dirigente do PSDB no Distrito Federal; decisão responde a uma cobrança feita, nesta tarde, no 247, pelo criminalista e ex-presidente da entidade José Roberto Batochio

25 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 18:50

247 - Acaba de ser aprovada, por unanimidade, pela Ordem dos Advogados do Brasil, uma decisão que ainda é ainda mais grave do que uma simples moção de repúdio ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. A OAB irá cobrar do Conselho Nacional de Justiça uma investigação sobre a troca do juiz responsável pela execução das penas do chamado "mensalão".

Após pressões de Joaquim Barbosa, repudiadas por juristas e advogados, o juiz titular da Vara de Execuções Penais, Ademar Vasconcelos, foi substituído por Bruno Ribeiro, filho de um dirigente do PSDB do Distrito Federal. A decisão fere direitos da magistratura e também dos réus.

A decisão causou espanto na magistratura. "Eu espero que não esteja havendo politização, porque não vamos permitir a quebra de um princípio fundamental, que é uma garantia do cidadão, do juiz natural, independentemente de quem seja o réu", afirmou João Ricardo dos Santos Costa, presidente eleito da Associação dos Magistrados do Brasil. Segundo o jurista Claudio Lembo, já existem razões objetivas para o impeachment de Joaquim Barbosa. Os juristas Dalmo de Abreu Dallari e Celso Bandeira de Mello publicaram um manifesto em que defendem uma reação do Supremo Tribunal Federal, para que a corte não se torne refém de seu presidente.

A OAB agiu em resposta a uma cobrança pública feita no início desta tarde por um ex-presidente da entidade, José Roberto Batochio, em reportagem publicada no 247.  "Se alguém pode trocar um juiz, porque acha que este será mais rigoroso com os réus, deveria também ser facultado aos réus o direito de escolher o juiz pelo qual querem ser julgados", disse Batochio.

Pela primeira vez na história, o Conselho Nacional de Justiça receberá um pedido de investigação contra um ato de seu próprio presidente, uma vez que Joaquim Barbosa, como chefe do STF, acumula também o comando do CNJ.

Leia abaixo a nota:

segunda-feira, 25 de novembro de 2013 às 18h23

Salvador (BA) - O Conselho Pleno da OAB aprovou por aclamação o envio pela diretoria da entidade, de ofício requerendo a análise do Conselho nacional de Justiça (CNJ), sobre a regularidade da substituição de magistrado da Vara de Execuções Criminais. A decisão do Pleno foi motivada pela recente substituição do juiz responsável pela execução das penas da AP 470.

Leia, abaixo, reportagem anterior sobre a cobrança feita por José Roberto Batochio:

BATOCHIO: "SILÊNCIO DA OAB JÁ FOI ALÉM DO RAZOÁVEL"

Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, o criminalista José Roberto Batochio cobra uma postura mais firme do atual presidente da entidade, Marcus Vinícius Furtado Coelho, em relação aos abusos cometidos pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e faz até uma piada: "se o chefe do Poder Judiciário pode escolher um juiz fora dos parâmetros legais porque acha que ele será mais rigoroso do que o juiz natural, deveria ser dado aos réus o direito de também escolher o juiz pelo qual querem ser julgados"; Batochio aponta "heterodoxia" no caso e critica a postura da OAB; polêmica recente diz respeito à escolha feita por Barbosa do juiz Bruno Ribeiro para tocar as prisões da Ação Penal 470

25 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 14:34

247 - O criminalista José Roberto Batochio, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, cobra da própria OAB uma atitude mais firme diante dos desmandos do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Segundo ele, o sistema judiciário brasileiro tem dado exemplos recorrentes de "heterodoxia" na Ação Penal 470. Batochio afirma ainda que "o silêncio da OAB já foi além do razoável".

A polêmica mais recente diz respeito à determinação feita por Joaquim Barbosa para que o juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, Ademar Vasconcelos, que conduzia as prisões da Ação Penal 470, fosse substituído por Bruno Ribeiro, filho de um dirigente do PSDB do Distrito Federal. Em relação ao caso, Batochio faz até uma piada. "Se alguém pode trocar um juiz, porque acha que este será mais rigoroso com os réus, deveria também ser facultado aos réus o direito de escolher o juiz pelo qual querem ser julgados", afirma.
A decisão, segundo Batochio, desrespeita a magistratura como um todo, uma vez que os juízes têm vários direitos assegurados, e também a defesa – uma vez que todo réu tem direito ao chamado juiz natural.

Não custa lembrar que Barbosa tentou minar a atuação de Ademar Vasconcelos antes mesmo das prisões, uma vez que, dez dias atrás, já havia mandado as ordens de prisão para Bruno Ribeiro, que estava de férias – e não para o juiz natural.

Fonte: http://www.brasil247.com/+uihkr