segunda-feira, 14 de julho de 2025

Além de absurda, trama de Eduardo Bolsonaro pode configurar crimes de coação e traição à pátria. Reportagem de Camila Bezerra

 

"Apesar da chantagem de Trump em relação à responsabilização de Jair Bolsonaro, cabe apenas ao STF o julgamento sobre a tentativa de golpe tramada pelo ex-presidente"

Do Jornal GGN:

Reprodução

O programa TVGGN 20H da última sexta-feira (12) contou com a participação do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Marcelo Semer, para comentar os efeitos jurídicos da tentativa de intervenção do Judiciário brasileiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e também da possível responsabilização do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) pela trama.

O desembargador iniciou a entrevista afirmando que esta tentativa de intervenção foi absurda e imperialista, que apesar de outras formas explicitas de dominar países (na cultura, comércio, guerra ou no digital), agora chegou ao Judiciário.

“Não imaginávamos que podia ter uma questão tão explícita como essa de dizer não sei se estão fazendo errado, soltam o Bolsonaro e deixam ele livre e coisa e tal. É muito difícil você ,mensurar isso porque apesar de ser o Trump, a gente não esperava que chegasse nesse ponto de uma coisa tão grotesca, tão explícita”, pontua Semer.

O desembargador pontuou ainda que, obviamente, a compra da briga do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pela tentativa de golpe de Estado e outros crimes, tem interesses geopolíticos e que prefere que o Trump ameace o país a iniciar um novo conflito armado.

“Mas o que é mais inimaginável é que ele tem uma sorte de apoiadores aqui no Brasil que batiam palma, que pediam isso e que batem palma depois mesmo sabendo que a gente pode perder, sei lá, 100 mil empregos, pouco importa. Pouco importa, as pessoas não estão se importando com o país, mas estão se importando com o Bolsonaro, com a liberdade do Bolsonaro, enfim. Com a sobrevivência do projeto político da extrema direita, eu até acho isso muito grave”, continua o convidado.

De acordo com um ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o que a família Bolsonaro fez ao enviar Eduardo aos Estados Unidos para intermediar sanções ao país devido às investigações contra o pai, Jair, pode ser qualificado como traição à pátria.

Consequentemente, o desembargador não tem sugestões de como o governo deveria reagir, tendo em vista que o fim das investigações e, consequentemente, a responsabilização de Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe não está em discussão. Nem mesmo o governo federal teria poder para interferir na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Mas veja, nós temos hoje o governador do Estado de São Paulo sugerindo aos ministros do Supremo, não sei como, se por telefone, por conversa, não deu para saber porque essa foi uma informação que veio assim de bastidor, sugerindo que liberasse o Bolsonaro para a ilha dos Estados Unidos”, revelou Semer. “Eu confesso que ainda não caiu a ficha para mim porque o que o Trump fez, ele praticamente ofereceu um asilo ao Bolsonaro. Agora vem outro e fala assim: ‘Vamos levar o Bolsonaro lá ver o que acontece?'”, emendou.

O anúncio do aumento das tarifas sobre produtos brasileiros importados aos Estados Unidos em até 50% evidenciou que o clã Bolsonaro só está preocupado com a salvação do patriarca.

“O que me deixou muito atônito é que o Eduardo Bolsonaro, que é o filho e deputado federal, abriu mão praticamente do seu cargo, foi lá aos Estados Unidos e fala, há meses que ele fala que está plantando exatamente isso. Eu não sei se ele é muito bom articulador ou o Trump quis aproveitar essa oportunidade, pouco importa. Ele está lá financiado pelo pai, pai já falou que mandou R$ 2 milhões para que ele pudesse se manter, etc. E basicamente o que eles estão fazendo tentar boicotar o processo por fora. A gente chama de coação no curso do processo”, explica Semer.

Para o desembargador, Eduardo pode ter cometido os crimes de coação, crime contra a democracia e contra a pátria, além de obstrução de Justiça.

Confira a entrevista na íntegra:

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