quarta-feira, 31 de julho de 2013

Caetano Veloso faz bela canção em homenagem a Carlos Marighella e a todos os que sonham por um mundo justo




Carlos Marighella (1911-1969) foi um poeta, político e guerrilheiro brasileiro que se tornou mártir ao combater a truculenta ditadura militar do Brasil (1964-1985). Filho de um imigrante italiano e de uma negra descendentes de escravos, nascido em Salvador, Mariguella foi um dos pensadores revolucionários mais atuantes de seu tempo. Foi morto em uma emboscada feita pelos militares a partir de informações, obtidos sob tortura, de alguns frades dominicanos.  Uma pedra com uma placa em homenagem a Marighella foi posta na Alameda Casa Branca, mas a placa foi arrancada por fascistas de direita.

Em  homenagem a Marighella, Caetano Veloso fez a canção Um Comunista, constante de seu cd Abraçaço (2013). Segue abaixo a letra da canção e, depois, um vídeo com a música:

Um Comunista
Caetano Veloso
Um mulato baiano,
Muito alto e mulato
Filho de um italiano
E de uma preta hauçá


Foi aprendendo a ler
Olhando mundo à volta
E prestando atenção
No que não estava a vista
Assim nasce um comunista


Um mulato baiano
Que morreu em São Paulo
Baleado por homens do poder militar
Nas feições que ganhou em solo americano
A dita guerra fria
Roma, França e Bahia


Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!


O mulato baiano, mini e manual
Do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas
Depois por Magalhães
Por fim, pelos milicos
Sempre foi perseguido nas minúcias das pistas
Como são os comunistas?


Não que os seus inimigos
Estivessem lutando
Contra as nações terror
Que o comunismo urdia


Mas por vãos interesses
De poder e dinheiro
Quase sempre por menos
Quase nunca por mais


Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!


O baiano morreu
Eu estava no exílio
E mandei um recado:
"eu que tinha morrido"
E que ele estava vivo,


Mas ninguém entendia
Vida sem utopia
Não entendo que exista
Assim fala um comunista


Porém, a raça humana
Segue trágica, sempre
Indecodificável
Tédio, horror, maravilha


Ó, mulato baiano
Samba o reverencia
Muito embora não creia
Em violência e guerrilha
Tédio, horror e maravilha


Calçadões encardidos
Multidões apodrecem
Há um abismo entre homens
E homens, o horror


Quem e como fará
Com que a terra se acenda?
E desate seus nós
Discutindo-se Clara
Iemanjá, Maria, Iara
Iansã, Catijaçara


O mulato baiano já não obedecia
As ordens de interesse que vinham de Moscou
Era luta romântica
Ela luz e era treva
Venta de maravilha, de tédio e de horror


Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! os comunistas!


Mauricinhos coxinhas, globalização e instabilidade mundial



Mauricinhos coxinhas são rapazes das classes média e alta que transitam no trinômio escola privada-condomínio de luxo-clube social.

Desconhecem a realidade dos assalariados, das crianças pobres e da luta pela sobrevivência de milhões. Fazem pouco caso se melhorou ou não a vida destes, o que importa é salvaguardar seus interesses: garantir que podem se divertir cada vez mais, e abusar de subalternos considerados inferiores (não importa se pobre, negro, nortista ou semi-analfabeto). Para eles, banqueiros goelarem dinheiro público é algo normal, mas ações sociais dados aos menos favorecidos é uma maldição, uma aberração, algo a ser perseguido e destruído.

O mauricinho coxinha é fascista por ressonância: igualdade de oportunidades não é algo que ele venha a aceitar. Ele acredita na lei dos privilegiados, na beleza do ócio das elites, na finesse hipócrita dos fingimentos envernizados. Para ele, vale a lei da aparência e nada mais.

O mauricinho coxinha é bem mal informado pela Revista Semanal e tem Arnaldo Jabor como modelo de intelectual. Não está nem ai para as enchentes ou incêndios em periferias, mas vai pra rua se a pobreza chegar ao rés do chão de seu prédio de luxo. Para ele, quanto menos "gentinha" melhor (resguardando-se um número mínimo para trabalhar como domésticos, garis e encanadores). Pra falar a verdade, para op coxinha só vale aquilo que sirva como espelho de sua própria vaidade.

Sua política é delineada e formada por gente de fora, os mentores da globalização consumista e dizimista, como o que fala Assis Ribeiro no texto transcrito a seguir.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Globalização, liberalismo e a instabilidade mundial


Por Assis Ribeiro
Globalização e liberalismo
A instabilidade mundial é fruto da globalização e do liberalismo. Começa com as grandes invasões, que os livros de história preferiram chamar de grandes descobertas, e com a revolução industrial (mesmo com raízes anteriores). As promessas de um mundo melhor, mais justo, equilibrado e democrático não foram alcançadas pelo modelo e as populações começam a se rebelar.
No Brasil

Desde que fomos invadidos pelos portugueses nossas riquezas são remetidas para o exterior, como brilhantemente expõe o escritor Eduardo Galeano no belíssimo livro "As Veias Abertas da América Latina".
Para suprir necessidade, cada vez maior, de se extrair com trabalho árduo as nossas riquezas naturais e frustradas as tentativas de submeter os nossos índios,importamos um enorme leva de escravos.
Assim, se solidifica a famosa "casa grande e senzala", criando uma pequena e poderosíssima elite e uma enorme população de escravos, uma estratificação sólida e que de certa forma se mantém até os dias atuais, dificultando avanços democráticos. 
Com a revolução industrial, continuamos a remeter ao estrangeiro nossas matérias primas sem valor agregado para que alimentasse a indústria de outros países enquanto as matérias processadas retornavam com valores muito mais caros.
A indústria estrangeira precisando de consumidores e trabalhadores em suas fábricas forçam a libertação dos escravos para que se tornem consumidores e trabalhadores nas fábricas. Com o aumento da produção e necessidade maior de consumidores a Inglaterra força o Brasil a libertar os seus escravos, enfim, fomos os últimos a fazê-lo.
Com a saturação dos polos industriais e o desenvolvimento de tecnologias que tornaram as fábricas obsoletas, inicia-se mais fortemente a chamada globalização, onde as indústrias exportavam as suas já vencidas máquinas para os países periféricos.
Fábricas chegam ao Brasil com seus maquinários ultrapassados, e entre os principais objetivos estava a necessidade constante de importação de peças, na realidade recebíamos montadoras, e os lucros remetidos para as matrizes, dificultando o desenvolvimento de uma tecnologia nacional.
Tentativas de quebrar o modelo
Continuamos com uma elite arcaica que visa o lucro pessoal e que pouco se  importa com o desenvolvimento do Brasil, já que o nosso imenso território, as excelentes condições geográficas, proporcionam altos lucros com poucos esforços na procura de avanços tecnológicos.
Enquanto a nossa indústria continua afundada, nos vangloriamos do nosso PIB ser sustentado pelo agronegócio e a indústria de automóvel. Não é possível sermos um pais de grande frota de automóveis sem uma empresa nacional e continuar exportando commodities.
Algumas formas de se modificar esta dependência internacional e o "status quo" da nossa elite foram tentadas, mas terminaram esbarrando no poder que as nossas elites tem, sempre atuando em parceria com a estrangeira, como os parágrafos acima remetem.
Não se mudará esta condição sem reformas estruturais.
A tentativa mais ousada se deu com a tentativa de se implementar as famosas reformas de base  por Goulart, que por propor mudanças radicais na estrutura que sempre beneficiou a elite, brasileira e suas parceiras estrangeiras, e isso em plena guerra fria, não poderia ter consequência diferente da do que ocorreu.
As que mais assustaram os detentores do "status quo":

1) Restringir a remessa de lucros do capital estrangeiro, com o provável objetivo de obrigar que os grupos nacionais e estrangeiros reinvestissem o lucro por aqui.

2) Reforma agrária, provavelmente visando diminuir os grandes latifúndios, origem da nossa "casa grande e senzala", e para mim motivo principal da baixa industrialização do país pelos motivos expostos nos parágrafos anteriores.

Esses dois pontos são debatidos até hoje, a reforma agrária internamente pois somos um dos poucos países democráticos que não a implementamos de maneira mais efetiva.

A restrição de remessas de lucros, e similares,  ganha foro internacional na atualidade pela forma extremamente  volátil do capital que se transfere a qualquer momento de um lugar para outro, provocando dificuldades, inclusive em países "players". O próprio debate sobre protecionismo tão em moda pós quebradeira de 2008, e a dificuldade de crescimento das economias provavelmente trará uma reorganização do setor.

Outras propostas por Goulart foram implementadas desde os governos militares, como, por exemplo, o direito de votos para os analfabetos, a igualdade de direitos dos trabalhadores rurais com o urbano.

Nos governos militares, o Brasil teve altos índices de crescimento do PIB, mas, de forma continuada à dependência externa, aumentou mais ainda o nosso endividamento, trazendo empresas estrangeiras, capital externo, ao invés de se incentivar a criação de tecnologias e parque industrial próprio. A convergência dos governos militares aos princípios da globalização e do liberalismo desmonta as nossas escolas públicas, e a forma desordenada de crescimento faz aumentar a desigualdade social.

Com dívidas paralisantes e altíssima inflação herdada, nada fizeram os governos Sarney e Collor/Itamar, no entanto, neste último, começou-se a corrigir o problema da inflação que corroía o salário do trabalhador e a produção já que o dinheiro migrava fortemente para a especulação, com a elaboração do plano real que veio a ser implantado no governo seguinte, a era FHC.

Com a inflação controlada, restava os altíssimos índices de endividamento que levou o Brasil a "quebrar" três vezes e o caminho encontrado foi a venda de lucrativas empresas públicas, em processos até hoje questionados, a famosa privatização do Brasil.

Essas ações, atendendo à determinação da globalização e do liberalismo, principalmente representados pelo FMI e Banco Mundial, terminaram por aumentar mais ainda a nossa dependência ao capital externo, que remetem os seus lucros para as matrizes, imobilizando o nosso desenvolvimento tecnológico.
Sem desenvolvimento a condição "casa grande e senzala" permanece em nossa sociedade.
Os governos Lula/Dilma são eleitos pela promessa de se quebrar a condição da "casa grande e senzala", com propostas de aumento real de salário mínimo, criar empregos, implementar o fome zero, romper com o neoliberalismo que além de concentrar riqueza, provoca a continuidade da dependência ao capital externo e remessas de lucros para fora do país.
Alguns avanços são conseguidos, tendo o Brasil batido recordes de desemprego, vem realizando o aumento real do salário mínimo, mas, ao mesmo tempo, e nas palavras do próprio Lula; "nunca os banqueiros ganharam tanto dinheiro como no meu governo, remete à ideia de que a "casa grande e senzala" permanece intacta, com sua concentração de riqueza, manutenção da elite que com seu conservadorismo é avesso à inovação, e aqui está incluída a tecnológica.
As dificuldades do governo trazer o empresariado nacional para o jogo produtivo também é algo preocupante, abrindo a possibilidade que o capital estrangeiro mais uma vez entre no pais, agora em outras áreas estratégicas e de necessidade urgente de investimentos para o avanço da produção como os portos, aeroportos e estradas.
A nossa dependência  e submissão ao capital externo parece se solidificar ainda mais, e realizar as reformas estruturais para trazer a nossa independência se torna algo cada vez mais difícil.


terça-feira, 30 de julho de 2013

A importância do Estado Laico para a paz entre as religiões



Este homem não é apenas o chefe da Igreja Católica.... Ele vem sendo a voz  da melhor espiritualidade, independente dos credos... Sua sabedoria é como uma raio de luz num momento de trevas intelectuais de um mundo conturbado e materializado....

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Leonardo Boff: "Jornada Mundial da Juventude - Celebração e compromisso"

Jornada Internacional da juventude: celebração e compromisso


Leonardo Boff




 No pensamento social e filosófico a questão da  fé não está em alta. Antes pelo contrário, a maioria dos pensadores tributários dos mestres da suspeita e filhos da modernidade, colocam a fé sob suspeita, considerada como pensamento arcaico e mítico ou como cosmovisão do povo supersticioso e falto de conhecimento, na contramão do saber científico.
          Como quer que interpretemos a fé, o fato é que ela está ai e mobiliza milhões de jovens vindos de todo mundo para a Jornada Mundial da Juventude, além de outros milhares que acorreram para ver o novo Papa Francisco. Suspeito que nenhuma ideologia, causa ou outro tipo de lúder que não religioso consiga trazer para as ruas tão numerosa multidão. Pode-se dizer responsavelmente que ai vigora alienação e arcaismo?
          Tal fato nos leva a refletir sobre a relevância da fé na vida das pessoas. O conhecdido sociólogo Peter Berger mostrou em seu Rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural (1969) a falácia da secularização que pretendeu ter banido do espaço social a religião e o sagrado. Ambos ganharam novas formas mas estiveram sempre ai presentes, porque estão enraizados profundamente nas damandas fundamentais da vida humana.
          Imaginar que um dia o ser humano abandone totalmente a fé é tão inverossímil quanto esperar que nós para não ingerirmos alimentos quimicalizados ou transgênicos deixemos uma vez por todas de comer. Quero abordar a fé em seu sentido mais comezinho, para aquém das doutrinas, dogmas e religiões, pois ai aparece em sua densidade humana.
          Há um dado pre-reflexo que subjaz à existência de fé: a confiança na bondade fundamental da vida. Por mais absurdos que haja e os há quase em demasia, o ser humano crê que vale mais a pena viver do que morrer. Dou um simples exemplo: a criança acorda sobressaltada em plena noite; grita pela mãe  porque o pesadelo e a escuridão a encheram de medo. A mãe toma-a no colo, no gesto da magna mater, enche-a de carinho e lhe diz: “querida, não tenhas medo; está tudo bem, está tudo em ordem”. A criança, entre soluços, reconquista a confiança e dentro de pouco, adormece tranquila. Estará a mãe enganando a criança? Pois nem tudo está bem. E contudo sentimos que a mãe não mente à criança. Apesar das contradições, há uma confiança de que uma ordem básica perpassa a realidade. Esta  impede que o absurdo tenha a primazia.
          Crer é dizer:”sim e amém” à realidade. O filósofo L. Wittgenstein podia dizer em seuTractatus logico-philosophicus: “Crer é afirmar que a vida tem sentido”. Este é o significado bíblico para fé –he’emin ou amam – que quer dizer: estar seguro e confiante. Daí vem o “amém” que significa:“é isso mesmo”. Ter fé é estar seguro no sentido da vida.
          Essa fé é um dado antropológico de base. Nem pensamos nele, porque vivemos dentro dele: vale a pena viver e sacrificar-se para realizar um sentido que valha a pena.
          Dizer que este sentido da vida é Deus é o discurso das religiões. Esse sentido pervade a pessoa, a sociedade e o universo, não obstante nossas infindáveis interrogações. Escreveu  o Papa Francisco na encíclica Lumen Fidei:”A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas mas é uma lâmpada que guia nossos passos na noite e isto basta para o caminho”.
          Dizer que esse sentido, Deus, se acercou de nós e que assumiu nossa carne quente e mortal em Jesus de Nazaré é a leitura da fé cristã. Em nome desta fé em Jesus morto e ressuscitado, se reuniram esses milhares de jovens e acorreram mais de dois milhões de pessoas em Copacabana.
          Entre outros traços do carisma do Papa Francisco é sua fé cristalina que o torna tão despojado, sem medo (o que se opõe à fé não é o ateismo mas o medo) que busca proximidade com as pessoas especialmente com os pobres. Ele inspira o que é próprio da fé: a confiança e o sentimento de segurança. É o arquétipo do pai bom que  mostra direção e confiança.
          Fez uma conclamação importante, verdadeira lição para muitos movimentos no Brasil: a fé tem que ter os olhos abertos para as chagas dos pobres, estar perto deles e as mãos operosas para erradicar as causas que produzem esta pobreza.
          Na Jornada houve belíssimas celebrações e canções cujo tom era de piedade. Entretanto, não se escutaram as belas canções engajadas das milhares comunidades de base. Não se ouviram também  suas belas canções que falam do clamor das vítimas, dos indígenas e camponeses assassinados e do martírio da  Irmã Dorothy Stang e do Padre Josimo. O Papa Francisco enfatizou uma evangelização que se acerca do povo, na simplicidade e na pobreza. Repetiu muito:”não tenham medo”. O empenho pela justiça social cria conflitos, vítimas e suscita medo, que deve ser vencido pela fé.
          Voltemos ao tema da fé humana. Quantos são aqueles que se apresentam como ateus e agnósticos e no entanto possuem essa fé como afirmação do sentido da vida e se empenham para que seja justa e solidária. Talvez não a confessam em termos de Deus e de Jesus Cristo. Não importa. Pois a base subjacente a esta fé em Deus e Cristo está lá presente sem ser dita.
 Esta fé básica impõe limites à pós-modernidade vulgar que se desinteressa por uma humanidade melhor e que não tem compromisso com a solidariedade pelo destino trágico dos sofredores. Outros, vendo o fervor da fé dos jovens e a comoção até às lágrimas sentem talvez saudades da fé da infância. E ai podem surgir impulsos que os animam a viver a fé humana fundamental e quem sabe se abrem até à fé num Deus e em Jesus Cristo. É um dom. Mas o dom de uma  conquista. E então um sentido maior se abre para uma vida mais feliz.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Isto É rompe o pacto de silêncio conivente da mídia e denuncia o Propinoduto do PSDB

Enquanto a Globo não mostra as manifestações em suas portas nem o Alexandre Garcia deixa de distorcer os fatos, a Isto é mostra o que a Veja quer calar:



Reportagem da Isto É aponta que nos governos do tucanato de Geraldo Alckmin,  José Serra e Mario Covas, cerca de US$ 50 milhões teriam sido desviados das obras do metrô; denúncia da Siemens, que decidiu colaborar com a Justiça, lança luzes sobre o esquema; Alckmin será indiciado em ação de improbidade, mas a justiça elitista típica do país não nos permite ter grandes esperanças...

Segundo Esmael Morais, que resumiu a reportagem:

Uma denúncia feita pela multinacional alemã Siemens, que acusou formação de cartel nas obras do metrô, em São Paulo, e decidiu colaborar com a Justiça, poderá trazer sérias complicações ao governador Geraldo Alckmin. De acordo com reportagem da revista Istoé, publicada neste fim de semana, foi montado um “propinoduto” relacionado às obras do metrô, que teria desviado US$ 50 milhões nos governos de Alckmin, mas também de José Serra e Mario Covas. Alckmin será, inclusive, alvo de uma ação de improbidade. Leia, abaixo, a reportagem de Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas:
O esquema que saiu dos trilhos
Um propinoduto criado para desviar milhões das obras do Metrô e dos trens metropolitanos foi montado durante os governos do PSDB em São Paulo. Lobistas e autoridades ligadas aos tucanos operavam por meio de empresas de fachada
por Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas
Ao assinar um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a multinacional alemã Siemens lançou luz sobre um milionário propinoduto mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo para desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens metropolitanos. Em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos, a empresa revelou como ela e outras companhias se articularam na formação de cartéis para avançar sobre licitações públicas na área de transporte sobre trilhos. Para vencerem concorrências, com preços superfaturados, para manutenção, aquisição de trens, construção de linhas férreas e metrôs durante os governos tucanos em São Paulo – confessaram os executivos da multinacional alemã –, os empresários manipularam licitações e corromperam políticos e autoridades ligadas ao PSDB e servidores públicos de alto escalão.

O problema é que a prática criminosa, que trafegou sem restrições pelas administrações de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, já era alvo de investigações, no Brasil e no Exterior, desde 2008 e nenhuma providência foi tomada por nenhum governo tucano para que ela parasse. Pelo contrário. Desde que foram feitas as primeras investigações, tanto na Europa quanto no Brasil, as empresas envolvidas continuaram a vencer licitações e a assinar contratos com o governo do PSDB em São Paulo. O Ministério Público da Suíça identificou pagamentos a personagens relacionados ao PSDB realizados pela francesa Alstom – que compete com a Siemens na área de maquinários de transporte e energia – em contrapartida a contratos obtidos. Somente o MP de São Paulo abriu 15 inquéritos sobre o tema. Agora, diante deste novo fato, é possível detalhar como age esta rede criminosa com conexões em paraísos fiscais e que teria drenado, pelo menos, US$ 50 milhões do erário paulista para abastecer o propinoduto tucano, segundo as investigações concluídas na Europa.
As provas oferecidas pela Siemens e por seus executivos ao Cade são contundentes. Entre elas, consta um depoimento bombástico prestado no Brasil em junho de 2008 por um funcionário da Siemens da Alemanha. ISTOÉ teve acesso às sete páginas da denúncia. Nelas, o ex-funcionário, que prestou depoimento voluntário ao Ministério Público, revela como funciona o esquema de desvio de dinheiro dos cofres públicos e fornece os nomes de autoridades e empresários que participavam da tramoia. Segundo o ex-funcionário cujo nome é mantido em sigilo, após ganhar uma licitação, a Siemens subcontratava uma empresa para simular os serviços e, por meio dela, realizar o pagamento de propina. Foi o que aconteceu em junho de 2002, durante o governo de Geraldo Alckmin, quando a empresa alemã venceu o certame para manutenção preventiva de trens da série 3000 da CPTM (Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos).

À época, a Siemens subcontratou a MGE Transportes. De acordo com uma planilha de pagamentos da Siemens obtida por ISTOÉ, a empresa alemã pagou à MGE R$ 2,8 milhões até junho de 2006. Desse total, pelo menos R$ 2,1 milhões foram sacados na boca do caixa por representantes da MGE para serem distribuídos a políticos e diretores da CPTM, segundo a denúncia. Para não deixar rastro da transação, os saques na boca do caixa eram sempre inferiores a R$ 10 mil. Com isso, o Banco Central não era notificado. “Durante muitos anos, a Siemens vem subornando políticos, na sua maioria do PSDB, e diretores da CPTM.
A MGE é frequentemente utilizada pela Siemens para pagamento de propina. Nesse caso, como de costume, a MGE ficou encarregada de pagar a propina de 5% à diretoria da CPTM”, denunciou o depoente ao Ministério Público paulista e ao ombudsman da empresa na Alemanha. Ainda de acordo com o depoimento, estariam envolvidos no esquema o diretor da MGE, Ronaldo Moriyama, segundo o delator “conhecido no mercado ferroviário por sua agressividade quando se fala em subornar o pessoal do Metrô de SP e da CPTM”, Carlos Freyze David e Décio Tambelli, respectivamente ex-presidente e ex-diretor do Metrô de São Paulo, Luiz Lavorente, ex-diretor de Operações da CPTM, e Nelson Scaglioni, ex-gerente de manutenção do metrô paulista. Scaglioni, diz o depoente, “está na folha de pagamento da MGE há dez anos”. “Ele controla diversas licitações como os lucrativos contratos de reforma dos motores de tração do Metrô, onde a MGE deita e rola”. O encarregado de receber o dinheiro da propina em mãos e repassar às autoridades era Lavorente. “O mesmo dizia que (os valores) eram repassados integralmente a políticos do PSDB” de São Paulo e a partidos aliados. O modelo de operação feito pela Siemens por meio da MGE Transportes se repetiu com outra empresa, a japonesa Mitsui, segundo relato do funcionário da Siemens. Procurados por ISTOÉ, Moriyama, Freyze, Tambelli, Lavorente e Scaglioni não foram encontrados. A MGE, por sua vez, se nega a comentar as denúncias e disse que está colaborando com as investigações.
Além de subcontratar empresas para simular serviços e servir de ponte para o desvio de dinheiro público, o esquema que distribuiu propina durante os governos do PSDB em São Paulo fluía a partir de operações internacionais. Nessa outra vertente do esquema, para chegar às mãos dos políticos e servidores públicos, a propina circulava em contas de pessoas físicas e jurídicas em paraísos fiscais. Uma dessas transações contou, de acordo com o depoimento do ex-funcionário da Siemens, com a participação dos lobistas Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, através de suas respectivas empresas Procint E Constech e de suas offshores no Uruguai, Leraway Consulting S/A e Gantown Consulting S/A. Neste caso específico, segundo o denunciante, a propina foi paga porque a Siemens, em parceria com a Alstom, uma das integrantes do cartel denunciado ao Cade, ganhou a licitação para implementação da linha G da CPTM. O acordo incluía uma comissão de 5% para os lobistas, segundo contrato ao qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade, e de 7,5% a políticos do PSDB e a diretores da área de transportes sobre trilho. “A Siemens AG (Alemanha) e a Siemens Limitada (Brasil) assinaram um contrato com (as offshores) a Leraway e com a Gantown para o pagamento da comissão”, afirma o delator. As reuniões, acrescentou ele, para discutir a distribuição da propina eram feitas em badaladas casas noturnas da capital paulista. Teriam participado da formação do cartel as empresas Alstom, Bombardier, CAF, Siemens, TTrans e Mitsui. Coube ao diretor da Mitsui, Masao Suzuki, guardar o documento que estabelecia o escopo de fornecimento e os preços a serem praticados por empresa na licitação.
Os depoimentos obtidos por ISTOÉ vão além das investigações sobre o caso iniciadas há cinco anos no Exterior. Em 2008, promotores da Alemanha, França e Suíça, após prender e bloquear contas de executivos do grupo Siemens e da francesa Alstom por suspeita de corrupção, descobriram que as empresas mantinham uma prática de pagar propinas a servidores públicos em cerca de 30 países. Entre eles, o Brasil. Um dos nomes próximos aos tucanos que apareceram na investigação dos promotores foi o de Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) nomeado pelo então governador tucano Mário Covas. No período em que as propinas teriam sido negociadas, Marinho trabalhava diretamente com Covas. Proprietário de uma ilha paradisíaca na região de Paraty, no Rio de Janeiro, Marinho foi prefeito de São José dos Campos, ocupou a coordenação da campanha eleitoral de Covas em 1994 e foi chefe da Casa Civil do governo do Estado de 1995 a abril de 1997. Numa colaboração entre promotores de São Paulo e da Suíça, eles identificaram uma conta bancária pertencente a Marinho que teria sido abastecida pela francesa Alstom. O MP bloqueou cerca de US$ 1 milhão depositado. Marinho é até hoje alvo do MP de São Paulo. Procurado, ele não respondeu ao contato de ISTOÉ. Mas, desde que estourou o escândalo, ele, que era conhecido como “o homem da cozinha” – por sua proximidade com Covas –, tem negado a sua participação em negociatas que beneficiaram a Alstom.
Entre as revelações feitas pela Siemens ao Cade em troca de imunidade está a de que ela e outras gigantes do setor, como a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui, reuniram-se durante anos para manipular por meios escusos o resultado de contratos na área de transporte sobre trilhos. Entre as licitações envolvidas sob a gestão do PSDB estão a fase 1 da Linha 5 do Metrô de São Paulo, as concorrências para a manutenção dos trens das Séries 2.000, 3.000 e 2.100 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a extensão da Linha 2 do metrô de São Paulo. Também ocorreram irregularidades no Projeto Boa Viagem da CPTM para reforma, modernização e serviço de manutenção de trens, além de concorrências para aquisição de carros de trens pela CPTM, com previsão de desenvolvimento de sistemas, treinamento de pessoal, apoio técnico e serviços complementares.
Com a formação do cartel, as empresas combinavam preços e condicionavam a derrota de um grupo delas à vitória em outra licitação também superfaturada. Outra estratégia comum era o compromisso de que aquela que ganhasse o certame previamente acertado subcontratasse outra derrotada. Tamanha era a desfaçatez dos negócios que os acordos por diversas vezes foram celebrados em reuniões nos escritórios das empresas e referendados por correspondência eletrônica. No início do mês, a Superintendência-Geral do Cade realizou busca e apreensão nas sedes das companhias delatadas. A Operação Linha Cruzada da Polícia Federal executou mandados judiciais em diversas cidades em São Paulo e Brasília. Apenas em um local visitado, agentes da PF ficaram mais de 18 horas coletando documentos. Ao abrir o esquema, a Siemens assinou um acordo de leniência, que pode garantir à companhia e a seus executivos isenção caso o cartel seja confirmado e condenado.

A imunidade administrativa e criminal integral é assegurada quando um participante do esquema denuncia o cartel, suspende a prática e coopera com as investigações. Em caso de condenação, o cartel está sujeito à multa que pode chegar a até 20% do faturamento bruto. O acordo entre a Siemens e o Cade vem sendo negociado desde maio de 2012. Desde então, o órgão exige que a multinacional alemã coopere fornecendo detalhes sobre a manipulação de preços em licitações.
Só em contratos com os governos comandados pelo PSDB em São Paulo, duas importantes integrantes do cartel apurado pelo Cade, Siemens e Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões. “Os tucanos têm a sensação de impunidade permanente. Estamos denunciando esse caso há décadas. Entrarei com um processo de improbidade por omissão contra o governador Geraldo Alckmin”, diz o deputado estadual do PT João Paulo Rillo. Raras vezes um esquema de corrupção atravessou incólume por tantos governos seguidos de um mesmo partido numa das principais capitais do País, mesmo com réus confessos – no caso, funcionários de uma das empresas participantes da tramoia, a Siemens –, e com a existência de depoimentos contundentes no Brasil e no Exterior que resultaram em pelo menos 15 processos no Ministério Público. Agora, espera-se uma apuração profunda sobre a teia de corrupção montada pelos governos do PSDB em São Paulo. No Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin disse que espera rigor nas investigações e cobrará o dinheiro que tenha sido desviado dos cofres públicos.
Fonte: http://www.esmaelmorais.com.br/2013/07/revista-istoe-aponta-propinoduto-tucano-graudo-no-metro-paulista/

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A revolta corporativa da Máfia de Branco: Os bisturis que machucam e a rebeldia do jaleco




Reproduzimos o excelente texto de Saul Leblon, na Carta Maior, que dialoga com algumas opiniões que já externamos por aqui.
O Levante dos Bisturis!
Raízes do Brasil: no levante dos bisturis, ressoa o engenho colonial
Por Saul Leblon na Carta Maior
Credite-se à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo.
A seleta inclui a resistência histórica à retificação de uma das piores estruturas de renda do planeta.
Ademais de levantes bélicos (32,62,64 etc) contra qualquer aroma de interferência num patrimônio de poder e riqueza acumulado por conhecidos métodos de apropriação.
O repertório robusto ganha agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso.
A rebelião dos médicos contra o povo.
Sim, os médicos, aos quais o senso comum associa a imagem de um aliado na luta apela vida, hoje lutam nas ruas do Brasil.
Contra a adesão de profissionais ao programa ‘Mais Médicos’, que busca mitigar o atendimento onde ele inexiste.
A iniciativa federal tem uma dimensão estrutural, outra emergencial.
A estrutural incorpora as unidades de ensino à política de saúde pública. Prevê um currículo estendido em dois anos de serviços remunerados no SUS.
Prevê, ademais, investimentos que dotem os alvos emergenciais de estruturas dignas de atendimento.
A ação transitória requisitará contingentes médicos, cerca de 10 mil inicialmente, para servir em 705 municípios onde o atendimento inexiste.
Ou naqueles aquém da já deficiente média nacional de 1,8 médico por mil habitantes ( na Inglaterra, pós Tatcher, diga-se, é de 2,7 por mil).
Enquadram-se neste caso outros 1.500 municípios.
O salário oferecido é de R$ 10 mil.
O programa recebeu cerca de 12 mil inscrições.
Mas o governo teme a fraude.
A sublevação branca incluiria táticas ardilosas: uma corrente de inscrições falsas estaria em operação para inibir o concurso de médicos estrangeiros, sobre os quais os nacionais tem precedência.
Consumada a barragem, desistências em massa implodiriam o plano do governo no último dia de inscrição.
Desferir o golpe de morte com a manchete do fracasso estrondoso caberia à mídia, com larga experiência no ramo da sabotagem antipopular e antinacional.
A engenharia molecular contra a população pobre constrange o Brasil.
Cintila no branco da mesquinhez a tradição de uma elite empenhada em se dissociar do que pede solidariedade para existir: nação, democracia, cidadania.
O boicote ao ‘Mais Médicos’ não é um ponto fora da curva.
Em dezembro de 2006, a coalizão demotucana vingou-se do povo que acabara de rejeita-la nas urnas.
Entre vivas de um júbilo sem pejo, derrubou-se a CPMF no Congresso.
Nas palavras de Lula (18/07):
“No começo do meu segundo mandato, eles tiraram a CPMF. Se somar o meu mandato mais dois anos e meio da Dilma, eles tiraram R$ 350 bilhões da saúde. Tínhamos lançado o programa Mais Saúde. Eles sabiam que tínhamos um programa poderoso e evitaram que fosse colocado em prática”.
As ruas não viram a rebelião branca defender, então, o investimento em infraestrutura como requisito à boa prática médica, ao contrário de agora.
A CPMF era burlada na sua finalidade?
Sim, é verdade.
Por que não se ergueu a corporação em defesa do projeto do governo de blindar a arrecadação, carimbando o dinheiro com exclusividade para a saúde?
O cinismo conservador é useiro em evocar a defesa do interesse nacional e social enquanto procede à demolição virulenta de projetos e governos assim engajados.
Encara-se o privilégio de classe como o perímetro da Nação. Aquela que conta.
O resto é sertão.
A boca do sertão, hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado.
O sertão social pode começar na esquina, sendo tão agreste ao saguão do elevador, quanto Aragarças o foi para os irmãos Villas Boas, nos anos 40, rumo ao Roncador.
Sergio Buarque de Holanda anteviu, em 1936, as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo.
O engenho era um Estado paralelo ao mundo colonial.
O fastígio macabro fundou a indiferença da casa-grande aos estalos, gritos e lamentos oriundos da senzala ao lado, metros à vezes, da sala de jantar.
Por que os tataranetos se abalariam com a senzala das periferias conflagradas e a dos rincões inaudíveis?
Ninguém desfruta 388 anos de escravidão impunemente.
Os alicerces do engenho ficaram marmorizados no DNA cultural das nossas elites: nenhum compromisso com o mundo exterior, exceto a pilhagem e a predação; usos e abusos para consumo e enriquecimento.
A qualquer custo.
O Estado nascido nesse desvão tem duas possibilidades aos olhos das elites: servi-la como extensão de seus interesses ou encarnar o estorvo a ser abatido.
A seta do tempo não se quebrou, diz o levante branco contra o ‘intervencionismo’.
O particularismo enxerga exorbitância em tudo o que requisita espírito público.
Mesmo quando está em questão a vida.
Se a organização humanitária ‘Médicos Sem Fronteiras’ tentasse atuar no Brasil, em ‘realidades que não podem ser negligenciadas’, como evoca o projeto que ganhou o Nobel da Paz, em 1999, possivelmente seria retalhada pela revolta dos bisturis.
Jalecos patrulham as fronteiras do engenho corporativo; dentro delas não cabem os pobres do Brasil.
A Revolta do Jaleco

texto de Miguel do Rosário
Um dia, quando alguém estudar a história de nossa época, deparar-se-á com a revolta do jaleco, na qual entidades médicas se rebelaram agressivamentecontra uma medida do governo que visava levar médicos ao interior do Brasil, pagando R$ 10 mil de salário  ao profissional.
As entidades alegam que a situação do governo não oferece direitos trabalhistas. Estão certas. No futuro breve, o programa poderá ser aperfeiçoado. Mas a medida tem caráter urgente. Os salários estão muito acima da média do que ganham médicos no setor privado, onde quem fica com o grosso do dinheiro são planos de saúde. Acima inclusive dos salários oferecidos em concurso público. As entidades deveriam apoiar a medida e depois trabalharem para aprimorarem cada vez mais o programa. Direitos trabalhistas sempre podem ser incorporados ou negociados posteriormente.
Em vez disso, preparam uma “guerra”. Geraldo Ferreira Filho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), abusa do vocabulário bélico. Só faltou citar Sun-Tzu.
Um trecho da matéria do Globo merece ser transcrito, por razões que vocês logo perceberão:
É uma comunicação de guerra. Vamos enfrentar uma guerra. O governo está preparado, tem estrutura, tem seus blogueiros. Vamos enfrentar esses embate.
Rá, é sempre assim! Ferreira deve estar se referindo ao vexame, para não dizer crime, que foi o conluio vergonhoso entre médicos sem caráter e a Folha de São Paulo para tentar sabotar um programa de Estado, denunciado pelo blog Viomundo.
Sim, o governo tem seus blogueiros… um bando de idealistas que arriscam suas cabeças sem ganhar nada. O programa “Mais Médicos” vai gerar empregos e salários de R$ 10 mil para os médicos, senhor Ferreira; os blogueiros continuam sem nada, nem querem nada, além de melhores serviços de saúde para os brasileiros.
Os blogueiros criticam o governo duramente onde o calo mais dói: na política conservadora do Banco Central, na falta de uma reforma agrária, na ausência de qualquer iniciativa de democratização da mídia.
Entretanto, se o governo toma uma iniciativa ousada na área da saúde, contratando milhares de médicos para atender periferias pobres e o interior do Brasil, é claro que os blogueiros de esquerda vão apoiar! É claro, igualmente, que a mídia conservadora será contra. A mídia conservadora sempre foi contra qualquer coisa que traga melhoras sensíveis e rápidas à vida do povo. Foi contra o Bolsa Família e agora é contra o Mais Médicos. É contra porque sabe que, dando certo, o programa renderá dividendos eleitorais ao governo. Entidades médicas e donos de jornal podem votar na oposição, mas o povo brasileiro, que assistirá o crescimento substancial da oferta de médicos à sua disposição, este votará em quem defendeu a medida.
Ferreira se ressente do tempo em que havia somente a grande mídia, que agora está apoiando as entidades médicas. Quando a Federação Nacional de Jornalistas defendeu a criação de um Conselho Nacional de Jornalismo, aí a mídia foi contra, porque não lhe interessava partilhar o poder com uma entidade de trabalhadores. Seria bom, portanto, alertar ao senhor Ferreira que essa aliança com a mídia é uma armadilha, porque esta jamais foi a favor da medicina brasileira ou do aumento de salários para profissionais de saúde.
De qualquer forma, a guerra entre entidades, médicos e governo é absurda. Ambos têm obrigação de deporem as armas e chegarem a um acordo. As entidades têm de tomar cuidado para não se deixarem usar pelo proselitismo político e partidário da mídia. O governo tem de sentar e negociar, mas sem recuar, porque o interesse do povo brasileiro está acima do corporativismo egoísta de qualquer classe profissional. A resistência das corporações médicas é uma resistência conservadora, do status quo, e o governo jamais conseguirá fazer omeletes sem quebrar alguns ovos.
As entidades, de qualquer forma, têm que baixar a bola. Pesquisas indicam que a população aprovou o Mais Saúde, conforme nota publicada hoje no Painel da Folha:
Ansiolítico 1 Pesquisa encomendada pelo governo, com 2.000 entrevistas, mostrou aprovação ao programa Mais Médicos, lançado na semana passada e bombardeado por entidades do setor.
Ansiolítico 2 Segundo a pesquisa, 78% aprovam a criação do segundo ciclo, pelo qual estudantes de medicina têm de atuar dois anos no SUS antes de se formar. Já a contratação de médicos estrangeiros é mais polêmica: 51% são a favor e 45% contra.
Os médicos e suas entidades devem estar atentos às necessidades urgentes do povo brasileiro. Não é possível que seja um sacrificio tão grande ir trabalhar no interior e na periferia ganhando R$ 10 mil/mês. De qualquer forma, ninguém é obrigado a ir. Os que estão confortáveis em suas clínicas nas áreas ricas das grandes cidades, poderão continuar onde estão.
Textos extraídos do Tijolaço.co
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segunda-feira, 15 de julho de 2013

A Ode de "O Globo" ao golpe de 1964... Devemos aprender com o passado...



Segundo Editorial sobre o Primeiro de abril de 1964: Segundo “O Globo”, nascia um paraíso




editorial de “O Globo”, em 02/04/1964

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.