terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Brasil, o insistente cemitério de teorias neoliberais mortas, por Luis Nassif

 

Um dos pontos centrais desse coral de mediocridade são os dogmas criados em torno da Lei do Teto e os empecilhos à implementação de políticas anti-cíclicas, de aumento dos gastos públicos para superar a crise.

Jornal GGN:

Alguém já disse que o Brasil é um cemitério de ideias mortas. Na área econômica, nem se diga. Todos os países desenvolvidos estão revendo conceitos não apenas na academia, mas nas principais instituições monetárias.

No Brasil, as discussões econômicas são comandadas por economistas de mercado, sem nenhuma aspiração teórica e viciados no jogo do vende-compra. Ou seja, determinada conclusão teórica – por falsa que seja – induz a um movimento de compra; ou de venda. Rever os conceitos significaria perder todo o treinamento pavloviano e, consequentemente, reduzir o poder de influência do economistas, em um ambiente intrinsicamente binário.

Pior, como o jornalismo econômico se limita a reproduzir o consenso de mercado, os conceitos estratificam-se e os bordões acabam condicionando a política econômica, o papel do Banco Central, as políticas anti-cíclicas. Efetivamente, coisas de país atrasado.

Um dos pontos centrais desse coral de mediocridade são os dogmas criados em torno da Lei do Teto e os empecilhos à implementação de políticas anti-cíclicas, de aumento dos gastos públicos para superar a crise.

Diariamente, os mercados, interligados, são submetidos a um sem-número de fatores de influência – a eleição nos EUA, o aumento do Covid, as apostas sobre novas vacinas, os rumores sobre os rumos da política monetária nos países centrais. No entanto, qualquer oscilação nas taxas longas é atribuída e dúvidas – ou certezas – sobre a Lei do Teto, sobre a relação dívida/PIB e por aí vai.

É um jogo especulativo rasteiro, medíocre, que viciou toda a cobertura financeira.

Recentemente, o The Economist publicou um artigo de larga repercussão sobre os gastos públicos e sobre os dogmas criados em torno da questão fiscal.

O ponto inicial é o reconhecimento de que a dívida pública dos países ricos, embora crescente, é sustentável devido às taxas de juros baixíssimas. Um dos exemplos apontados foi a Inglaterra que, apesar de gastar 19% do PIB com a pandemia, economizará cerca de US$ 17 bilhões em juros, em comparação com o ano passado.

O segundo, é a retirada precoce dos gastos com a pandemia, confiando em uma recuperação rápida da economia. Pelo contrário, diz a revista, a austeridade prematura poderá retardar a recuperação.

Propõe, então, que a interrupção dos gastos seja condicionada a um limite definido no desemprego – no caso, uma taxa de 6%. Caindo abaixo disso, interrompem-se os gastos extraordinários. Ou seja, em vez de metas monetárias, metas fiscais claras amarradas a indicadores sociais.

Mesmo havendo lógica na proposta, esbarra-se na falta de vontade política. Nos Estados Unidos, uma nova estrutura fiscal é impedida por um sistema político dividido e travado. Seria possível um acordo pragmática no curto prazo – por exemplo, os democratas aceitando um estímulo menor, em vez de esperar a aprovação para gastos maiores. Diz a revista: com os desempregados queimando suas economias e as pequenas empresas enfrentando um inverno rigoroso, a velocidade do apoio emergencial é mais importante que seu tamanho.

Esse nível de discussão é interditado no Brasil, e dificultará cada vez mais a recuperação rápida da crise.

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