sábado, 1 de maio de 2021

1º de maio de 1981 e o atentado da extrema direita militar no show do Riocentro: 40 anos de mais um crime da Ditadura. Artigo do jornalista e sociólogo Milton Alves

 

"A lembrança do atentado nos remete, inevitavelmente, para o papel desempenhado hoje pelos militares no governo da extrema direita de Jair Bolsonaro, são os herdeiros do porão fascista que apoiam e participam do mesmo", escreve o ativista político Milton Alves

(Foto: Reprodução)


Hoje, 30 de abril, faz 40 anos do atentado organizado por militares de extrema direita – integrantes do Doi-Codi – contra o show do 1º de maio, que acontecia no Centro de Convenções do Riocentro, na Barra da Tijuca. O espetáculo organizado por artistas, sindicatos, personalidade de esquerda e pelo Centro Brasil Democrático – entidade com influência do antigo PCB [Partido Comunista Brasileiro], reunia mais de 15 mil pessoas.

O evento contava com apoio e a participação da nata da Música Popular Brasileira, astros como Chico Buarque, Gal Costa, Clara Nunes, João Bosco, Alceu Valença, Simone, Fagner, Djavan, Elba Ramalho, Joana e grupos de grande sucesso na época como o MPB-4, a Cor do Som e as Frenéticas, entre outros.

Naquela fatídica noite, por volta de 21 horas, um automóvel Puma foi plantado no estacionamento do Riocentro. Dentro do veículo estavam o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, de 35 anos, – agente “Wagner”do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna – conhecido pela sigla de Doi-Codi no organograma do Exército Brasileiro -, e o capitão Wilson Luís Chaves Machado, de 33 anos.

O pavoroso atentado, que poderia provocar a morte de milhares de pessoas, fracassou: As bombas que deveriam explodir na casa de força e no estacionamento do Riocentro não foram acionadas. Antes do tempo, dentro do Puma, uma bomba explodiu no colo do sargento do Rosário, que morreu no ato. O capitão Wilson acabou gravemente ferido, ficando com as vísceras expostas, em estado grave.

Anos depois, veio a público a informação de que, dentro do pavilhão, dez dos 14 portões estavam fechados, o que impediria a saída das pessoas, caso uma bomba explodisse lá dentro. Também havia sido programada uma explosão no setor de energia elétrica, para deixar o Riocentro às escuras, segundo apuração conduzida pelo jornal O Globo.

O plano macabro dos militares contava com quatro equipes de agentes do órgãos de repressão. Ao todo, estavam envolvidos quinze militares distribuídos em seis carros. A primeira equipe foi justamente a que falhou e deveria instalar três bombas no pavilhão. A segunda equipe, responsável por explodir a estação de eletricidade, também falhou, pois a bomba errou o alvo e não possuía força suficiente para gerar o dano desejado. A terceira e a quarta equipe estavam fora do pavilhão e seriam responsáveis por forjar evidências de que militantes de esquerda teriam sido os responsáveis pelas explosões. Para isso, prenderiam pessoas aleatoriamente e picharam muros da redondeza com a sigla do extinto grupo de guerrilha urbana VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. Panfletos da suposta VPR foram jogados nas imediações do Riocentro. Também enviaram notas aos jornais assumindo a autoria do atentado em nome do “Comando Delta”, organização de fachada criada pelo Doi-Codi

O atentado contou com o suporte político e operacional do general Newton Cruz, que foi chefe do Serviço Nacional de Informação [SNI], e do coronel Nilton de Albuquerque Cerqueira, então secretário de Segurança no Rio de Janeiro, que afastou horas antes a PM do local.

A ação terrorista foi uma das últimas tentativas da extrema direita militar de brecar o processo de abertura em curso e intimidar a esquerda. Ao longo daquele ano, ainda ocorreram atentados contra sedes de entidades democráticas, contra sedes de jornais de esquerda e banca de jornais.

O Exército encobriu o crime e fez uma apuração fantasiosa e farsesca do caso. O capitão Wilson foi promovido e protegido pela hierarquia militar, tornando-se “professor” de História num colégio militar em Brasília.

A lembrança do atentado nos remete, inevitavelmente, para o papel desempenhado hoje pelos militares no governo da extrema direita de Jair Bolsonaro, são os herdeiros do porão fascista que apoiam e participam do mesmo. O bolsonarismo é uma herança nefasta da ditadura militar, mais especificamente do porão, da linhagem de assassinos e psicopatas como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, referência de militar do genocida que ocupa o cargo de presidente da República.

Ditadura nunca mais! Bolsonaro, nenhum dia a mais!

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