Em entrevista à Al Jazeera, chanceler brasileiro rebate críticas ao bloco e defende reformas no comércio global, na ONU e maior cooperação entre países
247 – O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou em entrevista à rede Al Jazeera que o BRICS não tem caráter “anti-Ocidente”, mas sim uma vocação de promover cooperação e desenvolvimento entre países emergentes. A entrevista foi concedida durante a Cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho de 2025, que reuniu lideranças globais sob o lema de um mundo mais justo e multipolar.
“Não é contra o Ocidente ou contra ninguém. O BRICS é uma plataforma de cooperação, entendimento e desenvolvimento,” disse o chanceler, em resposta às alegações de que o bloco, agora com 11 membros após expansão, estaria se tornando uma força geopolítica contrária aos interesses ocidentais.
Expansão e fortalecimento do bloco
A cúpula realizada no Brasil marcou o fortalecimento do BRICS com a entrada de países como Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Segundo Mauro Vieira, o aumento do número de membros reflete a relevância do bloco como espaço de diálogo: “O interesse demonstrado por tantos países mostra que o grupo está vivo, bem, e desperta entusiasmo em nações que desejam se juntar”, afirmou.
Apesar do crescimento, o chanceler reconheceu que o processo decisório torna-se mais complexo, já que o BRICS opera sob a regra da unanimidade. Vieira também reiterou o apoio do Brasil ao “Consenso de Ezulwini”, defendendo mais assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU para a África, destacando: “É o continente africano quem deve escolher seus representantes e o Brasil apoia integralmente essa reivindicação.”
Novo Banco de Desenvolvimento ganha protagonismo
Outro ponto destacado na entrevista foi o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como “banco do BRICS”. Com sede em Xangai, a instituição já aprovou mais de US$ 45 bilhões em financiamentos para infraestrutura, saúde e educação. “É um banco criado por países em desenvolvimento para fomentar o desenvolvimento, com projetos concretos que já beneficiam vários países,” apontou Vieira, acrescentando que o NDB terá papel ainda mais relevante nas próximas décadas.
Postura do Brasil frente a crises globais
Sobre as tensões no Oriente Médio, o chanceler reafirmou a histórica relação diplomática entre Brasil e Irã e destacou a importância do diálogo no BRICS, evitando antagonismos. Também confirmou que o Brasil deve formalizar sua adesão à ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra Israel por acusações de genocídio na Faixa de Gaza: “Estamos trabalhando nisso e teremos boas notícias em breve,” declarou.
No tema da política externa dos Estados Unidos, Mauro Vieira foi cauteloso ao defender a via diplomática: “Nossa estratégia é discutir e buscar soluções. O Brasil sempre adotou o caminho do diálogo e da cooperação.”
Comércio em moedas locais e desdolarização
O ministro reforçou que o Brasil tem defendido há décadas o comércio bilateral em moedas locais, citando como exemplo o acordo com a Argentina. Ele explicou que a proposta de Lula não se trata de criar uma moeda única como o euro, mas sim de “implementar um sistema de compensação comercial em moedas nacionais”, o que reduz custos e agiliza transações internacionais.
Reformar a ONU e liderar a pauta ambiental
Vieira defendeu abertamente a necessidade de reformar a ONU, especialmente o Conselho de Segurança: “O mundo mudou. São 193 países hoje na ONU, e não podemos ignorar continentes inteiros como a América Latina e a África.”
Ele também destacou a importância da COP30, que será realizada em novembro em Belém, no coração da Amazônia, como “a COP da implementação”, cobrando o cumprimento de promessas de financiamento climático feitas pelos países desenvolvidos. O chanceler citou a proposta brasileira de criação do Fundo das Florestas Tropicais, destinado à proteção da Amazônia, da Bacia do Congo e das florestas do sudeste asiático.
“Queremos transformar essa COP em um marco da ação climática concreta. Não podemos continuar convivendo com promessas não cumpridas, enquanto o mundo assiste a desastres naturais cada vez mais graves,” afirmou. Assista:
Nenhum comentário:
Postar um comentário