quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Bolsonaro e o grande salto para trás (potencialmente maior que o de Temer), por Fábio de Oliveira Ribeiro

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"Esse “grande salto para traz” do perigo Bolsonaro  garante não só o congelamento da posição do Brasil entre as nações subdesenvolvidas (e facilita o acesso das nações desenvolvidas ao nosso petróleo) não é o primeiro que foi dado pelo Brasil. Isso já ocorreu em outra oportunidade e por motivos parecidos."



Do Jornal GGN:




Bolsonaro e o grande salto para trás, por Fábio de Oliveira Ribeiro
Antes de fazer qualquer consideração peço ao leitor para prestar bastante atenção na descrição que Celso Furtado fez de nossa história econômica:
“Para compreender a evolução da economia brasileira no século XIX convinha ter em conta a especificidade das estruturas que se haviam constituído no período colonial. O elemento dinâmico continuava a ser as exportações e o crescimento se fazia por ocupação de novas terras ou extração de produtos florestais e minerais. Quando as exportações entravam em declínio, crescia mais rapidamente o setor de subsistência, no qual se foi acumulando uma massa de mão-de-obra de muito baixa produtividade.
No período compreendido entre a Revolução Americana e as Guerras Napoleônicas, formou-se uma conjuntura favorável nos mercados de produtos primários, o que propiciou uma fase de bonança às áreas com potencial produtivo acumulado em atividades de subsistência ou capacitadas para aumentar seu estoque de mão-de-obra importando escravos. 

Nesse período, o Maranhão transformou-se em importante exportador de algodão e arroz, e o Nordeste se iniciou na exportação de algodão e beneficiou-se de melhorias nos preços do açúcar. Com a mudança da conjuntura nos anos 20, contrai-se a renda e parte dos fatores é devolvida às atividades de subsistência. A disponibilidade de terras e a rigidez da estrutura social facilitava essa reversão. A iniciativa estava totalmente em mãos da classe mercantil, vínculo de união com o exterior, e este não estava propriamente inserida na sociedade local. Não houve formação de uma burguesia comercial no período colonial, permanecendo as atividades mercantis de vulto em mãos de reinóis, situação que se prolonga durante a primeira fase da independência. Tudo se passava como se o ritmo da atividade econômica fosse regulado apenas pelas condições climáticas e pelo crescimento vegetativo da população. Aos períodos de vacas gordas se sucediam outros de vacas magras, o tempo econômico permanecendo imóvel, até que intercedesse um fator exógeno como uma guerra ou o súbito desaparecimento de um concorrente.” (A Fantasia Organizada, Celso Furtado, Paz e Terra, 4ª edição, Rio de Janeiro, 1985, p. 208/209).
Fiz essa longa citação por dois motivos. Primeiro, porque o texto de Celso Furtado comprova a tese de que a “ralé brasileira” estudada por Jessé Souza (A tolice da inteligência brasileira) foi sendo construída ao longo dos séculos e sua existência se deve menos ao mérito e demérito dos cidadãos (ou melhor, à ideologia da meritocracia) e sim à rigidez da estrutura nossa social e a uma característica histórica e inercial da economia brasileira. O sucesso do Brasil durante o Milagrinho (inclusive durante os anos em que as economias centrais afundaram por causa da crise financeira de 2008) e o subsequente fracasso (os problemas de Dilma Rousseff começaram quando a economia norte-americana retomou seu vigor), sugerem que nosso país está sujeito a oscilar em razão um fator exógeno como uma guerra ou o súbito desaparecimento de um concorrente.
A dinâmica da economia brasileira ainda não foi capaz de evoluir e gerar autopropulsão. A expansão da educação poderia criar as condições para uma ruptura, mas o golpe de 2016 e a subsequente destruição de tudo que foi feito durante os governos do PT (PROUNI, ENEM, Ciência sem Fronteiras, novas Universidades Públicas, etc...) tende a reconduzir o país aos padrões históricos de expansão e contração econômica totalmente vinculado aos fatores exógenos.
Esse “grande salto para traz” que garante não só o congelamento da posição do Brasil entre as nações subdesenvolvidas (e facilita o acesso das nações desenvolvidas ao nosso petróleo) não é o primeiro que foi dado pelo Brasil. Isso já ocorreu em outra oportunidade e por motivos parecidos.
“A 13 de maio de 1975, Kissinger pronunciou na cidade de Kansas, no Estado do Missouri, importante discurso, perante o Conselho de Relações Internacional. Suas palavras, ao que parece, não tiveram a repercussão que se poderia esperar, pois transmitiam, com absoluta clareza, a inconformidade dos Estados Unidos em permitir que alguns postulados da Nova Ordem Econômica, apoiados pelos países em desenvolvimento, se concretizassem em medidas práticas e efetivas.
Condenando a Nova Ordem, que se basearia em ideologia e no auto-interesse nacional, o orador registrou a convicção de que o sistema econômico vigente – que apresenta como elementos, caracterizadores centrais o comércio livre e em expansão, a permanente disponibilidade de matérias-primas e a instituição e prática da cooperação internacional – atende bem às conveniências mundiais, e assim vem atuando nos últimos trinta anos. Suas premissas fundamentais, no entanto, são agora combatidas pelas nações do mundo em desenvolvimento.
O desafio do Terceiro Mundo, na opinião de Kissinger, corresponderia a uma tentativa para tornar a acessibilidade a recursos naturais vitais dependente de decisões políticas, de determinações que afetariam empregos, produção e a futura prosperidade do país, sem que os Estados Unidos e os outros países desenvolvidos delas participem. ‘Os Estados Unidos estão convencidos’ – disse ele – ‘de que um sistema internacional obscurecido pela rivalidade entre nações ou blocos acarretará instabilidade e confrontação. Isso será desastroso para cada Nação, mas essencialmente para as mais fracas e pobres’. Por esse motivo, cabia-lhe o dever de advertir contra a confrontação e de a ela resistir.” (Tempo de Mudar, Severo Gomes, editora Globo, 2ª edição, Porto Alegre, 1977, p. 34/35)
Nos anos 1980 os governos dos EUA utilizaram o endividamento e o controle do FMI para domesticar as ambições políticas dos países em desenvolvimento. Nosso “grande salto para traz” foi chamado de “década perdida” pelos economistas brasileiros. Na fase atual, a Casa Branca não resiste mais ao desejo de confrontar abertamente nações que rivalizam os interesses econômicos norte-americanos na arena global.
Na paz e na guerra, num mundo multilateral ou que se pretende comandar de forma unilateral, a ambição hegemônica dos norte-americanos é sempre a mesma. Os resultados que ela produz também.
“... Observou-se, também, e diferentemente do que ocorrera nos campos social e político, que o poder econômico mundial mais se concentrou nas áreas desenvolvidas e industrializadas, tornando agudas as disparidades entre as nações e dificultando a harmonização dos desejos e interesses dos povos.” (Tempo de Mudar, Severo Gomes, editora Globo, 2ª edição, Porto Alegre, 1977, p. 35)
Nesse contexto, as eleições brasileiras ganham uma proporção épica. Fernando Haddad e Jair Bolsonaro representam dois polos antagônicos. Um pretende retomar os investimentos em educação para garantir um “salto adiante” o outro quer apenas e tão somente aprofundar o “grande salto para traz”. Não existe meio termo: em 2018 ou Brasil terá que encontrar e utilizar dentro do país todos os recursos humanos, intelectuais, econômicos e petrolíferos que forem necessários para impulsionar sua evolução e desenvolvimento social/econômico ou continuaremos condenados a dançar de acordo com a música que é orquestrada em benefício próprio pelos países desenvolvidos.

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