segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Janio de Freitas: Queiroz é o de menos.... o foco do mal é o "mito"


Resultado de imagem para Jota Camelo charge Flavio Bolsonaro

O inquérito sobre a arrecadação financeira do assessor e amigo dos Bolsonaros, Fabrício Queiroz, não foge à regra brasileira: se o caso tem evidência e pode ser acompanhado, a constatação de alguma coisa esquisita não tardará. O que pode se dar tanto na ação da polícia como do Ministério Público, quando não de um juiz.
Esse caso motivou estranheza logo de início, mas por conta própria. Despontou já trazendo, na ainda pequena bagagem, um lote de seis cheques de Queiroz para a senhora Bolsonaro, totalizando R$ 24 mil que o marido Jair explicou, com demora de três dias, restituírem um empréstimo de R$ 40 mil não declarado no Imposto de Renda.
Nenhuma referência ao débito restante, admitindo-se o valor inicial indicado, e sem menção à finalidade do empréstimo — que, vá lá, é assunto mais do tomador que do emprestador.
Até a última sexta (18) o caso vinha rolando, semana após semana, sem mais informações úteis do que as iniciais.
O Ministério Público do Rio esperou em vão pelo previsto depoimento de Flávio Bolsonaro, deputado estadual a quem Queiroz serviu como assessor de gabinete e motorista pessoal.
A mulher de Queiroz também não apareceu para depor. As duas filhas dele, muito menos. E o próprio, depois de demorado sumiço, reapareceu em quarto de hospital, como paciente acamado e dançarino em atividade.
As informações elementares indicavam, nos dias de pagamento mensal, o desembolso de quantias destinadas a Queiroz por oito funcionários de gabinete do deputado (hoje senador eleito). Sem incluir, porém, qualquer indicação do motivo de descontos por uma parte e recebimento por outra.
E nada disso clareia com o passar dos dias. As especulações não têm como ser muito variadas, mas são fortes e cada vez menos contestadas.
Em lugar de quem devia fazê-lo, se é que poderia, o general Augusto Heleno diz que “para Bolsonaro, o assunto é de Flávio, não seu”.
A velha sabedoria já dizia: o que não é capaz de livrar, complica mais.
Há uma inovação comprometedora no dito pelo general.
Todos no circuito dos Bolsonaros diziam que o assunto era de Queiroz e por ele seria esclarecido. Passou a ser de Flávio. É em nome do próprio pai, e por meio de um general palaciano, que sua implicação vai a nível mais fundo.
E não é tudo. Bolsonaro e o general que o invoca enganam-se: Michelle Bolsonaro e recebimentos, com explicação não comprovada, figuram nas suspeitas de que Flávio é agora declarado parte. Isto diz respeito a Jair Bolsonaro, sim.
A falta de determinada providência, porém, não se justifica. Já porque, além de óbvia, é muito simples, não exige investigações. E, acima de tudo, pela possibilidade de diluir, com informações autênticas, uma zona sombria do caso.
Oito pessoas que entregaram a Queiroz parte do salário, mês a mês, por certo sabem o motivo de fazê-lo. Seus depoimentos mostrariam que, entre elas, também sabem para que ou para quem o fazem —o fim da linha.
Ficar à espera de Fabrício Queiroz, da possível montagem de ardis, das liminares de um Luiz Fux, e tanto mais, é típico das estranhezas que, nas formas mais variadas, não faltam nos inquéritos com interesses notórios. Em todos eles. Sem disso excluir, necessariamente, os inquéritos mais modestos.

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