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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Explode a bomba semiótica da não-notícia, por Wilson Roberto Vieira Ferreira



Apesar das previsões catastróficas a Copa do Mundo e, 2014 foi um evento bem sucedido. As grandes manifestações de rua declinaram. E as eleições se aproximam, mostrando uma oposição política cada vez mais inepta. Pressionada, a grande mídia lança a “piece de resistance” do seu arsenal de bombas semióticas, testada durante a Copa: a não-notícia, blefe turbinado pelos “efeitos de realidade” - estratégia semiótica de produzir uma sensação de verossimilhança através de imagens e sons propositalmente “sujos” que, numa televisão de alta definição, ganha uma conotação “investigativa” ou de “denúncia”. E as supostas denúncias da revista “Veja”, repercutidas de imediato pela grande mídia, sobre a “farsa da CPI da Petrobrás” são os primeiros estilhaços das não-notícias na opinião pública, apontando a necessidade urgente de combate a um novo analfabetismo: o midiático-visual.

Texto de Wilson Roberto Vieira Ferreira, publicado no Cinegnose

Em plena televisão digital de alta definição se repetem em telejornais e congêneres imagens granuladas em preto e branco, câmeras com imagens desfocadas e trêmulas e infográficos toscos reproduzindo supostos diálogos telefônicos e microfones escondidos com áudios sujos e trechos inaudíveis acompanhados de legendas.

Na medida em que as eleições aproximam-se, a Copa do Mundo foi organizacionalmente bem sucedida (apesar das previsões catastróficas), as grandes manifestações de rua acabaram e a oposição política ao Governo se demonstra cada vez mais inepta, a grande mídia lança a piece de resistance do arsenal das bombas semióticas: o blefe das não-notícias, turbinadas por uma estratégia que, em tempos de paz, a televisão sempre utilizou de forma discreta e esparsa: aquilo que o semiólogo francês Roland Barthes chamava de “efeitos de realidade” – detalhes semioticamente estratégicos para produzir uma sensação de verossimilhança principalmente em telejornais – leia BARTHES, Roland, S/Z  - Um Ensaio, Edições 70, 1999.


Harmonizar detalhes autenticadores que criam uma espécie de ilusão de ótica de verdade que passa a ser mais importante do que o mero fato de que esses detalhes existam.

O teste na Copa do Mundo


Essa nova bomba semiótica começou a ser testada durante a Copa do Mundo. A grande mídia percebeu desde a partida inaugural na Arena Corinthians que o evento seria um frustrante sucesso – tanto é verdade que depois de uma semana de Copa, começou a transferir para a mídia internacional a responsabilidade pelas previsões negativas, saindo de fininho pela porta dos fundos. Por isso, começou a testar uma nova modalidade de bomba: a não- notícia.

Esforço investigativo! TV Globo
descobre cambistas no Maracanã na Copa
Quem não se lembra do telejornal do SPTV que colocou seus “parceiros” para irem de carro à Arena Corinthians em dia de jogo só para confirmar a recomendação contrária da CET. Presos no congestionamento, os “parceiros” registraram imagens em tom de “denúncia”, usando efeitos de realidade (câmeras trêmulas, imagens desfocadas, áudio picotado etc.). Ou então as imagens precárias e granuladas em PB de microcâmeras para denunciar a grande revelação nas imediações do estádio do Maracanã que comprovaria o caos da organização da Copa no Brasil: cambistas (ah, vááá!!!), figura tão comum no futebol brasileiro quanto pasteleiros nas feiras livres.

A bomba semiótica da CPI da Petrobrás


Pois agora, depois do período de testes, essa nova modalidade de bomba semiótica entra em ação para valer na última edição da Veja e repercutida, como de hábito, pela grande mídia: a “Grande Farsa da CPI da Petrobrás” – o “vazamento” das perguntas que seriam feitas pelos senadores aos investigados.

E a prova do “crime” repetida nos telejornais: imagens precárias (isso é retoricamente importante) de 2 min40 seg feitas por uma caneta espiã onde um chefe da Petrobrás e o advogado da estatal discutem estratégias dos convocados que iriam depor na CPI. E para a revista, a estratégia se consistia em soprar aos convocados perguntas que os senadores fariam.

Agora, o esforço investigativo da
"Folha": descobriu o media training
Se na escaladas das grandes manifestações de rua iniciadas em junho do ano passado presenciamos as estratégias dedissimulação da grande mídia (turbinar os acontecimentos através de estratégias de edição, montagem e angulação de textos e imagens), agora com essa nova bomba passamos a uma tática radical: a simulação ou blefe – a revista diz que possui algo que na verdade não existe.

O que a grande mídia “descobriu” foi uma prática corporativa muito comum nas grandes empresas nos seus relacionamentos com a mídia: o media training, aliás, fonte de complementação de renda para muitos jornalistas: treinar empresários e executivos a lidar com as perguntas de repórteres e saber se posicionar diante de câmeras e microfones. E mais: o media training da Petrobrás se baseou em informações públicas disponíveis no site do Senado Federal – perguntas centrais (que vão gerar outras perguntas durante as sabatinas), nomes dos convocados e documentos que servem de base para a investigação.

O sexo dos anjos e o analfabetismo midiático-visual


Esse episódio lembra também a grande “revelação” da mídia após a vitória de Lula nas eleições de 2002: a imagem do candidato na campanha foi criada por um marqueteiro chamado Duda Mendonça. Num esforço investigativo a grande mídia “descobriu” o sexo dos anjos: a existência do marketing político, tão comum na chamada democracia Ocidental quanto a existência de hóstias em igrejas e divulgou isso como uma espécie de “denúncia” de um suposto artificialismo de Lula.

A bomba semiótica da não-notícia lembra a gíria jornalística do “dar pernas prá notícia”. Mas aqui temos algo mais: uma sofisticada articulação de efeitos de realidade para a criação de impacto.

O ponto de partida do blefe dessa bomba é, como não poderia deixar de ser, a ignorância do leitor/espectador de subsetores midiáticos especializados como omídia training e o marketing político – e por isso se faz cada vez mais necessária uma espécie de alfabetização midiática-visual como disciplina curricular para além da alfabetização tradicional.

A semiótica dos efeitos de realidade


Vídeos de "denúncias" fazem metalinguagem de
programas como "Profissão Repórter" da Globo
A retórica dessas “denúncias” é semioticamente tão carregada ou canastrona que acaba expondo duas realidades: o desespero da grande mídia diante de uma oposição política tão impotente e a incapacidade de amplos setores da opinião pública em perceber o artificialismo de notícias construídas com operações linguísticas tão artificiais. Sem muito esforço analítico, de imediato se percebe os seguintes efeitos de realidade recorrentes nas notícias:

(a) em um ambiente televisivo com imagens em alta definição, telejornais com cenografias futuristas e muita metalinguagem das sofisticadas tecnologias de edição e transmissão, paradoxalmente imagens “sujas”, preto e branco, desfocadas e tremidas ganham um inesperado efeito de realismo. Algo como o movimento back to vinil no rock e o som sujo de guitarras grunge em um ambiente de produção musical sofisticado das grandes gravadoras. O realismo vem de imagens supostamente produzidas em condições precárias, difíceis, dando um tom “investigativo” ao trabalho jornalístico.

No fundo estes vídeos de denúncias são metalinguagens de programas globais como Profissão Repórter de Caco Barcelos ou Cena Aberta dirigido por Guel Arraes, Jorge Furtado e Regina Casé. São herdeiros da onda da estética reality showque domina a TV mundial contemporânea. O pesquisador norte-americano Robert Stam já descrevia como os atuais telejornais se transformavam ao narrar notícias em linguagem ficcional cinematográfica onde os apresentadores são atores (com estudadas conotações de solidez e sobriedade) e as escaladas transformam-se em teasers hitchcockianos. Mas hoje vai além dos atributos da ficção: eles são agora, literalmente, ficção – leia STAM, Robert, “O Telejornal e Seu Espectador”, em Novos Estudos Cebrap número 13, outubro, 1985, p 74-87;

A estética da denúncia-dossiê:
as transcrições de áudios
(b) A precariedade do áudio das canetas espiãs ou microcâmeras digitais confere ainda mais o tom “investigativo” ou de “denúncia”. O curioso é que mesmo quando a voz é audível, são inseridas legendas para criar um evidente efeito de realismo documental;

(c) Infográficos toscos onde didaticamente se transcrevem conversas telefônicas ou áudios de microfones escondidos com muitos chiados e ruídos (o precário como efeito de realidade). Os infográficos retoricamente dão um tom de dossiê top secret;

(d) O tom patibular ou de gravidade dos apresentadores de telejornais (por exemplo, os olhos apertados de William Bonner e as sobrancelhas erguidas da Patrícia Poeta no Jornal Nacional). O mais importante é a ambiguidade de declarações como “procurado pela reportagem o diretor fulano de tal não foi encontrado...” sugerindo o ardil do acusado em fuga. Se o acusado emite uma nota pública de resposta às supostas denúncias, como a Petrobrás o fez, ela é lida como nota impessoal. A resposta anunciada de forma burocrática evidentemente fica em desvantagem diante dos efeitos de realidade construídos pela acusação;

               (e) Pessoas dando depoimento para as câmeras e em contra-luz com a voz distorcida para impedir a identificação. Um poderoso efeito de realidade, pois dá uma conotação criminógena a qualquer suposta denúncia, além de criar a moderna estética do "jornalismo investigativo";

(f) O efeito de realidade da consonância: o Jornal Nacional cita a revista Veja e, logo depois, outros telejornais e portais de Internet repercutem a citação do telejornal global. Isso cria o efeito de acumulação, consonância e onipresença: se todas as mídias dão a notícia, então é real. Essa estratégia semiótica é comum nos telejornais quando da cobertura de acontecimentos importantes e a citação da sua repercussão na imprensa internacional. Efeito de realidade = credibilidade.

Portanto a bomba semiótica da não-notícia revela não só o problemático analfabetismo midiático-visual do público que se torna presa fácil dos fragmentos da explosão dessa bomba, como também a natureza ilusória dos telejornais atuais: o critério de verdade foi substituído pelo de credibilidade.

O pesquisador Robert Stam já apontava que todos os telejornais são agradáveis – eles são construídos para nos dar o prazer da ficção. Não importa se as notícias são boas ou más, elas são construídas para nos proporcionar o prazer da linguagem ficcional, como em um filme ou novela – narrativas carregadas de efeitos de realidade para que o roteiro faça o espectador esquecer, nem que seja por duas horas, que o que ele vê não é real. Por isso os efeitos de realidade criam muito mais credibilidade do que a certeza de que estamos vendo a verdade dos fatos – se a TV falou, então é verdade.

Por isso, essa bomba semiótica da não-notícia, talvez a última do arsenal da grande mídia, seja a mais frágil de todas: o efeito do prazer ficcional é de curto prazo porque é especular e catártico – um prazer que se consome após a sua exibição, ainda mais em momentos em que a credibilidade da grande mídia tradicional experimenta declínio na concorrência com as mídias digitais.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Paulo Henrique Amorim lança seu Manual Inútil da Televisão na próxima terça


Jornal GGN - Paulo Henrique Amorim, jornalista, blogueiro e apresentador de TV, lança na próxima terça-feira (22), em São Paulo, seu novo livro, intitulado “Manual inútil da televisão e outros bichos curiosos”.
O livro traz histórias que o jornalista reuniu ao longo de sua carreira, com episódios envolvendo personagens como Tom Jobim, Lula, Roberto Marinho, Marilyn Monroe, Dilma Rousseff, Collor, Galvão Bueno, Princesa Diana, Fidel Castro, Cid Moreira e William Bonner, entre outros. 
No ano passado, Paulo Henrique Amorim lançou o livro “O Quarto Poder”, que aborda a história dos meios de comunicação no Brasil, desde o período Vargas, passando pela ditadura militar, até a redemocratização e o período atual.
Assista aqui a entrevista de Paulo Henrique Amorim com o jornalista Luis Nassif, na ocasião do lançamento do “O Quarto Poder”. 
Serviço
Lançamento - Manual inútil da televisão e outros bichos estranhos, de Paulo Henrique Amorim
22/11 (terça-feira), às 19h
Na Livraria Saraiva do Shopping Higienópolis - Avenida HigienópoIis, 618 - São Paulo (SP)

sábado, 30 de janeiro de 2016

Lava Jato e Mídia: O jornalismo comprometido que está matando a política...


IMPRENSA EM QUESTÃO > LAVA JATO E A MÍDIA

O jornalismo político está matando a política

Por Ricardo José Torres em 29/01/2016 na edição 887 do Observatório da Imprensa
Publicado originalmente no site Objethos, 27/1/2016, sob o título "Porque o jornalismo politico está destruindo a política?


Em tempos de “combate à corrupção”, as delações premiadas se tornaram uma verdadeira obsessão dos jornalistas ligados ao segmento político no Brasil. Atualmente, o leitor desinformado terá dificuldades para identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais presentes nas páginas dos jornais, sites e mídias sociais, particularmente nos veículos tradicionais de comunicação. A abordagem adversarial dos temas políticos não é novidade, entretanto, o jornalismo político contemporâneo pode ser comparado a um “esgoto a céu aberto”.
Sem dúvida, o teor das “revelações” é estarrecedor, os índices de corrupção e a falta de comprometimento dos nossos representantes merecem ser divulgados e os interesses privados, que afetam o interesse público, devem ser revelados. Mas, em uma perspectiva embasada nos princípios da ética jornalística, podemos afirmar que o conteúdo das delações pode ser considerado informação política?
Para clarear os aspectos e os dilemas éticos que envolvem essa problemática recorro à etimologia de duas palavras que, na minha opinião, devem estar atreladas a abordagem de temas políticos, são elas: respeito e política. A origem da palavra respeito está relacionada ao Latim, respectusque significa “olhar outra vez”. O sentido singular da palavra, e que quero enaltecer, está ligado a algo que merece consideração. Os temas políticos que emergem da sociedade merecem “respeito”, nem tudo o que é político está impregnado pelo miasma da corrupção.
O jornalista Jonathan Stray (2015) lembra que a política não pode se limitar aos políticos e aos governos. ““Política” não significa políticos, nem governo. O governo é um dos lugares em que ocorre a política, com certeza. Mas a política é muito mais do que isso: é o conjunto de maneiras pelas quais as pessoas se juntam para exercer o poder coletivamente”. As convenções jornalísticas consolidadas ao longo dos anos no segmento político trouxeram uma série de limitações e debilidades. O jornalismo político se transformou em um espaço repleto de vícios excludentes onde apenas alguns “escolhidos” podem transitar. “A maioria das coberturas políticas é sobre políticos, e não sobre as coisas com que me preocupo e com as medidas que eu poderia vir a tomar” (STRAY, 2015).
A palavra política está relacionada ao Grego politikos, que significa cívico, e polites, que está ligado a cidadão, além da palavra polis relacionada à cidade. Em linha com esse conjunto de sentidos cabe observar que as abordagens preponderantes, sobre temáticas políticas, buscam constantemente ratificar a política como algo que causa danos à sociedade. Em um artigo com o título “É política sim, Geraldo”, a jornalista Eliane Brum descreve com propriedade os riscos que essa perspectiva pejorativa pode apresentar e expõe alguns aspectos políticos que o caso da ocupação das escolas de São Paulo oferece.
Brum (2015) destaca uma declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmim: “Não é razoável obstrução de via pública, é nítido que há uma ação política no movimento. Há uma nítida ação política”. A jornalista enaltece que a ocupação das escolas de São Paulo, obviamente, é um tema político que merece ser abordado como tal, especialmente diante do cenário degradante vivenciado pela política institucional: “Mas, vale repetir, o que o governador denuncia? Que o movimento é político. Qual seria a acusação? É óbvio que o movimento é político. E a melhor qualidade do movimento é justamente a de que é político”. De acordo com Brum (2015), por meio do exercício da política a sociedade alcançou o que de melhor existe na experiência humana. Para a jornalista, a suspensão da política significa a instauração da aniquilação.
A quem interessa a degradação da política?
Uma constatação que parece óbvia diante da apresentação adversarial dos temas políticos, particularmente a preponderância de informações relacionadas a corrupção, é que quanto mais a percepção sobre o universo político é negativa mais ele se restringe aos especialistas habituais. A omissão de informações políticas relacionadas aos diversos grupos que estão à margem do sistema político institucional/formal e buscam discutir e apresentar argumentos no cenário político, demonstra a centralidade do entendimento de política e, ao mesmo tempo, quem são os atores políticos que merecem notoriedade para o jornalismo político. Ao voltar as suas atenções, quase que exclusivamente, aos criminosos das operações da Polícia Federal e aos políticos “profissionais”, as editorias de política se descolam dos debates políticos presentes na sociedade. Esses fatores ocasionam o apagamento e a deturpação da etimologia da palavra política que, como já visto, está ligada ao cidadão e à cidadania.
Recentemente os pesquisadores do objETHOS, Sylvia Debossan Moretzsohn, Lívia Vieira e Dairan Paul abordaram temas relacionadas a essa problemática. No artigo Spotlight, vazamentos seletivos e os dentes do cavalo, Moretzsohn destacou a falta de verificação das informações provenientes das delações premiadas: “o cuidado elementar de todo jornalista, que é, antes de mais nada, verificar a quem interessa a informação que lhe cai no colo, confirmar sua veracidade e publicá-la – quando for o caso – em seu devido contexto, passou a ser algo perfeitamente dispensável”. Vieira destacou a utilização das delações premiadas como fonte de informações jornalísticas no artigo “Algumas certezas diante de um cenário instável para o jornalismo”. A pesquisadora chama a atenção para o tom declaratório das informações jornalísticas baseadas nas delações. “Muitos veículos jornalísticos têm tratado a informação desses réus como verdade absoluta, deixando espaço irrisório para outras versões”. Já Paul observa a cobertura de alguns veículos relacionada à ocupação das escolas de São Paulo no artigo “Intervenção militar nas ruas, democracia radical nas escolas”. Conforme o pesquisador, o discurso jornalístico “parece ainda ter muitas dificuldades para lidar com fenômenos políticos que estão longe das tradicionais bandeiras políticas”.
As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente. Não podemos aceitar que a política se resuma ao conjunto de acusações seletivas que está pautando as editorias de política atualmente. Essa constatação pode ser facilmente identificada nas “informações políticas” apresentadas abaixo.

Reprodução do site da Folha de S. Paulo do dia 12-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcuL

Reprodução do site da Carta Capital do dia 11-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHczx

Reprodução do site da Veja do dia 08-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcGV


Reprodução do site da Veja do dia 13-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcLW

Não estou propondo que as ações jornalísticas esqueçam os desvios políticos, as investigações policiais e as informações oriundas do Poder Judiciário. Entretanto, é preciso estar ciente de que nenhuma fonte de informação está imune ao erro. A apuração segue sendo um elemento fundamental para que acusações infundadas não se tornem verdades absolutas.
Um caso exemplar que demonstra que a “justiça” pode errar está sendo amplamente debatido nos EUA, devido à repercussão da série documental disponibilizada pelo Netflix “Making a Murderer” (Fabricando um assassino). A série retrata o caso de Steven Avery, que provou a sua inocência por meio de um exame de DNA, após passar dezoito anos na cadeia. Não vou me estender nos comentários a respeito do documentário, mas, sem dúvida, ele provoca uma série de reflexões sobre as informações “oficiais” e os seus pressupostos. O caso de Avery destaca a importância de uma atividade jornalística norteada pelo esclarecimento dos fatos em todas as suas nuances.
Em relação ao segmento político, Stray (2015) ressalta: “A ação política é muito mais ampla do que votar e a política é muito mais do que os políticos e o governo. É essencial uma fonte de informação política que ajude a compreender o panorama político, que aperfeiçoe seus objetivos e sua estratégia, que estabeleça uma conexão com pessoas com ideias afins e, em última instância, que seja bem-sucedida no que você entende por política. Tudo o mais é fofoca”. Para fortalecer a democracia precisamos de um jornalismo político plural, que tenha em seu horizonte as informações políticas invisíveis aos olhos norteados pelas formalidades e pelos interesses privados. As informações políticas devem abarcar os diferentes atores políticos espalhados pela sociedade, não pelas causas que defendem, mas pelo debate político que potencialmente podem proporcionar.
Chegamos ao fundo do poço
Na segunda-feira (18), a Folha de S. Paulo ratificou os erros que o jornalismo político vem cometendo ao anunciar o seu novo colunista, Kim Kataguiri. O “estudante” de 19 anos é coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), que foi criado no final de 2014 para difundir ideias liberais e “combater o PT”. Uma entrevista publicada pela Folha no dia 27/09/2015 informa que Kataguiri abandonou a universidade para dedicar-se integralmente “à causa anti-Dilma Rousseff”. Claramente influenciado pelas informações desencontradas do noticiário político, Kataguiri faz afirmações superficiais e categóricas, alinhadas à visão adversarial e polarizada de política que está sendo disseminada pelo jornalismo político atualmente.
primeira coluna do coordenador do MBL foi publicada no dia 19/01/2016. O jovem colunista infelizmente não surpreendeu. De forma bizarra tentou rotular o Movimento Passe Livre (MPL) da seguinte maneira: “Aqueles que andam de camisa negra, máscara no rosto e pedra na mão e chamam os outros de fascista estão de volta às ruas. Enquanto berram pelo mito do transporte público, gratuito e de qualidade e pedem menos violência militantes queimam ônibus e jogam coquetéis molotov na polícia”. Para ele as ações do MPL podem ser classificadas como “terrorismo”. É irônico constatar que a primeira coluna de alguém que coordena um movimento social busque desqualificar mobilizações sociais e reivindicações políticas. Não vou me estender na análise da coluna de Kataguiri, pois seu texto não merece maiores considerações.
Não sei se podemos condenar um jovem alimentado pelo ódio e pela desinformação. As suas ideias são a continuidade de uma perspectiva degradante do conceito de política que é amplificada pelos veículos de comunicação tradicionais. O desrespeito ao leitor e ao jornalismo chegou a níveis inimagináveis de hipocrisia e desserviço. É hora de repensarmos o jornalismo “político”, a sociedade e a democracia precisam de um jornalismo sobre política pautado pelo respeito e pela pluralidade.
Referências:
BRUM, Eliane. É política sim, Geraldo. 07/12/2015. El País. Disponível em: http://migre.me/sHf2z. Acesso em: 14 jan 2016.
STRAY, Jonathan. Jornais e TV priorizam políticos em vez do cidadão. 22/12/2015. Observatório da imprensa. Disponível em: http://migre.me/sHeLc. Acesso em: 14 jan 2016.
PAUL, Dairan. Intervenção militar nas ruas, democracia radical nas escolas. 14/12/2016. objETHOS. Disponível em: http://migre.me/sHfhC. Acesso em: 14 jan 2016.
VIEIRA, Lívia. Algumas certezas diante de um cenário instável para o jornalismo. 11/01/2016. objETHOS. Disponível em: http://migre.me/sHflI. Acesso em: 14 jan 2016.
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Ricardo José Torres é mestrando em jornalismo no POSJOR/UFSC e pesquisador do Objethos.