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sábado, 28 de dezembro de 2019

Lojistas de shopping contestam propaladas (ou manipuladas informações sobre) altas de vendas do Natal da Globo pró-governo (para enganar o povo)



Esta não foi bem a realidade dos pequenos varejistas de shoppings, que entendem esse número inflado como uma ‘manipulação com alguma segunda intenção’

Do GGN:

Lojistas de shopping contestam propaladas altas de vendas do Natal


Foto Correio Braziliense
Jornal GGN – A Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos) não ficou nada satisfeita com a comemoração da Alshop, que reúne lojistas de shoppings. Com adesão dos globais e grande imprensa a Alshop afirmou que o comércio natalino no varejo de shoppings subiu 9,5%, com crescimento anual de vendas superior a 7,5%. As informações são da coluna Painel, da Folha.
Esta não foi bem a realidade dos pequenos varejistas de shoppings, que entendem esse número inflado como uma ‘manipulação com alguma segunda intenção’, conforme declaração de Tito Bessa Jr, presidente da Ablos e fundador da TNG.
Bessa planeja processar a Alshop e questionar a fonte de informação divulgada sobre o crescimento das vendas de Natal.
O presidente da Ablos aponta que, segundo pesquisa interna da associação, 70% das lojas tiveram desempenho pior ou igual a 2018 e 30% disseram que melhorou pouco. E esse pouco é em torno de 2% ou 1,5%, jamais 9,5%. O aumento pode ter sido pontual, entende Bessa Jr., ‘mas falar que o varejo cresceu 9,5% é uma mentira’, completa.
Outros lojistas confirmam os números apontados por Bessa Jr., como Ângelo Campos, da MOB, que afirma que vários lojistas apontaram quedas nas vendas, ou Fernando Kherlakian, da Khelf, que diz ter tido uma queda de 2% e ‘eles estão falando que o mercado em geral cresceu 9%’, disse e completa, ‘Não é real isso’.
O fundador da SideWalk, Tinho Azambuja, também não está satisfeito com esses números inflados e diz que logo no começo do ano enviará notificação extrajudicial pedindo explicações. ‘Eu quero saber de onde veio esse número totalmente irreal’, diz ele.
A Ablos foi fundada justamente para atender lojistas insatisfeitos com a representatividade no setor, com mais de 90 marcas satélites, aquelas lojas menores com até 180 metros quadrados.
A Alshop respondeu à coluna que a pesquisa é por amostragem, para chegar aos números divulgados pela grande imprensa. “A entidade esclarece que o crescimento declarado de 7,5% é nominal, correspondendo a um crescimento real de 3,6%, descontada a inflação de 2019. As principais entidades de representação do comércio apresentam dados que corroboram nossa estatística”, diz a nota.
O GGN já vinha alertando sobre esta capacidade de selecionar indicadores para enfeitar o desempenho pífio da economia. A Alshop, bem como a grande mídia, estão replicando um modelo muito em voga atualmente. Leia aqui sobre como criar expectativas positivas no Raio X do Comércio, de Luis Nassif.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O Horror... o Horror.... sobre a interferência dos militares, fundamentalistas e da mídia tendenciosa na ilegal censura de Toffoli a Marco Auréio Mello, por Marcelo Zero e Wilmar Lacerda





Após a sua decisão liminar, que apenas reafirmava o que diz explicitamente a Constituição, o Ministro Marco Aurélio declarou que “se o Supremo ainda for o Supremo, minha decisão tem que ser obedecida”.

Não foi. Contrariando as normas do próprio STF, que determinavam que a decisão só poderia ser revista pelo Plenário, Toffoli anulou-a. Contribuiu para esse desfecho ilegal e inconstitucional a inoportuna e impertinente mobilização militar e a “grita” da mídia e de procuradores de convicção religiosa, que mentiram à população, afirmando que a liminar em defesa da Constituição libertaria da prisão cerca de 169 mil pessoas, inclusive perigosos homicidas. Mentira grosseira, pois era óbvio que a liminar não beneficiaria presos perigosos submetidos à prisão preventiva, condenados por júri popular, aqueles que tem mais de uma condenação, etc....

Na Lava Jato, por exemplo, a liminar beneficiaria potencialmente apenas meia dúzia de bagrinhos. Destaque-se que a hipótese de prisão em segunda instância só foi estabelecida em 2016. Por acaso alguém acredita que, até aquela data, ninguém podia ser preso no Brasil? Nosso país tem a terceira taxa de encarceramento do mundo há bastante tempo. Prendemos muito e prendemos mal. Não somos o país da impunidade, somos o país da punição cruel. Somos o país da tortura e somos o país das execuções extrajudiciais. E somos uma nação de gente cínica, hipócrita e cruel.

E, agora, somos um país no qual o Supremo não é mais Supremo.

O papel do Supremo é a defesa da Constituição, sobretudo das suas cláusulas pétreas, nas quais estão incluídos o devido processo legal e o amplo direito à defesa.

Desse modo, a defesa da Constituição é muito mais que a defesa de um texto legal. Ela é, na realidade, a defesa da democracia e, num sentido ainda maior, a defesa da civilização contra a barbárie. Contra a barbárie institucional.

Na relação invariavelmente assimétrica entre sujeitos individuais e coletivos e o Estado, são os primeiros que necessitam de proteção, a proteção dos direitos e das garantias individuais, a proteção da Justiça, face ao monopólio legal da força que o último possui.

No Brasil, após a cassação da liminar de Marco Aurélio, não há mais dúvida (para aqueles que ainda a tinham) de que essa proteção se esfumou, tal qual motorista de deputado do baixo clero.

Ficou claro, escancarado, após o episódio, que o sistema jurídico agora está a serviço de um projeto político que se apossou do aparelho de Estado e criou um Estado de exceção seletivo, que produz presos políticos e decisões oportunistas e teleológicas.

A decisão de permitir a prisão em segunda instância, contrariando o texto claro e explícito da Constituição, foi construída para prender Lula e afastá-lo da disputa eleitoral, ganha pelo neofascismo, que premiou Moro com o cargo de superministro da “Justiça”.

Tal decisão inconstitucional e antidemocrática já sobreviveu, incólume, a pronunciamentos contrários da ONU, de desembargadores e, agora, de ministro do Supremo.

Entretanto, esse Estado de exceção seletivo não foi erigido para prender a pessoa física de Lula. Pois Lula, como diz Mujica, outro grande ex-presidente, não é uma pessoa; é uma causa. Assim, o que o neofascismo brasileiro quer, com essa prisão política e esse Estado de exceção, é impedir a reação popular a um projeto antipopular e antinacional.

O projeto político que se apossou do aparelho de Estado e das instituições exige o sacrifício da Constituição, tanto na dimensão dos direitos políticos quanto dos sociais. Exige, portanto, o sacrifício dissimulado da democracia.

E exige também o sacrifício de princípios civilizatórios, para instituir a barbárie de um ultraneoliberalismo que fará do Brasil laboratório político para um tipo de capitalismo que não se mostra mais compatível com a democracia, bem como para implantar a selvageria de um neofascismo baseado num fundamentalismo medieval.

Nesse quadro, o Supremo não é mais Supremo; é carimbador de decisões de primeira instância. A Carta Magna não é mais Magna; é texto nanico, portaria a ser interpretada pelos interesses de ocasião. A democracia não é mais democracia, é biombo, simulacro, para um Estado de exceção. E a civilização, criada pelo pacto social, não é mais civilização; é barbárie destinada a implodir a convivência social pacífica e regrada e impor a violência como instrumento de contenção dos conflitos.

O Brasil enfrenta um apocalipse demente. Como o personagem Kurtz, da novela de Joseph Conrad, Coração das Trevas, e do filme de Coppola, Apocalyse Now, as forças obscurantistas romperam com todas as regras e estão enlouquecidas pelo poder, a adulação de seguidores fanáticos e a sede da riqueza fácil.

Aos democratas que sobrevivem, resta a lucidez última do moribundo Kurtz, que exclamava às trevas do seu mundo cruel e enlouquecido, sem Supremo, sem direitos, sem democracia: o Horror...o Horror....

Marcelo Zero e Wilmar Lacerda

Fonte: Contexto Livre

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A mídia pró golpe brasileira esconde a notícia da ONU na esperança de que Lula desapareça. Por Kiko Nogueira


"A notícia de que o Comitê de Direitos Humanos da ONU acolheu um pedido liminar para que Lula possa concorrer às eleições de 2018 foi escondida em tempo recorde."

Imagem relacionada

Do Diário do Centro do Mundo:



A mídia brasileira, definitivamente, não sabe o que fazer com Lula.
Há muito tempo que o jornalismo ali já se transformou em torcida e wishful thinking, mas a coisa tem adquirido ares de surrealismo vagabundo.
A notícia de que o Comitê de Direitos Humanos da ONU acolheu um pedido liminar para que Lula possa concorrer às eleições de 2018 foi escondida em tempo recorde.
A entidade recomenda “todas as medidas necessárias para permitir que o autor [Lula] desfrute e exercite seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de seu partido politico”.
Foi notícia, obviamente, nos grandes jornais do mundo todo, do New York Times (reproduzindo a Reuters) ao Guardian.
A imprensa nacional acha que, sonegando a realidade, ela desaparecerá.

ESTADÃO
G1

Ao mesmo tempo, Lula não sai dos olhos, narizes, bocas e cérebros de colunistas paus mandados — desde que de maneira negativa.
O resultado é uma esquizofrenia inevitável com toques de pornochanchada. No mesmo dia do caso ONU, o inefável Merval Pereira anuncia “as derrotas sucessivas de Lula”.
No Estadão, dá para visualizar os umpa-lumpas que escrevem aqueles editoriais dando pulinhos de raiva no andar 7 e meio: “tigrada, tigrada, tigradaaaaa….”
Chegamos a uma versão pervertida da máxima de Einstein: “se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos”.
Por aqui, a solução tem sido ignorá-los. Duro é que eles não vão embora. 

O GLOBO
FOLHA

terça-feira, 1 de agosto de 2017

O jornalismo de empulhação que personifica o “mercado”, por J. Carlos de Assis




GGN. - O noticiário econômico brasileiro é uma peça de ficção e de empulhação da sociedade. A maioria dos jornalistas de tevê e de jornal, notadamente dos grandes, mascara sua imbecilidade específica com conceitos ideológicos tomados do neoliberalismo sem qualquer espírito crítico. Pior do que isso. É um jornalismo que se baseia numa figura fantasmagórica chamada “mercado”, que emite opiniões extravagantes como se fosse uma pessoa.
Pela boca ou pela pena desses noticiaristas de circo o “mercado” fala, o “mercado” sente, o “mercado” ouve. Dão ao mercado uma personalidade específica, com sentimentos, razão e outros predicados humanos. O “mercado” é capaz de emitir extensos comentários a respeito das últimas medidas do governo, em geral repetindo noções elementares de economia que se tornam lições de idiotice para servir o público.
O leitor ou telespectador comum jamais saberão que, por trás do “mercado”, existe  um jornalista imbecil ou preguiçoso que se livra de uma investigação responsável da matéria recorrendo ao ente “especializado” que inventou. O “mercado” tem, assim, uma dupla função. Servir  como expressão da ideologia econômica de dominação, e possibilitar que o repórter preguiçoso, inventando um entrevistado, se livre da responsabilidade de fazer uma matéria decente, com nome e endereço do entrevistado.
Com mais de 40 anos de jornalismo econômico, jamais encontrei em qualquer instância de minha vida profissional o dito “mercado” – exceto, claro, as feiras livres de venda de hortaliças. Esse, sim, é o mercado. Entretanto, os jornalistas que cobrem bolsa provavelmente jamais visitaram um mercado real. O que não os impede de explicar o que  levou o “mercado” a este ou outro comportamento, sem  qualquer base real.
Todos sabemos que bolsa é um mercado absolutamente especulativo. Pode-se dizer que, matematicamente, é governado pela Teoria do Caos: pequenas alterações iniciais produzem grandes transformações finais, impossíveis de prever. Não obstante, os jornalistas de bolsa sentem-se obrigados a tomar o “mercado” como referência para avaliação de outros aspectos da sociedade, inclusive políticos.
Façam um experiência: vejam as afirmações do “mercado” no passado e comparem com o que veio depois. Quando se trata de previsões, só por pura sorte acertam. O “mercado”, em geral, tem prazo de validade de 24 horas. Para trás, os jornalistas que fazem do “mercado” seu porta-voz explícito não tem qualquer compromisso com a verdade ou a razoabilidade.
Mas a dominância absoluta da pessoa “mercado” no noticiário econômico não é a única extravagância brasileira nessa área. O contrário é ainda mais extraordinário. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cujas relações com o Itaú são notórias, tem prestado declarações segundo as quais a taxa de juros não caiu mais porque o Congresso não votou a reforma da Previdência, algo de notório interesse da banca privada, inclusive Itaú.
No contexto político em que o presidente da República foge de um processo por fraude e nove de seus ministros são apontados por corrupção, Ilan deve ter se sentido muito à vontade para defender abertamente os interesses da banca sem medo de conflito ético. É um país estranho este em que estamos. Vivemos entre o escárnio, a revolta e o nojo. Acaso isso poderá acabar bem?

sábado, 23 de abril de 2016

A melhor definição da imprensa tendenciosa brasileira apareceu num jornal inglês: mídia plutocrática (ou seja, serve aos interesses dos ricos e da Casa Grande). Por Paulo Nogueira

Um jornal a serviço da plutocracia
Um jornal a serviço da plutocracia
Toda tragédia tem uns pingos de comédia. Os tuítes em inglês de Diogo Escosteguy fazem você rir em meio ao drama do golpe em curso.
Presumivelmente, Escosteguy está oferecendo ao mundo uma versão dos fatos segundo as quais o golpe não é golpe.
Seria ridículo em si defender essa tese. Mas o pior é a pretensão de Escosteguy. Quem quer ouvi-lo no mundo? Que impacto qualquer coisa que ele diga pode terna comunidade internacional?
É um jornalista provinciano, sem credibilidade sequer no Brasil, onde é apenas uma das vozes da Globo que apenas cumprem ordens dos Marinhos, que dizer no exterior.
Seus tuítes em inglês demonstram sua falta de noção, que já fora expressa nos últimos meses quando ele repetidamente prometia furos revolucionários na moribunda revista Época.
Alguém mais experiente deveria ter-lhe dito: “Garoto, você está fazendo um papelão. Pára com isso.”
Mas quem?
Para além disso, os tuítes the-book-is-on-the-table de Escosteguy sugerem, para mim, que a Globo tenha oficialmente mandado seus jornalistas atuar fortemente nas redes sociais.
Eu já tinha desconfiado de alguma coisa neste sentido quando soube que Erick Bretas, diretor da Globo, se fantasiara de Sérgio Moro no Facebook.
Um jornalista que se presta a tal absurdo ou é um mentecapto completo ou extrapolou em cima de recomendações recebidas.
Pode, é claro, preencher os dois requisitos.
A Globo tem dificuldade em fazer jornalismo, e está evidente que para fazer propaganda política nas redes sociais suas deficiências são ainda maiores.
Isto se percebe em outro jornalista da casa, Ricardo Noblat, que tem tuitado furiosamente. Nesta sexta, viralizou um tuíte em que ele elogiava a elegância de Temer e a graça de sua mulher Marcela.
Mais uma vez, é a falta de noção elevada à máxima potência.
E estamos falando de expoentes da mídia plutocrática brasileira. Eis, aliás, a melhor expressão para designar as companhias jornalísticas nacionais.
Vi-a, pela primeira vez, num artigo do ativista David Miranda publicado no Guardian.
E imediatamente fui fisgado.
A plutocracia controla a imprensa brasileira. Os Marinhos, os Civitas, os Frias são plutocratas na pior acepção do termo. Plutocratas à moda da América Latina, predadores, doentiamente gananciosos, sem pudor nenhum para meter a mão no dinheiro público de todas as formas possíveis. Tampouco hesitam em manipular seu público com meias verdades e mentiras integrais.
Qualquer que seja o desfecho do golpe, a mídia plutocrática sai irremediavelmente desmoralizada da presente crise política, bem como os jornalistas que ela usa para fazer o serviço sujo.
Estes jornalistas parecem fingir não se dar conta disso. No Twitter, dias atrás, Cristiana Lobo, da GloboNews, se queixava dos ataques que recebia ali.
Ficou para mim a impressão de que ela não sabe quanto a Globo é abominada. Qualquer jornalista da Globo sofre os efeitos colaterais dessa abominação, mesmo os raros que procuram fazer um jornalismo minimamente decente.
Profissional nenhum serve à mídia plutocrática impunemente.
Encerro com uma sugestão.
Num rasgo de sinceridade, a Folha poderia atualizar seu velho slogan que aparece na primeira página.
Onde se lê “um jornal a serviço do Brasil” poderia e deveria, a bem da verdade, aparecer “um jornal a serviço da plutocracia”.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Lava Jato e Mídia: O jornalismo comprometido que está matando a política...


IMPRENSA EM QUESTÃO > LAVA JATO E A MÍDIA

O jornalismo político está matando a política

Por Ricardo José Torres em 29/01/2016 na edição 887 do Observatório da Imprensa
Publicado originalmente no site Objethos, 27/1/2016, sob o título "Porque o jornalismo politico está destruindo a política?


Em tempos de “combate à corrupção”, as delações premiadas se tornaram uma verdadeira obsessão dos jornalistas ligados ao segmento político no Brasil. Atualmente, o leitor desinformado terá dificuldades para identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais presentes nas páginas dos jornais, sites e mídias sociais, particularmente nos veículos tradicionais de comunicação. A abordagem adversarial dos temas políticos não é novidade, entretanto, o jornalismo político contemporâneo pode ser comparado a um “esgoto a céu aberto”.
Sem dúvida, o teor das “revelações” é estarrecedor, os índices de corrupção e a falta de comprometimento dos nossos representantes merecem ser divulgados e os interesses privados, que afetam o interesse público, devem ser revelados. Mas, em uma perspectiva embasada nos princípios da ética jornalística, podemos afirmar que o conteúdo das delações pode ser considerado informação política?
Para clarear os aspectos e os dilemas éticos que envolvem essa problemática recorro à etimologia de duas palavras que, na minha opinião, devem estar atreladas a abordagem de temas políticos, são elas: respeito e política. A origem da palavra respeito está relacionada ao Latim, respectusque significa “olhar outra vez”. O sentido singular da palavra, e que quero enaltecer, está ligado a algo que merece consideração. Os temas políticos que emergem da sociedade merecem “respeito”, nem tudo o que é político está impregnado pelo miasma da corrupção.
O jornalista Jonathan Stray (2015) lembra que a política não pode se limitar aos políticos e aos governos. ““Política” não significa políticos, nem governo. O governo é um dos lugares em que ocorre a política, com certeza. Mas a política é muito mais do que isso: é o conjunto de maneiras pelas quais as pessoas se juntam para exercer o poder coletivamente”. As convenções jornalísticas consolidadas ao longo dos anos no segmento político trouxeram uma série de limitações e debilidades. O jornalismo político se transformou em um espaço repleto de vícios excludentes onde apenas alguns “escolhidos” podem transitar. “A maioria das coberturas políticas é sobre políticos, e não sobre as coisas com que me preocupo e com as medidas que eu poderia vir a tomar” (STRAY, 2015).
A palavra política está relacionada ao Grego politikos, que significa cívico, e polites, que está ligado a cidadão, além da palavra polis relacionada à cidade. Em linha com esse conjunto de sentidos cabe observar que as abordagens preponderantes, sobre temáticas políticas, buscam constantemente ratificar a política como algo que causa danos à sociedade. Em um artigo com o título “É política sim, Geraldo”, a jornalista Eliane Brum descreve com propriedade os riscos que essa perspectiva pejorativa pode apresentar e expõe alguns aspectos políticos que o caso da ocupação das escolas de São Paulo oferece.
Brum (2015) destaca uma declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmim: “Não é razoável obstrução de via pública, é nítido que há uma ação política no movimento. Há uma nítida ação política”. A jornalista enaltece que a ocupação das escolas de São Paulo, obviamente, é um tema político que merece ser abordado como tal, especialmente diante do cenário degradante vivenciado pela política institucional: “Mas, vale repetir, o que o governador denuncia? Que o movimento é político. Qual seria a acusação? É óbvio que o movimento é político. E a melhor qualidade do movimento é justamente a de que é político”. De acordo com Brum (2015), por meio do exercício da política a sociedade alcançou o que de melhor existe na experiência humana. Para a jornalista, a suspensão da política significa a instauração da aniquilação.
A quem interessa a degradação da política?
Uma constatação que parece óbvia diante da apresentação adversarial dos temas políticos, particularmente a preponderância de informações relacionadas a corrupção, é que quanto mais a percepção sobre o universo político é negativa mais ele se restringe aos especialistas habituais. A omissão de informações políticas relacionadas aos diversos grupos que estão à margem do sistema político institucional/formal e buscam discutir e apresentar argumentos no cenário político, demonstra a centralidade do entendimento de política e, ao mesmo tempo, quem são os atores políticos que merecem notoriedade para o jornalismo político. Ao voltar as suas atenções, quase que exclusivamente, aos criminosos das operações da Polícia Federal e aos políticos “profissionais”, as editorias de política se descolam dos debates políticos presentes na sociedade. Esses fatores ocasionam o apagamento e a deturpação da etimologia da palavra política que, como já visto, está ligada ao cidadão e à cidadania.
Recentemente os pesquisadores do objETHOS, Sylvia Debossan Moretzsohn, Lívia Vieira e Dairan Paul abordaram temas relacionadas a essa problemática. No artigo Spotlight, vazamentos seletivos e os dentes do cavalo, Moretzsohn destacou a falta de verificação das informações provenientes das delações premiadas: “o cuidado elementar de todo jornalista, que é, antes de mais nada, verificar a quem interessa a informação que lhe cai no colo, confirmar sua veracidade e publicá-la – quando for o caso – em seu devido contexto, passou a ser algo perfeitamente dispensável”. Vieira destacou a utilização das delações premiadas como fonte de informações jornalísticas no artigo “Algumas certezas diante de um cenário instável para o jornalismo”. A pesquisadora chama a atenção para o tom declaratório das informações jornalísticas baseadas nas delações. “Muitos veículos jornalísticos têm tratado a informação desses réus como verdade absoluta, deixando espaço irrisório para outras versões”. Já Paul observa a cobertura de alguns veículos relacionada à ocupação das escolas de São Paulo no artigo “Intervenção militar nas ruas, democracia radical nas escolas”. Conforme o pesquisador, o discurso jornalístico “parece ainda ter muitas dificuldades para lidar com fenômenos políticos que estão longe das tradicionais bandeiras políticas”.
As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente. Não podemos aceitar que a política se resuma ao conjunto de acusações seletivas que está pautando as editorias de política atualmente. Essa constatação pode ser facilmente identificada nas “informações políticas” apresentadas abaixo.

Reprodução do site da Folha de S. Paulo do dia 12-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcuL

Reprodução do site da Carta Capital do dia 11-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHczx

Reprodução do site da Veja do dia 08-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcGV


Reprodução do site da Veja do dia 13-01-2016. Disponível em: http://migre.me/sHcLW

Não estou propondo que as ações jornalísticas esqueçam os desvios políticos, as investigações policiais e as informações oriundas do Poder Judiciário. Entretanto, é preciso estar ciente de que nenhuma fonte de informação está imune ao erro. A apuração segue sendo um elemento fundamental para que acusações infundadas não se tornem verdades absolutas.
Um caso exemplar que demonstra que a “justiça” pode errar está sendo amplamente debatido nos EUA, devido à repercussão da série documental disponibilizada pelo Netflix “Making a Murderer” (Fabricando um assassino). A série retrata o caso de Steven Avery, que provou a sua inocência por meio de um exame de DNA, após passar dezoito anos na cadeia. Não vou me estender nos comentários a respeito do documentário, mas, sem dúvida, ele provoca uma série de reflexões sobre as informações “oficiais” e os seus pressupostos. O caso de Avery destaca a importância de uma atividade jornalística norteada pelo esclarecimento dos fatos em todas as suas nuances.
Em relação ao segmento político, Stray (2015) ressalta: “A ação política é muito mais ampla do que votar e a política é muito mais do que os políticos e o governo. É essencial uma fonte de informação política que ajude a compreender o panorama político, que aperfeiçoe seus objetivos e sua estratégia, que estabeleça uma conexão com pessoas com ideias afins e, em última instância, que seja bem-sucedida no que você entende por política. Tudo o mais é fofoca”. Para fortalecer a democracia precisamos de um jornalismo político plural, que tenha em seu horizonte as informações políticas invisíveis aos olhos norteados pelas formalidades e pelos interesses privados. As informações políticas devem abarcar os diferentes atores políticos espalhados pela sociedade, não pelas causas que defendem, mas pelo debate político que potencialmente podem proporcionar.
Chegamos ao fundo do poço
Na segunda-feira (18), a Folha de S. Paulo ratificou os erros que o jornalismo político vem cometendo ao anunciar o seu novo colunista, Kim Kataguiri. O “estudante” de 19 anos é coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), que foi criado no final de 2014 para difundir ideias liberais e “combater o PT”. Uma entrevista publicada pela Folha no dia 27/09/2015 informa que Kataguiri abandonou a universidade para dedicar-se integralmente “à causa anti-Dilma Rousseff”. Claramente influenciado pelas informações desencontradas do noticiário político, Kataguiri faz afirmações superficiais e categóricas, alinhadas à visão adversarial e polarizada de política que está sendo disseminada pelo jornalismo político atualmente.
primeira coluna do coordenador do MBL foi publicada no dia 19/01/2016. O jovem colunista infelizmente não surpreendeu. De forma bizarra tentou rotular o Movimento Passe Livre (MPL) da seguinte maneira: “Aqueles que andam de camisa negra, máscara no rosto e pedra na mão e chamam os outros de fascista estão de volta às ruas. Enquanto berram pelo mito do transporte público, gratuito e de qualidade e pedem menos violência militantes queimam ônibus e jogam coquetéis molotov na polícia”. Para ele as ações do MPL podem ser classificadas como “terrorismo”. É irônico constatar que a primeira coluna de alguém que coordena um movimento social busque desqualificar mobilizações sociais e reivindicações políticas. Não vou me estender na análise da coluna de Kataguiri, pois seu texto não merece maiores considerações.
Não sei se podemos condenar um jovem alimentado pelo ódio e pela desinformação. As suas ideias são a continuidade de uma perspectiva degradante do conceito de política que é amplificada pelos veículos de comunicação tradicionais. O desrespeito ao leitor e ao jornalismo chegou a níveis inimagináveis de hipocrisia e desserviço. É hora de repensarmos o jornalismo “político”, a sociedade e a democracia precisam de um jornalismo sobre política pautado pelo respeito e pela pluralidade.
Referências:
BRUM, Eliane. É política sim, Geraldo. 07/12/2015. El País. Disponível em: http://migre.me/sHf2z. Acesso em: 14 jan 2016.
STRAY, Jonathan. Jornais e TV priorizam políticos em vez do cidadão. 22/12/2015. Observatório da imprensa. Disponível em: http://migre.me/sHeLc. Acesso em: 14 jan 2016.
PAUL, Dairan. Intervenção militar nas ruas, democracia radical nas escolas. 14/12/2016. objETHOS. Disponível em: http://migre.me/sHfhC. Acesso em: 14 jan 2016.
VIEIRA, Lívia. Algumas certezas diante de um cenário instável para o jornalismo. 11/01/2016. objETHOS. Disponível em: http://migre.me/sHflI. Acesso em: 14 jan 2016.
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Ricardo José Torres é mestrando em jornalismo no POSJOR/UFSC e pesquisador do Objethos.